domingo, 24 de maio de 2015
#158 1963 O BEIJO DO VAMPIRO (The Kiss of the Vampire, Reino Unido)
Direção: Don
Sharp
Roteiro: John
Elder
Produção: Anthony
Hinds
Elenco:Clifford
Evans, Edward de Souza, Noel Willman, Jennifer Daniel, Barry Warren, Jacquie
Wallis
O Beijo do
Vampiro é a terceira empreitada da Hammer no universo
vampiresco. Não confunda com aquela novela mequetrefe que passou na Globo há
alguns anos. E se não fosse uma fita pertencente ao respeitado catálogo do
estúdio britânico, seria um filme completamente esquecível e desnecessário. A
Hammer parece ter levado algum tempo para perceber que seus filmes só iriam
funcionar com Christopher Lee no papel de Drácula novamente, algo que só
aconteceria seis anos depois. Anthony Hinds, produtor da Hammer e que
roteirizou este longa sob o pseudônimo de John Elder, queria continuar na
tentativa de fazer mais um filme de Drácula, sem o ator que imortalizou o
personagem para o estúdio. O Beijo do Vampiro era para ser o terceiro
filme da franquia, mas outra vez o resultado ficou aquém do esperado,
como aconteceu com As Noivas de Drácula, que pelo menos, ainda se prestava a ter
Peter Cushing no elenco, refazendo o papel do Prof. Van Helsing. Porém o texto final acabou não
fazendo nenhuma referencia ao conde, e partiu para uma direção que começou a
ser abordada no longa anterior, tratando o vampirismo como uma doença social
que atinge aqueles que buscam por um estilo de vida decadente, e obviamente,
utilizando-se da superstição nos pequenos vilarejos para as criaturas das
trevas fazerem suas vítimas e tocarem o terror no local. Aqui, o grande mestre
vampiro é o Dr. Ravna (Noel Willman, uma espécie de Christopher Lee fajuto, que
tem até certa semelhança física com o eterno Drácula), que mora em um suntuoso
castelo na Bavária e tem uma legião de seguidores sanguessugas, além de seus
próprios filhos. Os olhos e desejo de sangue de Ravna se voltam para a bela
Marianne (Jennifer Daniel), recém casada com Gerald Harcourt (Edward de Souza),
que estão em uma viagem de lua de mel e seu carro, uma das grandes novidades da
época, fica sem combustível próximo a um vilarejo, o que os faz se hospedarem
em um decadente hotel, gerenciados pelo feliz Bruno e pela amargurada Anna, sua
esposa, que vive em luto pelo desaparecimento da filha, que foi morar no
castelo com o Dr. Ravna, e claro, foi transformada em uma morta-viva. Ravna
convida os dois pombinhos para um jantar em seu castelo, e depois de construir
a base da amizade entre eles e seus filhos, usando um pouco do bom e velho
poder hipnótico dos vampiros, desta vez na forma de uma música tocada no piano
pelo seu filho Carl, os leva até uma extravagante festa à fantasia, para raptar
Marianne e dar o beijo, que na mitologia vampírica, é sugar seu sangue para
transformá-la em uma criatura notívaga. Neste momento somos apresentados a um
detalhe bastante interessante, que é o pouco que se salva no filme e o
diferencia dos demais do gênero que temos visto até então, e familiar se você
joga ou jogou Vampiro – A Máscara alguma vez na vida. Ravna possui uma
verdadeira seita vampiresca. Ele como grande líder, reúne todas essas criaturas
sobre seu domínio em seu castelo, todos vestidos de branco, participando de
sessões, bem como um culto de verdade. Outro ponto positivo do filme é que
depois que Marianne é sequestrada e Gerald ter tomado um porre sem precedentes
na noite da festa, ele acorda e é taxado de louco por todos, em um complô muito
bem organizado, que alega que ele viajava sozinho e nunca houve uma Marianne,
sua recém esposa, junto dele. Até Bruno, senhorio do hotel, está mancomunado,
escondendo todas as roupas da garota. Mas claro que Gerald não vai se dar como
louco, e procura ajuda no Professor Zimmer, estudante do oculto, caçador de
vampiro e sósia de Zé do Caixão, que resolve utilizar-se da magia negra para
conjurar um mal ainda maior, que seria responsável por derrotar Ravna e seus
acólitos. Utilizando este ritual místico, Zimmer ordena que um bando de
morcegos de plástico pendurados por barbantes, vindos do inferno, invada o
castelo e ataque ferozmente todos os ali presentes, como se o Batman tivesse
jogado um daqueles seus dispositivos sônicos no local que atrai os quirópteros.
Finalzinho mais do que safado. Na verdade, esse encerramento seria
originalmente usado no final de As Noivas de Drácula, mas Peter Cushing
foi ferrenhamente contra, pois Van Helsing nunca iria recorrer a magia negra, o
que faz um tremendo de um sentido. Por isso foi criado o tal Prof. Zimmer,
obviamente sem o mesmo charme do doutor holandês, e assim essa conclusão pode
ser utilizada em O Beijo do Vampiro. Que vale só pela curiosidade de ser
mais um filme do gênero com o selo Hammer e toda sua alegoria costumeira.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/09/158-o-beijo-do-vampiro-1963/
#157 1963 BANQUETE DE SANGUE (Blood Feast, EUA)
Direção: Herschell Gordon
Lewis
Roteiro: A. Louise Downe,
David F. Friedman e Herschell Gordon Lewis (não creditados)
Produção: David
F. Friedman, Stanfor S. Kohlberg e Herschell Gordon Lewis (não creditados)
Elenco: Thomas
Wood, Mal Arnold, Connie Manson, Lyn Bolton, Scott H. Hall
Além de Banquete de
Sangue ser uma podreira sem tamanho, uma história ridícula e
atores bisonhos, o que vale mesmo destacar é que esse foi o primeiro filme
dirigido por H.G. Lewis, o pai do cinema gore. O primeiro a desbravar esse
território tão adorado pelos fãs do horror hoje em dia, e colocar em cena muito
sangue, mutilações e vários tipos de violência gráfica explícita. E só vermos a
diferença gritante entre Banquete de Sangue com todos os demais
filmes feitos até então. A fita abre já com uma loira entrando em uma banheira
para tomar banho, com direito a peitinho de fora, e aparece um maluco psicopata
arrancando o olho dela com um facão e depois cortando a perna da garota fora e
colocando em um saco. E tudo isso de forma visceral, com um banho de guache
vermelho imitando sangue, e uma trilha sonora de um tambor minimalista,
misturado com sons fúnebres de órgãos e violinos (também executada por Lewis)
que vai se repetir durante todo o filme. Apesar da precariedade já gritante na
cena, que vai piorando conforme o tempo passe, o que vale mesmo é a ousadia,
principalmente para a época. O assassino é na verdade Fuad Ramses, um
antiquário psicopata, adorador da deusa egípcia Ishtar. Sua missão é reviver a
deusa através de um cruel ritual de sangue, oferecendo-a vísceras e sangue de
suas vítimas. Ramses é convidado pela socialite Dorothy Fremont a preparar um
exótico jantar de aniversário para sua filha, Suzette, fã da cultura egípcia.
