Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Lukas Heller
(baseado na obra de Henry Farrell)
Produção: Robert
Aldrich, Kenneth Hyman (Produtor Executivo)
Elenco: Bette
Davis, Joan Crawford, Victor Buono, Wesley Addy, Ann Barton
Quando mundos colidem é uma
expressão que posso utilizar como metáfora para O Que Terá
Acontecido com Baby Jane? Afinal, duas estrelas da magnitude de
Bette Davis (e seus olhos…) e Joan Crawford, decadentes (nesta ficção e na vida
real) que se detestam e vivem se degladiando (nesta ficção e na vida real),
atuando em um thriller psicológico diabólico, é um verdadeiro deleite para
qualquer fã de cinema. Dirigido por Robert Aldrich, baseado no livro e Henry
Farrell, a trama atualíssima de ódio fraternal, ciúmes, obsessão e psicose ecoa
pelo tempo, em um filme agarrado (quase que literalmente) com unhas e dentes
pelas duas atrizes que em seu tempo, eram simplesmente as melhores das melhores
da era de ouro de Hollywood (com três Oscars na mala delas, dois para
Davis e um para Crawford). Mas que estavam em momento de franca decadência. E o que mais impulsiona estas
duas atuações viscerais é o fato de as duas se detestarem na vida real, e serem
inimigas assumidas. Ainda assim, Aldrich obteve a imortal proeza de conseguir
trabalhar com as duas e conseguir canalizar esse ódio para transparecerem no
papel das irmãs Hudson, cada uma com sua tragédia pessoal de vida, confinadas
em uma mansão em Hollywood vivendo uma desesperada situação limítrofe de
angústia. Davis está sinistra, com uma maquiagem pesada e trejeitos diabólicos
como “Baby” Jane Hudson, atriz mirim ao melhor estilo Shirley Temple (ou a
menina Maísa se você quiser abrasileirar a coisa) que fazia muito sucesso no show
business e era foco de todos os holofotes, tendo até sua bizarra boneca em
tamanho natural. Sua irmã, Blanche era menosprezada pelo pai e pela irmã, até
que com o passar dos anos, a aura de encanto da pequena Baby Jane foi
desaparecendo, assim como seu estrelato, enquanto Blanche, uma Crawford
contida, vaidosa, humilhada, incapaz e de dar pena, começou a ascender ao
status de estrela de Hollywood. Isso não faria nem um pouco bem para a relação
das duas. O ponto de virada que vai culminar nos horrores da trama é quando
após uma festa, um trágico acidente de carro se sucede, onde Jane acaba sendo
culpada por atropelar Blanche, aleijando-a e colocando-a em uma cadeira de
rodas pelo resto da vida, e obrigando-a cuidar da irmã inválida por todos estes
longos anos. Com suas carreiras destruídas, ambas as velhas solteironas vivem
em um eco infinito do passado: Blanche se vendo nas reprises da televisão, o
que emputece Jane, e a irmã mais velha cada vez mais psicótica, buscando
retomar sua carreira, cantando seu one hit wonder: I’ve Written a
Letter to Dady (vale muito a cena onde Davis recria de forma bizarra seu
número infantil). Um espiral de tortura psicológica e abuso estoura com Jane
perdendo o controle cada vez mais, mantendo a irmã em cárcere privado em seu
quarto, falsificando sua assinatura para sacar dinheiro para gastar em figurino
e nos preparativos de sua almejada volta aos palcos, mentindo para vizinhos,
médico e polícia e servindo a ela um rato de jantar em uma bandeja de prata (na
melhor cena do filme, com Davis rindo histericamente e Crawford gritando de
horror). Isso culmina na completa perda das faculdades mentais de Jane,
agredindo a irmã com chutes violentíssimos, amarrando-a na cama e deixando-a à
própria sorte, até a cena final de seu “sequestro” e a chocante e comovente
revelação que se desenrola nas areias da praia. E ainda há três figurantes que
merecem esse parágrafo: Edwin Flagg, vivido por Victor Buono, o gordão
oportunista que quer se aproveitar da pobre e desequilibrada Jane,
acompanhando-a no piano em sua “futura” apresentação e arrumando um jeito de
pegar a grana da velha, adiantado, claro (e que foi indicado ao Oscar de
melhor ator coadjuvante); sua mãe Dehlia, que aparece pouco em cena, mas vale
os minutos em que fica aos berros com o filho ao melhor exemplo de família
disfuncional; e a descuidada empregada das Hudson, Elvira Stitt (Maidie
Norman), cujo destino vai torna-la vítima da explosão da violência assassina
contida de Baby Jane. Tratando-se do temperamento das duas estrelas e do
histórico da disputa das duas fora das telas, O Que Terá Acontecido com
Baby Jane? é um prato cheio para as mais extravagantes histórias de
bastidores e todas as lendas urbanas que fizeram parte da mitologia do “por
trás das câmeras” desta produção. Entre elas as mais famosas são a de que na
cena em que Jane chuta violentamente Blanche, Crawford teve medo de participar
da cena e um bonecão (extremamente perceptível) foi colocado em seu lugar, e
Davis não poupou esforço em chutá-la como se fosse cobrar um tiro de meta, observada
por uma atônita Joan Crawford, e quando a mesma tentou dificultar a vida de
Bette Davis na cena em plano sequência em que ela deveria arrastá-la pela sala,
colocando pesos nos bolsos e tossindo em uma das tomadas para ter de ser rodada
de novo. Coisa de duas velhas megeras, como se pode ver. E vale lembrar que o
caldo só azedou mais ainda quando Davis foi indicada ao Oscar por este filme, e
Crawford, ignorada. Mas na noite da premiação, Crawford acabou subindo ao palco
para receber a estatueta no lugar de Anne Bancroft, que não pode estar presente
na cerimônia, pois tinha combinado previamente com todas as outras atrizes,
somente para causar mais intriga com Davis. É importante ressaltar também O
Que Terá Acontecido com Baby Jane? devido ao seu imenso sucesso de público
e crítica, tornou-se um filme gênese de um subgênero do terror muito comum
durante os anos 60, chamado de “psycho-biddy”, ou “hag horror”. Estes filmes
traziam sempre uma atriz mais velha como protagonistas, passando por surtos
psicóticos ou vítima de um grande mal ou perigo iminente, que serviu como
retomada para algumas dessas grandes atrizes de outrora, fazendo com que
voltassem a encontrar papeis no cinema, desta vez nestas produções de baixo
orçamento de terror e suspense. Entre os mais populares filmes deste gênero
estão: Almas Mortas, de William
Castle, com a própria Joan Crawford, A Dama
Enjaulada, com Olivia de Havilland e Com a Maldade
na Alma, também dirigido por Robert Aldrich, este com Bette Davis no
elenco.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/03/153-o-que-tera-acontecido-com-baby-jane-1962/
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
393 1962 O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? What Ever Happened To Baby Jane?
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