Direção: Riccardo Freda
Roteiro: Ernesto Gastaldi
Produção: Ermanno Donati
Elenco: Barbara Steele,
Robert Flemyng, Silvano Tranquilli, Maria Teresa Vianello, Harriet Medin
Não confunda, hein! O Dr.
Hichcock não é o diretor inglês mestre do suspense que conseguiu um doutorado!
Repare na grafia diferente! O Horrível Segredo do Dr. Hichcock é um excelente filme
de terror italiano gótico, dirigido por Riccardo Freda, mosntrando-nos aqui já
no começo dos anos 60, a incrível capacidade da italianada para fazer filmes de
terror. Freda, Bava, Margheriti foram os grandes cineastas do
gótico spaghetti da década de 60, que pavimentaram o caminho
cinematográfico para a consolidação do cinema de terror italiano nas próximas
duas décadas, principalmente com o surgimento da violência extrema e derramamente
abundante de sangue de mentira com os giallos, o ciclo canibal e o
cliclo splatter, e responsáveis pelo surgimento de diretores futuros como
Dario Argento, Sérgio Martino, Michelle Soavi, Lucio Fulci, e por aí vai. O
Horrível Segredo do Dr. Hichcock evoca todo o clima e ambientações
inspiradas nas produções americanas de Roger Corman baseadas nos contos de
Edgar Allan Poe e na estética dos filmes ingleses da Hammer, mas com aquele
toque peculiar e único que só os diretores da terra da bota conseguiam alcançar,
com suas atmosferas opressivas, fotografias exuberantes, indumentária e
cenários como elementos fundamentais da trama, uso preciso da iluminação (ou da
falta de), trilha sonora retumbante e o melhor de tudo, os elementos macabros e
chocantes. Esse elemento especificamente neste caso é a necrofilia. Esse é o
horrível segredo do Dr. Hichcock, revelado logo nos primeiros minutos do filme.
Cirurgião brilhante, no século XIX, Hichcock desenvolve um poderoso anestésico
que o ajuda a salvar várias vidas durante a realização de complicadas operações
em seus pacientes. Só que ele também usa essa anesteria geral em sua linda
esposa, Margherita, para praticar jogos sexuais com a mesma, para que ela fique
imóvel e desacordada exatamente como um cadáver. Bizarríssimo! Isso até que um
dia ele administra uma dose exagerada, e a bela mulher acaba tendo um choque
anafilático e morre de overdose. Hichcock abandona a casa, deixando aos
cuidados da velha governanta, Martha, larga o emprego no hospital e deixa tudo
para trás, ficando fora da cidade por 12 anos, até voltar casado novamente,
desta vez com a morena Cynthia, a Scream Queen Barbara Steele, no
auge de sua beleza peculiar. Acontece que Cynthia sofre de certos transtornos
mentais, e todo o ambiente sinistro e lúgubre da casa, somado ao comportamente
errático do marido, começam a deixá-la em parafuso, fazendo a moça jurar de pé
junto que está sendo assombrada pelo fantasma de Margherita. Também, não é por
menos que a pobre Cynthia se sinta assim. Primeiro pela decrépita Martha, que
age como uma megera e ainda tem uma suposta irmã doente mental morando no porão
da casa, que emite uivos assustadores durante as noites de tempestade. Segundo
pela presença de gigantescos quadros do retrato de Margherita em quase todos os
cômodos da casa. Espere aí… se eu entendo alguma coisa de mulher, é que na
hora, qualquer uma ia exigir da forma mais veemente possível, que todas as
coisas da falecida fossem retirada da casa. Mas Cynthia aceita passivamente no
começo, sabendo da adoração de Hichcock pela sua ex-esposa. Enfim… Fora isso,
Hichcock não consegue mais controlar sua obsessão sexual por cadáveres, e quase
é pego duas vezes com a boca literalmente na botija, pelo seu assistente, o Dr.
Kurt (já caidinho por Cynthia nessa altura do campeonato, enquanto o marido vem
sendo um escroto), ao acariciar e beijar o corpo de garotas no necrotério do
hospital. E explorando a condição mental de Cynthia, é descoberto o terrível e
maligno plano do enlouquecido médico: usar o seu sangue para trazer o corpo
apodrecido de sua ex-esposa de volta à vida. Barbara Steele mais tarde passaria
de novo por uma situação parecida em outro filme, O Castelo do
Terror de 1965, dirigido por Mario Caiano, onde sua personagem
é morta por um cientista louco, que a pegou traindo com o jardineiro, e usa seu
sangue para rejuvenescer uma amante velha decrépita. Ele se casa com a irmã
gêmea, que também havia sido liberada de um sanatório onde estava internada por
problemas mentais. Pelo jeito, o sangue das personagens de Steele tem alguma
espécie de poder revigorante. O Horrível Segredo do Dr. Hichcock é pura
atmosfera, porque em nenhum momento, presta-se a acelerar a cenas para qualquer tipo de horror
explícito, e explora a ideia da necrofilia de forma sutil, sem apelações (nada
nem próximo dos afetados Nekromantik ou Aftermath, por exemplo)
mantendo um clima onírico de suspense sobrenatural constante, exceto pelo final
apressado e sem graça. A respeito do tema, o crítico Glenn Erickson escreveu
algo interessante, que também reflete um pouco do senso comum sobre os filmes
de terror daquela década: “Que um filme sobre as paixões frustradas de um necrófilo
poderia mesmo ser lançado em 1962, é um mistério sensório em seu próprio
direito – ou, talvez, um testemunho claro para a forma como os filmes de terror
foram oficialmente ignorados em todos os níveis culturais naquela época”. Algo
que sabemos que mudaria completamente a partir dos anos 70.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/30/150-o-horrivel-segredo-do-dr-hichcock-1962/
Nenhum comentário:
Postar um comentário