Para a ocasião, ele vê a oportunidade perfeita para oferecer seu banquete à
Ishtar e finalizar seu ritual. Enquanto isso Ramses vai cometendo todo tipo de
assassinato escabroso, todos extremamente gráficos, com um zelo de produção do
pior nível possível. Uma vítima tem seu cérebro removido enquanto namorava em
uma praia deserta, outra tem a língua arrancada, outra o rosto violentamente
desfigurado e mais uma chicoteada até a morte, para que seu sangue virgem seja
oferecido à deusa. E depois, as partes que ele foi coletando até agora das
garotas, vão todas para o forno, para que sejam servidas no derradeiro
banquete. Com todas estas mortes horrendas ocorrendo, uma dupla de policias
incompetentes ao extremo, formada pelo Detetive Pete Thornton (interpretado por
William Kerwin, com o pseudônimo de Thomas Wood) e pelo Capitão Frank, não
conseguem descobrir a menor pista de quem é o sádico assassino que está
executando estas garotas. Os pontos vão começar a se ligar somente quando Pete
e Suzette, que vivem um caso amoroso, participam de uma palestra sobre a
história egípcia e conhecem através dela, o terrível banquete oferecido à
Ishtar na antiguidade, o mesmo quem Ramses quer executar nos dias atuais. É
durante o aniversário de Suzette, após ela quase ser assassinada, que a polícia
finalmente consegue impedir que o psicopata faça mais uma vítima, impedindo
Ramses na hora H e obrigando-o a fugir. Neste momento vale uma pérola disparada
pela mãe de Suzette, isso após quase sua filha ser morta pelo assassino: “Acho
que não teremos mais o jantar esta noite”. Impagável. Ramses começa a ser
perseguido pela polícia, fugindo a pé em direção a um lixão e sem conseguir ser
apanhado, e isso que ele é manco! Sério, acho que nunca vi policiais detetives
tão estúpidos quanto esta dupla. Nem o FBI em The Following consegue ser tão
incompetente. É então que para conseguir escapar, Ramses resolve se esconder na
caçamba de um caminhão de lixo.
ALERTA DE SPOILER (se é que você se importa mesmo em como vai
terminar esse filme).
Claro que a ideia de gênio ia dar
errado, e Ramses acaba sendo esmagado violentamente pelo triturador do
caminhão. Ainda há tempo no finalzinho para o Detetive Thornton, que tem certa
semelhança física com o ator Robert Patrick, o T-1000 do Exterminador do
Futuro, explicar como ele conseguiu montar sua brilhante linha de raciocínio e
descobrir que Ramses era o verdadeiro assassino. Tudo graças a seus
conhecimento adquiridos nas palestras sobre o Egito, principalmente na fatídica
aula sobre o banquete de Ishtar, e o livro “Antigos e Estranhos Rituais”
encontrado na banheira lá da primeira vítima no começo. O filme é pobre, tosco,
a atuação dos atores são as mais forçadas e exageradas possíveis, o roteiro é
cheio de buracos… Mas isso não é nenhum demérito para Banquete de Sangue não,
principalmente se você como eu, é fã desse tipo de bagaceira. É uma produção
obscura, violenta, de humor negro, importante por ser percussora do gore,
e ter colocado o nome de Herschell Gordon Lewis como um dos principais
diretores do gênero, ao abrir caminho para o cinema explícito.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/08/157-banquete-de-sangue-1963/
#156 1963 O ATAQUE DOS HOMENS COGUMELOS (Matango / Attack of the Mushroom People, Japão)
Direção: Ishirô Honda
Roteiro: Takeshi Kimura
(baseado na historia de William Hope Hodgson)
Produção: Tomoyuki Tanaka
Elenco: Akira Kubo, Kumi
Mizuno, Hiroshi Koizumi, Kenji Sahara, Hiroshi Tachikawa
Como não esperar o melhor (no
sentido de pior) de um filme com este nome: O Ataque dos
Homens Cogumelo? É claro que só pode vir um daqueles clássicos cults de
ficção científica pela frente. Melhor ainda quando ele é dirigido pelo pai de Godzilla,
Ishirô Honda para a lendária produtora Toho e tem nos efeitos especiais o mago
Eiji Tsuburaya, responsáveis pelos maiores Kaijus do cinema e criador da
família Ultra. Este filme na verdade é o que fecha a trilogia de Ishirô e
Tsuburaya fora do ambiente dos monstros gigantes, sendo precedido pelos
igualmente cultuados O Monstro da Bomba H e O Vapor Humano, ambos já devidamente resenhados aqui no blog.
E é o maior desafio técnico do mestre dos efeitos especiais até então,
representando os terríveis homens cogumelos do título. Bom, antes de Carlos Castañeda e
sua A Erva do Diabo e antes do movimento paz e amor lisérgico dos hippies,
incorporando o cogumelo ao seu cardápio diário, esta produção nipônica
completamente maluca já nos mostrava o caminho dos poderes entorpecentes que
essa frutificação poderia ter na mente das pessoas. A diferença é que aqui, com
uma forcinha da energia atômica espalhada através de testes nucleares, os
cogumelos são muito mais que alucinógenos: eles realmente ganham vida, crescem
de tamanho e transformam-se em fungos superdesenvolvidos. E isso é o que vai
descobrir a tripulação de sete pessoas que navegam em um luxuoso iate pelo
pacífico, e após serem atingidos por uma tempestade, ficam à deriva até as
correntezas o levarem a uma inóspita ilha, abandonada a primeira impressão. Sem
comida e sem abrigo, o grupo encontra um grande navio abandonado, todo detonado
pela corrosão, e decidem se estabelecer lá dentro para tentarem descobrir uma
forma de sair daquela ilha, enquanto tentam consertar o iate. Lá eles encontram
algumas latas de comida enlatada e precisam encontrar tubérculos, raízes e ovos
de tartaruga na praia para poderem se alimentar. No meio da floresta há essa
estranha plantação abundante de cogumelos, que ao ser comido, poderia gerar uma
série de reações adversas nas suas vítimas, como é constatado em um dos livros
de bordo que os sobreviventes encontram. E como se não bastasse isso, naquela
situação limite, enclausurados em uma ilha, alimento acabando, surgimento da
falta de escrúpulos e de uma explosiva espécie de Síndrome da Cabana, as
relações humanas ali dentro entre estes cinco homens e duas mulheres,
tornar-se-ão muito mais perigosas que qualquer fungo mutante. E esses conflitos
são muito bem explorados por Honda, um perfeccionista nato, que vai elevando de
forma contida o suspense aos poucos, colocando um ou outro monstro andando
sorrateiramente pelos corredores do navio/ laboratório, até chegar ao seu
absurdo final, onde após alguns dos sobreviventes mandarem tudo à favas e
provarem os cogumelos, matando a fome e ficando chapados, vão começar a sofrer
a terrível mutação em sua pele, juntando-se a outra tripulação do navio
abandonado como errantes criaturas cheio de perebas, vivendo um eterno loop de
delírio alucinógeno sensorial. E os homens cogumelo deixam os dez minutos
finais serem a verdadeira cereja do bolo. Tsuburaya faz o que sabe fazer de
melhor e em uma cena de perseguição no claustrofóbico navio, os monstros
mutantes parecem antever os zumbis de Romero, tentando destruir as portas e
janelas com suas roupas maltrapilhas, pele purulenta e andar trôpego, fazendo
com que o herói tenha de fugir para a floresta, onde será atacado por mais
seres perebentos e os próprios cogumelos gigantescos, com seus chapéus e tudo,
que podem se movimentar livremente pela ilha. O Ataque dos Homens Cogumelo também
possui uma irretocável direção de arte, todo filmado dentro dos estúdios da
Toho, a fotografia em Cinemascope, a direção precisa de Honda e o roteiro bem
construído que dá uma bizarra aura de originalidade e de antecipação dos fatos,
tornando-o um verdadeiro cult no catálogo de filmes do estúdio
japonês. Detalhe que os responsáveis por levá-lo aos EUA, onde obviamente
também ganhou uma legião de fãs, foi a dupla Samuel Z. Arkoff e James H.
