Direção: Sergio
Martino
Roteiro: Ernesto
Gastaldi, Eduardo Manzanos Brochero, Sauro Scavolini
Produção: Luciano
Martino
Elenco:George Hilton, Anita
Strindberg, Alberto de Mendoza, Ida Galli, Janine Reynolds, Luigi Pistilli
A Cauda do
Escorpião é o segundo giallo do
diretor italiano Sérgio Martino, alocado entre seu debute no gênero, Lâmina
Assassina, também
de 1971 e a sua obra prima Todas as Cores da Escuridão,
lançada no ano seguinte. Como meu blog está em ordem alfabética cronológica,
este post acabou vindo primeiro. Depois que Dario Argento introduziu as
diretrizes básicas dos gialli em sua
chamada Trilogia dos Animais, com O Pássaro
das Plumas de Cristal, O Gato de
Nove Caudas e Quatro
Moscas Sobre Veludo Cinza, que funcionaria como base estrutural para toda e qualquer obra do
cinema de suspense italiano do período, diversos filmes durante o começo dos
anos 70 seguiram as mesmas premissas e até se utilizaram de contextos
parecidíssimos e uso de animais (referentes às pistas lançadas no decorrer da
trama) em seus títulos, como é o caso de A Cauda do Escorpião. Mas não se
engane e pense que este é só mais uma cópia ou um filmeco de baixo nível
técnico e criativo (lançados a rodo durante este período). Martino é um baita
diretor, desvalorizado perante outros nomes como do próprio Argento e Mario
Bava, mas que possui excelentes gialliem sua filmografia, e posso
afirmar com toda propriedade que este é um deles. Superior a Lâmina
Assassina, A Cauda do Escorpião é um exercício notável do cinema
italiano de horror do início da década de 70. Todos os elementos característicos
destas produções, e sempre o toque especial inconfundível que Martino imprime
em suas fitas, estão ali. Veremos uma trama recheada de personagens fúteis e
suspeitos, mortes motivadas a crimes passionais e ganância, belas mulheres, um
assassino misterioso usando máscara e luvas de couro e a subversão dos
personagens, confundindo o espectador sobre quem são os verdadeiros heróis e
vilões e quais suas verdadeiras motivações. Ainda há tempo até para uma morte
da “suposta” personagem principal na primeira meia hora de filme, assim como
Hitchcock já havia revolucionado em seu Psicose, algo completamente inusitado para os padrões do giallo. A
trama desenrola-se de uma forma simples, porém complexa em suas entrelinhas.
Lisa Baumer (Ida Galli) recebe uma bolada de um milhão de dólares de seguro
após a morte de seu marido, vítima da explosão do avião em que viajava para
Tóquio. Claro que Lisa era uma esposa promíscua e infiel, ao melhor estilo da
personalidade dos personagens dos filmes de Martino. A recém-viúva viaja para
Atenas para resgatar esse dinheiro em espécie e o investigador da seguradora,
Peter Lynch (George Hilton) está em sua bota. Na capital grega, ela descobre
que seu marido também tinha uma amante, Lara Florakis (Janine Reynaud), que
junto com seu capanga, Sharif (Luis Barboo) tenta chantageá-la para que ela
divida o dinheiro com ela, ao descobrir provas de que na verdade Lisa tinha
planejado a explosão do avião em conluio com seu amante, para colocar a mão na
grana. Imagine só a pessoa sabotar e explodir um avião cheio de passageiros só
para matar um cara? É muita maldade não se importar nem um pouco com a vida dos
outros. Como disse lá em cima, antes da primeira metade do longa-metragem, Lisa
é brutalmente assassinada em seu quarto de hotel, quando estava de passagem
comprada para Tóquio, e a maleta com um milhão de doletas desaparece. Quando
você acredita que os assassinatos e o roubo do dinheiro estão todos na conta de
Lara e Sharif, eis que ambos também são assassinados. Peter está envolvido na
trama até o pescoço (chegando a ser considerado suspeito em determinado
momento), e com a ajuda do Inspetor Stavros (Luigi Pistilli) da polícia local e
do investigador John Stanely (Alberto de Mendonza) da Interpol, mergulha de
cabeça na investigação de quem é o suposto assassino mascarado e quais suas
motivações, veiculando várias hipóteses e suspeitos que vão surgindo no
decorrer da fita. Ainda há tempo para um envolvimento romântico com a belíssima
jornalista francesa Cléo Dupont (Anita Strindberg), que também acabará
fatidicamente se tornando peça chave do quebra-cabeça e também presa. O ritmo
do filme emana um poder de atração em seus espectadores. E depois de todo esse
desenrolar de idas e vindas, motivos e suspeitos, há uma chocante revelação na
já costumeira reviravolta que acontece no clímax da maioria dos gialli,
aqui tendo como pano de fundo a perseguição em uma bela ilha grega. Personagens
e motivações são virados do avesso, enquanto Martino cria momentos notáveis de
alta intensidade com seu particular olhar para a construção do misé-en-scène,
fotografia barroca e utilização pertinente de cores, tudo acompanhado pela bela
trilha sonora de Bruno Nicolai e a ótima atuação de George Hilton, habitué dos
filmes do diretor. Fora isso, vale mais uma vez a forma ímpar de Martino em
filmar belas mulheres e também as inventivas habilidades nas cenas de suspense
e violência gráfica (banhadas do já famoso sangue vermelho vivo falso presentes
em grande quantidade nos filmes italianos). A Cauda do Escorpião foge da
curva da mediocridade de dezenas de gialli que
existem por aí e é sem dúvida um dos melhores exemplares do gênero, digno de
reverência, trazendo o meio termo perfeito entre o enredo de investigação
policial e o clima soturno de terror. Prova cabal da habilidade excepcional de
Martino, que merece sim seu lugar de destaque entre os grandes diretores
italianos de horror.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/20/242-a-cauda-do-escorpiao-1971/
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