terça-feira, 22 de setembro de 2015

#255 1971 A SOMBRA DO LOBISOMEM (La noche de Walpurgis / Shadow of the Werewolf / Werewolf Shadow / The Werewolf Versus Vampire Woman / Blood Moon. Espanha, Alemanha Ocidental)


Direção: León Klimovsky
Roteiro: Paul Naschy, Hans Munkel
Produção: Salvadore Romero
Elenco:Paul Naschy, Gaby Fuchs, Barbara Capell, Andrés Resino, José Marco, Patty Shepard

A Sombra do Lobisomem, também conhecido por A Noite de Walpurgis (e mais uma cacetada de nomes que o filme ganhou internacionalmente em cada nova mídia que era lançada ou nos cinemas que era exibido) é o mais famoso filme do personagem Waldemar Daninsky, o lobisomem espanhol interpretado pelo ator, diretor, roteirista e produtor Jacinto Molina, sob o pseudônimo de Paul Naschy. Uma série destes filmes começou a ser produzida na Espanha no final dos anos 60 e durou até 2003, contabilizando nada menos que 11 títulos com Waldemar ficando peludo e uivando para a lua, enfrentando todo tipo de criatura sobrenatural em uma verdadeira salada de frutas de monstros, que vai desde vampiros, bruxas, até zumbis e demônios (e o próprio tinhoso em pessoa!). O primeiro longa foi lançado em 1968, com o título de A Marca do Lobisomem.  E uma das peculiaridades entre estes filmes é que eles traziam pouquíssima, ou nenhuma, cronologia entre eles, mesmo que trazendo Naschy como protagonista repetindo seu papel como lobisomem todas as vezes. A Sombra do Lobisomem é o segundo filme da “franquia” e é uma verdadeira pérola do cinema trash, feito com um orçamento irrisório, atuações bisonhas, um enredo ridículo, diálogos enfadonhos, furos de roteiro e erros de continuidade grotescos, efeitos especiais esdrúxulos, e tudo isso é o que faz com que o filme torne-se deliciosamente divertido. Sério, é aquele tipo de produção para chamar os amigos que gostam deste tipo de podreira para uma sessão pipoca e rolar no chão de dar risada. A história começa com um investigador de polícia e um médico legista chegando até uma cidadezinha na calada da noite (de lua cheia, óbvio) para fazer a autópsia do corpo de Waldemar (apelidado no Horrorcast de Waldemar Tristonho, por sua constante cara de coitado) que jaz no necrotério, atingido por uma saraivada de balas de prata. Claro que há a suspeita de que o presunto seja um lobisomem, mas claro que os dois não levarão a sério a superstição do vilarejo e nem a marca de pentagrama (que parece mais qualquer outra figura geométrica disforme desenhada por uma criança – ou uma tomada – do que um pentagrama em si) em seu peito, que já remete ao símbolo do lobo desde os tempos de O Lobisomem da Universal. Ao retirarem as balas do cadáver, Waldemar volta à vida e logo ataca e dilacera os dois indivíduos, escapando floresta afora, onde na sequência já ataca uma garota camponesa nos bosques (além de atingi-la, ele também arranca a roupa da moçoila só para que ela fique com os peitos de fora). Vamos seguir a história de Waldemar, recorrente em todos os longas, como um homem atormentado pela maldição do lobo, procurando uma forma de dar cabo de sua vida e terminar com seu sofrimento licantropo. Tal qual a própria franquia da Universal que trazia Lon Chaney Jr. como o infeliz e amaldiçoado Larry Talbot. Na verdade a influência dos filmes da Universal é gritante, até mesmo na maquiagem do monstro (Jack Pierce revira-se no túmulo agora) e nos efeitos de trucagem de sua transformação. E como se não bastasse, Waldemar transformou-se na criatura ao ser atacado por outro lobisomem durante uma excursão ao Tibete. Lembra-se de O Homem Lobo de 1935, também da Universal? Pois é, mesma história. Nesse ínterim, duas garotas, Elvira (Gaby Fuchs) e sua amiga, Genevieve (Barbara Capell) estão viajando pela França em busca do túmulo perdido da condessa húngara Wandessa Dárvula de Nadasdy, morta no Século XV acusada de cultos satânicos e vampirismo, por beber o sangue de jovens virgens (clara influência da lenda da condessa Elizabeth Bathory, também conhecida como Condessa de Sangue). Ao chegarem a uma parte isolada do interior francês, mais precisamente em um castelo medieval que surge entre as ruínas, elas encontram Waldemar, refugiado com sua irmã desequilibrada mental, Elizabeth (Yelena Samarina), que se diz um escritor fazendo pesquisas para seu próximo livro. Waldemar é extremamente cortês e solícito e hospeda as duas beldades, logo caindo de amores por Elvira, e vice versa. Com interesses próprios de encontrar a cruz de prata de Mayenza, único artefato mágico capaz de por fim à vida do lobisomem, contato que seja manuseado por uma mulher que o ame de verdade, e que acredita estar enterrado no túmulo da Condessa