domingo, 24 de maio de 2015

THE ENFIELD HAUTING (EUA, 2015)


BLACKWOOD (REINO UNIDO, 2014)


#158 1963 O BEIJO DO VAMPIRO (The Kiss of the Vampire, Reino Unido)


Direção: Don Sharp
Roteiro: John Elder
Produção: Anthony Hinds
Elenco:Clifford Evans, Edward de Souza, Noel Willman, Jennifer Daniel, Barry Warren, Jacquie Wallis

O Beijo do Vampiro é a terceira empreitada da Hammer no universo vampiresco. Não confunda com aquela novela mequetrefe que passou na Globo há alguns anos. E se não fosse uma fita pertencente ao respeitado catálogo do estúdio britânico, seria um filme completamente esquecível e desnecessário. A Hammer parece ter levado algum tempo para perceber que seus filmes só iriam funcionar com Christopher Lee no papel de Drácula novamente, algo que só aconteceria seis anos depois. Anthony Hinds, produtor da Hammer e que roteirizou este longa sob o pseudônimo de John Elder, queria continuar na tentativa de fazer mais um filme de Drácula, sem o ator que imortalizou o personagem para o estúdio. O Beijo do Vampiro era para ser o terceiro filme da franquia,  mas outra vez o resultado ficou aquém do esperado, como aconteceu com As Noivas de Drácula, que pelo menos, ainda se prestava a ter Peter Cushing no elenco, refazendo o papel do Prof. Van Helsing. Porém o texto final acabou não fazendo nenhuma referencia ao conde, e partiu para uma direção que começou a ser abordada no longa anterior, tratando o vampirismo como uma doença social que atinge aqueles que buscam por um estilo de vida decadente, e obviamente, utilizando-se da superstição nos pequenos vilarejos para as criaturas das trevas fazerem suas vítimas e tocarem o terror no local. Aqui, o grande mestre vampiro é o Dr. Ravna (Noel Willman, uma espécie de Christopher Lee fajuto, que tem até certa semelhança física com o eterno Drácula), que mora em um suntuoso castelo na Bavária e tem uma legião de seguidores sanguessugas, além de seus próprios filhos. Os olhos e desejo de sangue de Ravna se voltam para a bela Marianne (Jennifer Daniel), recém casada com Gerald Harcourt (Edward de Souza), que estão em uma viagem de lua de mel e seu carro, uma das grandes novidades da época, fica sem combustível próximo a um vilarejo, o que os faz se hospedarem em um decadente hotel, gerenciados pelo feliz Bruno e pela amargurada Anna, sua esposa, que vive em luto pelo desaparecimento da filha, que foi morar no castelo com o Dr. Ravna, e claro, foi transformada em uma morta-viva. Ravna convida os dois pombinhos para um jantar em seu castelo, e depois de construir a base da amizade entre eles e seus filhos, usando um pouco do bom e velho poder hipnótico dos vampiros, desta vez na forma de uma música tocada no piano pelo seu filho Carl, os leva até uma extravagante festa à fantasia, para raptar Marianne e dar o beijo, que na mitologia vampírica, é sugar seu sangue para transformá-la em uma criatura notívaga. Neste momento somos apresentados a um detalhe bastante interessante, que é o pouco que se salva no filme e o diferencia dos demais do gênero que temos visto até então, e familiar se você joga ou jogou Vampiro – A Máscara alguma vez na vida. Ravna possui uma verdadeira seita vampiresca. Ele como grande líder, reúne todas essas criaturas sobre seu domínio em seu castelo, todos vestidos de branco, participando de sessões, bem como um culto de verdade. Outro ponto positivo do filme é que depois que Marianne é sequestrada e Gerald ter tomado um porre sem precedentes na noite da festa, ele acorda e é taxado de louco por todos, em um complô muito bem organizado, que alega que ele viajava sozinho e nunca houve uma Marianne, sua recém esposa, junto dele. Até Bruno, senhorio do hotel, está mancomunado, escondendo todas as roupas da garota. Mas claro que Gerald não vai se dar como louco, e procura ajuda no Professor Zimmer, estudante do oculto, caçador de vampiro e sósia de Zé do Caixão, que resolve utilizar-se da magia negra para conjurar um mal ainda maior, que seria responsável por derrotar Ravna e seus acólitos. Utilizando este ritual místico, Zimmer ordena que um bando de morcegos de plástico pendurados por barbantes, vindos do inferno, invada o castelo e ataque ferozmente todos os ali presentes, como se o Batman tivesse jogado um daqueles seus dispositivos sônicos no local que atrai os quirópteros. Finalzinho mais do que safado. Na verdade, esse encerramento seria originalmente usado no final de As Noivas de Drácula, mas Peter Cushing foi ferrenhamente contra, pois Van Helsing nunca iria recorrer a magia negra, o que faz um tremendo de um sentido. Por isso foi criado o tal Prof. Zimmer, obviamente sem o mesmo charme do doutor holandês, e assim essa conclusão pode ser utilizada em O Beijo do Vampiro. Que vale só pela curiosidade de ser mais um filme do gênero com o selo Hammer e toda sua alegoria costumeira.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/09/158-o-beijo-do-vampiro-1963/

#157 1963 BANQUETE DE SANGUE (Blood Feast, EUA)


Direção: Herschell Gordon Lewis
Roteiro: A. Louise Downe, David F. Friedman e Herschell Gordon Lewis (não creditados)
Produção: David F. Friedman, Stanfor S. Kohlberg e Herschell Gordon Lewis (não creditados)
Elenco: Thomas Wood, Mal Arnold, Connie Manson, Lyn Bolton, Scott H. Hall

