segunda-feira, 28 de setembro de 2015

#259 1972 ANIVERSÁRIO MACABRO (The Last House on the left, EUA)


Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Sean S. Cunnigham, Katherine D’Amato (Produtora Associada)
Elenco: Sandra Peabody, Lucy Grantham, David A. Hess, Fred J. Lincoln, Jeramie Rain, Marc Sheffler

Na minha opinião, Aniversário Macabro, do diretor de primeira viagem Wes Craven, daria o pontapé inicial no tom sádico e extremista que o cinema de terror atingiria durante os anos 70. Essa é uma das pedras angulares do gênero, membro com louvor da famigerada lista dos nasty videos do DPP, que mostrou que o cinema de terror não estava para brincadeira e sepultou de uma vez por todas, todo aquele clima gótico e inocente dos anos 60 à sete palmos abaixo da terra. O longa escancara o fim do American Way of Life e o movimento “paz e amor” dos hippies, substituindo-os pela violência e o pessimismo, reflexo da tonelada de soldados morrendo na estupidez que foi a Guerra do Vietnã e do desgosto com a política de Richard Nixon que eclodiria com o caso Watergate dois anos depois. Sem dúvida nenhuma os anos 70 foi um campo extremamente frutífero para novos diretores darem início a um cinema transgressor, marginal, levando maldade e crueldade para o espectador médio, e Wes Craven é um dos melhores exemplos disso, pois antes de criar as franquias A Hora do Pesadelo e Pânico, em seu debute fez um filme atroz, brutal, com um nível de sadismo raramente visto nas telas até então, tudo filmado em um incômodo tom quase documental. Com um orçamento ridículo, Craven e o produtor Sean S. Cunningham (que na década seguinte criaria a cinesérie Sexta-Feira 13) se inspiraram em A Fonte da Donzela, filme do sueco Ingmar Bergman e entraram de cabeça no universo exploitation para contar a história de Mari Collingwood (Sandra Peabody), uma adolescente que mora com pais ripongas em um local afastado em meio à uma floresta, na última casa à esquerda (título do filme original). No dia que completa 17 anos (daí o talAniversário Macabro, péssima escolha de título nacional), sai com sua amiga, Phyllis (Lucy Grantham), para um show de rock na cidade e ao pararem para comprar maconha, se veem raptadas por uma gangue de violentos delinquentes recém fugidos da cadeia, liderada por Krug Stillo (David Hess), contando ainda com o maníaco estuprador e molestador de crianças, Fred “Doninha” Podolski (Fred Lincoln), a amalucada Sadie (Jeramie Rain) e o filho de Krug, Junior (Marc Sheffler), um drogado que é usuário de heroína desde os 12 anos, viciado pelo próprio pai para poder controlar sua vida. Krug e seus comparsas levam as garotas para o meio do mato, que numa ironia do destino, fica apenas a alguns metros da casa de Mari, e começam a tortura-las impiedosamente. Um dos momentos mais chocantes do cárcere das garotas é quando Krug pede para que Phyllis mije nas próprias calças, só para saciar os desejos sádicos e doentios do grupo. Claro que a coisa não vai acabar bem para as reféns e
ALERTA DE SPOILER:
as duas acabam sendo brutalmente assassinadas, com Phyllis desmembrada e as tripas arrancadas e Mari estuprada por Krug e depois morta com um tiro certeiro na cabeça. Os bandidos então resolvem parar em uma casa que fica nas proximidades, que é justamente a casa dos pais de Mari, que os acolhem para passar a noite por lá e até lhes oferecem um jantar (lembrem-se que estamos no começo dos anos 70 e os Colingwoods são mega hippies). Mais tarde, descobrem que eles mataram sua pequena filha que não voltara ao lar e partem para uma sangrenta vingança, com direito a castração por mordida à beira da piscina e uso de motosserra, antes mesmo de Leatherface popularizá-la no cinema de terror! Pois é. A coisa é tão pesada que o filme ganhou inicialmente uma censura X (atual NC-17) nos EUA, coisa que é reservada apenas aos filmes pornôs, e acabou sendo tão mutilado para ganhar uma censura R (menores de 17 anos só entram acompanhados de um adulto responsável), que só foi possível ser exibido graças a um amigo de Craven que fez uma manobra para trocar os filmes na hora de passar, sei lá, pela décima vez pela censura. Fora outros países em que o filme foi totalmente proibido (Inglaterra principalmente, como disse lá em cima, a fita foi sumariamente banida pelo BBFC). Apenas para podermos nos situar um pouco, hoje em dia estamos acostumados a filmes com cenas brutais de tortura (vide Jogos Mortais ou O Albergue, por exemplo) mas em 1972 meu amigo, aquilo era inédito. Subversão pura! Para sair um pouco da tensão e do clima macabro que permeia o longa, Craven investiu em alívios cômicos como a dupla de policiais idiotas, que tem de se sujeitar a pegar carona em uma camionete cheia de galinhas em determinada cena, e com a trilha sonora pontual, ora repleta de música folk dos anos 60 em momentos pesados, ora com músicas de comédias pastelão. A filmografia de Craven (tirando os dois exemplos citados nesse texto, e também Quadrilha de Sádicos, seu próximo trabalho) se perdeu de uma forma triste no decorrer dos anos, com filmes imbecis como A Maldição de Samantha, Um Vampiro no Brooklyn ou o recente A Sétima Alma, mas seu começo de carreira foi promissor demais e ele é o cara responsável por três filmes decisivos na manutenção do status quo do cinema de terror. Aniversário Macabro é um deles. Só um PS antes de terminar o texto. Ironicamente, Craven produziu o remake de Aniversário Macabro em 2009, que por aqui ganhou o título de A Última Casa, para uma plateia hoje em dia acostumada com essas atrocidades, mas que é muito mais light do que seu predecessor. Não assista que é uma perda de tempo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/10/259-aniversario-macabro-1972/


sábado, 26 de setembro de 2015

KANTEMIR (EUA, 2015)


#131 1960 INFERNO (Jigoku / Hell, Japão)


Direção: Nobuo Nakagawa
Roteiro: Nobuo Nakagawa, Ichirô Miyagawa
Produção: Mitsugu Ôkura
Elenco: Shigeru Amachi, Utako Mitsuya, Yôichi Numata, Hiroshi Hayashi, Jun Ôtomo


