Direção: Harry
Kümel
Roteiro: Pierre
Drouot, Harry Kümel, Jean Ferry (diálogo), Manfred R. Köhler (não creditado)
Produção: Paul
Collet, Henry Lange, Luggi Waldleitner (não creditado), Pierre Drouot e Alain
C. Guilleaume (Produtor Associado)
Elenco: Delphine
Seyrig, John Karlen, Danielle Ouimet, Andrea Rau, Paul Esses
O cultuado filme de Harry
Kümel, Escravas do Desejo, é uma produção belga-franco-germana que está naquele
patamar dos filmes de vampiro interessantíssimos, atmosféricos e carregado de
sensualidade e explosão erótica, típico das produções europeias com esse teor
permissivo do começo dos anos 70. Calcado no lesbianismo vampírico,
possivelmente inspirado (e indo além) pelos temas levantados no seminal
Carmilla de Sheridan Le Fanu, Escravas do Desejo é mais poético e
extasiante do que os exageros eróticos de nudez exacerbada de diretores como
Jean Rollin ou Jesús Franco. É aquele tipo de filme que é uma bomba de explosão
sexual, onde todos os personagens, tanto os vampiros quanto suas vítimas
humanas, estão envoltos em um inebriante jogo de sedução poderosíssimo. Por
isso é considerado o mais classudo filme sobre vampiras lésbicas já feito. Pegando
carona na lenda da Condessa Elizabeth Bathory, que acreditava-se banhar em
sangue de virgens para manter a sua juventude e imortalidade (também inspirador
do filme da Hammer do mesmo ano, A Condessa Drácula, com Ingrid Pitt no elenco), o
pródigo Kümel usa essa premissa para criar seu filme “comercial”, que para ele
significava não ter de passar pelo constrangimento da aprovação do governo e ir
o mais longe possível em explorar a nodosidade do assunto, porém com uma
atitude artística. Dois jovens, Stefan (John Karlen) e Valerie (Danielle
Ouimet), casam-se secretamente na Suíça e pegam um trem com destino a sua lua
de mel na Alemanha, hospedando-se em um praticamente abandonado hotel de
veraneio em pleno inverno, o que os daria tranquilidade até que eles fossem
encarar a mãe de Stefan e contar a ela sobre o casamento, algo, que por nenhum
motivo revelado, ele tenta protelar ao máximo, deixando-se permanecer no local por
mais tempo que o combinado. Neste mesmo hotel, a Condessa Bathory, interpretada
glamourosamente por uma bela e madura Delphine Seyrig, vive com sua amante
Ilona (Andrea Rau), uma morena de cabelos curtos e olhar hipnótico e sedutor. A
presença dos dois jovens aguça os sentidos da mulher que rapidamente, começa um
jogo massivo em cima dos dois, indefesos dos poderes sedutores da vampira e
incapazes de resistir. Stefan começa a se sentir estranhamente atraído pela
morte (diversas garotas são mortas misteriosamente na cidadela próxima,
encontradas sem nenhuma gota de sangue) e torna-se introspectivo e agressivo,
chegando até a espancar a pobre esposa com um cinto em uma das cenas mais
impactantes do longa. Neste momento, Valerie humilhada tenta ir embora e pegar
o próximo trem, quando o plano da Condessa entra em cena, com a mulher tentando
convencê-la a ficar e a estonteante (e estranha) Ilona parte para seduzir
Stefan. A cena que se segue após a transa do dois, quando Stefan vai tomar
banho e força a garota a entrar no chuveiro, que começa a se debater para se
livrar desesperadamente (pois como bem sabemos, uma das fraquezas dos vampiros
é a água corrente) é simplesmente fantástica. Uma sucessão de tragédias
enquanto os dois se debatem leva a garota a morte, enfraquecida pelo banho, e
os três personagens partem para tentar enterrar o corpo. Ao final, está
reservado à improvável e fraca Valerie, tentando se livrar da influência do
marido e da forma como a Condessa Bathory a subjuga, encerrar esse pesadelo. Apesar
da tonelada de cenas desconcertantes de choque e nudez (principalmente de
Ilona) o filme acabou tornando-se menos sangrento e mais sutil do que o próprio
Kümel desejava (ele havia declarado ter previsto uma cena com 700 virgens banhando-se
em sangue!), e deu lugar as influências surrealistas de seus compatriotas como
Paul Devaux e Leon Spilliaert, as locações ermas jogando vampiro e suas vítimas
em uma paisagem fria e desoladora, o uso preciso do jogo de luzes, tons de
vermelho profundo, atuações beirando o sonambulismo e uma certa devassidão
decadente, em uma atmosfera latente e sensual de sonho. Tais combinações
chocantes poderiam certamente decretar o fracasso comercial de Escravas do
Desejo, mas como Kümel conseguiu balancear todos estes elementos
cuidadosamente, o filme recebeu críticas extremamente positivas, superando as
expectativas e obtendo sucesso em centros como Londres, Paris, e até nos
Estados Unidos, sempre reticente a esse tipo de produção. Além disso, após
desaparecer do radar do público, tornou-se um hit nas sessões da
meia-noite. Escravas do Desejo é um fenômeno escondido dentro de seu
próprio subgênero, cult ao extremo, redescoberto ao passar dos anos
por toda uma nova geração de fãs do horror e cinéfilos em geral. Detentor de
certa classe sem nenhuma apologia, já que todas as pretensões são inatas,
enquanto ao mesmo tempo entrega uma experiência sofisticada de terror.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/23/246-escravas-do-desejo-1971/
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