Além de Banquete de Sangue ser uma podreira sem tamanho, uma história ridícula e atores bisonhos, o que vale mesmo destacar é que esse foi o primeiro filme dirigido por H.G. Lewis, o pai do cinema gore. O primeiro a desbravar esse território tão adorado pelos fãs do horror hoje em dia, e colocar em cena muito sangue, mutilações e vários tipos de violência gráfica explícita. E só vermos a diferença gritante entre Banquete de Sangue com todos os demais filmes feitos até então. A fita abre já com uma loira entrando em uma banheira para tomar banho, com direito a peitinho de fora, e aparece um maluco psicopata arrancando o olho dela com um facão e depois cortando a perna da garota fora e colocando em um saco. E tudo isso de forma visceral, com um banho de guache vermelho imitando sangue, e uma trilha sonora de um tambor minimalista, misturado com sons fúnebres de órgãos e violinos (também executada por Lewis) que vai se repetir durante todo o filme. Apesar da precariedade já gritante na cena, que vai piorando conforme o tempo passe, o que vale mesmo é a ousadia, principalmente para a época. O assassino é na verdade Fuad Ramses, um antiquário psicopata, adorador da deusa egípcia Ishtar. Sua missão é reviver a deusa através de um cruel ritual de sangue, oferecendo-a vísceras e sangue de suas vítimas. Ramses é convidado pela socialite Dorothy Fremont a preparar um exótico jantar de aniversário para sua filha, Suzette, fã da cultura egípcia. Para a ocasião, ele vê a oportunidade perfeita para oferecer seu banquete à Ishtar e finalizar seu ritual. Enquanto isso Ramses vai cometendo todo tipo de assassinato escabroso, todos extremamente gráficos, com um zelo de produção do pior nível possível. Uma vítima tem seu cérebro removido enquanto namorava em uma praia deserta, outra tem a língua arrancada, outra o rosto violentamente desfigurado e mais uma chicoteada até a morte, para que seu sangue virgem seja oferecido à deusa. E depois, as partes que ele foi coletando até agora das garotas, vão todas para o forno, para que sejam servidas no derradeiro banquete. Com todas estas mortes horrendas ocorrendo, uma dupla de policias incompetentes ao extremo, formada pelo Detetive Pete Thornton (interpretado por William Kerwin, com o pseudônimo de Thomas Wood) e pelo Capitão Frank, não conseguem descobrir a menor pista de quem é o sádico assassino que está executando estas garotas. Os pontos vão começar a se ligar somente quando Pete e Suzette, que vivem um caso amoroso, participam de uma palestra sobre a história egípcia e conhecem através dela, o terrível banquete oferecido à Ishtar na antiguidade, o mesmo quem Ramses quer executar nos dias atuais. É durante o aniversário de Suzette, após ela quase ser assassinada, que a polícia finalmente consegue impedir que o psicopata faça mais uma vítima, impedindo Ramses na hora H e obrigando-o a fugir. Neste momento vale uma pérola disparada pela mãe de Suzette, isso após quase sua filha ser morta pelo assassino: “Acho que não teremos mais o jantar esta noite”. Impagável. Ramses começa a ser perseguido pela polícia, fugindo a pé em direção a um lixão e sem conseguir ser apanhado, e isso que ele é manco! Sério, acho que nunca vi policiais detetives tão estúpidos quanto esta dupla. Nem o FBI em The Following consegue ser tão incompetente. É então que para conseguir escapar, Ramses resolve se esconder na caçamba de um caminhão de lixo. 
ALERTA DE SPOILER (se é que você se importa mesmo em como vai terminar esse filme).
Claro que a ideia de gênio ia dar errado, e Ramses acaba sendo esmagado violentamente pelo triturador do caminhão. Ainda há tempo no finalzinho para o Detetive Thornton, que tem certa semelhança física com o ator Robert Patrick, o T-1000 do Exterminador do Futuro, explicar como ele conseguiu montar sua brilhante linha de raciocínio e descobrir que Ramses era o verdadeiro assassino. Tudo graças a seus conhecimento adquiridos nas palestras sobre o Egito, principalmente na fatídica aula sobre o banquete de Ishtar, e o livro “Antigos e Estranhos Rituais” encontrado na banheira lá da primeira vítima no começo. O filme é pobre, tosco, a atuação dos atores são as mais forçadas e exageradas possíveis, o roteiro é cheio de buracos… Mas isso não é nenhum demérito para Banquete de Sangue não, principalmente se você como eu, é fã desse tipo de bagaceira. É uma produção obscura, violenta, de humor negro, importante por ser percussora do gore, e ter colocado o nome de Herschell Gordon Lewis como um dos principais diretores do gênero, ao abrir caminho para o cinema explícito.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/08/157-banquete-de-sangue-1963/

#156 1963 O ATAQUE DOS HOMENS COGUMELOS (Matango / Attack of the Mushroom People, Japão)


Direção: Ishirô Honda
Roteiro: Takeshi Kimura (baseado na historia de William Hope Hodgson)
Produção: Tomoyuki Tanaka
Elenco: Akira Kubo, Kumi Mizuno, Hiroshi Koizumi, Kenji Sahara, Hiroshi Tachikawa

Como não esperar o melhor (no sentido de pior) de um filme com este nome: O Ataque dos Homens Cogumelo? É claro que só pode vir um daqueles clássicos cults de ficção científica pela frente. Melhor ainda quando ele é dirigido pelo pai de Godzilla, Ishirô Honda para a lendária produtora Toho e tem nos efeitos especiais o mago Eiji Tsuburaya, responsáveis pelos maiores Kaijus do cinema e criador da família Ultra. Este filme na verdade é o que fecha a trilogia de Ishirô e Tsuburaya fora do ambiente dos monstros gigantes, sendo precedido pelos igualmente cultuados O Monstro da Bomba H e O Vapor Humano, ambos já devidamente resenhados aqui no blog. E é o maior desafio técnico do mestre dos efeitos especiais até então, representando os terríveis homens cogumelos do título. Bom, antes de Carlos Castañeda e sua A Erva do Diabo e antes do movimento paz e amor lisérgico dos hippies, incorporando o cogumelo ao seu cardápio diário, esta produção nipônica completamente maluca já nos mostrava o caminho dos poderes entorpecentes que essa frutificação poderia ter na mente das pessoas. A diferença é que aqui, com uma forcinha da energia atômica espalhada através de testes nucleares, os cogumelos são muito mais que alucinógenos: eles realmente ganham vida, crescem de tamanho e transformam-se em fungos superdesenvolvidos. E isso é o que vai descobrir a tripulação de sete pessoas que navegam em um luxuoso iate pelo pacífico, e após serem atingidos por uma tempestade, ficam à deriva até as correntezas o levarem a uma inóspita ilha, abandonada a primeira impressão. Sem comida e sem abrigo, o grupo encontra um grande navio abandonado, todo detonado pela corrosão, e decidem se estabelecer lá dentro para tentarem descobrir uma forma de sair daquela ilha, enquanto tentam consertar o iate. Lá eles encontram algumas latas de comida enlatada e precisam encontrar tubérculos, raízes e ovos de tartaruga na praia para poderem se alimentar. No meio da floresta há essa estranha plantação abundante de cogumelos, que ao ser comido, poderia gerar uma série de reações adversas nas suas vítimas, como é constatado em um dos livros de bordo que os sobreviventes encontram. E como se não bastasse isso, naquela situação limite, enclausurados em uma ilha, alimento acabando, surgimento da falta de escrúpulos e de uma explosiva espécie de Síndrome da Cabana, as relações humanas ali dentro entre estes cinco homens e duas mulheres, tornar-se-ão muito mais perigosas que qualquer fungo mutante. E esses conflitos são muito bem explorados por Honda, um perfeccionista nato, que vai elevando de forma contida o suspense aos poucos, colocando um ou outro monstro andando sorrateiramente pelos corredores do navio/ laboratório, até chegar ao seu absurdo final, onde após alguns dos sobreviventes mandarem tudo à favas e provarem os cogumelos, matando a fome e ficando chapados, vão começar a sofrer a terrível mutação em sua pele, juntando-se a outra tripulação do navio abandonado como errantes criaturas cheio de perebas, vivendo um eterno loop de delírio alucinógeno sensorial. E os homens cogumelo deixam os dez minutos finais serem a verdadeira cereja do bolo. Tsuburaya faz o que sabe fazer de melhor e em uma cena de perseguição no claustrofóbico navio, os monstros mutantes parecem antever os zumbis de Romero, tentando destruir as portas e janelas com suas roupas maltrapilhas, pele purulenta e andar trôpego, fazendo com que o herói tenha de fugir para a floresta, onde será atacado por mais seres perebentos e os próprios cogumelos gigantescos, com seus chapéus e tudo, que podem se movimentar livremente pela ilha. O Ataque dos Homens Cogumelo também possui uma irretocável direção de arte, todo filmado dentro dos estúdios da Toho, a fotografia em Cinemascope, a direção precisa de Honda e o roteiro bem construído que dá uma bizarra aura de originalidade e de antecipação dos fatos, tornando-o um verdadeiro cult no catálogo de filmes do estúdio japonês. Detalhe que os responsáveis por levá-lo aos EUA, onde obviamente também ganhou uma legião de fãs, foi a dupla Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson, da American International Pictures, que editaram e dublaram a fita, exibindo-o diretamente na televisão americana, sem nem passar pelos cinemas, transformando-o mesmo assim em um ícone da contracultura da geração dos anos 60.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/07/156-o-ataque-dos-homens-cogumelo-1963/

#155 1962 O TERROR VEIO DO ESPAÇO (The Day of the Triffids, Reino Unido)