Nicholson, da American International Pictures, que editaram e dublaram a fita,
exibindo-o diretamente na televisão americana, sem nem passar pelos cinemas,
transformando-o mesmo assim em um ícone da contracultura da geração dos anos
60.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/07/156-o-ataque-dos-homens-cogumelo-1963/
#155 1962 O TERROR VEIO DO ESPAÇO (The Day of the Triffids, Reino Unido)
Direção: Steve Sekely,
Freddie Francis (não creditado)
Roteiro: Bernard Gordon,
Phillip Yordan (baseado na obra de John Wyndham)
Produção: George
Pitcher, Phillip Yordan (Produtor Executivo)
Elenco: Howard
Keel, Nicole Maurey, Janette Scott, Kieron Moore, Mervyn Johns
O Terror Veio
do Espaço é a primeira adaptação do famoso e importantíssimo best
seller de ficção científica O Dia das Trífides, escrito por John Wyndham,
publicado em 1951. Wyndham também é o autor de Midwich Cuckoos, outro
clássico da ficção científica adaptado para as telas em A Aldeia dos Amaldiçoados. Dirigido por Steve Sekely e Freddie
Francis (diretor de alguns filmes da Hammer e da Amicus, mas de forma não
creditada), com roteiro de Bernard Gordon e Phillip Yordan, O Terror Veio
do Espaço traz aquele famoso cenário pós apocalíptico de uma invasão
alienígenas, só que uma invasão bem mais inusitada do que estamos acostumadas,
perpetrada por uma raça de plantas carnívoras interplanetárias que chegou ao
nosso planeta e depois de um evento espacial mundial, tomou controle da Terra. O
evento em questão é uma chuva de meteoritos, que certa noite foi visível a olho
nu em todo o globo, mas que trouxe uma desastrosa consequência: todos aqueles
que a assistiram, ficaram imediatamente cegos. É mais ou menos como se O
Ensaio Sobre a Cegueira encontrasse Os Invasores de Corpos. E um adendo
é que aquele filme sem vergonha do M. Night Shyalaman, Fim dos Tempos,
obviamente foi chupinado também do argumento de O Dia das Trífides. Com a
humanidade em pânico, trens entrando em rota de colisão, aviões caindo do céu e
o caos tomando conta, as trífides, que são essas tais plantas, começam a
crescer livres e de forma desgovernada, saindo andando por aí de seus caules e
devorando os seres humanos. Pausa para falar sobre o visual dessas plantas. Eu
sei que era década de 60, é uma produção de baixo orçamento da BBC, mas pelo
amor… As plantas são ridículas. Naquele nível de que só dá para dar risadas das
mesmas. Obviamente algumas cenas foram rodadas com a técnica de suitmation,
e pode-se perceber que há um sujeito por baixo da roupa de borracha que mimetiza
o vegetal alienígena, andando desengonçado de forma bípede e com os braços
levantados representando seus troncos. É tosco! Bom, deste pandemônio todo
originado pela chuva de meteoros e o curto de cegueira, o oficial da marinha
Bill Masen, vivido por Howard Keel, é um dos poucos que ainda podem enxergar,
pois foi submetido a uma cirurgia nos olhos na noite do acontecido, não
presenciando o fenômeno. Ele se junta a pequena Susan, sobrevivente de um
desastre em um trem descarrilado, e deixam Londres em direção à França,
tentando descobrir alguma ajuda no continente. Lá eles conhecem também mais um
casal que possui a visão, Christine e o Sr. Cocker, que tem uma casa de campo
onde reúne alguns sobreviventes para poder prestar auxílio. Neste ínterim,
outros dois personagens chaves na trama é o casal de cientistas Tom e Karen
Goodwin, que vivem isolados em suas pesquisas em um farol no meio do oceano, e
também não testemunharam a chuva de meteoros. Isolados, com um relacionamento
desgastado entre ambos e o alcoolismo de Tom, eles precisam tentar
sobreviver à crise conjugal naquela rocha, e não serem devorados pelas
trífides que vão nascendo na encosta. Como todo bom filme pós-apocalíptico, não
são apenas as plantas extraterrestres que constituem perigo para nossos heróis.
Nunca podemos esquecer que a humanidade em situações como essa, sempre volta ao
seu estágio primitivo, quase animalesco, numa sociedade caótica sem leis, e vão
recorrer a saques, assassinatos e estupros. Mas nada que se compare as
terríveis trepadeiras que vão andando, balançando seus galhos por aí querendo
fazer um lanchinho de carne humana, isso sem contar sua intensa capacidade de
se reproduzir, afinal é só bater um ventinho e levar seu pólen para qualquer
lugar, e o mortal veneno que possui em suas seivas. A maior diferença entre o
filme e o livro é a origem das trífides. Enquanto aqui, como já disse, a origem
é extraterreste, no livro original de Wyndham, as plantas são meramente uma
alegoria comunista, tema comum em seus livros, onde segundo suspeitas do
próprio personagem principal, Bill Mansen, elas foram criadas através de
bioengenharia pelos soviéticos e depois acidentalmente soltas na natureza.
Especula-se também no livro que a chuva de meteoros também foi obra dos
vermelhos e companhia limitada. O desenvolver da trama de O Terror Veio do
Espaço é bastante compacta, tendo que colocar todos os desdobramentos do
apocalipse vegetal e as relações humanas e suas consequências, retiradas das
páginas do livro, em um filme de apenas 93 minutos. Então tudo fica bastante
corrido, mas com algumas interessantes situações ali pontuadas, que poderiam
ser melhores exploradas se a metragem fosse maior. Mesmo assim não deixa de ser
um clássico cultuado. Em 1981 a própria BBC produziu uma série em seis episódios
exibidas na televisão britânica, aí sim com os personagens e situações mais bem
trabalhadas, e recentemente em 2009, uma nova minissérie foi ao ar em dois
episódios, esta com elenco estrelado com Dougray Scott, Vanessa Redgrave, Eddie
Izzard e Brian Cox e recheada de efeitos especiais, lançada no Brasil pela
Paris Filmes com o nome de O Dia Final, na época em que eu trabalhava por
lá. Um detalhe pessoal curioso é que fui voto vencido dos departamentos de
marketing e comercial, para que o filme se chamasse O Dia das Trífides, tal
qual o livro.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/06/155-o-terror-veio-do-espaco-1962/
sexta-feira, 22 de maio de 2015
#153 1962 O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (What Ever Happened to Baby Jane?, EUA)
Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Lukas Heller
(baseado na obra de Henry Farrell)
Produção: Robert
Aldrich, Kenneth Hyman (Produtor Executivo)
Elenco: Bette
Davis, Joan Crawford, Victor Buono, Wesley Addy, Ann Barton
Quando mundos colidem é uma
expressão que posso utilizar como metáfora para O Que Terá
Acontecido com Baby Jane? Afinal, duas estrelas da magnitude de
Bette Davis (e seus olhos…) e Joan Crawford, decadentes (nesta ficção e na vida
real) que se detestam e vivem se degladiando (nesta ficção e na vida real),
atuando em um thriller psicológico diabólico, é um verdadeiro deleite para
qualquer fã de cinema. Dirigido por Robert Aldrich, baseado no livro e Henry
Farrell, a trama atualíssima de ódio fraternal, ciúmes, obsessão e psicose ecoa
pelo tempo, em um filme agarrado (quase que literalmente) com unhas e dentes
pelas duas atrizes que em seu tempo, eram simplesmente as melhores das melhores
da era de ouro de Hollywood (com três Oscars na mala delas, dois para
Davis e um para Crawford). Mas que estavam em momento de franca decadência. E o que mais impulsiona estas
duas atuações viscerais é o fato de as duas se detestarem na vida real, e serem
inimigas assumidas. Ainda assim, Aldrich obteve a imortal proeza de conseguir
trabalhar com as duas e conseguir canalizar esse ódio para transparecerem no
papel das irmãs Hudson, cada uma com sua tragédia pessoal de vida, confinadas
em uma mansão em Hollywood vivendo uma desesperada situação limítrofe de
angústia. Davis está sinistra, com uma maquiagem pesada e trejeitos diabólicos
como “Baby” Jane Hudson, atriz mirim ao melhor estilo Shirley Temple (ou a
menina Maísa se você quiser abrasileirar a coisa) que fazia muito sucesso no show
business e era foco de todos os holofotes, tendo até sua bizarra boneca em
tamanho natural. Sua irmã, Blanche era menosprezada pelo pai e pela irmã, até
que com o passar dos anos, a aura de encanto da pequena Baby Jane foi
desaparecendo, assim como seu estrelato, enquanto Blanche, uma Crawford