“Incontáveis são os pecados praticados no caminho até a morte. Para esses pecados, pode haver punição na lei. Alguns podem não ser presos devido a eles, mas a consciência do pecado não pode ser apagada. A religião idealiza um mundo após a morte, aplicando punição ao invés da lei. Esse mundo é o Inferno”. Assim começa o excelente texto que irá permear toda essa assustadoramente poética produção japonesa: Inferno. Dirigido por Nobuo Nakagawa para o lendário estúdio Shintoho, Inferno é uma obra angustiante, onírica, cruel e impactante, que nos passa a noção da danação eterna sobre o ponto de vista nipônico, nos fazendo desejar nos tornarmos um bom escoteiro depois da fita terminar, para não ir parar em um buraco de sofrimento eterno e amargura como é imaginado neste longa. Como o próprio filme explica, a construção abstrata de inferno abordada aqui é baseada no conceito de “naraka”, a expressão sânscrita para inferno, que significa “abominável” ou “atormentado”. No Japão, o mais comum é ser imaginado como os Oito Grandes Infernos da Pregação de Buda. Mais ou menos parecido com os nove círculos do inferno descrito por Dante Alighieri em A Divina Comédia. E cada um destes ciclos do inferno, estão reservados para cada tipo de pecador. Uma série de desventuras vai rondar a vida de Shiro, envolvendo muita gente ao seu redor, incluindo namorada, familiares e vizinhos da sua cidade natal, após ele e um amigo de faculdade, Tamura, atropelarem acidentalmente e matarem Kyoichi Shiga, um membro da máfia Gondo, tendo fugido sem prestar socorro, não antes da mãe do gângster anotar a placa do carro dos jovens. Esse fato funciona como um estopim de tragédias nababescas que envolverão adultério, incesto, assassinato, vingança e dolo que vão levar toda essa galera para o inferno. Durante uma hora de filme, a trama se arrasta da forma mais convencional possível, mas apenas em termos de estrutura narrativa, pois há toda uma beleza e peculiaridade na forma como Nakagawa dirige o filme e na sublime fotografia de Mamoru Morita, misturado com uma edição precisa e intervenções sonoras de Michiaki Watanabe. Shiro volta a sua cidade natal pois sua mãe está enferma, isso depois da sua noiva, Yukiko, morrer grávida (sem ele saber) tragicamente em um acidente de táxi que Shiro obrigou-a a tomar.Lá encontra seu pai tendo um caso com uma jovem garota, Sachiko, que também ama Shiro desde a primeira vez que o viu, um médico responsável por um diagnóstico errado, um pintor alcoólatra arruinado, um jornalista aproveitador, a mãe e esposa do falecido Kyoichi caçando o rapaz em busca de vingança, e por aí vai. E então faltando meia hora para terminar a fita, amigo, se prepare, que o filme vai dar uma guinada de 360º e entrar em uma viagem quase lisérgica, carregada de simbolismos, quando somos jogados junto com todos os personagens para essa representação visual do inferno, permeada de cenas alucinantes, brutalidade e imagens aterradoras e impactantes de sofrimento. Ali são recepcionados pelo Grande Rei Enma, senhor dos Oito Infernos de Fogo e Oito Infernos de Gelo, juiz dos pecados mundanos e responsável por dar a sentença a todos eles a partir de seus erros. Então será passado a limpo ao atônito espectador todos os motivos pelos quais cada uma daquelas pessoas foram parar naquele antro, que vai desde o professor pai de Yukiko que matou um homem por um cantil de água durante a guerra na Malásia, até o pai adúltero de Shiro, que assassinara Sachiko que quando bêbada, deu uns pegas no filho. E entre a sessão de tortura sem fim que o inferno proporciona aos seus habitantes, encontraremos: mutilação, esfolamento, ossos esmagados, olhos arrancados, dentes quebrados por uma marreta, almas tendo que beber de uma vala de detritos e pus espremidos de carcaça podre, banhos nos Lagos de Sangue onde caem aqueles culpados por imoralidade, adultério, putice (juro que estava escrito isso na legenda que eu assisti!) e depravação e um vórtice de tormento onde os condenados ficam andando em círculos eternamente. E como se tudo isso não exercesse um impacto visual suficiente, todas as cenas são recheadas da mais completa violência gráfica, esbanjando do gore, algo até sem precedentes do momento em que foi lançado no começo dos anos 60, colocando Inferno como uma obra seminal que serviu visualmente de inspiração para outros cineastas japoneses como Takashi Miike e Shinya Tsukamoto. Fora isso, a representação estética do inferno é deveras perturbadora, algo parecido com o que visto futuramente em outras mídias, até no cinema nacional, em Esta Noite Encarnarei em Teu Cadáver, do Mojica (lançado sete anos depois) ou falando em cultura pop japonesa, o inferno para o qual o cavaleiro de Dragão é enviado ao enfrentar o Máscara da Morte, cavaleiro de ouro de Câncer, no famoso anime Cavaleiros do Zodíaco (que bebe na mesma fonte budista do filme). Japoneses sabem assustar como ninguém e utilizar da imagética de forma magistral para aprofundar o público em seus devaneios assustadores e pesadelos sinistros. Claro que Inferno não tem nada a ver com o J-Horror moderno, e não pense encontrar algo desse tipo, com fantasmas de garotas de cabelo comprido preto escorrido no rosto, pois senão você pode correr o risco de uma decepção sem tamanho. Mas não deixe de conferí-lo de forma alguma. E peça perdão de todos os seus pecados depois…
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/09/131-inferno-1960/


#258 1971 O VENTRE NEGRO DA TARÂNTULA (La tarantola dal ventre nero / The Black Belly of the Tarantula, Itália, França)


Direção: Paolo Cavara
Roteiro: Lucile Laks, Marcello Danon (história)
Produção: Marcello Danon
Elenco: Giancarlo Giannini, Claudine Auger, Barbara Bouchet, Rossella Falk, Silvano Tranquilli