Direção: Steve Sekely, Freddie Francis (não creditado)
Roteiro: Bernard Gordon, Phillip Yordan (baseado na obra de John Wyndham)
Produção: George Pitcher, Phillip Yordan (Produtor Executivo)
Elenco: Howard Keel, Nicole Maurey, Janette Scott, Kieron Moore, Mervyn Johns

O Terror Veio do Espaço é a primeira adaptação do famoso e importantíssimo best seller de ficção científica O Dia das Trífides, escrito por John Wyndham, publicado em 1951. Wyndham também é o autor de Midwich Cuckoos, outro clássico da ficção científica adaptado para as telas em A Aldeia dos Amaldiçoados. Dirigido por Steve Sekely e Freddie Francis (diretor de alguns filmes da Hammer e da Amicus, mas de forma não creditada), com roteiro de Bernard Gordon e Phillip Yordan, O Terror Veio do Espaço traz aquele famoso cenário pós apocalíptico de uma invasão alienígenas, só que uma invasão bem mais inusitada do que estamos acostumadas, perpetrada por uma raça de plantas carnívoras interplanetárias que chegou ao nosso planeta e depois de um evento espacial mundial, tomou controle da Terra. O evento em questão é uma chuva de meteoritos, que certa noite foi visível a olho nu em todo o globo, mas que trouxe uma desastrosa consequência: todos aqueles que a assistiram, ficaram imediatamente cegos. É mais ou menos como se O Ensaio Sobre a Cegueira encontrasse Os Invasores de Corpos. E um adendo é que aquele filme sem vergonha do M. Night Shyalaman, Fim dos Tempos, obviamente foi chupinado também do argumento de O Dia das Trífides. Com a humanidade em pânico, trens entrando em rota de colisão, aviões caindo do céu e o caos tomando conta, as trífides, que são essas tais plantas, começam a crescer livres e de forma desgovernada, saindo andando por aí de seus caules e devorando os seres humanos. Pausa para falar sobre o visual dessas plantas. Eu sei que era década de 60, é uma produção de baixo orçamento da BBC, mas pelo amor… As plantas são ridículas. Naquele nível de que só dá para dar risadas das mesmas. Obviamente algumas cenas foram rodadas com a técnica de suitmation, e pode-se perceber que há um sujeito por baixo da roupa de borracha que mimetiza o vegetal alienígena, andando desengonçado de forma bípede e com os braços levantados representando seus troncos. É tosco! Bom, deste pandemônio todo originado pela chuva de meteoros e o curto de cegueira, o oficial da marinha Bill Masen, vivido por Howard Keel, é um dos poucos que ainda podem enxergar, pois foi submetido a uma cirurgia nos olhos na noite do acontecido, não presenciando o fenômeno. Ele se junta a pequena Susan, sobrevivente de um desastre em um trem descarrilado, e deixam Londres em direção à França, tentando descobrir alguma ajuda no continente. Lá eles conhecem também mais um casal que possui a visão, Christine e o Sr. Cocker, que tem uma casa de campo onde reúne alguns sobreviventes para poder prestar auxílio. Neste ínterim, outros dois personagens chaves na trama é o casal de cientistas Tom e Karen Goodwin, que vivem isolados em suas pesquisas em um farol no meio do oceano, e também não testemunharam a chuva de meteoros. Isolados, com um relacionamento desgastado entre ambos e o alcoolismo de Tom, eles precisam tentar sobreviver  à crise conjugal naquela rocha, e não serem devorados pelas trífides que vão nascendo na encosta. Como todo bom filme pós-apocalíptico, não são apenas as plantas extraterrestres que constituem perigo para nossos heróis. Nunca podemos esquecer que a humanidade em situações como essa, sempre volta ao seu estágio primitivo, quase animalesco, numa sociedade caótica sem leis, e vão recorrer a saques, assassinatos e estupros. Mas nada que se compare as terríveis trepadeiras que vão andando, balançando seus galhos por aí querendo fazer um lanchinho de carne humana, isso sem contar sua intensa capacidade de se reproduzir, afinal é só bater um ventinho e levar seu pólen para qualquer lugar, e o mortal veneno que possui em suas seivas. A maior diferença entre o filme e o livro é a origem das trífides. Enquanto aqui, como já disse, a origem é extraterreste, no livro original de Wyndham, as plantas são meramente uma alegoria comunista, tema comum em seus livros, onde segundo suspeitas do próprio personagem principal, Bill Mansen, elas foram criadas através de bioengenharia pelos soviéticos e depois acidentalmente soltas na natureza. Especula-se também no livro que a chuva de meteoros também foi obra dos vermelhos e companhia limitada. O desenvolver da trama de O Terror Veio do Espaço é bastante compacta, tendo que colocar todos os desdobramentos do apocalipse vegetal e as relações humanas e suas consequências, retiradas das páginas do livro, em um filme de apenas 93 minutos. Então tudo fica bastante corrido, mas com algumas interessantes situações ali pontuadas, que poderiam ser melhores exploradas se a metragem fosse maior. Mesmo assim não deixa de ser um clássico cultuado. Em 1981 a própria BBC produziu uma série em seis episódios exibidas na televisão britânica, aí sim com os personagens e situações mais bem trabalhadas, e recentemente em 2009, uma nova minissérie foi ao ar em dois episódios, esta com elenco estrelado com Dougray Scott, Vanessa Redgrave, Eddie Izzard e Brian Cox e recheada de efeitos especiais, lançada no Brasil pela Paris Filmes com o nome de O Dia Final, na época em que eu trabalhava por lá. Um detalhe pessoal curioso é que fui voto vencido dos departamentos de marketing e comercial, para que o filme se chamasse O Dia das Trífides, tal qual o livro.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/06/155-o-terror-veio-do-espaco-1962/

sexta-feira, 22 de maio de 2015

#153 1962 O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (What Ever Happened to Baby Jane?, EUA)


Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Lukas Heller (baseado na obra de Henry Farrell)
Produção: Robert Aldrich, Kenneth Hyman (Produtor Executivo)
Elenco: Bette Davis, Joan Crawford, Victor Buono, Wesley Addy, Ann Barton