contida, vaidosa, humilhada, incapaz e de dar pena, começou a ascender ao
status de estrela de Hollywood. Isso não faria nem um pouco bem para a relação
das duas. O ponto de virada que vai culminar nos horrores da trama é quando
após uma festa, um trágico acidente de carro se sucede, onde Jane acaba sendo
culpada por atropelar Blanche, aleijando-a e colocando-a em uma cadeira de
rodas pelo resto da vida, e obrigando-a cuidar da irmã inválida por todos estes
longos anos. Com suas carreiras destruídas, ambas as velhas solteironas vivem
em um eco infinito do passado: Blanche se vendo nas reprises da televisão, o
que emputece Jane, e a irmã mais velha cada vez mais psicótica, buscando
retomar sua carreira, cantando seu one hit wonder: I’ve Written a
Letter to Dady (vale muito a cena onde Davis recria de forma bizarra seu
número infantil). Um espiral de tortura psicológica e abuso estoura com Jane
perdendo o controle cada vez mais, mantendo a irmã em cárcere privado em seu
quarto, falsificando sua assinatura para sacar dinheiro para gastar em figurino
e nos preparativos de sua almejada volta aos palcos, mentindo para vizinhos,
médico e polícia e servindo a ela um rato de jantar em uma bandeja de prata (na
melhor cena do filme, com Davis rindo histericamente e Crawford gritando de
horror). Isso culmina na completa perda das faculdades mentais de Jane,
agredindo a irmã com chutes violentíssimos, amarrando-a na cama e deixando-a à
própria sorte, até a cena final de seu “sequestro” e a chocante e comovente
revelação que se desenrola nas areias da praia. E ainda há três figurantes que
merecem esse parágrafo: Edwin Flagg, vivido por Victor Buono, o gordão
oportunista que quer se aproveitar da pobre e desequilibrada Jane,
acompanhando-a no piano em sua “futura” apresentação e arrumando um jeito de
pegar a grana da velha, adiantado, claro (e que foi indicado ao Oscar de
melhor ator coadjuvante); sua mãe Dehlia, que aparece pouco em cena, mas vale
os minutos em que fica aos berros com o filho ao melhor exemplo de família
disfuncional; e a descuidada empregada das Hudson, Elvira Stitt (Maidie
Norman), cujo destino vai torna-la vítima da explosão da violência assassina
contida de Baby Jane. Tratando-se do temperamento das duas estrelas e do
histórico da disputa das duas fora das telas, O Que Terá Acontecido com
Baby Jane? é um prato cheio para as mais extravagantes histórias de
bastidores e todas as lendas urbanas que fizeram parte da mitologia do “por
trás das câmeras” desta produção. Entre elas as mais famosas são a de que na
cena em que Jane chuta violentamente Blanche, Crawford teve medo de participar
da cena e um bonecão (extremamente perceptível) foi colocado em seu lugar, e
Davis não poupou esforço em chutá-la como se fosse cobrar um tiro de meta, observada
por uma atônita Joan Crawford, e quando a mesma tentou dificultar a vida de
Bette Davis na cena em plano sequência em que ela deveria arrastá-la pela sala,
colocando pesos nos bolsos e tossindo em uma das tomadas para ter de ser rodada
de novo. Coisa de duas velhas megeras, como se pode ver. E vale lembrar que o
caldo só azedou mais ainda quando Davis foi indicada ao Oscar por este filme, e
Crawford, ignorada. Mas na noite da premiação, Crawford acabou subindo ao palco
para receber a estatueta no lugar de Anne Bancroft, que não pode estar presente
na cerimônia, pois tinha combinado previamente com todas as outras atrizes,
somente para causar mais intriga com Davis. É importante ressaltar também O
Que Terá Acontecido com Baby Jane? devido ao seu imenso sucesso de público
e crítica, tornou-se um filme gênese de um subgênero do terror muito comum
durante os anos 60, chamado de “psycho-biddy”, ou “hag horror”. Estes filmes
traziam sempre uma atriz mais velha como protagonistas, passando por surtos
psicóticos ou vítima de um grande mal ou perigo iminente, que serviu como
retomada para algumas dessas grandes atrizes de outrora, fazendo com que
voltassem a encontrar papeis no cinema, desta vez nestas produções de baixo
orçamento de terror e suspense. Entre os mais populares filmes deste gênero
estão: Almas Mortas, de William
Castle, com a própria Joan Crawford, A Dama
Enjaulada, com Olivia de Havilland e Com a Maldade
na Alma, também dirigido por Robert Aldrich, este com Bette Davis no
elenco.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/03/153-o-que-tera-acontecido-com-baby-jane-1962/
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
393 1962 O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? What Ever Happened To Baby Jane?
segunda-feira, 18 de maio de 2015
sábado, 16 de maio de 2015
#152 1962 OBSESSÃO MACABRA (The Premature Burial, EUA)
Direção: Roger
Corman
Roteiro: Charles
Beaumont, Ray Russell (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger
Corman, Samuel Z. Arkoff, Gene Corman (Produtor Executivo)
Elenco:Ray
Milland, Hazel Court, Richer Nery, Heather Angel, Alan Napier
Cronologicamente, Obsessão
Macabra foi lançado antes de Muralhas do Pavor, meu post anterior. Um chegou aos cinemas em
Março de 62, enquanto o outro estreou em Julho do mesmo ano. Por uma questão de
ordem alfabética, Muralhas do Pavor foi postado antes. Bom, isso tudo
para dizer que em 1962, Roger Corman dirigiu para a AIP dois filmes baseados na
obra de Edgar Allan Poe, mas desta vez, sem a presença de Vincent Price, sendo
substituído pelo também excelente Ray Milland. O mais interessante é que
Milland trouxe um aspecto completamente diferente ao estilo de filme adaptado
da obra de Poe que havia sido feito até então. Nos dois filmes anteriores, O Solar Maldito e A Mansão do Terror, e mesmo no próprio Muralhas do Pavor e
os demais filmes da fase Poe (seriam oito, ao total). Price sempre foi um ator
que abusa de recursos de teatralidade, exagerado, cartunesco, dramático, que
faz parte do mundo decadente que está em sua volta, sempre sofrendo de alguma
degradação específica tanto de personalidade quanto de caráter. Veja Roderick
Usher ou Nicholas Medina. Enquanto o personagem Guy Carrell de Milland é uma
pessoa comum, jogada em uma situação macabra, alterando todo o ambiente a sua
volta. Isso porque Carrell presencia uma cena que o tira dos eixos e coloca sua
sanidade a fio, ao desenterrar um cadáver junto de seu amigo, o Dr. Gault
(interpretado por Alan Napier, o Alfred o seriado do Batman dos anos 60), a fim
de utilizá-lo em pesquisas médicas, descobrindo que ele foi enterrado vivo,
encontrando o defunto com uma horrível expressão de pânico no rosto e sob a
tampa do caixão, marcas de arranhões e sangue. Isso desperta um medo irracional
em Carrell, que acredita sofrer de catalepsia, assim como seu pai, e começa a
sentir um pavor indescritível de que aquilo possa a vir ocorrer também com ele.
Vivendo na sombra desse medo que se torna uma obsessão, Carrell se muda com sua
irmã, a dúbia personagem Kate (Heather Angel) para sua casa afastada da cidade,
pintando quadros sinistros e se drogando com láudano, desistindo de se casar
com sua noiva, Emily, filha de Gault, que é interpretada pela bela Hazel Court,
famosa pelos filmes da Hammer como A Maldição de Frankenstein e O Homem que Enganou a Morte. Mas a moçoila não se dá por
vencida e resolve insistir em trazê-lo de volta ao mundo real e consumar o
casório. Porém mesmo depois de casado, e ainda auxiliado pelo médico amigo da
família Gault, Miles Archer, que sempre nutriu uma paixonite por Emily, Carrell
não consegue se afastar de seus medos e de sua conduta hostil, tendo uma ideia
mirabolante caso ele venha a ser enterrado vivo como o pobre diabo que viu no
começo do filme. Em seu mausoléu pessoal, ele cria uma série de traquitanas que
irão salvá-lo. Entre elas: um caixão que abre facilmente com um só toque; um
sino que irá avisar aos criados que está vivo ao ser tocado por ele; portas que
se abrem automaticamente ao puxar de cordas; um estoque de alimentos e bebidas;
uma escada com saída para uma claraboia; ferramentas e bananas de dinamite para
estourar a porta se nada mais dar certo; e em último e extremo caso, uma dose de
veneno para que ele dê cabo de sua vida e não fique mais naquela prisão eterna.