Se você assiste a um giallo em toda sua vida, é praticamente como se já tivesse assistido a todos. Desde o começo do filme até o final, você já tem ideia do que irá acontecer praticamente o filme todo: mulheres sendo mortas de formas sádicas e cruéis, personagens dúbios, muita sacanagem, investigações policiais inconclusivas, vítimas e suspeitos morrendo pouco antes de revelarem algo importante e claro, as estrambólicas reviravoltas no final. E O Ventre Negro da Tarântula não escapa dessa fórmula padrão em nenhum momento dos seus 89 minutos de projeção. Não que isso desmereça o filme. Essa produção ítalo-espanhola do diretor Paolo Cavara é um dos melhores exemplares deste subgênero, que fez tanto sucesso, e foi repetido à exaustão, durante os prolíficos anos 70 na Itália. Cavara, tal qual Dario Argento e Sergio Martino, dadas suas devidas proporções, preocupa-se em demasia com a estética e a técnica de filmagem, sempre tentando explorar closes, planos e ângulos inusitados, às vezes até aleatórios demais, para contar sua história de mistério. As mortes são extremas e muito bem executadas, com enormes requintes de crueldade e prazer, onde um assassino usando luvas, capote e chapéu (afinal, é um giallo, esqueceu?) paralisa suas vítimas mulheres com uma agulha de acupuntura espetada em sua coluna cervical, para que ainda completamente consciente do que está acontecendo, seja estripada viva pelo malfeitor. Mortes inspiradas na vespa, inseto que pode paralisar a tarântula com seu veneno e botar seus ovos no ventre do aracnídeo, que é devorado vivo por dentro quando as larvas eclodem. Mãe natureza é pior que qualquer filme de terror! A primeira vítima deste terrível assassino é Maria Zani (Barbara Bouchet), uma bela loira promíscua e adúltera, que logo na primeira cena do filme, está peladinha recebendo massagem de um rapaz cego em um SPA, onde se passará momentos importantes da trama e terá uma ligação com todas as demais vítimas. O inspetor Tellini (vivido por um jovem Giancarlo Giannini, que você deve conhecer mais por seu papel em Hannibal ouCassino Royale), sujeito meio fracassado e incapaz, que está longe daqueles detetives perspicazes das típicas tramas whodunit?, é encarregado da investigação, e logo começa a suspeitar do ex-marido de Maria, Paolo Zani (Silvano Tranaquilli), possesso de ciúmes e que vinha sendo chantageado com fotos da esposa pulando a cerca. Logo em seguida, Mirta Ricci (Annabella Incontrera) uma dona de butique de peles, que também é traficante de drogas nas horas vagas, é a segunda vítima, morta da mesma maneira. Percebendo a conexão entre os crimes, Tellini começa a juntar os pontos enquanto Zani, agora um fugitivo, contrata um caricato detetive particular conhecido como Catapulta e financia sua própria investigação paralela para descobrir quem era o rapaz da foto que lhe foi enviada, e assim tirar o seu da reta. É a partir daí que o filme dá uma derrapada gigantesca, com uma reviravolta bisonha atrás da outra, só conseguindo voltar ao seu rumo no terceiro ato. Tellini persegue Zani e Mario, o fotógrafo amante de sua esposa, e após os dois morrerem (Paolo, ou melhor, o bonecão do Paolo, cai do topo de um prédio durante a perseguição e Mario é atropelado por alguém que tem algo a esconder), descobre que Mario tinha uma encomenda para Franca Valentino (Rossella Falk), e assim o inspetor conclui que ele na verdade era um chantageador. É ou não é uma confusão dos diabos completamente desnecessária? E pior ainda, que essa subtrama acaba aí, da forma tão abrupta quanto começou, mas os assassinatos continuam, sendo que Franca é a próxima vítima, seguida pela massagista Jenny (Barbara Bach) e a gerente Laura (Claudine Auger), do SPA onde todas as outras mulheres assassinadas frequentavam. E quando você menos espera: BLAM, eis que o assassino é revelado, quando tenta assassinar Anna (Stefania Sandrelli), a esposa de Tellini. Neste momento, nos é jogado na cara que o roteiro de O Ventre Negro da Tarântula tem mais buracos que um queijo suíço e a explicação para aquela tal pessoa estar cometendo os crimes, e ser quem nós NUNCA imaginaríamos, é das mais precárias e apressadas. Apesar de beleza das atrizes no filme, entre elas três Bond girls, Barbara Bouchet (Cassino Royale original), Barbara Bach (007 – O Espião que me Amava) e Claudine Auger (007 Contra a Chantagem Atômica), e de se tratar de um filme italiano, onde esperamos uma bela apreciação do corpo nu feminino, Cavara é extremamente contido e até tímido neste aspecto, tirando o passeio visual pelo corpo nu de Bouchet sendo massageado nos créditos iniciais. Outro ponto que deixa a desejar é a trilha sonora de Ennio Morricone, que também não acrescenta absolutamente nada em termos musicais, bem diferentes de outras trilhas contundentes que já havia criado até mesmo dentro do próprio gênero. O Ventre Negro da Tarântula é um bom giallo, honesto no que se pretende transmitir. Passa longe da Trilogia dos Animais de Argento, ou mesmo de sua obra prima, Prelúdio Para Matar, mas segue à risca os passos ensinados por Mario Bava em Seis Mulheres Para o Assassino e ajuda a expandir essa mitologia e enraizar os paradigmas dessa vertente do cinema de terror italiano, tão adorada pelos fãs do suspense e mistério.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/07/258-o-ventre-negro-da-tarantula-1971/

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

#257 1971 A ÚLTIMA ESPERANÇA SOBRE A TERRA (The Omega Man, EUA)


Direção: Boris Sagal
Roteiro: John William Corrington, Joyce Hooper Corrington (baseado na obra de Richard Matheson)
Produção: Walter Seltzer
Elenco: Charlton Heston, Anthony Zerbe, Rosalind Cash, Paul Koslo, Eric Laneuville, Lincoln Kilpatrick