Quando mundos colidem é uma expressão que posso utilizar como metáfora para O Que Terá Acontecido com Baby Jane? Afinal, duas estrelas da magnitude de Bette Davis (e seus olhos…) e Joan Crawford, decadentes (nesta ficção e na vida real) que se detestam e vivem se degladiando (nesta ficção e na vida real), atuando em um thriller psicológico diabólico, é um verdadeiro deleite para qualquer fã de cinema. Dirigido por Robert Aldrich, baseado no livro e Henry Farrell, a trama atualíssima de ódio fraternal, ciúmes, obsessão e psicose ecoa pelo tempo, em um filme agarrado (quase que literalmente) com unhas e dentes pelas duas atrizes que em seu tempo, eram simplesmente as melhores das melhores da era de ouro de Hollywood (com três Oscars na mala delas, dois para Davis e um para Crawford). Mas que estavam em momento de franca decadência. E o que mais impulsiona estas duas atuações viscerais é o fato de as duas se detestarem na vida real, e serem inimigas assumidas. Ainda assim, Aldrich obteve a imortal proeza de conseguir trabalhar com as duas e conseguir canalizar esse ódio para transparecerem no papel das irmãs Hudson, cada uma com sua tragédia pessoal de vida, confinadas em uma mansão em Hollywood vivendo uma desesperada situação limítrofe de angústia. Davis está sinistra, com uma maquiagem pesada e trejeitos diabólicos como “Baby” Jane Hudson, atriz mirim ao melhor estilo Shirley Temple (ou a menina Maísa se você quiser abrasileirar a coisa) que fazia muito sucesso no show business e era foco de todos os holofotes, tendo até sua bizarra boneca em tamanho natural. Sua irmã, Blanche era menosprezada pelo pai e pela irmã, até que com o passar dos anos, a aura de encanto da pequena Baby Jane foi desaparecendo, assim como seu estrelato, enquanto Blanche, uma Crawford contida, vaidosa, humilhada, incapaz e de dar pena, começou a ascender ao status de estrela de Hollywood. Isso não faria nem um pouco bem para a relação das duas. O ponto de virada que vai culminar nos horrores da trama é quando após uma festa, um trágico acidente de carro se sucede, onde Jane acaba sendo culpada por atropelar Blanche, aleijando-a e colocando-a em uma cadeira de rodas pelo resto da vida, e obrigando-a cuidar da irmã inválida por todos estes longos anos. Com suas carreiras destruídas, ambas as velhas solteironas vivem em um eco infinito do passado: Blanche se vendo nas reprises da televisão, o que emputece Jane, e a irmã mais velha cada vez mais psicótica, buscando retomar sua carreira, cantando seu one hit wonder: I’ve Written a Letter to Dady (vale muito a cena onde Davis recria de forma bizarra seu número infantil). Um espiral de tortura psicológica e abuso estoura com Jane perdendo o controle cada vez mais, mantendo a irmã em cárcere privado em seu quarto, falsificando sua assinatura para sacar dinheiro para gastar em figurino e nos preparativos de sua almejada volta aos palcos, mentindo para vizinhos, médico e polícia e servindo a ela um rato de jantar em uma bandeja de prata (na melhor cena do filme, com Davis rindo histericamente e Crawford gritando de horror). Isso culmina na completa perda das faculdades mentais de Jane, agredindo a irmã com chutes violentíssimos, amarrando-a na cama e deixando-a à própria sorte, até a cena final de seu “sequestro” e a chocante e comovente revelação que se desenrola nas areias da praia. E ainda há três figurantes que merecem esse parágrafo: Edwin Flagg, vivido por Victor Buono, o gordão oportunista que quer se aproveitar da pobre e desequilibrada Jane, acompanhando-a no piano em sua “futura” apresentação e arrumando um jeito de pegar a grana da velha, adiantado, claro (e que foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante); sua mãe Dehlia, que aparece pouco em cena, mas vale os minutos em que fica aos berros com o filho ao melhor exemplo de família disfuncional; e a descuidada empregada das Hudson, Elvira Stitt (Maidie Norman), cujo destino vai torna-la vítima da explosão da violência assassina contida de Baby Jane. Tratando-se do temperamento das duas estrelas e do histórico da disputa das duas fora das telas, O Que Terá Acontecido com Baby Jane? é um prato cheio para as mais extravagantes histórias de bastidores e todas as lendas urbanas que fizeram parte da mitologia do “por trás das câmeras” desta produção. Entre elas as mais famosas são a de que na cena em que Jane chuta violentamente Blanche, Crawford teve medo de participar da cena e um bonecão (extremamente perceptível) foi colocado em seu lugar, e Davis não poupou esforço em chutá-la como se fosse cobrar um tiro de meta, observada por uma atônita Joan Crawford, e quando a mesma tentou dificultar a vida de Bette Davis na cena em plano sequência em que ela deveria arrastá-la pela sala, colocando pesos nos bolsos e tossindo em uma das tomadas para ter de ser rodada de novo. Coisa de duas velhas megeras, como se pode ver. E vale lembrar que o caldo só azedou mais ainda quando Davis foi indicada ao Oscar por este filme, e Crawford, ignorada. Mas na noite da premiação, Crawford acabou subindo ao palco para receber a estatueta no lugar de Anne Bancroft, que não pode estar presente na cerimônia, pois tinha combinado previamente com todas as outras atrizes, somente para causar mais intriga com Davis. É importante ressaltar também O Que Terá Acontecido com Baby Jane? devido ao seu imenso sucesso de público e crítica, tornou-se um filme gênese de um subgênero do terror muito comum durante os anos 60, chamado de “psycho-biddy”, ou “hag horror”. Estes filmes traziam sempre uma atriz mais velha como protagonistas, passando por surtos psicóticos ou vítima de um grande mal ou perigo iminente, que serviu como retomada para algumas dessas grandes atrizes de outrora, fazendo com que voltassem a encontrar papeis no cinema, desta vez nestas produções de baixo orçamento de terror e suspense. Entre os mais populares filmes deste gênero estão: Almas Mortas, de William Castle, com a própria Joan Crawford, A Dama Enjaulada, com Olivia de Havilland e Com a Maldade na Alma, também dirigido por Robert Aldrich, este com Bette Davis no elenco.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/03/153-o-que-tera-acontecido-com-baby-jane-1962/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
393 1962 O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE?  What Ever Happened To Baby Jane? 

ALMA (Aatma, Índia, 2013)



sábado, 16 de maio de 2015

#152 1962 OBSESSÃO MACABRA (The Premature Burial, EUA)


Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles Beaumont, Ray Russell (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman, Samuel Z. Arkoff, Gene Corman (Produtor Executivo)
Elenco:Ray Milland, Hazel Court, Richer Nery, Heather Angel, Alan Napier

