sábado, 12 de setembro de 2015

#242 1971 A CAUDA DO ESCORPIÃO (La coda dello scorpione / The Case of the Scorpion’s Tail, Itália, Espanha)


Direção: Sergio Martino
Roteiro: Ernesto Gastaldi, Eduardo Manzanos Brochero, Sauro Scavolini
Produção: Luciano Martino
Elenco:George Hilton, Anita Strindberg, Alberto de Mendoza, Ida Galli, Janine Reynolds, Luigi Pistilli

A Cauda do Escorpião é o segundo giallo do diretor italiano Sérgio Martino, alocado entre seu debute no gênero, Lâmina Assassina, também de 1971 e a sua obra prima Todas as Cores da Escuridão, lançada no ano seguinte. Como meu blog está em ordem alfabética cronológica, este post acabou vindo primeiro. Depois que Dario Argento introduziu as diretrizes básicas dos gialli em sua chamada Trilogia dos Animais, com O Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, que funcionaria como base estrutural para toda e qualquer obra do cinema de suspense italiano do período, diversos filmes durante o começo dos anos 70 seguiram as mesmas premissas e até se utilizaram de contextos parecidíssimos e uso de animais (referentes às pistas lançadas no decorrer da trama) em seus títulos, como é o caso de A Cauda do Escorpião. Mas não se engane e pense que este é só mais uma cópia ou um filmeco de baixo nível técnico e criativo (lançados a rodo durante este período). Martino é um baita diretor, desvalorizado perante outros nomes como do próprio Argento e Mario Bava, mas que possui excelentes gialliem sua filmografia, e posso afirmar com toda propriedade que este é um deles. Superior a Lâmina Assassina, A Cauda do Escorpião é um exercício notável do cinema italiano de horror do início da década de 70. Todos os elementos característicos destas produções, e sempre o toque especial inconfundível que Martino imprime em suas fitas, estão ali. Veremos uma trama recheada de personagens fúteis e suspeitos, mortes motivadas a crimes passionais e ganância, belas mulheres, um assassino misterioso usando máscara e luvas de couro e a subversão dos personagens, confundindo o espectador sobre quem são os verdadeiros heróis e vilões e quais suas verdadeiras motivações. Ainda há tempo até para uma morte da “suposta” personagem principal na primeira meia hora de filme, assim como Hitchcock já havia revolucionado em seu Psicose, algo completamente inusitado para os padrões do giallo. A trama desenrola-se de uma forma simples, porém complexa em suas entrelinhas. Lisa Baumer (Ida Galli) recebe uma bolada de um milhão de dólares de seguro após a morte de seu marido, vítima da explosão do avião em que viajava para Tóquio. Claro que Lisa era uma esposa promíscua e infiel, ao melhor estilo da personalidade dos personagens dos filmes de Martino. A recém-viúva viaja para Atenas para resgatar esse dinheiro em espécie e o investigador da seguradora, Peter Lynch (George Hilton) está em sua bota. Na capital grega, ela descobre que seu marido também tinha uma amante, Lara Florakis (Janine Reynaud), que junto com seu capanga, Sharif (Luis Barboo) tenta chantageá-la para que ela divida o dinheiro com ela, ao descobrir provas de que na verdade Lisa tinha planejado a explosão do avião em conluio com seu amante, para colocar a mão na grana. Imagine só a pessoa sabotar e explodir um avião cheio de passageiros só para matar um cara? É muita maldade não se importar nem um pouco com a vida dos outros. Como disse lá em cima, antes da primeira metade do longa-metragem, Lisa é brutalmente assassinada em seu quarto de hotel, quando estava de passagem comprada para Tóquio, e a maleta com um milhão de doletas desaparece. Quando você acredita que os assassinatos e o roubo do dinheiro estão todos na conta de Lara e Sharif, eis que ambos também são assassinados. Peter está envolvido na trama até o pescoço (chegando a ser considerado suspeito em determinado momento), e com a ajuda do Inspetor Stavros (Luigi Pistilli) da polícia local e do investigador John Stanely (Alberto de Mendonza) da Interpol, mergulha de cabeça na investigação de quem é o suposto assassino mascarado e quais suas motivações, veiculando várias hipóteses e suspeitos que vão surgindo no decorrer da fita. Ainda há tempo para um envolvimento romântico com a belíssima jornalista francesa Cléo Dupont (Anita Strindberg), que também acabará fatidicamente se tornando peça chave do quebra-cabeça e também presa. O ritmo do filme emana um poder de atração em seus espectadores. E depois de todo esse desenrolar de idas e vindas, motivos e suspeitos, há uma chocante revelação na já costumeira reviravolta que acontece no clímax da maioria dos gialli, aqui tendo como pano de fundo a perseguição em uma bela ilha grega. Personagens e motivações são virados do avesso, enquanto Martino cria momentos notáveis de alta intensidade com seu particular olhar para a construção do misé-en-scène, fotografia barroca e utilização pertinente de cores, tudo acompanhado pela bela trilha sonora de Bruno Nicolai e a ótima atuação de George Hilton, habitué dos filmes do diretor. Fora isso, vale mais uma vez a forma ímpar de Martino em filmar belas mulheres e também as inventivas habilidades nas cenas de suspense e violência gráfica (banhadas do já famoso sangue vermelho vivo falso presentes em grande quantidade nos filmes italianos). A Cauda do Escorpião foge da curva da mediocridade de dezenas de gialli que existem por aí e é sem dúvida um dos melhores exemplares do gênero, digno de reverência, trazendo o meio termo perfeito entre o enredo de investigação policial e o clima soturno de terror. Prova cabal da habilidade excepcional de Martino, que merece sim seu lugar de destaque entre os grandes diretores italianos de horror.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/20/242-a-cauda-do-escorpiao-1971/

Nenhum comentário:

Postar um comentário