A Última Esperança da Terra é a segunda incursão ao cinema do livro clássico de Richard Matheson, que já havia sido adaptado antes no ótimo Mortos que Matam, com Vincent Price no elenco, e mais tarde, na super produção Eu Sou a Lenda, com Will Smith fazendo às vezes do único humano sobrevivente da face do planeta. Talvez o mais clássico filme dos três, principalmente por conta de sua visão peculiar dos infectados, aqueles que não morreram devido ao poderoso vírus que dizimou a população mundial graças a uma epidemia de proporções bíblicas, e ao invés de se tornarem zumbis/vampiros como no livro ou nos dois outros filmes, anterior e posterior, acabaram sendo representadas por criaturas albinas mutantes, fotossensíveis, que vestido em seus trajes negros com capuz, se organizam em uma seita chamada A Família, que tem como único objetivo reconstruir nossa sociedade longe dos perigos tecnológicos e científicos (considerados hereges por eles), não repetindo os erros do passado, e se livrar o Homem Ômega, Robert Neville, vivido por Charlon “Ben-Hur” Heston. Neville, outrora proeminente cientista, desenvolveu uma vacina especial para tentar acabar com a praga, liberada por uma guerra biológica entre a União Soviética e a China (malditos comunistas!), porém ainda sem testá-la, sobrevive a um acidente de helicóptero (onde deveria ter morrido, já que o mesmo se espatifou no chão e explodiu, mas ele é o Ben-Hur, Moisés, George Taylor, né, então…) e injeta a vacina em si antes que seja infectado pelo vírus que abateu o piloto da aeronave. Com isso, Neville cria anticorpos e torna-se imune a pandemia global, sendo o único sobrevivente de uma Los Angeles vazia. Durante o dia, ele passa seu tempo tentando desenvolver uma cura, descobrir o covil da Família, conseguir gasolina, assistir no cinema Woodstock repetidas vezes e “fazer compras” na cidade. Durante a noite, ele precisa lutar por sua vida, quando o bando fundamentalista-albino-mutante liderado por Matthias (Anthony Zerbe) tenta destrui-lo com tochas e catapultas, e para relaxar, às vezes joga xadrez com um manequim que usa quepe e frita linguiças (que não estragou após dois anos, assim como o famoso bacon de Eu Sou A Lenda que não estragou depois de três). Com todo respeito, Heston não chega aos pés de Vincent Price. Enquanto a atuação do mestre é contida e ao mesmo tempo, carregada de enorme carga dramática enquanto aos poucos ele vai perdendo a sanidade, devido a solidão, ao confinamento e ao desespero, o sobrevivente de Heston é um caricato republicano machão, atlético, herói de uma nação, invencível com sua metralhadora, que dispara tanto quanto suas piadinhas sarcásticas e autoconfiança exacerbada. E essa é a tônica do filme na verdade. Um sci-fi de ação que esquece o lado claustrofóbico e vampiresco da trama do filme anterior e do livro, substituindo por socos, pontapés, escapadas e conotações racistas e xenofóbicas subliminares. E ainda acentuando mais o clima de escracho, quando Neville descobre que não está sozinho, ele encontra um grupo liderado por Lisa, uma heroína que parece ter saído diretamente de um filme blaxsploitation, que não demora muito a cair nos encantos de Heston com seu grande sorriso de cavalo esbranquiçado. Algumas das cenas entre os dois (e também alguns diálogos) e as sequências de ação do filme, são das mais piegas possíveis, com a surtada trilha sonora que mistura jazz com funk music setentista, provocando muito mais o riso do que qualquer outro tipo de sensação. A direção de Boris Sagal, mais famoso por dirigir filmes para TV, também deixa muita a desejar, sem ousar nem um pouco, parecendo que você está assistindo um loop contínuo, com os personagens passando exatamente pelas mesmas situações durante todos os 98 minutos do filme. Muito disso por conta do desenrolar do roteiro escrito a quatro mãos, pelo casal John e Joyce Corrington, que poderia explorar os diversos meandros e características psicológicas e sociais que um filme desse porte poderia conter, ainda mais introduzindo o elemento da Família, seres racionais e dotados de uma forte doutrina ludita e teocrática, que acabaram substituindo os simples, porém eficazes vampiros/ zumbis do livro.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/06/257-a-ultima-esperanca-da-terra-1971/

#256 1971 SONHOS ALUCINANTES (Let’s Scare Jessica to Death, EUA)


Direção: John Hancock
Roteiro: Ralph Rose, Norman Jonas (baseado na obra de Sheridan Le Fanu – não creditado)
Produção: Charles B. Moss Jr., William Badalato (co-produtor)
Elenco: Zohra Lampert, Barton Heyman, Kevin O’Connor, Gretchen Corbett, Mariclare Costello

Antes de qualquer coisa, falem a verdade, se o título original de Sonhos Alucinantes (Let’s Scare Jessica to Death) não é um dos melhores títulos de filmes de horror? Tirando isso, a fita de John Hancock é extremamente original e versátil, difícil de catalogar em um subgênero do terror. É um filme sobrenatural? Um filme sobre alucinações? Ou um filme sobre vampiros ou zumbis? Pois é, em meio a trama onírica surreal que permeia o longa, todos esses gêneros citados acima podem ser encontrados em Sonhos Alucinantes. Isso porquê Jessica, seu marido Duncan e o melhor amigo deles, Woody, mudam-se de Nova York para uma casa de campo no interior, a fim de tentarem reconstruir a vida, pois durante os últimos seis meses, Jessica ficou internada em uma instituição psiquiátrica. Ao chegarem na nova casa, eles descobrem que ali há uma intrusa, a simpática hippie Emily, que logo cativa a todos com seu sorriso fácil e habilidades no banjo e é convidada a morar junto com eles. Nesse meio tempo, Jessica vive sempre a sua eterna batalha contra a loucura, vivendo em um mundo limítrofe dentro de sua mente, tentando separar o que é real e o que é alucinação, graças às vozes que ouve e coisas estranhas que sempre vê. Tudo parece estar indo bem, até essas alucinações se tornarem cada vez mais constantes, e a figura de Emily passar a ser uma presença hostil, já que de alguma forma sinistra ela começa a manipular os ali presentes, como Duncan, sente-se atraído por ela, algo que também aconteceu com o Woody, e afeta a saúde mental de Jessica. O caldo entorna de vez quando Jessica e Duncan vão à cidade tentar vender algumas relíquias da casa nova, e descobrem um pouco mais sobre a história do lugar onde estão morando, contada pelo vendedor da loja de antiguidades e sobre uma suposta morte no lago perto da casa. Isso sem contar o comportamento deveras estranho dos moradores da cidade. Daí para frente o clima começa a ficar insustentável para o casal e a presença de espíritos e visões assustadoras começa a perseguir cada vez mais Jessica, que não consegue mais distinguir a realidade e o fruto de sua mente perturbada. E esse é um jogo que Hancock consegue manter com maestria durante todo o filme, desde sua cena de abertura até seu encerramento. Pois ficamos sempre com aquela pulga atrás da orelha e nunca nos é entregue nenhuma resposta fácil e clichê, deixando o final completamente em aberto para futuras reflexões, algo raríssimo no cinema de terror de hoje, por exemplo. Isso sem contar alguns recursos técnicos utilizados que realmente metem um baita medo, como a construção de um clima atmosférico e soturno, a presença constante de uma névoa que circunda a casa, paisagens escuras e lúgubres, sussurros, trilha sonora hipnótica e psicodélica típica dos anos 70, e a atuação de Jessica, deslizando entre o contido e o histérico, construindo uma personagem bastante crível e Emily, que começa com uma alegre garota cheia das boas intenções, mas vai se transformando em uma personagem sombria e manipuladora, e realmente assustadora na cena em que ela sai do lago vestido de noiva!
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
E sobre o tal lance da mistura de gêneros, as alucinações e o sobrenatural ficaram claro no texto até então. Mas onde diabos entra as histórias de vampiro e zumbi? Bom, primeiro que o próprio dono da loja de antiguidades conta uma lenda sobre a garota morta afogada nunca ter sido encontrada e que perambulava por aí viva até hoje como uma vampira. Segundo que o filme é uma adaptação não oficial e não creditada do clássico conto gótico de vampiros Carmilla, de Sheridan Le Fanu, que utiliza o conceito do vampiro como uma aparição. E mais tarde essa lebre do vampirismo é deixada de forma mais clara no filme, porém não escancarada. E os zumbis, dão as caras no finalzinho, quando Jessica começa a ser perseguida por todos os “mortos” da cidade. Só que são zumbis ou são fantasmas? É tudo coisa da cabeça de Jessica ou esse combinado de elementos fantásticos está realmente em seu encalço? A própria personagem se questiona em relação a isso em seu solilóquio final. O autor do título em português imparcialmente já nos deu sua opinião. E você? O que acha? Essas perguntas sem resposta fazem de Sonhos Alucinantes um grande filme de terror.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/05/256-sonhos-alucinantes-1971/