Cronologicamente, Obsessão Macabra foi lançado antes de Muralhas do Pavor, meu post anterior. Um chegou aos cinemas em Março de 62, enquanto o outro estreou em Julho do mesmo ano. Por uma questão de ordem alfabética, Muralhas do Pavor foi postado antes. Bom, isso tudo para dizer que em 1962, Roger Corman dirigiu para a AIP dois filmes baseados na obra de Edgar Allan Poe, mas desta vez, sem a presença de Vincent Price, sendo substituído pelo também excelente Ray Milland. O mais interessante é que Milland trouxe um aspecto completamente diferente ao estilo de filme adaptado da obra de Poe que havia sido feito até então. Nos dois filmes anteriores, O Solar Maldito e A Mansão do Terror, e mesmo no próprio Muralhas do Pavor e os demais filmes da fase Poe (seriam oito, ao total). Price sempre foi um ator que abusa de recursos de teatralidade, exagerado, cartunesco, dramático, que faz parte do mundo decadente que está em sua volta, sempre sofrendo de alguma degradação específica tanto de personalidade quanto de caráter. Veja Roderick Usher ou Nicholas Medina. Enquanto o personagem Guy Carrell de Milland é uma pessoa comum, jogada em uma situação macabra, alterando todo o ambiente a sua volta. Isso porque Carrell presencia uma cena que o tira dos eixos e coloca sua sanidade a fio, ao desenterrar um cadáver junto de seu amigo, o Dr. Gault (interpretado por Alan Napier, o Alfred o seriado do Batman dos anos 60), a fim de utilizá-lo em pesquisas médicas, descobrindo que ele foi enterrado vivo, encontrando o defunto com uma horrível expressão de pânico no rosto e sob a tampa do caixão, marcas de arranhões e sangue. Isso desperta um medo irracional em Carrell, que acredita sofrer de catalepsia, assim como seu pai, e começa a sentir um pavor indescritível de que aquilo possa a vir ocorrer também com ele. Vivendo na sombra desse medo que se torna uma obsessão, Carrell se muda com sua irmã, a dúbia personagem Kate (Heather Angel) para sua casa afastada da cidade, pintando quadros sinistros e se drogando com láudano, desistindo de se casar com sua noiva, Emily, filha de Gault, que é interpretada pela bela Hazel Court, famosa pelos filmes da Hammer como A Maldição de Frankenstein e O Homem que Enganou a Morte. Mas a moçoila não se dá por vencida e resolve insistir em trazê-lo de volta ao mundo real e consumar o casório. Porém mesmo depois de casado, e ainda auxiliado pelo médico amigo da família Gault, Miles Archer, que sempre nutriu uma paixonite por Emily, Carrell não consegue se afastar de seus medos e de sua conduta hostil, tendo uma ideia mirabolante caso ele venha a ser enterrado vivo como o pobre diabo que viu no começo do filme. Em seu mausoléu pessoal, ele cria uma série de traquitanas que irão salvá-lo. Entre elas: um caixão que abre facilmente com um só toque; um sino que irá avisar aos criados que está vivo ao ser tocado por ele; portas que se abrem automaticamente ao puxar de cordas; um estoque de alimentos e bebidas; uma escada com saída para uma claraboia; ferramentas e bananas de dinamite para estourar a porta se nada mais dar certo; e em último e extremo caso, uma dose de veneno para que ele dê cabo de sua vida e não fique mais naquela prisão eterna. Até que em uma noite na floresta, ele escuta um assobio que o remete ao assobiar dos dois ladrões de túmulo que o acompanharam naquela fatídica noite, e tem um terrível pesadelo, filmado com filtros em verde e azul, ao melhor estilo Corman, onde ele é enterrado em seu mausoléu e simplesmente todas as suas tentativas de sair de lá, tão premeditadas, dão errado. As alavancas não funcionam, as bananas de dinamite estão podres e a até o veneno é substituído por um cálice cheio de vermes. Cada vez mais paranoico, com a ajuda de sua esposa e de Miles, ele finalmente encara que está sofrendo de uma neurose compulsiva, desejando a morte e se tornando um escravo do medo, até resolver que para sua própria sanidade, deve se livrar do mausoléu e afastar de uma vez por todas esses pensamentos, após levar um ultimato de sua mulher, ao melhor estilo “ou a morte ou eu”. As coisas parecem melhorar consideravelmente para Carrell, até que… 
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e risco…
o nosso protagonista sofre uma parada cardíaca ao tentar exumar o corpo de seu pai, e é dado como morto por Gault. Mas na verdade ele não morreu, e sim está em um estado catalético, como sempre temeu, tentando desesperadamente ser ouvido e impedir que seja enterrado vivo em uma cova no cemitério, já que seu mausoléu havia sido destruído. Não dá muito certo. Os dois coveiros ladrões de corpo o desenterram a pedido de Gault, que quer utilizar o corpo do próprio genro, e é quando Carrell é salvo, voltando completamente insano e transtornado, matando os coveiros, indo atrás de Gault e de sua esposa, e descobrindo o terrível plano que foi meticulosamente arquitetado por Emily desde o começo, até um embate final no cemitério, com uma cena envolvendo Emily, Miles e Kate, que até então sempre teve uma presença taciturna e levantando diversas suspeitas durante todo o longa. Obsessão Macabra pode não ter o charme e ter feito o mesmo sucesso que as demais adaptações de Poe dirigida por Corman, mas é um excelente filme de terror, com um clima de suspense crescente até seu final surpresa, os cenários de Daniel Haller (que contribuiu com Corman nos filmes anteriores) repletos de cemitérios, florestas de galhos retorcidos e névoa constante, passando toda a atmosfera gótica e morbidez pertinente ao tema, e sóbria atuação de Milland, mostrando ter sido uma escolha perfeita para o papel ao invés de Price. Mais um ponto para Roger Corman, que sabia trabalhar atores como poucos no gênero.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/02/152-obsessao-macabra-1962/

#151 1962 MURALHAS DO PAVOR (Tales of Terror, EUA)


Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman, Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson
Elenco: Vincent Price, Maggie Pierce, Leona Gage, Peter Lorre, Joyce Jameson, Basil Rathnone, Debra Paget

Não preciso dizer mais uma vez o quanto eu sou fã de Vincent Price e de Roger Corman e as adaptações das obras de Edgar Allan Poe que eles fizeram juntos, roteirizadas por Richard Matheson. Seria chover no molhado. Então isso basta para dizer o quanto é satisfatório assistir Muralhas do Pavor. Título safadíssimo em português, pois a tradução literal, “Contos de Terror”, soaria muito melhor que o noscense Muralhas do Pavor, aqui somos brindados com três histórias de Poe, ao melhor estilo filme mosaico, todos estrelados por Price, roteirizados por Matheson, adaptados dos famosos contos: Morela, O Gato Preto e O Caso do Sr. Valdemar. Todos, obviamente com suas devidas licenças poéticas e com aquele ar indefectível dos filmes de Corman: baixo orçamento, ambientação de época, direção de arte e figurino que parece que foi copiado em todos os filmes anteriores (como O Solar Maldito e A Mansão do Terror), com seus casarões vitorianos ou castelos empoeirados, interpretação caricata e teatral de Price, abuso de cores quentes, e carregado na sugestão de suspense e de violência na medida certa. O primeiro deles, Morela, traz Price como Locke, viúvo amargurado, que recebe a visita de sua filha, Lenora (Maggie Pierce), que viveu rejeitada nos últimos 25 anos, apontada como responsável pela morte da mãe, a tal Morela em questão, vivida por Leona Gage. O pai sempre culpou a garota, que ao voltar revela estar com uma doença terminal, o que faz com que ele reveja seus conceitos e tente recuperar o tempo perdido com a garota. Mas o que ela não sabe é que Locke guardou durante todo este tempo o corpo embalsamado de Morela, que sobrenaturalmente voltará à vida em busca de vingança da filha e do marido. Detalhe que neste curta, foram utilizados os mesmos cenários de O Solar Maldito. Já o segundo segmento, O Gato Preto, também traz também elementos de outro famoso conto de Poe, O Barril de Amontilhado, além, é claro, do conto homônimo que o nomeia. Misturando uma trama de vingança com toques de comédia e humor negro, aqui Price não é o protagonista, honra dada a outro monstro do cinema de horror (e da sétima arte em si), o esquisito Peter Lorre, que entre outros clássicos, interpretou o assassino de crianças Hans Beckert em M, O Vampiro de Dusseldorf de Fritz Lang e o obsessivo médico psicopata em Dr. Gogol – O Médico Louco. Lorre é Montresor, um beberrão inveterado, casado com a lindíssima Annabel (Joyce Jameson), que vive caindo pelas tabelas embriagado por aí, gastando o dinheiro da mulher nas tavernas e maltratando o pobre gato preto de estimação da moça. Sujeitinho desprezível, invade uma degustação de vinhos e conhece o maior expert do mundo, Fortunato Luchresi (agora sim, Price, hilário). Os dois acabam numa disputa pessoal, a princípio sobre quem entende mais da bebida, com Price e seus trejeitos cômicos, e depois pela bela Annabel, que decide pular a cerca com Luchresi. Ao descobrir a traição da esposa com o recém amigo, Monstresor irá por em prática a mais famosa vingança de Poe: emparedar pessoas. Mas o gato também misteriosamente foi parar atrás da parede junto com os corpos, miando ininterruptamente de forma macabra para entregar o criminoso à polícia. A história de encerramento, inspirada em O Caso do Sr. Valdemar traz novamente Price, como o personagem que dá nome ao conto, que vive em seus últimos dias devido a uma grave doença terminal, e se utiliza da ajuda de um especialista em hipnose, Carmichael, interpretado por Basil Rathbone, outro grande ator dos filmes de terror clássicos, muito deles na Era de Ouro da Universal. Carmichael, ambicioso e maquiavélico, primeiro ganha toda a confiança de Valdemar, aplacando sua terrível dor graças às sessões de hipnose, indo contra a vontade de sua esposa, Helene e seu médico, o Dr. James. Prestes a comer capim pela raiz, Ernest Valdemar pede para que o Dr. James se case com Helene após sua morte, para tomar conta da ex-esposa. Olha que altruísta. Mas ao morrer, Carmichael consegue manter, através de hipnose, a mente de Valdemar presa em seu corpo morto, impedindo-o de descansar para sempre. Carmichael quer todo o dinheiro e, claro, a bela Helene para ele. No final, Valdemar consegue sair do transe, e retorna à vida como uma criatura zumbificada com o rosto derretendo, excelente maquiagem de Lou La Cava, uma mistura de cola, glicerina, raspas de espiga de milho e tinta de maquiagem aquecida (que era tão quente que Price conseguiu aguentá-lo por poucos segundos em seu rosto), pronto para se vingar do vilão. Muralhas do Pavor tem de tudo um pouco: assassinato, necrofilia, hipnose, vingança, zumbis, adultério… Todos aqueles temas que a gente sempre adora e que Poe conseguiu de forma ímpar imprimir em seus contos góticos, transportados mais uma vez de forma salutar por Corman, que mostra que não é só o Rei dos Filmes B, mas sim um excelente contador de histórias, principalmente durante esta fase em que trabalhou com Price e com Matheson. E para você que está em uma fase Edgar Allan Poe por conta do seriado The Following, com Kevin Bacon e que vai ao ar no Warner Channel, ou da minisérie nacional Contos do Edgar na FOX, vale conhecer além das obras completas deste, que foi o mais importante escritor de terror de todos os tempos, a visão peculiar de Corman sobre os contos criados por esse gênio da literatura gótica e as várias facetas que Price conseguiu imprimir em seus excêntricos personagens.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/01/151-muralhas-do-pavor-1962/

