Direção: George
A. Romero
Roteiro: George
A. Romero, John Russo
Produção:Karl
Hardman, Russell W. Streiner
Elenco: Duane
Jones, Judith O’Dea, Karl Hardman, Marilyn Eastman
Esse é o filme que muda tudo. O
cinema de terror nunca mais será o mesmo daqui para frente, pois o mestre
George A. Romero nos apresenta em A Noite dos
Mortos-Vivos a sua versão dos zumbis comedores de carne humana,
misturado com mordaz crítica social, paranoia e o apocalipse morto-vivo, que seria
imortalizada e copiada para todo o sempre. Para mim, é o filme mais importante
da história do cinema de horror. Romero samba na cara da sociedade e apresenta
um filme que viria a estabelecer os padrões de exploração para o que seria o
subgênero gore no cinema daqui para frente (mesmo que anteriormente
Herschell Gordon Lewis já tivesse chutado o pau da barraca em sua Trilogia de
Sangue), com direito a sangue e vísceras, e fazendo com que aquelas criaturas
que eram simples escravos autômatos trazidos à vida por vodu em uma ilha do
Caribe, se transformassem em nossos familiares, vizinhos e amigos, que sairiam
de suas covas para nos devorar vivos explicitamente. Isso sem contar a forma
como coloca à prova a sobrevivência do mais forte, o egoísmo da autopreservação,
os conflitos morais e religiosos e ousa apresentar, em pleno final dos anos 60,
um protagonista negro. Citando o livro “Zumbi – O Livro dos Mortos”, de Jamie Russel, publicado aqui
no Brasil pela Editora Barba Negra: “A Noite dos Mortos-Vivos foi o filme
que fez nascer o terror norte-americano da era moderna”. E vai além: fora os
americanos, influenciou toda uma geração de cineastas italianos e europeus que
despontariam na década de 70 e 80 fazendo filmes extremamente violentos, cheio
de sangue e tripas. Isso sem contar que A Noite foi responsável por
mudar a linguagem dos filmes de terror, abandonando a estética gótica que
permeava as produções até então, e tocar no medo contemporâneo do
americano médio da época. É por isso que na minha humilde opinião, está entre
os meus cinco filmes de terror preferidos e mais importantes de todos os
tempos. Bom, deixamos de lado toda essa babação de ovo por enquanto para falar
sobre a trama. Barbra e seu irmão viajam quilômetros para visitar a tumba do
pai morto, quando a insurreição dos mortos-vivos começa, atacando os dois no
cemitério. Barbra consegue escapar, fugindo até uma fazenda, onde tentará se
esconder durante a fatídica noite com um conjunto de estranhos díspares: Ben,
que vai até a casa também em busca de proteção e logo se torna líder do grupo;
o casal caipira local Tom e Judy; e Helen e Harry Cooper, marido e mulher em pé
de guerra com sua filha doente, mordida por um zumbi durante um acidente. Com
um orçamento de 114 mil dólares, saídos do próprio bolso dos produtores, o
filme foi rodado em preto e branco e com severas limitações para maquiagem dos
zumbis, mas mesmo assim, principalmente para o público mediano daquela década,
algumas cenas eram simplesmente chocantes, como as dezenas de braços atacando
as portas e janelas da fazenda, ou os zumbis devorando os pedaços de Tom e Judy
após uma frustrada tentativa de fuga. Romero usou entranhas de animais compradas
em um açougue de Pittsburgh, como corações de porcos e intestino de ovelhas,
para dar o efeito autêntico e conseguiu encontrar figurantes loucos o
suficiente para comê-los. Romero também contorna todo e qualquer problema
financeiro que poderia recair sobre seu filme com o roteiro recheado de crítica
social, misturando diversos arquétipos críveis que poderiam muito bem ficar
confinados junto com você se a tal hecatombe zumbi realmente acontecesse: a
garota fraca e impressionada, o marido arrogante que trata mal a família, a
esposa saturada de uma vida subserviente, o negão que tenta colocar ordem na
situação mas, mesmo assim, vê sua liderança sob desconfiança devido a cor da
sua pele, e o casal simplório e inocente que tenta fazer de tudo para ajudar, mas
acaba fazendo cagada no final. E como se não bastasse, os mortos voltando à
vida joga contra a parede toda e qualquer escolha moral e religiosa que você
teria até então, como não poder sequer velar ou enterrar os entes queridos ou
recorrer aos seus instintos primários para poder sobreviver. Fora que os
momentos finais do filme questionam a autoridade policial e as forças da lei,
isso bem enquanto a Guerra do Vietnã matava milhares no estrangeiro. Muito
parecido com o que Hitchcock fez em Os Pássaros, Romero não nos dá nenhuma pista do que realmente
aconteceu, só joga informações desencontradas, como o que realmente aconteceria
na vida real em uma situação como essas, através de boletins de rádio e TV,
dando uma espécie de pista que os mortos estão se levantando da tumba devido a
um incidente com um satélite que explodiu e espalhou uma grande quantidade de
radioatividade no planeta (lembre-se, estamos em 1968 com a Guerra Fria comendo
solta). A Noite dos Mortos-Vivos foi um tremendo sucesso financeiro,
faturando cerca de 12 milhões de dólares nos EUA e mais 30 milhões ao redor do
mundo, mas infelizmente os royalties não geraram receita para Romero
e os produtores, e muito menos todas as dezenas de cópias em DVD, VHS e
exibições públicas, já que o filme é de domínio público, devido a um erro
grotesco quando o distribuidor original não adicionou uma indicação de direitos
autorais nas cópias. Após A Noite dos Mortos-Vivos, Romero nos entregaria
uma excelente quadrilogia expandindo os temas que de alguma forma nasceram com
esse filme e influenciaria todo e qualquer filme, livro, seriado, HQ ou jogo de
videogame que viria a ser criado, que tivesse o zumbi como personagem central.
Há também o remake lançado em 1990, em cores, dirigido pelo mago da maquiagem
Tom Savini, que seria responsável pelo visual dos defuntos ambulantes e da
carnificina nos filmes posteriores de Romero. A refilmagem, que na verdade é
mais uma homenagem em si, é tão boa quanto a original, com alguns elementos
bastante melhorados, e com Romero como produtor executivo. Versão essa de 90.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/18/217-a-noite-dos-mortos-vivos-1968/
1001 FILMES PARA VER ANTES D E MORRER
491 1968 A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead)
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