terça-feira, 22 de setembro de 2015

#255 1971 A SOMBRA DO LOBISOMEM (La noche de Walpurgis / Shadow of the Werewolf / Werewolf Shadow / The Werewolf Versus Vampire Woman / Blood Moon. Espanha, Alemanha Ocidental)


Direção: León Klimovsky
Roteiro: Paul Naschy, Hans Munkel
Produção: Salvadore Romero
Elenco:Paul Naschy, Gaby Fuchs, Barbara Capell, Andrés Resino, José Marco, Patty Shepard

A Sombra do Lobisomem, também conhecido por A Noite de Walpurgis (e mais uma cacetada de nomes que o filme ganhou internacionalmente em cada nova mídia que era lançada ou nos cinemas que era exibido) é o mais famoso filme do personagem Waldemar Daninsky, o lobisomem espanhol interpretado pelo ator, diretor, roteirista e produtor Jacinto Molina, sob o pseudônimo de Paul Naschy. Uma série destes filmes começou a ser produzida na Espanha no final dos anos 60 e durou até 2003, contabilizando nada menos que 11 títulos com Waldemar ficando peludo e uivando para a lua, enfrentando todo tipo de criatura sobrenatural em uma verdadeira salada de frutas de monstros, que vai desde vampiros, bruxas, até zumbis e demônios (e o próprio tinhoso em pessoa!). O primeiro longa foi lançado em 1968, com o título de A Marca do Lobisomem.  E uma das peculiaridades entre estes filmes é que eles traziam pouquíssima, ou nenhuma, cronologia entre eles, mesmo que trazendo Naschy como protagonista repetindo seu papel como lobisomem todas as vezes. A Sombra do Lobisomem é o segundo filme da “franquia” e é uma verdadeira pérola do cinema trash, feito com um orçamento irrisório, atuações bisonhas, um enredo ridículo, diálogos enfadonhos, furos de roteiro e erros de continuidade grotescos, efeitos especiais esdrúxulos, e tudo isso é o que faz com que o filme torne-se deliciosamente divertido. Sério, é aquele tipo de produção para chamar os amigos que gostam deste tipo de podreira para uma sessão pipoca e rolar no chão de dar risada. A história começa com um investigador de polícia e um médico legista chegando até uma cidadezinha na calada da noite (de lua cheia, óbvio) para fazer a autópsia do corpo de Waldemar (apelidado no Horrorcast de Waldemar Tristonho, por sua constante cara de coitado) que jaz no necrotério, atingido por uma saraivada de balas de prata. Claro que há a suspeita de que o presunto seja um lobisomem, mas claro que os dois não levarão a sério a superstição do vilarejo e nem a marca de pentagrama (que parece mais qualquer outra figura geométrica disforme desenhada por uma criança – ou uma tomada – do que um pentagrama em si) em seu peito, que já remete ao símbolo do lobo desde os tempos de O Lobisomem da Universal. Ao retirarem as balas do cadáver, Waldemar volta à vida e logo ataca e dilacera os dois indivíduos, escapando floresta afora, onde na sequência já ataca uma garota camponesa nos bosques (além de atingi-la, ele também arranca a roupa da moçoila só para que ela fique com os peitos de fora). Vamos seguir a história de Waldemar, recorrente em todos os longas, como um homem atormentado pela maldição do lobo, procurando uma forma de dar cabo de sua vida e terminar com seu sofrimento licantropo. Tal qual a própria franquia da Universal que trazia Lon Chaney Jr. como o infeliz e amaldiçoado Larry Talbot. Na verdade a influência dos filmes da Universal é gritante, até mesmo na maquiagem do monstro (Jack Pierce revira-se no túmulo agora) e nos efeitos de trucagem de sua transformação. E como se não bastasse, Waldemar transformou-se na criatura ao ser atacado por outro lobisomem durante uma excursão ao Tibete. Lembra-se de O Homem Lobo de 1935, também da Universal? Pois é, mesma história. Nesse ínterim, duas garotas, Elvira (Gaby Fuchs) e sua amiga, Genevieve (Barbara Capell) estão viajando pela França em busca do túmulo perdido da condessa húngara Wandessa Dárvula de Nadasdy, morta no Século XV acusada de cultos satânicos e vampirismo, por beber o sangue de jovens virgens (clara influência da lenda da condessa Elizabeth Bathory, também conhecida como Condessa de Sangue). Ao chegarem a uma parte isolada do interior francês, mais precisamente em um castelo medieval que surge entre as ruínas, elas encontram Waldemar, refugiado com sua irmã desequilibrada mental, Elizabeth (Yelena Samarina), que se diz um escritor fazendo pesquisas para seu próximo livro. Waldemar é extremamente cortês e solícito e hospeda as duas beldades, logo caindo de amores por Elvira, e vice versa. Com interesses próprios de encontrar a cruz de prata de Mayenza, único artefato mágico capaz de por fim à vida do lobisomem, contato que seja manuseado por uma mulher que o ame de verdade, e que acredita estar enterrado no túmulo da Condessa Wandessa, Waldermar parte com as duas moças para encontrar o corpo perdido da vampira, apenas para despertá-la da fome de seu sono secular, quando Genevieve se fere e derrama algumas boas gotas de sangue milimetricamente em seu cadáver esquelético, logo após a cruz ter sido arrancada de seu peito onde esteve enfiada, e que mantinha a morta-viva, hã… morta. Bom, até aí tudo bem. É mais uma daquelas histórias góticas cheia de simbolismos e criaturas sobrenaturais, como era de costume nos filmes de terror desde a década de 30. Mas é então que começa uma sucessão de presepadas: O sacerdote/ guardião