Até que em uma noite na floresta, ele escuta um assobio que o remete ao
assobiar dos dois ladrões de túmulo que o acompanharam naquela fatídica noite,
e tem um terrível pesadelo, filmado com filtros em verde e azul, ao melhor
estilo Corman, onde ele é enterrado em seu mausoléu e simplesmente todas as
suas tentativas de sair de lá, tão premeditadas, dão errado. As alavancas não
funcionam, as bananas de dinamite estão podres e a até o veneno é substituído
por um cálice cheio de vermes. Cada vez mais paranoico, com a ajuda de sua
esposa e de Miles, ele finalmente encara que está sofrendo de uma neurose
compulsiva, desejando a morte e se tornando um escravo do medo, até resolver
que para sua própria sanidade, deve se livrar do mausoléu e afastar de uma vez
por todas esses pensamentos, após levar um ultimato de sua mulher, ao melhor
estilo “ou a morte ou eu”. As coisas parecem melhorar consideravelmente para
Carrell, até que…
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e
risco…
o nosso protagonista sofre uma
parada cardíaca ao tentar exumar o corpo de seu pai, e é dado como morto por
Gault. Mas na verdade ele não morreu, e sim está em um estado catalético, como
sempre temeu, tentando desesperadamente ser ouvido e impedir que seja enterrado
vivo em uma cova no cemitério, já que seu mausoléu havia sido destruído. Não dá
muito certo. Os dois coveiros ladrões de corpo o desenterram a pedido de Gault,
que quer utilizar o corpo do próprio genro, e é quando Carrell é salvo, voltando
completamente insano e transtornado, matando os coveiros, indo atrás de Gault e
de sua esposa, e descobrindo o terrível plano que foi meticulosamente
arquitetado por Emily desde o começo, até um embate final no cemitério, com uma
cena envolvendo Emily, Miles e Kate, que até então sempre teve uma presença
taciturna e levantando diversas suspeitas durante todo o longa. Obsessão
Macabra pode não ter o charme e ter feito o mesmo sucesso que as demais
adaptações de Poe dirigida por Corman, mas é um excelente filme de terror, com
um clima de suspense crescente até seu final surpresa, os cenários de Daniel
Haller (que contribuiu com Corman nos filmes anteriores) repletos de
cemitérios, florestas de galhos retorcidos e névoa constante, passando toda a
atmosfera gótica e morbidez pertinente ao tema, e sóbria atuação de Milland,
mostrando ter sido uma escolha perfeita para o papel ao invés de Price. Mais um
ponto para Roger Corman, que sabia trabalhar atores como poucos no gênero.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/02/152-obsessao-macabra-1962/
#151 1962 MURALHAS DO PAVOR (Tales of Terror, EUA)
Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson
(baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman,
Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson
Elenco: Vincent Price,
Maggie Pierce, Leona Gage, Peter Lorre, Joyce Jameson, Basil Rathnone, Debra
Paget
Não preciso dizer mais uma vez o
quanto eu sou fã de Vincent Price e de Roger Corman e as adaptações das obras
de Edgar Allan Poe que eles fizeram juntos, roteirizadas por Richard Matheson.
Seria chover no molhado. Então isso basta para dizer o quanto é satisfatório
assistir Muralhas do Pavor. Título safadíssimo em português, pois a
tradução literal, “Contos de Terror”, soaria muito melhor que o
noscense Muralhas do Pavor, aqui somos brindados com três histórias de
Poe, ao melhor estilo filme mosaico, todos estrelados por Price, roteirizados
por Matheson, adaptados dos famosos contos: Morela, O Gato Preto e O Caso do
Sr. Valdemar. Todos, obviamente com suas devidas licenças poéticas e com aquele
ar indefectível dos filmes de Corman: baixo orçamento, ambientação de época,
direção de arte e figurino que parece que foi copiado em todos os filmes
anteriores (como O Solar Maldito e A Mansão do Terror), com seus casarões vitorianos ou castelos
empoeirados, interpretação caricata e teatral de Price, abuso de cores quentes,
e carregado na sugestão de suspense e de violência na medida certa. O primeiro
deles, Morela, traz Price como Locke, viúvo amargurado, que recebe a visita de
sua filha, Lenora (Maggie Pierce), que viveu rejeitada nos últimos 25 anos,
apontada como responsável pela morte da mãe, a tal Morela em questão, vivida
por Leona Gage. O pai sempre culpou a garota, que ao voltar revela estar com uma
doença terminal, o que faz com que ele reveja seus conceitos e tente recuperar
o tempo perdido com a garota. Mas o que ela não sabe é que Locke guardou
durante todo este tempo o corpo embalsamado de Morela, que sobrenaturalmente
voltará à vida em busca de vingança da filha e do marido. Detalhe que neste
curta, foram utilizados os mesmos cenários de O Solar Maldito. Já o
segundo segmento, O Gato Preto, também traz também elementos de outro famoso
conto de Poe, O Barril de Amontilhado, além, é claro, do conto homônimo que o
nomeia. Misturando uma trama de vingança com toques de comédia e humor negro,
aqui Price não é o protagonista, honra dada a outro monstro do cinema de horror
(e da sétima arte em si), o esquisito Peter Lorre, que entre outros clássicos,
interpretou o assassino de crianças Hans Beckert em M, O Vampiro de Dusseldorf de Fritz Lang e o obsessivo
médico psicopata em Dr. Gogol – O Médico Louco. Lorre é Montresor, um beberrão
inveterado, casado com a lindíssima Annabel (Joyce Jameson), que vive caindo
pelas tabelas embriagado por aí, gastando o dinheiro da mulher nas tavernas e
maltratando o pobre gato preto de estimação da moça. Sujeitinho desprezível,
invade uma degustação de vinhos e conhece o maior expert do mundo, Fortunato
Luchresi (agora sim, Price, hilário). Os dois acabam numa disputa pessoal, a
princípio sobre quem entende mais da bebida, com Price e seus trejeitos
cômicos, e depois pela bela Annabel, que decide pular a cerca com Luchresi. Ao
descobrir a traição da esposa com o recém amigo, Monstresor irá por em prática
a mais famosa vingança de Poe: emparedar pessoas. Mas o gato também
misteriosamente foi parar atrás da parede junto com os corpos, miando
ininterruptamente de forma macabra para entregar o criminoso à polícia. A
história de encerramento, inspirada em O Caso do Sr. Valdemar traz novamente
Price, como o personagem que dá nome ao conto, que vive em seus últimos dias
devido a uma grave doença terminal, e se utiliza da ajuda de um especialista em
hipnose, Carmichael, interpretado por Basil Rathbone, outro grande ator dos
filmes de terror clássicos, muito deles na Era de Ouro da Universal.