Wandessa, Waldermar parte com as duas moças para encontrar o corpo perdido da vampira, apenas para despertá-la da fome de seu sono secular, quando Genevieve se fere e derrama algumas boas gotas de sangue milimetricamente em seu cadáver esquelético, logo após a cruz ter sido arrancada de seu peito onde esteve enfiada, e que mantinha a morta-viva, hã… morta. Bom, até aí tudo bem. É mais uma daquelas histórias góticas cheia de simbolismos e criaturas sobrenaturais, como era de costume nos filmes de terror desde a década de 30. Mas é então que começa uma sucessão de presepadas: O sacerdote/ guardião que havia sido morto com a condessa também é trazido de volta à vida como um morto-vivo maltrapilho IGUALZINHO aos cavaleiros templários cegos zumbis de Armando de Ossorio, a condessa Wandessa vampiriza Genevive em um encontro noturno posterior recheado de safadeza lésbica, e as duas partem para chupar o sangue das camponesas incautas; um sujeito esquisitíssimo, com pinta de psicopata, chamado Pierre que é uma espécie de zelador do castelo de Waldemar, leva Elvira para deixar uma carta no correio para seu então namorado, o inspetor Marcel (Andrés Resino) e tem uma conversa com ela no carro que é das mais inexoráveis da história do cinema de horror; e isso sem contar as escapadelas de Waldemar como lobisomem nas noites de lua cheia, deixando uma trilha de cadáveres. Então caberá aos heróis, no caso Waldemar, Elvira (que chega a ser vampirizada, mas volta ao seu estágio natural quando Daninsky mata Genevieve) e Marcel, que responde a carta da namorada só para chegar e descobrir que é um corno, já que a moça agora ama o lobisomem (não antes de uma patética cena de um jantar do investigador com o prefeito da cidade, com o diálogo todo em espanhol sendo que todo o resto do filme é dublado em inglês), acabar com a raça da condessa Wandessa durante a noite de Walpurgis (celebrada na noite de 30 de maio para 1º de abril), antes que ela invoque o diabo em carne, osso e chifre (que só aparece como um vulto na parede) em um ritual satânico, e ao mesmo tempo, Waldemar tentar se livrar de uma vez por todas da terrível maldição que o transforma em um licantropo, pedindo para ser morto pelas mãos da relutante e apaixonada Elvira. Ainda há espaço para muitos absurdos no decorrer da película, que vai deixando-a cada vez mais sem pé nem cabeça e algumas situações memoráveis, todas auxiliadas pela incompetência do diretor argentino León Klimovsky, falta de recurso técnico e financeiro e as infelizes tentativas de transformar a presença da condessa vampira e sua nova cria das trevas em algo onírico, tétrico, evanescente e fantasmagórico, com sua esvoaçante túnica e véu preto, que faria Jean Rollin corar de vergonha. Mas nada, NADA, se compara a uma cena em que o irmão de Pierre tenta matar Waldemar com uma faca, mas acaba tropicando e caindo sobre a própria arma e morrendo, ou quando o homem lobo mata Genevieve e depois vai enfiar a estaca no peito e decapitar o bonecão com um machado! As coreografias das cenas de ação, entre lutas do lobisomem com vampiros ou sua caça à presas humanas, são dignas dos melhores momentos de Os Trapalhões, com suas cabeçadas, tabefes, safanões, pescotapas, cambalhotas e pulos. Cenas atabalhoadas com uma direção precária, tanto de cenas quanto de atores (volto a destacar os diálogos do filme) misturam-se a erros crassos como a transformação em lobo com chumaços de pelos escuros surgindo no rosto, ou suas roupas aparecendo intactas após a volta à forma humana. E como pontos positivos (se você de verdade não achar tudo isso que eu escrevi até agora como positivo), somente o intenso derramamento de sangue (apenas na versão sem cortes, que tem nove minutos a mais) e a abundância de peitinhos de fora no decorrer do filme. Depois de destrinchar A Sombra do Lobisomem, aposto R$ 10 como qualquer um que leu esta resenha vai querer assistir ao filme. Impossível passar incólume, quer você seja um apreciador do trash em seu estado bruto, quer apenas você tenha curiosidade mórbida ou queira descobrir tudo que não deve ser feito em uma produção cinematográfica. Ainda assim, é uma homenagem paupérrima a Era de Ouro da Universal, principalmente quando acontecia aquele crossover entre os monstros do estúdio em meados e final da década de 40, e ao personagem imortalizado por Lon Chaney Jr. Mas quer saber? Para mim, Jacinto Molina, ou Paul Naschy se preferir, morto em 2009, foi tão importante para o cinema de horror e para a figura do lobisomem quanto Chaney, falei aqui.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/04/255-a-sombra-do-lobisomem-1971/

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