que havia sido morto com a condessa também é trazido de volta à vida como um morto-vivo maltrapilho IGUALZINHO aos cavaleiros templários cegos zumbis de Armando de Ossorio, a condessa Wandessa vampiriza Genevive em um encontro noturno posterior recheado de safadeza lésbica, e as duas partem para chupar o sangue das camponesas incautas; um sujeito esquisitíssimo, com pinta de psicopata, chamado Pierre que é uma espécie de zelador do castelo de Waldemar, leva Elvira para deixar uma carta no correio para seu então namorado, o inspetor Marcel (Andrés Resino) e tem uma conversa com ela no carro que é das mais inexoráveis da história do cinema de horror; e isso sem contar as escapadelas de Waldemar como lobisomem nas noites de lua cheia, deixando uma trilha de cadáveres. Então caberá aos heróis, no caso Waldemar, Elvira (que chega a ser vampirizada, mas volta ao seu estágio natural quando Daninsky mata Genevieve) e Marcel, que responde a carta da namorada só para chegar e descobrir que é um corno, já que a moça agora ama o lobisomem (não antes de uma patética cena de um jantar do investigador com o prefeito da cidade, com o diálogo todo em espanhol sendo que todo o resto do filme é dublado em inglês), acabar com a raça da condessa Wandessa durante a noite de Walpurgis (celebrada na noite de 30 de maio para 1º de abril), antes que ela invoque o diabo em carne, osso e chifre (que só aparece como um vulto na parede) em um ritual satânico, e ao mesmo tempo, Waldemar tentar se livrar de uma vez por todas da terrível maldição que o transforma em um licantropo, pedindo para ser morto pelas mãos da relutante e apaixonada Elvira. Ainda há espaço para muitos absurdos no decorrer da película, que vai deixando-a cada vez mais sem pé nem cabeça e algumas situações memoráveis, todas auxiliadas pela incompetência do diretor argentino León Klimovsky, falta de recurso técnico e financeiro e as infelizes tentativas de transformar a presença da condessa vampira e sua nova cria das trevas em algo onírico, tétrico, evanescente e fantasmagórico, com sua esvoaçante túnica e véu preto, que faria Jean Rollin corar de vergonha. Mas nada, NADA, se compara a uma cena em que o irmão de Pierre tenta matar Waldemar com uma faca, mas acaba tropicando e caindo sobre a própria arma e morrendo, ou quando o homem lobo mata Genevieve e depois vai enfiar a estaca no peito e decapitar o bonecão com um machado! As coreografias das cenas de ação, entre lutas do lobisomem com vampiros ou sua caça à presas humanas, são dignas dos melhores momentos de Os Trapalhões, com suas cabeçadas, tabefes, safanões, pescotapas, cambalhotas e pulos. Cenas atabalhoadas com uma direção precária, tanto de cenas quanto de atores (volto a destacar os diálogos do filme) misturam-se a erros crassos como a transformação em lobo com chumaços de pelos escuros surgindo no rosto, ou suas roupas aparecendo intactas após a volta à forma humana. E como pontos positivos (se você de verdade não achar tudo isso que eu escrevi até agora como positivo), somente o intenso derramamento de sangue (apenas na versão sem cortes, que tem nove minutos a mais) e a abundância de peitinhos de fora no decorrer do filme. Depois de destrinchar A Sombra do Lobisomem, aposto R$ 10 como qualquer um que leu esta resenha vai querer assistir ao filme. Impossível passar incólume, quer você seja um apreciador do trash em seu estado bruto, quer apenas você tenha curiosidade mórbida ou queira descobrir tudo que não deve ser feito em uma produção cinematográfica. Ainda assim, é uma homenagem paupérrima a Era de Ouro da Universal, principalmente quando acontecia aquele crossover entre os monstros do estúdio em meados e final da década de 40, e ao personagem imortalizado por Lon Chaney Jr. Mas quer saber? Para mim, Jacinto Molina, ou Paul Naschy se preferir, morto em 2009, foi tão importante para o cinema de horror e para a figura do lobisomem quanto Chaney, falei aqui.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/04/255-a-sombra-do-lobisomem-1971/

domingo, 20 de setembro de 2015

INSANITY (HONG KONG, 2015)




















A DAMA E O MONSTRO (THE LADY AND THE MONSTER. EUA, 1944)


DIREÇÃO: George Sherman

ELENCO:
Vera Ralston: Janice Farrell (creditada como Vera Hruba Ralston)
Richard Arlen: Dr. Patrick Cory
Erich von Stroheim: Prof. Franz Mueller
Helen Vinson: Chloe Donovan (é a Sra. Donovan)
Mary Nash: Sra. Fame (a governanta)
Sidney Blackmer: Eugene Fulton
William Henry: Roger Collins (creditado como Bill Henry)
Charles Cane: Sr. Grimes
Juanita Quigley: Mary Lou
Josephine Dillon: a avó de Mary Lou

SINOPSE:
O Professor Franz Mueller (Erich von Stroheim) é um cientista obstinado em provar que um cérebro pode ser mantido vivo e consciente mesmo após a morte do corpo. Ele conta com a ajuda de seus dois fiéis assistentes: a Srta. Janice Farrell (Vera Ralston) e o Dr. Patrick Cory (Richard Arlen). Os resultados com as cobaias não estão sendo muito animadores, mas o Prof. Mueller é persistente e seu maior desejo é conseguir um cérebro humano. Até que certo dia aparece um doador. O Prof. Mueller demonstra que sua teoria está correta, mas as consequências desse experimento serão terríveis. Baseado no conto de ficção científica "Donovan's Brain", de Curt Siodmak.