Carmichael, ambicioso e maquiavélico, primeiro ganha toda a confiança de
Valdemar, aplacando sua terrível dor graças às sessões de hipnose, indo contra
a vontade de sua esposa, Helene e seu médico, o Dr. James. Prestes a comer
capim pela raiz, Ernest Valdemar pede para que o Dr. James se case com Helene
após sua morte, para tomar conta da ex-esposa. Olha que altruísta. Mas ao
morrer, Carmichael consegue manter, através de hipnose, a mente de Valdemar presa
em seu corpo morto, impedindo-o de descansar para sempre. Carmichael quer todo
o dinheiro e, claro, a bela Helene para ele. No final, Valdemar consegue sair
do transe, e retorna à vida como uma criatura zumbificada com o rosto
derretendo, excelente maquiagem de Lou La Cava, uma mistura de cola, glicerina,
raspas de espiga de milho e tinta de maquiagem aquecida (que era tão quente que
Price conseguiu aguentá-lo por poucos segundos em seu rosto), pronto para se
vingar do vilão. Muralhas do Pavor tem de tudo um pouco: assassinato,
necrofilia, hipnose, vingança, zumbis, adultério… Todos aqueles temas que a
gente sempre adora e que Poe conseguiu de forma ímpar imprimir em seus contos
góticos, transportados mais uma vez de forma salutar por Corman, que mostra que
não é só o Rei dos Filmes B, mas sim um excelente contador de histórias,
principalmente durante esta fase em que trabalhou com Price e com Matheson. E
para você que está em uma fase Edgar Allan Poe por conta do seriado The
Following, com Kevin Bacon e que vai ao ar no Warner Channel, ou da minisérie
nacional Contos do Edgar na FOX, vale conhecer além das obras completas deste,
que foi o mais importante escritor de terror de todos os tempos, a visão
peculiar de Corman sobre os contos criados por esse gênio da literatura gótica
e as várias facetas que Price conseguiu imprimir em seus excêntricos
personagens.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/01/151-muralhas-do-pavor-1962/
#150 1962 O HORRÍVEL SEGREDO DO DR. HICHCOOK (L’ Orribile segreto del Dr. Hichcock / The Frightening Secret of Dr. Hichcock / The Horrible Dr. Hichcock, Itália)
Direção: Riccardo Freda
Roteiro: Ernesto Gastaldi
Produção: Ermanno Donati
Elenco: Barbara Steele,
Robert Flemyng, Silvano Tranquilli, Maria Teresa Vianello, Harriet Medin
Não confunda, hein! O Dr.
Hichcock não é o diretor inglês mestre do suspense que conseguiu um doutorado!
Repare na grafia diferente! O Horrível Segredo do Dr. Hichcock é um excelente filme
de terror italiano gótico, dirigido por Riccardo Freda, mosntrando-nos aqui já
no começo dos anos 60, a incrível capacidade da italianada para fazer filmes de
terror. Freda, Bava, Margheriti foram os grandes cineastas do
gótico spaghetti da década de 60, que pavimentaram o caminho
cinematográfico para a consolidação do cinema de terror italiano nas próximas
duas décadas, principalmente com o surgimento da violência extrema e derramamente
abundante de sangue de mentira com os giallos, o ciclo canibal e o
cliclo splatter, e responsáveis pelo surgimento de diretores futuros como
Dario Argento, Sérgio Martino, Michelle Soavi, Lucio Fulci, e por aí vai. O
Horrível Segredo do Dr. Hichcock evoca todo o clima e ambientações
inspiradas nas produções americanas de Roger Corman baseadas nos contos de
Edgar Allan Poe e na estética dos filmes ingleses da Hammer, mas com aquele
toque peculiar e único que só os diretores da terra da bota conseguiam alcançar,
com suas atmosferas opressivas, fotografias exuberantes, indumentária e
cenários como elementos fundamentais da trama, uso preciso da iluminação (ou da
falta de), trilha sonora retumbante e o melhor de tudo, os elementos macabros e
chocantes. Esse elemento especificamente neste caso é a necrofilia. Esse é o
horrível segredo do Dr. Hichcock, revelado logo nos primeiros minutos do filme.
Cirurgião brilhante, no século XIX, Hichcock desenvolve um poderoso anestésico
que o ajuda a salvar várias vidas durante a realização de complicadas operações
em seus pacientes. Só que ele também usa essa anesteria geral em sua linda
esposa, Margherita, para praticar jogos sexuais com a mesma, para que ela fique
imóvel e desacordada exatamente como um cadáver. Bizarríssimo! Isso até que um
dia ele administra uma dose exagerada, e a bela mulher acaba tendo um choque
anafilático e morre de overdose. Hichcock abandona a casa, deixando aos
cuidados da velha governanta, Martha, larga o emprego no hospital e deixa tudo
para trás, ficando fora da cidade por 12 anos, até voltar casado novamente,
desta vez com a morena Cynthia, a Scream Queen Barbara Steele, no
auge de sua beleza peculiar. Acontece que Cynthia sofre de certos transtornos
mentais, e todo o ambiente sinistro e lúgubre da casa, somado ao comportamente
errático do marido, começam a deixá-la em parafuso, fazendo a moça jurar de pé
junto que está sendo assombrada pelo fantasma de Margherita. Também, não é por
menos que a pobre Cynthia se sinta assim. Primeiro pela decrépita Martha, que
age como uma megera e ainda tem uma suposta irmã doente mental morando no porão
da casa, que emite uivos assustadores durante as noites de tempestade. Segundo
pela presença de gigantescos quadros do retrato de Margherita em quase todos os
cômodos da casa. Espere aí… se eu entendo alguma coisa de mulher, é que na
hora, qualquer uma ia exigir da forma mais veemente possível, que todas as
coisas da falecida fossem retirada da casa. Mas Cynthia aceita passivamente no
começo, sabendo da adoração de Hichcock pela sua ex-esposa. Enfim… Fora isso,
Hichcock não consegue mais controlar sua obsessão sexual por cadáveres, e quase
é pego duas vezes com a boca literalmente na botija, pelo seu assistente, o Dr.
Kurt (já caidinho por Cynthia nessa altura do campeonato, enquanto o marido vem
sendo um escroto), ao acariciar e beijar o corpo de garotas no necrotério do
hospital. E explorando a condição mental de Cynthia, é descoberto o terrível e
maligno plano do enlouquecido médico: usar o seu sangue para trazer o corpo
apodrecido de sua ex-esposa de volta à vida. Barbara Steele mais tarde passaria
de novo por uma situação parecida em outro filme, O Castelo do
Terror de 1965, dirigido por Mario Caiano, onde sua personagem
é morta por um cientista louco, que a pegou traindo com o jardineiro, e usa seu
sangue para rejuvenescer uma amante velha decrépita. Ele se casa com a irmã
gêmea, que também havia sido liberada de um sanatório onde estava internada por
problemas mentais. Pelo jeito, o sangue das personagens de Steele tem alguma
espécie de poder revigorante. O Horrível Segredo do Dr. Hichcock é pura
atmosfera, porque em nenhum momento, presta-se a acelerar a cenas para qualquer tipo de horror
explícito, e explora a ideia da necrofilia de forma sutil, sem apelações (nada
nem próximo dos afetados Nekromantik ou Aftermath, por exemplo)
mantendo um clima onírico de suspense sobrenatural constante, exceto pelo final
apressado e sem graça. A respeito do tema, o crítico Glenn Erickson escreveu
algo interessante, que também reflete um pouco do senso comum sobre os filmes
de terror daquela década: “Que um filme sobre as paixões frustradas de um necrófilo
poderia mesmo ser lançado em 1962, é um mistério sensório em seu próprio
direito – ou, talvez, um testemunho claro para a forma como os filmes de terror
foram oficialmente ignorados em todos os níveis culturais naquela época”. Algo
que sabemos que mudaria completamente a partir dos anos 70.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/30/150-o-horrivel-segredo-do-dr-hichcock-1962/
#149 1962 A FILHA DE SATÃ (Night of the Eagle / Burn Witch, Burn, Reino Unido)
Direção: Sidney
Hayers
Roteiro: Charles
Beaumont, Richard Matheson (baseado no livro de Fritz Leiber)
Produção: Samuel
Z. Arkoff, Albert Fennel, Leslie Parkyn e Julian Wintle (Produtores Executivos)
Elenco: Peter
Wyngarde, Janet Blair, Margaret Johnston, Anthony Nicholls, Colin Gordon
Queime bruxa, queime! Mais um
clássico dos filmes de bruxa e que envolve rituais e seitas, A Filha de
Satã tem esse título marqueteiro apenas para enganar os
desavisados. Aqui não há nada relacionado ao coisa ruim, e sim bruxaria da
brava, misturando vodu e coisas do tipo. A tradução literal do título original
seria A Noite da Águia (fraquinho, também, cá entre nós) e tem também o
sensacional nome americano, com o qual eu abri meu texto. Dirigido pelo hábil
artesão Sidney Hayers (o mesmo de Circo dos Horrores), levado ao mercado americano pelo
incansável produtor Samuel Z. Arkoff, a trama de A Filha de Satã é
inspirada no livro Conjure Wife, publicado em 1943, escrito por Fritz Leiber.