#150 1962 O HORRÍVEL SEGREDO DO DR. HICHCOOK (L’ Orribile segreto del Dr. Hichcock / The Frightening Secret of Dr. Hichcock / The Horrible Dr. Hichcock, Itália)


Direção: Riccardo Freda
Roteiro: Ernesto Gastaldi
Produção: Ermanno Donati
Elenco: Barbara Steele, Robert Flemyng, Silvano Tranquilli, Maria Teresa Vianello, Harriet Medin

Não confunda, hein! O Dr. Hichcock não é o diretor inglês mestre do suspense que conseguiu um doutorado! Repare na grafia diferente! O Horrível Segredo do Dr. Hichcock é um excelente filme de terror italiano gótico, dirigido por Riccardo Freda, mosntrando-nos aqui já no começo dos anos 60, a incrível capacidade da italianada para fazer filmes de terror. Freda, Bava, Margheriti foram os grandes cineastas do gótico spaghetti da década de 60, que pavimentaram o caminho cinematográfico para a consolidação do cinema de terror italiano nas próximas duas décadas, principalmente com o surgimento da violência extrema e derramamente abundante de sangue de mentira com os giallos, o ciclo canibal e o cliclo splatter, e responsáveis pelo surgimento de diretores futuros como Dario Argento, Sérgio Martino, Michelle Soavi, Lucio Fulci, e por aí vai. O Horrível Segredo do Dr. Hichcock evoca todo o clima e ambientações inspiradas nas produções americanas de Roger Corman baseadas nos contos de Edgar Allan Poe e na estética dos filmes ingleses da Hammer, mas com aquele toque peculiar e único que só os diretores da terra da bota conseguiam alcançar, com suas atmosferas opressivas, fotografias exuberantes, indumentária e cenários como elementos fundamentais da trama, uso preciso da iluminação (ou da falta de), trilha sonora retumbante e o melhor de tudo, os elementos macabros e chocantes. Esse elemento especificamente neste caso é a necrofilia. Esse é o horrível segredo do Dr. Hichcock, revelado logo nos primeiros minutos do filme. Cirurgião brilhante, no século XIX, Hichcock desenvolve um poderoso anestésico que o ajuda a salvar várias vidas durante a realização de complicadas operações em seus pacientes. Só que ele também usa essa anesteria geral em sua linda esposa, Margherita, para praticar jogos sexuais com a mesma, para que ela fique imóvel e desacordada exatamente como um cadáver. Bizarríssimo! Isso até que um dia ele administra uma dose exagerada, e a bela mulher acaba tendo um choque anafilático e morre de overdose. Hichcock abandona a casa, deixando aos cuidados da velha governanta, Martha, larga o emprego no hospital e deixa tudo para trás, ficando fora da cidade por 12 anos, até voltar casado novamente, desta vez com a morena Cynthia, a Scream Queen Barbara Steele, no auge de sua beleza peculiar. Acontece que Cynthia sofre de certos transtornos mentais, e todo o ambiente sinistro e lúgubre da casa, somado ao comportamente errático do marido, começam a deixá-la em parafuso, fazendo a moça jurar de pé junto que está sendo assombrada pelo fantasma de Margherita. Também, não é por menos que a pobre Cynthia se sinta assim. Primeiro pela decrépita Martha, que age como uma megera e ainda tem uma suposta irmã doente mental morando no porão da casa, que emite uivos assustadores durante as noites de tempestade. Segundo pela presença de gigantescos quadros do retrato de Margherita em quase todos os cômodos da casa. Espere aí… se eu entendo alguma coisa de mulher, é que na hora, qualquer uma ia exigir da forma mais veemente possível, que todas as coisas da falecida fossem retirada da casa. Mas Cynthia aceita passivamente no começo, sabendo da adoração de Hichcock pela sua ex-esposa. Enfim… Fora isso, Hichcock não consegue mais controlar sua obsessão sexual por cadáveres, e quase é pego duas vezes com a boca literalmente na botija, pelo seu assistente, o Dr. Kurt (já caidinho por Cynthia nessa altura do campeonato, enquanto o marido vem sendo um escroto), ao acariciar e beijar o corpo de garotas no necrotério do hospital. E explorando a condição mental de Cynthia, é descoberto o terrível e maligno plano do enlouquecido médico: usar o seu sangue para trazer o corpo apodrecido de sua ex-esposa de volta à vida. Barbara Steele mais tarde passaria de novo por uma situação parecida em outro filme, O Castelo do Terror de 1965, dirigido por Mario Caiano, onde sua personagem é morta por um cientista louco, que a pegou traindo com o jardineiro, e usa seu sangue para rejuvenescer uma amante velha decrépita. Ele se casa com a irmã gêmea, que também havia sido liberada de um sanatório onde estava internada por problemas mentais. Pelo jeito, o sangue das personagens de Steele tem alguma espécie de poder revigorante. O Horrível Segredo do Dr. Hichcock é pura atmosfera, porque em nenhum momento, presta-se a  acelerar a cenas para qualquer tipo de horror explícito, e explora a ideia da necrofilia de forma sutil, sem apelações (nada nem próximo dos afetados Nekromantik ou Aftermath, por exemplo) mantendo um clima onírico de suspense sobrenatural constante, exceto pelo final apressado e sem graça. A respeito do tema, o crítico Glenn Erickson escreveu algo interessante, que também reflete um pouco do senso comum sobre os filmes de terror daquela década: “Que um filme sobre as paixões frustradas de um necrófilo poderia mesmo ser lançado em 1962, é um mistério sensório em seu próprio direito – ou, talvez, um testemunho claro para a forma como os filmes de terror foram oficialmente ignorados em todos os níveis culturais naquela época”. Algo que sabemos que mudaria completamente a partir dos anos 70.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/30/150-o-horrivel-segredo-do-dr-hichcock-1962/

#149 1962 A FILHA DE SATÃ (Night of the Eagle / Burn Witch, Burn, Reino Unido)


Direção: Sidney Hayers
Roteiro: Charles Beaumont, Richard Matheson (baseado no livro de Fritz Leiber)
Produção: Samuel Z. Arkoff, Albert Fennel, Leslie Parkyn e Julian Wintle (Produtores Executivos)
Elenco: Peter Wyngarde, Janet Blair, Margaret Johnston, Anthony Nicholls, Colin Gordon

