sexta-feira, 18 de setembro de 2015

#250 1971 LÂMINA ASSASSINA (Lo strano vizio della Signora Wardh / The Strange Vice of Mrs. Wardh / Blade of the Ripper / The Next Victim, Itália, Espanha)


Direção: Sergio Martino
Roteiro: Vittorio Caronia, Ernesto Gastaldi, Eduardo Manzanos Brochero
Produção: Antonio Crescenzi, Luciano Martino
Elenco: George Hilton, Edwige Fenech, Cristina Airoldi, Manuel Gil, Carlo Alighiero, Ivan Rassimov

O giallo é o autêntico thriller italiano. Inaugurado com maestria por Mario Bava em Seis Mulheres para o Assassino e credenciado como importante subgênero do horror por Dario Argento em sua Trilogia dos Animais (O Pássaro das Plumas de CristalO Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza). Lâmina Assassina é a primeira incursão de Sergio Martino no gênero. E Lâmina Assassina oferece ao seu espectador tudo que o giallo promete em sua premissa: pessoas ordinárias fazendo coisas terríveis umas as outras, um enredo repleto de reviravoltas, assassinatos brutais, uma forte dose de sexo bizarro, masoquismo e adultério oriundo de personagens problemáticos. E Martino mantém o roteiro escrito a seis mãos por Vittorio Caronia, Ernesto Gastaldi e Eduardo Manzano Brochero em intenso clima de interesse, sempre estilizado ao extremo, recurso proveniente da tal escola italiana de fazer filmes, sempre se importando com cenários, fotografias, construção de cenas e trilha sonora. O tal estranho vício da Sra. Julie Wardh (Edwige Fenech), que remete ao título original em italiano, é seu gosto por levar umas porradas. Vamos descobrir isso quando ela retorna para Viena, recém-casada com um homem mais velho, Neil Wardh (Alberto de Mendonza), enquanto um misterioso assassino está matando mulheres com sua lâmina. Prontamente, seu ex-amante, Jean (Ivan Rassimov), um sujeito violento, sádico, arrogante e presunçoso, logo volta a procurá-la, dizendo que só ele pode satisfazê-la, afinal, só ele sabia do interesse da garota em ser saco de pancada. Tentando se livrar da influência de Jean que continua a perseguindo, Julie conhece George Corro (George Hilton), um primo boa pinta de sua amiga Carol Brandt (Conchita Airoldi, usando o pseudônimo de Cristina Airoldi), ambos novos ricos esnobes emergentes, graças à herança herdada por conta da morte de um tio. Como a essência da Sra. Wardh é de safadeza, e o maridão está sempre ausente, a garota vive para cima e para baixo com os dois, e logo cai nos encantos de George, tendo um caso extraconjugal com ele. Esse enredo de novela mexicana é temperado exatamente com as violentas mortes que esse estripador está cometendo nas ruas de Viena, e seu súbito interesse em Julie, o que obviamente irá levantar todas as suspeitas para Jean. Enquanto essa fogueira de vaidades mistura-se com a baixeza da moral e dos bons costumes, a contagem de corpos vai aumentando, chegando até as pessoas próximas da assustada mulher. É quando George a chama para que ela fuja com ele, abandonando seu marido em busca de segurança e felicidade. A moçoila vai acreditar que tudo está bem e que o perigo ficou para trás. Só que não. E daí nos é apresentada a reviravolta final, algo extremamente comum a esse tipo de trama e de filme. Talvez o maior mérito desta obra de Martino é a indefinição da audiência com relação à empatia aos personagens. Você não consegue definir muito bem quem são os heróis e os vilões. Como maior exemplo disso, temos a bela protagonista. Afinal, a Sra. Wardh, que seria a suposta heroína, é uma sadomasoquista, covarde, adúltera e que troca de amantes como eu troco de cueca. Você não consegue simpatizar com a beldade assim tão facilmente, e considerá-la uma vítima coitadinha também. Fora que todo mundo carrega algo de podre e mostra uma verdadeira decadência da instituição familiar e um núcleo de amizade repleto de falsidade, interesse e promiscuidade, tal qual o próprio Mario Bava adorava construir nos personagens de seus filmes. Ponto para a atuação impassível de Edwige Fenech como Julie, que só consegue demonstrar algum tipo de emoção humana quando é subjugada e apanha, e do contido assustador Ivan Rassimov como o desconfortável e cruel Jean. No final dos anos 60 e começo dos anos 70, dezenas de gialli eram lançados, um pior que o outro, com roteiros chinfrins que serviam apenas como um mero fio condutor para as violentas mortes estilizadas e mulheres e mais mulheres nuas. Não que Lâmina Assassina não tenha lá suas bizarrices e nudez feminina aos montes, mas o roteiro é bem construído e funciona como um dos grandes trunfos do filme, que difere esta obra autoral de Martino dos demais parcos irmãos do gênero, salvo os exemplares de Dario Argento. Fora o apreço ao politicamente incorreto, marca registrada dos insanos e sem pudores exemplares do cinema italiano setentista. A fita é uma experiência agradável dentro de seu próprio estilo. Uma curiosidade interessante sobre Lâmina Assassina, é que o H no final da grafia da Sra. Wardh, foi adicionado ao original Ward de última hora, quando uma refinada senhora italiana chamada Ward ameaçou processar o filme, pois o título poderia potencialmente prejudicar seu bom e respeitado nome, pouco antes do filme ser lançado. Vê se pode?
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/28/250-lamina-assassina-1971/

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