Direção: Sergio Martino
Roteiro: Vittorio Caronia,
Ernesto Gastaldi, Eduardo Manzanos Brochero
Produção: Antonio Crescenzi,
Luciano Martino
Elenco: George Hilton,
Edwige Fenech, Cristina Airoldi, Manuel Gil, Carlo Alighiero, Ivan Rassimov
O giallo é o autêntico
thriller italiano. Inaugurado com maestria por Mario Bava em Seis Mulheres para o Assassino e credenciado como
importante subgênero do horror por Dario Argento em sua Trilogia dos Animais (O Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza). Lâmina Assassina é a primeira incursão de Sergio Martino no
gênero. E Lâmina Assassina oferece ao seu espectador tudo que
o giallo promete em sua premissa: pessoas ordinárias fazendo coisas
terríveis umas as outras, um enredo repleto de reviravoltas, assassinatos
brutais, uma forte dose de sexo bizarro, masoquismo e adultério oriundo de
personagens problemáticos. E Martino mantém o roteiro escrito a seis mãos por
Vittorio Caronia, Ernesto Gastaldi e Eduardo Manzano Brochero em intenso clima
de interesse, sempre estilizado ao extremo, recurso proveniente da tal escola
italiana de fazer filmes, sempre se importando com cenários, fotografias,
construção de cenas e trilha sonora. O tal estranho vício da Sra. Julie Wardh
(Edwige Fenech), que remete ao título original em italiano, é seu gosto por
levar umas porradas. Vamos descobrir isso quando ela retorna para Viena,
recém-casada com um homem mais velho, Neil Wardh (Alberto de Mendonza), enquanto
um misterioso assassino está matando mulheres com sua lâmina. Prontamente, seu
ex-amante, Jean (Ivan Rassimov), um sujeito violento, sádico, arrogante e
presunçoso, logo volta a procurá-la, dizendo que só ele pode satisfazê-la,
afinal, só ele sabia do interesse da garota em ser saco de pancada. Tentando se
livrar da influência de Jean que continua a perseguindo, Julie conhece George
Corro (George Hilton), um primo boa pinta de sua amiga Carol Brandt (Conchita
Airoldi, usando o pseudônimo de Cristina Airoldi), ambos novos ricos esnobes
emergentes, graças à herança herdada por conta da morte de um tio. Como a
essência da Sra. Wardh é de safadeza, e o maridão está sempre ausente, a garota
vive para cima e para baixo com os dois, e logo cai nos encantos de George,
tendo um caso extraconjugal com ele. Esse enredo de novela mexicana é temperado
exatamente com as violentas mortes que esse estripador está cometendo nas ruas
de Viena, e seu súbito interesse em Julie, o que obviamente irá levantar todas
as suspeitas para Jean. Enquanto essa fogueira de vaidades mistura-se com a
baixeza da moral e dos bons costumes, a contagem de corpos vai aumentando,
chegando até as pessoas próximas da assustada mulher. É quando George a chama
para que ela fuja com ele, abandonando seu marido em busca de segurança e
felicidade. A moçoila vai acreditar que tudo está bem e que o perigo ficou para
trás. Só que não. E daí nos é apresentada a reviravolta final, algo
extremamente comum a esse tipo de trama e de filme. Talvez o maior mérito desta
obra de Martino é a indefinição da audiência com relação à empatia aos
personagens. Você não consegue definir muito bem quem são os heróis e os
vilões. Como maior exemplo disso, temos a bela protagonista. Afinal, a Sra.
Wardh, que seria a suposta heroína, é uma sadomasoquista, covarde, adúltera e
que troca de amantes como eu troco de cueca. Você não consegue simpatizar com a
beldade assim tão facilmente, e considerá-la uma vítima coitadinha também. Fora
que todo mundo carrega algo de podre e mostra uma verdadeira decadência da
instituição familiar e um núcleo de amizade repleto de falsidade, interesse e
promiscuidade, tal qual o próprio Mario Bava adorava construir nos personagens
de seus filmes. Ponto para a atuação impassível de Edwige Fenech como Julie,
que só consegue demonstrar algum tipo de emoção humana quando é subjugada e
apanha, e do contido assustador Ivan Rassimov como o desconfortável e cruel
Jean. No final dos anos 60 e começo dos anos 70, dezenas
de gialli eram lançados, um pior que o outro, com roteiros chinfrins
que serviam apenas como um mero fio condutor para as violentas mortes
estilizadas e mulheres e mais mulheres nuas. Não que Lâmina
Assassina não tenha lá suas bizarrices e nudez feminina aos montes, mas o
roteiro é bem construído e funciona como um dos grandes trunfos do filme, que
difere esta obra autoral de Martino dos demais parcos irmãos do gênero, salvo
os exemplares de Dario Argento. Fora o apreço ao politicamente incorreto, marca
registrada dos insanos e sem pudores exemplares do cinema italiano setentista.
A fita é uma experiência agradável dentro de seu próprio estilo. Uma
curiosidade interessante sobre Lâmina Assassina, é que o H no final da
grafia da Sra. Wardh, foi adicionado ao original Ward de última hora, quando
uma refinada senhora italiana chamada Ward ameaçou processar o filme, pois o
título poderia potencialmente prejudicar seu bom e respeitado nome, pouco antes
do filme ser lançado. Vê se pode?
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/28/250-lamina-assassina-1971/
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