Queime bruxa, queime! Mais um clássico dos filmes de bruxa e que envolve rituais e seitas, A Filha de Satã tem esse título marqueteiro apenas para enganar os desavisados. Aqui não há nada relacionado ao coisa ruim, e sim bruxaria da brava, misturando vodu e coisas do tipo. A tradução literal do título original seria A Noite da Águia (fraquinho, também, cá entre nós) e tem também o sensacional nome americano, com o qual eu abri meu texto. Dirigido pelo hábil artesão Sidney Hayers (o mesmo de Circo dos Horrores), levado ao mercado americano pelo incansável produtor Samuel Z. Arkoff, a trama de A Filha de Satã é inspirada no livro Conjure Wife, publicado em 1943, escrito por Fritz Leiber. Responsável por transportar as páginas do livro para a telefona foi tarefa dos competentes roteiristas Charles Beaumont e Richard Matheson, familiarizados em adaptar contos de terror para as telas, principalmente, por terem sido dois dos principais responsáveis pelos roteiros dos filmes do ciclo Edgar Allan Poe dirigido por Roger Corman durante a década. Aqui, o cético e bem sucedido professor Norman Taylor (Peter Wyngard) leva uma vida invejável profissionalmente e está preste a receber uma importante promoção na universidade que leciona. O campo de estudo de suas aulas de psicologia é exatamente desmistificar superstições. Porém, certo dia, ele acaba descobrindo que sua esposa Tansy (Janet Blair) é praticante de bruxaria, que aprendeu ao conhecer um feiticeiro em uma viagem do casal à Jamaica. Pronto, daí o professor surta de vez, achando aquilo completamente ridículo e desmiolado, e briga com Tansy até que ela abandone aquela prática e se livre de todos os seus feitiços e patuás, mesmo ela relutando, dizendo que com eles, cria um ciclo de proteção para o marido contra tudo que há de mal. Mas como bem sabemos no gênero, Taylor não deveria ter duvidado e mexido com tal poder, e daí para frente, as coisas começam a dar terrivelmente errado imediatamente: sua melhor aluna o acusa de estupro, seu namorado o agride, e uma ameaça invisível, sobrenatural, demoníaca, tenta invadir sua casa. Além disso, Tansy começa a ser guiada por uma terrível força controladora, que primeiro faz com que ela tente se afogar, em sacrifício para que seu marido não sofra mais nenhum mal. Salva na hora H por Taylor, ela ainda tenta esfaqueá-lo mais tarde, mas também é impedida e trancada em um quarto. Todos esses acontecimentos sem explicação acabam fornecendo ao marido todo tipo de motivação para que ele passe a acreditar em bruxarias daqui para frente.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e risco.
É então que o sujeito descobre que uma colega de universidade, a secretária Flora Carr (Margaret Johnston) é a bruxa mor que está conjurando forças das trevas para acabar com Norman, já que sua carreira passou a ser ameaçada e interrompida com o crescimento profissional do professor na universidade. Primeiro ela usa seu poder de magia negra, queimando um castelo de cartas, e com isso colocando fogo na casa de Norman, onde Tansy está trancada. Depois , reproduzindo uma gravação ritualística que ela coloca nos alto falantes do campus, dá vida à águia de pedra, símbolo da universidade, que ficava em um pedestal na entrada do prédio, para perseguir e matar Norman, que só é salvo pelo seu colega, marido de Flora, que desliga a fita, o que faz com que a águia desapareça. Tansy também consegue escapar da casa em chamas, e para a bruxa maligna, o terrível destino consiste na pesada estátua da águia cair em cima dela enquanto andava pelo campus, morrendo de forma instantânea. A Filha de Satã é um thriller sobrenatural interessante, que mescla vários elementos do gênero usado até então, com uma tensão crescente em uma excelente fotografia sem desperdiçar nenhum frame, que segue bastante o conceito de se concentrar na atmosfera e na sugestão do que no terror implícito, ressuscitando a forma como Val Lewton conduzia as produções para a RKO Radio Pictures durante a década de 40. Além disso, há toda uma picuinha social que envolve a dança de cadeiras e escala hierárquica dentro de um campus. Curioso que em seu lançamento nos EUA, o filme era acessível para menores de 13 anos, enquanto na terra da Rainha, foi aplicada uma censura X, apenas para adultos. Na versão americana, como gimmick, foi incluída uma narração inicial de Paul Frees, entoando um feitiço para proteger a audiência do mal.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/29/149-a-filha-de-sata-1962/




quinta-feira, 14 de maio de 2015

#148 1962 CRIATURAS DA NOITE (Captain Clegg / Night Creatures, Reino Unido)


Direção: Peter Graham Scott
Roteiro: John Elder, Barbara S. Harper (diálogos adicionais) (baseado na obra de Russell Thorndike/ não creditado)
Produção: John Temple-Smith
Elenco: Peter Cushing, Yvonne Romain, Patrick Allen, Oliver Reed, Michael Ripper, Martin Benson

Criaturas da Noite é um filme no mínimo ambíguo. Poxa, é mó legal, tem Peter Cushing na sua melhor forma, é da Hammer, é um dos grandes clássicos do estúdio, uma história que te prende e é bem desenvolvida e ambientada… Mas então por que fica aquela sensação de que alguma coisa está errada? Eu acredito que seja por conta de, em detrimento de ser um filme de horror sobrenatural, é uma história de ação, com piratas, contrabando de álcool, soldados ingleses, etc. Com direito até ao personagem de Cushing se pendurar em um candelabro em uma escapada. Enquanto os tais Fantasmas do Pântano ficam completamente em segundo plano, e é mais uma saída ao melhor estilo vilões do Scooby-Doo do que um terror real do além-túmulo de verdade. Não dá para dizer muito sobre a trama sem mandar uma porrada de SPOILERS. Não o farei então. Vale dizer então que o filme começa no século XVIII, com o famigerado e temido capitão Nathaniel Clegg condenando um mulato a perder a orelha, a língua e ser deixando amarrado em uma ilha deserta, por ter traído o pirata mor. Alguns anos depois, quando o pirata já havia há muito sido capturado e enforcado por seus crimes, um bando de oficiais ingleses a serviço do rei, liderador pelo Capitão Colier (Patrick Allen), estão procurando contrabandistas de bebida na cidade de Dymchurch. O complô de contrabandistas envolve desde a o reverendo local, Dr. Blyss (papel de Cushing que está ótimo, uma das suas melhores atuações do cinema), até o filho do escudeiro da cidade, Harry Cobtree (Oliver Reed), o carpinteiro de caixões Jeremiah Mipps (Michael Ripper – coadjuvante de vários filmes da Hammer), o estalajadeiro Sr. Rash (Martin Benson) e sua protegida, a belíssima Imogene (Yvonne Romain). E mais uma cambada de beberrões safados. Capitão Colier ficará desconfiado destra trupe, e ao mesmo tempo irá tentar desvendar se os Fantasmas do Pântano são reais ou contos da carrochinha. Onde está agora o elemento de horror do filme? Nos tais Fantasmas do Pântano, um grupo de cavaleiros demônios esqueléticos montando cavalos fantasmagóricos, liderados pelo espírito do Capitão Clegg, trazendo a perdição para todos aqueles que vagam nos pântanos durante a noite, e obviamente, aqueles que supostamente atrapalham o fortuito plano de contrabando dos locais. Ponto. Convido todos a assistir ao resto do filme para ver o desenrolar da história e seu final. Fato é que nunca tive tanta dificuldade para escrever sobre um filme. Porque Criaturas da Noite é SUPER legal de se assistir, e é um das “obras primas” do estúdio. Mas destoa de todo os demais filmes da Hammer. Você pensa na história escrita por Anthony Hinds, sob o pseudônimo de John Elder, baseada de forma não creditada no livro Doctor Syn de Russel Thorndike: cavaleiros fantasmas andando pelos pântanos apavorando geral. UAU! E mesmo que a maquiagem e os figurinos sejam toscos, assim como o efeito especial translúcido das almas penadas cavalgando, você se apaixona instantaneamente pelo filme, pela aura que ele desperta. Fora a icônica figura do maligno corsário, o Capitão Clegg. É como ver o avô do primeiro Piratas do Caribe, dada as devidas proporções, que mistura uma trama de aventura com elementos de horror, com Capitão Barbosa e seus fantasmas amaldiçoados. E o figurino de Cushing, com aquele cabelinho de nona com uma mecha branca? Aqui ele faz um real personagem multi-dimensional, bem diferente dos papeis que estamos acostumados a ver o galante inglês interpretar (sempre  maniqueísta causador do bem, como Van Helsing, ou do mal, como Victor Frankenstein). Aqui ele é divertido, cínico, ameaçador, tenso, calmo, rebelde, herói, complacente, vilão. Rasgação de seda com méritos. E também há todos os personagens de apoio: beberrões, salafrários, sarcásticos, em contraponto aos soldados rígidos, mas incompetentes. Mas por fim, mesmo com os twists do roteiro no final, direção e condução competente de Peter Graham Scott e ambientação de época nos trinques, Criaturas da Noite me deixou um gosto de cabo de guarda chuva na boca. Esse foi o caminho escolhido pelo estúdio para fugir do usual, mas poderia apostar um pouco mais no famoso estilo sobrenatural-gótico-místico da Hammer. É um bom entretenimento, com 80 minutos divertidos e que fluem te prendendo à tela, que você nem percebe o tempo passar. 
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/27/148-criaturas-da-noite-1962/

