Direção: Steven Spielberg
Roteiro:Richard
Matheson
Produção: George
Eckstein
Elenco:Dennis
Weaver, Jacqueline Scott, Eddie Firestone, Lou Frizzell, Gene Dynarski, Cary
Loftin
Comecei a assistir novamente Encurralado para escrever essa humilde
resenha que você lê exatamente às 02h40 de uma madrugada de sexta para sábado.
Por que essa informação é valiosíssima? Porque é em um horário e dia da semana,
que talvez você e muitos outros de minha geração tenham visto este filme pela
primeira vez, nas centenas de reprises exibidas no Corujão da TV Globo. Encurralado,
primeira incursão oficial de Steven Spielberg na direção é o road movie de
perseguição definitivo. Feito para TV, já nos dá plena noção do porquê do
diretor ter sido credenciado para dirigir o imortal Tubarão na sequência. Afinal, o filme é uma tensão e
suspense constante, com uma história simples e minimalista, daqueles de até
doer o estômago de nervosismo. E explico o meu motivo: Você
dirige? Já pegou estrada? Eu tenho um carro 1.0 flex, com um motorzinho sem
vergonha. E sempre pensamos que os caminhões são o verdadeiro mal do trânsito!
Ou vai negar? Agora imagine você na situação daquele pobre e ordinário pai de
família, enfrentando o desolador deserto sem fim e uma estrada inóspita, com um
Fenemê daquele tamanho na sua rabeira, tentando passar por cima de você? É de
meter medo em qualquer um, porque diferente de um demônio, espírito, vampiro,
zumbi ou lobisomem, é só um motorista folgado (talvez louco de arrebite),
psicopata, querendo acabar com a sua raça sem nenhum motivo aparente, só porque
o escolheu para praticar o bullying rodoviário da vez. O roteiro escrito
pelo brilhante Richard Matheson é simples e sem rodeios. O vendedor David Mann
(interpretado de forma precisa e convincente por Dennis Weaver) está em uma
estrada na Califórnia e começa a ser perseguido por um caminhoneiro maluco,
dirigindo um imenso caminhão Peterbilt 281 de abastecimento de combustível,
após David com seu Plymouth Valiant 1971 ultrapassá-lo. Daí começa o verdadeiro
duelo (título original do filme) entre os dois motoristas, carregados de uma
tensão progressiva descomunal de terror psicológico e um senso de ritmo
magistral, que só Spielberg seria capaz de imprimir. É uma escalada de eventos
somatórios de um dia infernal, que culmina no trânsito, um dos maiores estopins
cotidianos de crises de estresse e loucura (e até assassinatos, como bem
sabemos). E certos detalhes, alguns nuances do filme que tornam Encurralado um
primoroso exercício de suspense. Primeiro pelo fato de nunca vermos o rosto do caminhoneiro
e saber como é na verdade o figura que está perseguindo nosso herói. Outros são
alguns closes, as olhadas no retrovisor, a estrada interminável, a ideia de que
o carro não está em suas perfeitas condições para a viagem (como a mangueira do
radiador, alertado por um frentista, que pode acabar com a vida de David, ou de
cada um de nós que pega estrada com um carro), o ambiente hostil do deserto, e
dezenas de situações e dúvidas que atormentam o personagem principal. Um das
principais cenas de Encurralado é quando David está em um café de
beira de estrada, após quase ser morto, tentando recobrar-se da situação
inverossímil e vê estacionado o caminhão de sua nêmese no mesmo local. Quem
poderá ser o motorista psicopata, no meio de todos aqueles sujeitos mal
encarados sentados nas mesas ou balcão, usando calças jeans e bota (único
detalhe que David pode perceber em seu encontro no posto de gasolina para
abastecer anteriormente)? David vai criando teorias, tentando manter sua
sanidade, até estourar com um dos ali presentes e se envolver em uma briga,
somente para descobrir que o mesmo não era o caminhoneiro louco, exatamente
quando ele sai do café, perscrutado por David, e entra em outro veículo para ir
embora. Ou seja, o psicótico ainda está ali, David não faz a menor ideia de
quem seja e ele foi testemunha ocular do destempero do homem. Simplesmente
sensacional. O desfecho dessa frenética paranoia motorizada é de causar úlcera.
O personagem, que é um bunda mole, tem sua coragem questionada por sua esposa
(por ter sido assediado por um colega da sua firma), transmite uma insegurança
exacerbada, e é obrigado a confrontar o seu medo primal, na forma daquele
caminhão gigante ameaçador, com motor alterado para alcançar altas velocidades
(a perseguição dos dois chega à casa dos 150km por hora!!!!) em meio a uma onda
de desespero quando seu carro, já todo judiado, começa a deixá-lo na mão,
soltando fumaça por todos os lados, e o seu algoz intensifica a perseguição,
impiedosamente, até o último momento. Encurralado catapultou Spielberg ao
panteão que ele alcança hoje em dia com méritos (apesar de ter deixado essas
produções obscuras de lado e se focado só nos dramalhões oscarizados, o que é
uma pena) e também foi o responsável pela mítica de filmes de perseguições
alucinadas em estradas, bem comuns em filmes de terror, tendo inspirado
diversas produções vindouras como O Carro –
A Máquina do Diabo (outro clássico das reprises das madrugadas da TV aberta), o
episódio A Benção, da antologia Pesadelos Diabólicos ou o mais
recente (mas nem tanto, pois já estamos em 2013) Perseguição.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/22/245-encurralado-1971/
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