COMENTÁRIOS ( por Carlos Solrac ):

THE LADY AND THE MONSTER, lançado em 1944, é um filme americano do gênero terror, ficção científica e suspense, dirigido por George Sherman (1908–1991). É uma adaptação do conto de ficção científica "DONOVAN'S BRAIN" (título em português: O Cérebro de Donovan) de Curt Siodmak, publicado em 1942. Trata-se da história de um cérebro sem corpo exercendo uma influência maligna sobre as pessoas ao seu redor. Foram feitas três adaptações para o cinema: THE LADY AND THE MONSTER (1944)  DONOVAN'S BRAIN (1953), Experiência Diabólica, aka O Cérebro Maligno e THE BRAIN (1962).
Em THE LADY AND THE MONSTER o Prof. Franz Mueller é o cientista que tenta provar que, mesmo após a morte do corpo, um cérebro pode ser mantido vivo e consciente dentro de uma solução nutritiva. Em "DONOVAN'S BRAIN", de Curt Siodmak, esse personagem não existe e nesse conto é o próprio Dr. Patrick Cory o especialista em cérebros.
Vera Ralston (1923–2003) nasceu na cidade de Praga, na Tchecoslováquia, atual República Tcheca. Em THE LADY AND THE MONSTER numa conversa entre o Dr. Cory (Richard Arlen) e a Srta. Janice Farrell (Vera Ralston), ele diz que soube pelo Prof. Mueller (Erich von Stroheim) que após a morte do pai dela na Tchecoslováquia, ela havia sido confiada aos cuidados do professor. Provavelmente isso foi feito apenas para explicar ao público americano o sotaque estrangeiro de Janice.

O texto a seguir mostra apenas a minha visão sobre o envolvimento que havia entre o Prof. Franz Muller, a Srta. Janice Farrell e o Dr. Patrick Cory em THE LADY AND THE MONSTER. Não é um resumo do filme. O Prof. Franz Muller era um brilhante e excêntrico cientista que passava o tempo estudando cérebros. Morava e tinha seu laboratório nas proximidades de um deserto no Arizona, numa enorme mansão que ele chamava de “O Castelo”. Com ele também viviam a Srta. Janice Farrell e o Dr. Patrick Cory, seus dois fiéis assistentes, além da Sra. Fame, sua sinistra governanta. O Dr. Cory acreditava que o Prof. Muller cuidava de Janice como se fosse um verdadeiro pai. Afinal, quando o pai de Janice morreu, na Tchecoslováquia, ela havia sido confiada aos cuidados do estimado professor. Mas Janice sabia que o amor que Muller sentia por ela não era exatamente paternal. Além do mais, Muller não fazia o tipo dela. O fascínio por uma mulher o levou a ultrapassar as fronteiras da vida e do amor. A mais incrível história já contada nas telas dos cinemas. Um grande cientista com poderes ilimitados levado ao estranho mundo dos experimentos bizarros por atração a uma linda mulher! No entanto, o Prof. Muller também sabia que Janice estava de olho no Dr. Cory. Mas ele precisava de Cory para ajudá-lo em suas experiências em “prol da humanidade” e por isso fazia de tudo para mantê-los separados, mas ao mesmo tempo sempre juntos ao seu lado. E para conseguir isso, Muller também era um especialista em usar de truques sujos. Se Cory e Janice já estavam prontos para sair, ir à uma festa e se divertir, aparecia o Dr. Muller dizendo, no último instante, que precisava da ajuda deles pois havia um macaco tuberculoso que necessitava urgentemente ter o cérebro removido. Sua beleza o levou a se aventurar pelos caminhos do desconhecido... Descobrir os segredos proibidos do amor... e da vida! Um terrível destino a aguardava... traçado pela vontade de um brilhante cientista louco e seus desejos mais secretos! Bem que Janice queria largar aquele emprego. Ela ficava apavorada cada vez que ouvia falar na tal da serra de Gigli que o Prof. Muller usava para serrar o crânio de suas cobaias. Mas como Muller vivia dizendo que ela ainda seria uma grande cientista, ela acabava ficando. Na verdade, tudo o que ela mais desejava era que o Dr. Cory tomasse a iniciativa e a levasse dali. Mas ele parecia muito mais interessado nas experiências malucas do Prof. Muller do que nela. Principalmente depois que Muller arranjou um novo inquilino. Um cérebro maligno que vivia dentro de um enorme pote de vidro. É claro que o filme não é só isso. E o restante não vou contar.

No conto de Curt Siodmak, o nome do homem que “doou” o cérebro era Warren Horace Donovan. No filme THE LADY AND THE MONSTER de 1944 foi chamado de William H. Donovan. Em DONOVAN'S BRAIN de 1953 recebeu o nome de Warren H. Donovan. Já no filme THE BRAIN de 1962 ficou conhecido como Max Holt.

sábado, 19 de setembro de 2015

#253 1971 4 MOSCAS SOBRE O VELUDO CINZA (4 mosche di velluto grigio / Four Flies on Grey Velvet, Itália, França)


Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Luigi Cozzi, Mario Foglietti
Produção: Salvatore Argento
Elenco:Michael Brandon, Mimsy Farmer, Jean-Pierre Marielle, Bud Spencer, Aldo Bufi Landi

Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza é o filme que finaliza a famosa Trilogia dos Animais de Dario Argento, responsável por criar um padrão cinematográfico que seria fundamental para a popularização do gênero giallo no cinema de horror, e firmar de vez o nome de Argento como um dos promissores diretores do cinema italiano. Mas como toda trilogia, com raríssimas exceções que contamos nos dedos, o terceiro filme é o pior de todos e o que mais deixa a desejar com relação a seus antecessores. Apesar de notarmos claramente a evolução de Argento e o começo da criação de sua estrutura visual que viria a permear os filmes posteriores. O problema é o maldito viés cômico que ele tenta imprimir no filme, caindo em certas armadilhas de um ridículo pastelão que são capazes de sabotar qualquer clima de suspense criado e a trama completamente tresloucada com reviravoltas seguidas que explodem num clímax pífio e insatisfatório ao espectador. E clima de suspense esse que um verdadeiro discípulo de Hitchcock faz questão de seguir à risca. Como em seus dois longas anteriores da Trilogia dos Animais, Argento logo no começo do filme já coloca as peças do quebra-cabeça sobre a mesa, para que a audiência comece a tentar montá-lo, assim como seu protagonista, seguindo o mais puro padrão das histórias whodunit? de Edgar Wallace. Neste caso, Roberto Tobias, um baterista de uma banda de rock setentista acidentalmente assassina um estranho que o estava perseguindo e é fotografado enquanto cometia o crime por um misterioso sujeito usando uma bizarra máscara. Daí por diante verá sua vida entrar em colapso com a testemunha (provavelmente que armou o assassinato) chantageando-o, torturando-o psicologicamente e perseguindo e matando membros próximos de seu círculo social e família. Dentro desse enredo simples, seguido de mortes cada vez mais elaboradas, momentos de puro suspense, técnicas de filmagem típicas de Argento explorando cores, ângulos, closes, e furos e absurdos no roteiro, é que nos são apresentados os personagens que compõe a trama, um mais esquisito que o outro. Coloque nesta conta um dos amigos de Roberto chamado God (diminutivo de Godfrey), interpretado por Bud Spencer (que claramente só de ver sua presença na tela já não dá para se levar muito a sério e não imaginar ele ao lado do Terence Hill nos filmes do Trinity), um detetive particular gay estereotipado contratado para ajudar a descobrir o chantageador/ assassino, um carteiro saco de pancada e outro amigo de God que também é um sujeito para lá de desmiolado. Pronto, a partir do momento que você para de levar Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza a sério, o filme decai de uma forma abissal. Agradecemos aos céus todos os dias de nossas vidas que Argento desistiu de qualquer alívio cômico em seus violentos e afetados filmes vindouros. Mas o que vale mesmo é pensar no fato de que a estranheza do diretor e a enxurrada de personagens superficiais para serem mortos, começaram a ser extrapolados e levados muito a sério, sempre deixando bem claro o desconforto que Argento cria ao jogá-los em situações limites e dando volta em círculos, matando todo e qualquer um que esteja se aproximando da verdade ou de uma resolução.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Argento sempre foi criativo no título dos filmes da sua Trilogia dos Animais, e sempre conseguiu fisgar uma explicação completamente absurda para tal. Aqui em Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, a lógica para as tais “quatro moscas” do título surge ao analisar uma das vítimas, apropriando-se de uma teoria de que poderia ficar gravado na retina a ultima visão da pessoa antes de morrer, constata-se que o presunto viu quatro moscas. Sem sentido, certo? Até que nosso herói Roberto descobre que a sua esposa, Nina, é a chantagista, assassina, desequilibrada, sofrendo de sérios problemas psicológicos que a fazem comparar o marido ao pai, de quem sofria abusos na infância por não ter nascido menino, quando nota que ela usa um amuleto com o desenho de uma mosca, que balançava e dava a impressão de serem quatro moscas por conta do movimento, visto pela vítima antes de ser assassinada. Haja criatividade! Enfim, Quatro Moscas Sobre o Veludo Cinza é pior que seu predecessor, O Gato de Nove Caudas, e melhor, tecnicamente falando, do que o pioneiro O Pássaro das Plumas de Cristal. Mas ainda assim é um filme fraquinho e mal desenvolvido, mas por se tratar de Argento, com certeza está um degrau acima do que muita coisa de suspense feita até então (e até hoje), e estaria apenas começando de forma precoce a mostrar ao mundo ao que veio.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/31/253-quatro-moscas-sobre-veludo-cinza-1971/

O VALE PROIBIDO (The Valley of Gwangi, EUA, 1969)


Direção: Jim O'Connolly

Roteiro: William Bast; Julian More; Willis H. O'Brien

Produção: Ray Harryhausen e Charles Schneer

Elenco:
James Franciscus ... Tuck
Gila Golan ... T.J. 
Richard Carlson ... Champ 
Laurence Naismith ... Professor Bromley 
Freda Jackson ... Tia Zorina 
Gustavo Rojo ... Carlos 
Dennis Kilbane ... Rowdy 
Mario De Barros ... Bean (as Mario de Barros) 
Curtis Arden ... Lope 





SINOPSE:

 O Cowboy James Franciscus e outros aventureiros se deparam com um monstro pré-histórico num vale perdido no México e decidem exibi-lo em um circo para fazer dinheiro, mas a criatura não está muito interessada em participar desse plano...

COMENTÁRIOS
Gwangi foi originalmente concebido por Willis O'Brien (1886-1962), o grande homem que criou os efeitos especiais para o original King Kong (1933), mas teve os efeitos especiais feitos por Ray harryhausen. O enredo foi inspirado pelo livro de Sir Arthur Conan Doyle, O Mundo Perdido (1912), com elementos adicionados de King Kong (captura de um monstro e trazê-lo para a civilização). No cenário de O'Brien, então chamado Valley of the Mists (Vale das Brumas), cowboys descobrem um Allosaurus no Grand Canyon e o levam para um show de circo do oeste selvagem.  O'Brien morreu antes de O Vale de Gwangi ser filmado. Mas ele já havia feito um filme semelhante, The Beast of Hollow Mountain, gravado em 1956, produzido por ele e uma empresa de cinema mexicana com a mesma história. Gwangi foi descrito no roteiro original de O'Brien como um "Allosaurus", embora O'Brien aparentemente não nos passe a diferença entre um Allosaurus e um  Tiranosaurus Rex, pois ele também chamou  o T. Rex  no original King Kong (modelado por Marcel Delgado) de Allosaurus. De acordo com Ray Harryhausen, sua própria versão de Gwangi foi baseado em uma pintura de Charlie Knight, que é um grande artista que usa informações científicas e fosseis para realizar as pinturas.

Em uma entrevista de DVD Harryhausen disse: "Às vezes o chamo de" Allosaurus "... Os dois são comedores de carne, ambos são tiranos ... um foi um pouco maior que o outro." Gwangi foi dimensionado para ter 14 metros de altura, dentro da faixa de tamanho de um adulto médio de T. Rex (embora não o maior), e no limite superior dos maiores espécimes de Allosaurus.