#147 1962 O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER (The Brain That Wouldn’t Die, EUA)


Direção: Joseph Green
Roteiro: Rex Carlton, Joseph Green
Produção: Rex Carlton, Mort Landberg (Produtor Associado)
Elenco: Herb Evers, Virginia Leith, Leslie Daniel, Adele Lamont, Marlyn Hanold

Os anos 50 terminaram, mas seu legado não ficou para trás, ainda mais tratando-se de início da década de 60. O Cérebro que Não Queria Morrer é prova disso. Sci-fi bagaceira, típico da década anterior, extremamente divertido e nada plausível, dirigido por Joseph Green, dono da produtora Joseph Green Pictures, onde ele mesmo atendia ao telefone, famosa por distribuir filmes estrangeiros, de kung-fu e exploitation. Lançado pela AIP, somente três anos depois do seu lançamento, a fita foi rodada em 18 parcos dias e com uma “fortuna” de orçamento de 62 mil dólares. Claro que você não pode esperar muita coisa. Mas acredite, O Cérebro que Não Queria Morrer é melhor do que a encomenda. Os diálogos canastríssimos, os efeitos especiais, todo o plot do filme e as atuações bisonhas garantem a diversão da vez. O tal cérebro, que começa o filme suplicando para ser morto, é de Jan Compton, ou Jan na Bandeja, como consta no IMDb, cabeça interpretada por Virginia Leith. A pobrezinha é namorada do Dr. Bill Cortner (Jason Evers), um brilhante médico que quer ultrapassar as barreiras da ciência e medicina, brincar de Deus e realizar algo completamente imoral: transplantes. Isso mesmo. O cara é quase o diabo encarnado por utilizar uma técnica hoje responsável por salvar vidas, mas que era antiética e completamente obscura naquela época. Beleza, o cara quer fazer um transplante de cabeça… Isso é zuado e inverossímil. Mas de resto, ele faz experiências de reconstrução de tecidos, membros, enxertos. Tá certo que não dá muito certo, pois ele acaba criando uma anomalia, uma aberração deformada que deixa trancada atrás de uma pesada porta em seu laboratório, e seu assistente também tem um de seus braços atrofiados. Mas okay, deixemos isso de lado. Bill é chamado com urgência pelo seu assistente, para ir rapidamente à casa de campo onde fica seu laboratório. Ele leva o “rapidamente” a sério demais, e mete o pé no acelerador na estrada, sofrendo um acidente (dos mais inexplicáveis e ridículos da história da sétima arte) e Jan, que estava com ele no banco do passageiro é quem paga o pato. Bill não sofre um arranhão e encontra o carro em chamas, com a garota presa nas ferragens. É quando ele simplesmente, arranca a cabeça dela do lugar, com as próprias mãos, enrola na jaqueta e sai correndo até sua casa/ laboratório. Lá, ele finca a cabeça em uma bandeja, ao melhor estilo Re-Animator – A Hora dos Mortos Vivos, e através de um soro especial que desenvolveu, consegue manter a cabeça com vida pelas próximas 48 horas. É isso mesmo que você leu. E para completar, ela descobre ter desenvolvido uma espécie de poder telepático que a faz se comunicar com a criatura deformada atrás da porta. A atriz Virginia Leight passa o resto da película embaixo de uma mesa, somente com a cabeça para fora, a fim de simular que está decepada em cima da bandeja, e desfilando diálogos afiados tanto com o assistente medroso quanto com a deformidade, que não fazemos a menor ideia de como é sua aparência até então. A próxima ideia brilhante de Bill é arranjar um novo corpo para sua noiva e fazer o transplante de cabeça. Claro! E onde ele vai procurar esse corpo? Nos locais mais propícios para tal. Primeiro em um prostíbulo e depois em um concurso de trajes de banho. Afinal, já que é para colocar a cabeça em um novo corpo, que seja de uma gostosa, não é mesmo? A vítima que ele escolhe é uma modelo que posa para fotos e desenhos artísticos, que sofreu violência de um homem há tempos, que mutilou seu rosto, sendo salva pelo próprio Bill, e adquiriu um grau elevadíssimo de misantropia e virou lésbica. O experimento de Bill vai para as cuias quando a atormentada Jan, querendo vingança contra seu noivo por não tê-la deixado morrer e colocado-a nesse experimento bizarro, tornando-a uma anomalia da natureza, incita o monstrengão a escapar do seu cárcere e matar tanto o assistente de Bill, arrancando seu braço inteiro por meio de uma portinhola, e depois partir para cima do médico. Apesar do orçamento pífio, a maquiagem do monstro, interpretado por Eddie Carmel, está bastante interessante e bem feita, cortesia de George Fiala. Um detalhe peculiar é que Carmel sofria de deformidades na vida real. Ele possuía mais de dois metros, uma má formação óssea e um tumor na glândula pituitária que o conferiu esse tamanho e aparência bizarra, tendo ele trabalhado em diversos “freak shows”. Ele morreu com apenas 37 anos, decorrente de falência glandular. Outro ponto extremamente positivo em O Cérebro que Não Queria Morrer é o gore. Os filmes da Hammer e também a chamada Sadian Trilogy já haviam começado a deixar o sangue e a violência cada vez mais explícitas no cinema. Aqui, mesmo com fotografia preto e branca, uma boa quantidade de sangue é utilizada, principalmente no personagem Kurt, o assistente de Bill, quando tem seu braço arrancado e sai esperneando com sangue esguichando pelas paredes e chão da casa. Se o filme fosse colorido, teria feito bastante barulho para a época. E ainda tem todo um poder feminino implícito no filme, tanto com as prostitutas de personalidade forte que trabalham no cabaré que Bill vai visitar, quanto Doris Powell (vivida pela bela Adele Lamont), com seu lesbianismo escancarado, até afirmando que tem uma namorada, coisa ultrajante para a época. Hoje O Cérebro que Não Queria Morrer está em domínio público. Uma merecida preciosidade trash.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/26/147-o-cerebro-que-nao-queria-morrer-1962/