Responsável por transportar as páginas do livro para a telefona foi tarefa dos
competentes roteiristas Charles Beaumont e Richard
Matheson, familiarizados em adaptar contos de terror para as telas,
principalmente, por terem sido dois dos principais responsáveis pelos roteiros
dos filmes do ciclo Edgar Allan Poe dirigido por Roger Corman durante a década.
Aqui, o cético e bem sucedido professor Norman Taylor (Peter Wyngard) leva uma
vida invejável profissionalmente e está preste a receber uma importante
promoção na universidade que leciona. O campo de estudo de suas aulas de
psicologia é exatamente desmistificar superstições. Porém, certo dia, ele acaba
descobrindo que sua esposa Tansy (Janet Blair) é praticante de bruxaria, que
aprendeu ao conhecer um feiticeiro em uma viagem do casal à Jamaica. Pronto,
daí o professor surta de vez, achando aquilo completamente ridículo e
desmiolado, e briga com Tansy até que ela abandone aquela prática e se livre de
todos os seus feitiços e patuás, mesmo ela relutando, dizendo que com eles,
cria um ciclo de proteção para o marido contra tudo que há de mal. Mas como bem
sabemos no gênero, Taylor não deveria ter duvidado e mexido com tal poder, e
daí para frente, as coisas começam a dar terrivelmente errado imediatamente:
sua melhor aluna o acusa de estupro, seu namorado o agride, e uma ameaça
invisível, sobrenatural, demoníaca, tenta invadir sua casa. Além disso, Tansy
começa a ser guiada por uma terrível força controladora, que primeiro faz com
que ela tente se afogar, em sacrifício para que seu marido não sofra mais
nenhum mal. Salva na hora H por Taylor, ela ainda tenta esfaqueá-lo mais tarde,
mas também é impedida e trancada em um quarto. Todos esses acontecimentos sem
explicação acabam fornecendo ao marido todo tipo de motivação para que ele
passe a acreditar em bruxarias daqui para frente.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e
risco.
É então que o sujeito descobre
que uma colega de universidade, a secretária Flora Carr (Margaret Johnston) é a
bruxa mor que está conjurando forças das trevas para acabar com Norman, já que
sua carreira passou a ser ameaçada e interrompida com o crescimento
profissional do professor na universidade. Primeiro ela usa seu poder de magia
negra, queimando um castelo de cartas, e com isso colocando fogo na casa de
Norman, onde Tansy está trancada. Depois , reproduzindo uma gravação
ritualística que ela coloca nos alto falantes do campus, dá vida à águia de
pedra, símbolo da universidade, que ficava em um pedestal na entrada do prédio,
para perseguir e matar Norman, que só é salvo pelo seu colega, marido de Flora,
que desliga a fita, o que faz com que a águia desapareça. Tansy também consegue
escapar da casa em chamas, e para a bruxa maligna, o terrível destino consiste
na pesada estátua da águia cair em cima dela enquanto andava pelo campus,
morrendo de forma instantânea. A Filha de Satã é um thriller sobrenatural
interessante, que mescla vários elementos do gênero usado até então, com uma
tensão crescente em uma excelente fotografia sem desperdiçar nenhum frame, que
segue bastante o conceito de se concentrar na atmosfera e na sugestão do que no
terror implícito, ressuscitando a forma como Val Lewton conduzia as produções
para a RKO Radio Pictures durante a década de 40. Além disso, há toda uma
picuinha social que envolve a dança de cadeiras e escala hierárquica dentro de
um campus. Curioso que em seu lançamento nos EUA, o filme era acessível para
menores de 13 anos, enquanto na terra da Rainha, foi aplicada uma censura X,
apenas para adultos. Na versão americana, como gimmick, foi incluída uma
narração inicial de Paul Frees, entoando um feitiço para proteger a audiência
do mal.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/29/149-a-filha-de-sata-1962/
quinta-feira, 14 de maio de 2015
#148 1962 CRIATURAS DA NOITE (Captain Clegg / Night Creatures, Reino Unido)
Direção: Peter Graham Scott
Roteiro: John Elder, Barbara
S. Harper (diálogos adicionais) (baseado na obra de Russell Thorndike/ não
creditado)
Produção: John
Temple-Smith
Elenco: Peter
Cushing, Yvonne Romain, Patrick Allen, Oliver Reed, Michael Ripper, Martin
Benson
Criaturas da
Noite é um filme no mínimo ambíguo. Poxa, é mó legal, tem Peter
Cushing na sua melhor forma, é da Hammer, é um dos grandes clássicos do
estúdio, uma história que te prende e é bem desenvolvida e ambientada… Mas
então por que fica aquela sensação de que alguma coisa está errada? Eu acredito
que seja por conta de, em detrimento de ser um filme de horror sobrenatural, é
uma história de ação, com piratas, contrabando de álcool, soldados ingleses,
etc. Com direito até ao personagem de Cushing se pendurar em um candelabro em
uma escapada. Enquanto os tais Fantasmas do Pântano ficam completamente em
segundo plano, e é mais uma saída ao melhor estilo vilões do Scooby-Doo do que
um terror real do além-túmulo de verdade. Não dá para dizer muito sobre a trama
sem mandar uma porrada de SPOILERS. Não o farei então. Vale dizer então
que o filme começa no século XVIII, com o famigerado e temido capitão Nathaniel
Clegg condenando um mulato a perder a orelha, a língua e ser deixando amarrado
em uma ilha deserta, por ter traído o pirata mor. Alguns anos depois, quando o
pirata já havia há muito sido capturado e enforcado por seus crimes, um bando
de oficiais ingleses a serviço do rei, liderador pelo Capitão Colier (Patrick
Allen), estão procurando contrabandistas de bebida na cidade de Dymchurch. O
complô de contrabandistas envolve desde a o reverendo local, Dr. Blyss (papel
de Cushing que está ótimo, uma das suas melhores atuações do cinema), até o
filho do escudeiro da cidade, Harry Cobtree (Oliver Reed), o carpinteiro de
caixões Jeremiah Mipps (Michael Ripper – coadjuvante de vários filmes da
Hammer), o estalajadeiro Sr. Rash (Martin Benson) e sua protegida, a belíssima
Imogene (Yvonne Romain). E mais uma cambada de beberrões safados. Capitão
Colier ficará desconfiado destra trupe, e ao mesmo tempo irá tentar desvendar
se os Fantasmas do Pântano são reais ou contos da carrochinha. Onde está agora
o elemento de horror do filme? Nos tais Fantasmas do Pântano, um grupo de
cavaleiros demônios esqueléticos montando cavalos fantasmagóricos, liderados
pelo espírito do Capitão Clegg, trazendo a perdição para todos aqueles que
vagam nos pântanos durante a noite, e obviamente, aqueles que supostamente
atrapalham o fortuito plano de contrabando dos locais. Ponto. Convido todos a
assistir ao resto do filme para ver o desenrolar da história e seu final. Fato
é que nunca tive tanta dificuldade para escrever sobre um filme. Porque Criaturas
da Noite é SUPER legal de se assistir, e é um das “obras primas” do
estúdio. Mas destoa de todo os demais filmes da Hammer. Você pensa na história
escrita por Anthony Hinds, sob o pseudônimo de John Elder, baseada de forma não
creditada no livro Doctor Syn de Russel Thorndike: cavaleiros
fantasmas andando pelos pântanos apavorando geral. UAU! E mesmo que a maquiagem
e os figurinos sejam toscos, assim como o efeito especial translúcido das almas
penadas cavalgando, você se apaixona instantaneamente pelo filme, pela aura que
