segunda-feira, 28 de setembro de 2015

#259 1972 ANIVERSÁRIO MACABRO (The Last House on the left, EUA)


Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Sean S. Cunnigham, Katherine D’Amato (Produtora Associada)
Elenco: Sandra Peabody, Lucy Grantham, David A. Hess, Fred J. Lincoln, Jeramie Rain, Marc Sheffler

Na minha opinião, Aniversário Macabro, do diretor de primeira viagem Wes Craven, daria o pontapé inicial no tom sádico e extremista que o cinema de terror atingiria durante os anos 70. Essa é uma das pedras angulares do gênero, membro com louvor da famigerada lista dos nasty videos do DPP, que mostrou que o cinema de terror não estava para brincadeira e sepultou de uma vez por todas, todo aquele clima gótico e inocente dos anos 60 à sete palmos abaixo da terra. O longa escancara o fim do American Way of Life e o movimento “paz e amor” dos hippies, substituindo-os pela violência e o pessimismo, reflexo da tonelada de soldados morrendo na estupidez que foi a Guerra do Vietnã e do desgosto com a política de Richard Nixon que eclodiria com o caso Watergate dois anos depois. Sem dúvida nenhuma os anos 70 foi um campo extremamente frutífero para novos diretores darem início a um cinema transgressor, marginal, levando maldade e crueldade para o espectador médio, e Wes Craven é um dos melhores exemplos disso, pois antes de criar as franquias A Hora do Pesadelo e Pânico, em seu debute fez um filme atroz, brutal, com um nível de sadismo raramente visto nas telas até então, tudo filmado em um incômodo tom quase documental. Com um orçamento ridículo, Craven e o produtor Sean S. Cunningham (que na década seguinte criaria a cinesérie Sexta-Feira 13) se inspiraram em A Fonte da Donzela, filme do sueco Ingmar Bergman e entraram de cabeça no universo exploitation para contar a história de Mari Collingwood (Sandra Peabody), uma adolescente que mora com pais ripongas em um local afastado em meio à uma floresta, na última casa à esquerda (título do filme original). No dia que completa 17 anos (daí o talAniversário Macabro, péssima escolha de título nacional), sai com sua amiga, Phyllis (Lucy Grantham), para um show de rock na cidade e ao pararem para comprar maconha, se veem raptadas por uma gangue de violentos delinquentes recém fugidos da cadeia, liderada por Krug Stillo (David Hess), contando ainda com o maníaco estuprador e molestador de crianças, Fred “Doninha” Podolski (Fred Lincoln), a amalucada Sadie (Jeramie Rain) e o filho de Krug, Junior (Marc Sheffler), um drogado que é usuário de heroína desde os 12 anos, viciado pelo próprio pai para poder controlar sua vida. Krug e seus comparsas levam as garotas para o meio do mato, que numa ironia do destino, fica apenas a alguns metros da casa de Mari, e começam a tortura-las impiedosamente. Um dos momentos mais chocantes do cárcere das garotas é quando Krug pede para que Phyllis mije nas próprias calças, só para saciar os desejos sádicos e doentios do grupo. Claro que a coisa não vai acabar bem para as reféns e
ALERTA DE SPOILER:
as duas acabam sendo brutalmente assassinadas, com Phyllis desmembrada e as tripas arrancadas e Mari estuprada por Krug e depois morta com um tiro certeiro na cabeça. Os bandidos então resolvem parar em uma casa que fica nas proximidades, que é justamente a casa dos pais de Mari, que os acolhem para passar a noite por lá e até lhes oferecem um jantar (lembrem-se que estamos no começo dos anos 70 e os Colingwoods são mega hippies). Mais tarde, descobrem que eles mataram sua pequena filha que não voltara ao lar e partem para uma sangrenta vingança, com direito a castração por mordida à beira da piscina e uso de motosserra, antes mesmo de Leatherface popularizá-la no cinema de terror! Pois é. A coisa é tão pesada que o filme ganhou inicialmente uma censura X (atual NC-17) nos EUA, coisa que é reservada apenas aos filmes pornôs, e acabou sendo tão mutilado para ganhar uma censura R (menores de 17 anos só entram acompanhados de um adulto responsável), que só foi possível ser exibido graças a um amigo de Craven que fez uma manobra para trocar os filmes na hora de passar, sei lá, pela décima vez pela censura. Fora outros países em que o filme foi totalmente proibido (Inglaterra principalmente, como disse lá em cima, a fita foi sumariamente banida pelo BBFC). Apenas para podermos nos situar um pouco, hoje em dia estamos acostumados a filmes com cenas brutais de tortura (vide Jogos Mortais ou O Albergue, por exemplo) mas em 1972 meu amigo, aquilo era inédito. Subversão pura! Para sair um pouco da tensão e do clima macabro que permeia o longa, Craven investiu em alívios cômicos como a dupla de policiais idiotas, que tem de se sujeitar a pegar carona em uma camionete cheia de galinhas em determinada cena, e com a trilha sonora pontual, ora repleta de música folk dos anos 60 em momentos pesados, ora com músicas de comédias pastelão. A filmografia de Craven (tirando os dois exemplos citados nesse texto, e também Quadrilha de Sádicos, seu próximo trabalho) se perdeu de uma forma triste no decorrer dos anos, com filmes imbecis como A Maldição de Samantha, Um Vampiro no Brooklyn ou o recente A Sétima Alma, mas seu começo de carreira foi promissor demais e ele é o cara responsável por três filmes decisivos na manutenção do status quo do cinema de terror. Aniversário Macabro é um deles. Só um PS antes de terminar o texto. Ironicamente, Craven produziu o remake de Aniversário Macabro em 2009, que por aqui ganhou o título de A Última Casa, para uma plateia hoje em dia acostumada com essas atrocidades, mas que é muito mais light do que seu predecessor. Não assista que é uma perda de tempo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/10/259-aniversario-macabro-1972/


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