Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Sean
S. Cunnigham, Katherine D’Amato (Produtora Associada)
Elenco: Sandra
Peabody, Lucy Grantham, David A. Hess, Fred J. Lincoln, Jeramie Rain, Marc
Sheffler
Na minha
opinião, Aniversário Macabro, do diretor de
primeira viagem Wes Craven, daria o pontapé inicial no tom sádico e extremista
que o cinema de terror atingiria durante os anos 70. Essa é uma das pedras
angulares do gênero, membro com louvor da famigerada lista dos nasty
videos do DPP, que mostrou que o cinema de terror não estava para
brincadeira e sepultou de uma vez por todas, todo aquele clima gótico e
inocente dos anos 60 à sete palmos abaixo da terra. O longa escancara o fim
do American Way of Life e o movimento “paz e amor” dos hippies,
substituindo-os pela violência e o pessimismo, reflexo da tonelada de soldados
morrendo na estupidez que foi a Guerra do Vietnã e do desgosto com a política
de Richard Nixon que eclodiria com o caso Watergate dois anos depois. Sem
dúvida nenhuma os anos 70 foi um campo extremamente frutífero para novos
diretores darem início a um cinema transgressor, marginal, levando maldade e
crueldade para o espectador médio, e Wes Craven é um dos melhores exemplos
disso, pois antes de criar as franquias A Hora do Pesadelo e Pânico, em seu debute fez
um filme atroz, brutal, com um nível de sadismo raramente visto nas telas até
então, tudo filmado em um incômodo tom quase documental. Com um orçamento
ridículo, Craven e o produtor Sean S. Cunningham (que na década seguinte
criaria a cinesérie Sexta-Feira 13) se inspiraram em A Fonte da Donzela,
filme do sueco Ingmar Bergman e entraram de cabeça no
universo exploitation para contar a história de Mari Collingwood
(Sandra Peabody), uma adolescente que mora com pais ripongas em um local
afastado em meio à uma floresta, na última casa à esquerda (título do filme
original). No dia que completa 17 anos (daí o talAniversário Macabro, péssima
escolha de título nacional), sai com sua amiga, Phyllis (Lucy Grantham), para
um show de rock na cidade e ao pararem para comprar maconha, se veem raptadas
por uma gangue de violentos delinquentes recém fugidos da cadeia, liderada por
Krug Stillo (David Hess), contando ainda com o maníaco estuprador e molestador
de crianças, Fred “Doninha” Podolski (Fred Lincoln), a amalucada Sadie (Jeramie
Rain) e o filho de Krug, Junior (Marc Sheffler), um drogado que é usuário de
heroína desde os 12 anos, viciado pelo próprio pai para poder controlar sua
vida. Krug e seus comparsas levam as garotas para o meio do mato, que numa
ironia do destino, fica apenas a alguns metros da casa de Mari, e começam a
tortura-las impiedosamente. Um dos momentos mais chocantes do cárcere das
garotas é quando Krug pede para que Phyllis mije nas próprias calças, só para saciar
os desejos sádicos e doentios do grupo. Claro que a coisa não vai acabar bem
para as reféns e
ALERTA DE SPOILER:
as duas acabam sendo
brutalmente assassinadas, com Phyllis desmembrada e as tripas arrancadas e Mari
estuprada por Krug e depois morta com um tiro certeiro na cabeça. Os bandidos
então resolvem parar em uma casa que fica nas proximidades, que é justamente a
casa dos pais de Mari, que os acolhem para passar a noite por lá e até lhes
oferecem um jantar (lembrem-se que estamos no começo dos anos 70 e os
Colingwoods são mega hippies). Mais tarde, descobrem que eles mataram sua
pequena filha que não voltara ao lar e partem para uma sangrenta vingança, com
direito a castração por mordida à beira da piscina e uso de motosserra, antes
mesmo de Leatherface popularizá-la no cinema de terror! Pois é. A coisa é tão
pesada que o filme ganhou inicialmente uma censura X (atual NC-17) nos EUA,
coisa que é reservada apenas aos filmes pornôs, e acabou sendo tão mutilado
para ganhar uma censura R (menores de 17 anos só entram acompanhados de um
adulto responsável), que só foi possível ser exibido graças a um amigo de
Craven que fez uma manobra para trocar os filmes na hora de passar, sei lá,
pela décima vez pela censura. Fora outros países em que o filme foi totalmente
proibido (Inglaterra principalmente, como disse lá em cima, a fita foi
sumariamente banida pelo BBFC). Apenas para podermos nos situar um pouco, hoje
em dia estamos acostumados a filmes com cenas brutais de tortura (vide Jogos
Mortais ou O Albergue, por exemplo) mas em 1972 meu amigo, aquilo era
inédito. Subversão pura! Para sair um pouco da tensão e do clima macabro que
permeia o longa, Craven investiu em alívios cômicos como a dupla de policiais
idiotas, que tem de se sujeitar a pegar carona em uma camionete cheia de
galinhas em determinada cena, e com a trilha sonora pontual, ora repleta de
música folk dos anos 60 em momentos pesados, ora com músicas de
comédias pastelão. A filmografia de Craven (tirando os dois exemplos citados nesse
texto, e também Quadrilha de Sádicos, seu próximo
trabalho) se perdeu de uma forma triste no decorrer dos anos, com filmes
imbecis como A Maldição de Samantha, Um Vampiro no Brooklyn ou o
recente A Sétima Alma, mas seu começo de carreira foi promissor demais e
ele é o cara responsável por três filmes decisivos na manutenção do status
quo do cinema de terror. Aniversário Macabro é um deles. Só um
PS antes de terminar o texto. Ironicamente, Craven produziu o remake
de Aniversário Macabro em 2009, que por aqui ganhou o título
de A Última Casa, para uma plateia hoje em dia acostumada com essas
atrocidades, mas que é muito mais light do que seu predecessor. Não
assista que é uma perda de tempo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/10/259-aniversario-macabro-1972/
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