ele desperta. Fora a icônica figura do maligno corsário, o Capitão Clegg. É
como ver o avô do primeiro Piratas do Caribe, dada as devidas proporções,
que mistura uma trama de aventura com elementos de horror, com Capitão Barbosa
e seus fantasmas amaldiçoados. E o figurino de Cushing, com aquele cabelinho de
nona com uma mecha branca? Aqui ele faz um real personagem multi-dimensional, bem
diferente dos papeis que estamos acostumados a ver o galante inglês interpretar
(sempre maniqueísta causador do bem, como Van Helsing, ou do mal, como
Victor Frankenstein). Aqui ele é divertido, cínico, ameaçador, tenso, calmo,
rebelde, herói, complacente, vilão. Rasgação de seda com méritos. E também há
todos os personagens de apoio: beberrões, salafrários, sarcásticos, em
contraponto aos soldados rígidos, mas incompetentes. Mas por fim, mesmo com os twists do
roteiro no final, direção e condução competente de Peter Graham Scott e
ambientação de época nos trinques, Criaturas da Noite me deixou um
gosto de cabo de guarda chuva na boca. Esse foi o caminho escolhido pelo
estúdio para fugir do usual, mas poderia apostar um pouco mais no famoso estilo
sobrenatural-gótico-místico da Hammer. É um bom entretenimento, com 80 minutos
divertidos e que fluem te prendendo à tela, que você nem percebe o tempo
passar.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/27/148-criaturas-da-noite-1962/
#147 1962 O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER (The Brain That Wouldn’t Die, EUA)
Direção: Joseph Green
Roteiro: Rex Carlton, Joseph
Green
Produção: Rex Carlton, Mort
Landberg (Produtor Associado)
Elenco: Herb
Evers, Virginia Leith, Leslie Daniel, Adele Lamont, Marlyn Hanold
Os anos 50 terminaram, mas seu
legado não ficou para trás, ainda mais tratando-se de início da década de 60. O Cérebro que
Não Queria Morrer é prova disso. Sci-fi bagaceira, típico da
década anterior, extremamente divertido e nada plausível, dirigido por Joseph
Green, dono da produtora Joseph Green Pictures, onde ele mesmo atendia ao
telefone, famosa por distribuir filmes estrangeiros, de kung-fu e exploitation.
Lançado pela AIP, somente três anos depois do seu lançamento, a fita foi rodada
em 18 parcos dias e com uma “fortuna” de orçamento de 62 mil dólares. Claro que
você não pode esperar muita coisa. Mas acredite, O Cérebro que Não Queria
Morrer é melhor do que a encomenda. Os diálogos canastríssimos, os efeitos
especiais, todo o plot do filme e as atuações bisonhas garantem a
diversão da vez. O tal cérebro, que começa o filme suplicando para ser morto, é
de Jan Compton, ou Jan na Bandeja, como consta no IMDb, cabeça interpretada por
Virginia Leith. A pobrezinha é namorada do Dr. Bill Cortner (Jason Evers), um
brilhante médico que quer ultrapassar as barreiras da ciência e medicina,
brincar de Deus e realizar algo completamente imoral: transplantes. Isso mesmo.
O cara é quase o diabo encarnado por utilizar uma técnica hoje responsável por
salvar vidas, mas que era antiética e completamente obscura naquela época. Beleza,
o cara quer fazer um transplante de cabeça… Isso é zuado e inverossímil. Mas de
resto, ele faz experiências de reconstrução de tecidos, membros, enxertos. Tá
certo que não dá muito certo, pois ele acaba criando uma anomalia, uma
aberração deformada que deixa trancada atrás de uma pesada porta em seu
laboratório, e seu assistente também tem um de seus braços atrofiados. Mas
okay, deixemos isso de lado. Bill é chamado com urgência pelo seu assistente,
para ir rapidamente à casa de campo onde fica seu laboratório. Ele leva o
“rapidamente” a sério demais, e mete o pé no acelerador na estrada, sofrendo um
acidente (dos mais inexplicáveis e ridículos da história da sétima arte) e Jan,
que estava com ele no banco do passageiro é quem paga o pato. Bill não sofre um
arranhão e encontra o carro em chamas, com a garota presa nas ferragens. É
quando ele simplesmente, arranca a cabeça dela do lugar, com as próprias mãos,
enrola na jaqueta e sai correndo até sua casa/ laboratório. Lá, ele finca a
cabeça em uma bandeja, ao melhor estilo Re-Animator – A Hora dos Mortos Vivos, e através de um soro
especial que desenvolveu, consegue manter a cabeça com vida pelas próximas 48
horas. É isso mesmo que você leu. E para completar, ela descobre ter
desenvolvido uma espécie de poder telepático que a faz se comunicar com a
criatura deformada atrás da porta. A atriz Virginia Leight passa o resto da
película embaixo de uma mesa, somente com a cabeça para fora, a fim de simular
que está decepada em cima da bandeja, e desfilando diálogos afiados tanto com o
assistente medroso quanto com a deformidade, que não fazemos a menor ideia de
como é sua aparência até então. A próxima ideia brilhante de Bill é arranjar um
novo corpo para sua noiva e fazer o transplante de cabeça. Claro! E onde ele
vai procurar esse corpo? Nos locais mais propícios para tal. Primeiro em um
prostíbulo e depois em um concurso de trajes de banho. Afinal, já que é para
colocar a cabeça em um novo corpo, que seja de uma gostosa, não é mesmo? A
vítima que ele escolhe é uma modelo que posa para fotos e desenhos artísticos,
que sofreu violência de um homem há tempos, que mutilou seu rosto, sendo salva
pelo próprio Bill, e adquiriu um grau elevadíssimo de misantropia e virou
lésbica. O experimento de Bill vai para as cuias quando a atormentada Jan,
querendo vingança contra seu noivo por não tê-la deixado morrer e colocado-a
nesse experimento bizarro, tornando-a uma anomalia da natureza, incita o
monstrengão a escapar do seu cárcere e matar tanto o assistente de Bill,
arrancando seu braço inteiro por meio de uma portinhola, e depois partir para
cima do médico. Apesar do orçamento pífio, a maquiagem do monstro, interpretado
por Eddie Carmel, está bastante interessante e bem feita, cortesia de George
Fiala. Um detalhe peculiar é que Carmel sofria de deformidades na vida real.
Ele possuía mais de dois metros, uma má formação óssea e um tumor na glândula
pituitária que o conferiu esse tamanho e aparência bizarra, tendo ele
trabalhado em diversos “freak shows”. Ele morreu com apenas 37 anos, decorrente
de falência glandular. Outro ponto extremamente positivo em O Cérebro que
Não Queria Morrer é o gore. Os filmes da Hammer e também a chamada Sadian
Trilogy já haviam começado a deixar o sangue e a violência cada vez mais
explícitas no cinema. Aqui, mesmo com fotografia preto e branca, uma boa
quantidade de sangue é utilizada, principalmente no personagem Kurt, o
assistente de Bill, quando tem seu braço arrancado e sai esperneando com sangue
esguichando pelas paredes e chão da casa. Se o filme fosse colorido, teria
feito bastante barulho para a época. E ainda tem todo um poder feminino
implícito no filme, tanto com as prostitutas de personalidade forte que
trabalham no cabaré que Bill vai visitar, quanto Doris Powell (vivida pela bela
Adele Lamont), com seu lesbianismo escancarado, até afirmando que tem uma
namorada, coisa ultrajante para a época. Hoje O Cérebro que Não Queria
Morrer está em domínio público. Uma merecida preciosidade trash.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/26/147-o-cerebro-que-nao-queria-morrer-1962/
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