quinta-feira, 14 de maio de 2015

#147 1962 O CÉREBRO QUE NÃO QUERIA MORRER (The Brain That Wouldn’t Die, EUA)


Direção: Joseph Green
Roteiro: Rex Carlton, Joseph Green
Produção: Rex Carlton, Mort Landberg (Produtor Associado)
Elenco: Herb Evers, Virginia Leith, Leslie Daniel, Adele Lamont, Marlyn Hanold

Os anos 50 terminaram, mas seu legado não ficou para trás, ainda mais tratando-se de início da década de 60. O Cérebro que Não Queria Morrer é prova disso. Sci-fi bagaceira, típico da década anterior, extremamente divertido e nada plausível, dirigido por Joseph Green, dono da produtora Joseph Green Pictures, onde ele mesmo atendia ao telefone, famosa por distribuir filmes estrangeiros, de kung-fu e exploitation. Lançado pela AIP, somente três anos depois do seu lançamento, a fita foi rodada em 18 parcos dias e com uma “fortuna” de orçamento de 62 mil dólares. Claro que você não pode esperar muita coisa. Mas acredite, O Cérebro que Não Queria Morrer é melhor do que a encomenda. Os diálogos canastríssimos, os efeitos especiais, todo o plot do filme e as atuações bisonhas garantem a diversão da vez. O tal cérebro, que começa o filme suplicando para ser morto, é de Jan Compton, ou Jan na Bandeja, como consta no IMDb, cabeça interpretada por Virginia Leith. A pobrezinha é namorada do Dr. Bill Cortner (Jason Evers), um brilhante médico que quer ultrapassar as barreiras da ciência e medicina, brincar de Deus e realizar algo completamente imoral: transplantes. Isso mesmo. O cara é quase o diabo encarnado por utilizar uma técnica hoje responsável por salvar vidas, mas que era antiética e completamente obscura naquela época. Beleza, o cara quer fazer um transplante de cabeça… Isso é zuado e inverossímil. Mas de resto, ele faz experiências de reconstrução de tecidos, membros, enxertos. Tá certo que não dá muito certo, pois ele acaba criando uma anomalia, uma aberração deformada que deixa trancada atrás de uma pesada porta em seu laboratório, e seu assistente também tem um de seus braços atrofiados. Mas okay, deixemos isso de lado. Bill é chamado com urgência pelo seu assistente, para ir rapidamente à casa de campo onde fica seu laboratório. Ele leva o “rapidamente” a sério demais, e mete o pé no acelerador na estrada, sofrendo um acidente (dos mais inexplicáveis e ridículos da história da sétima arte) e Jan, que estava com ele no banco do passageiro é quem paga o pato. Bill não sofre um arranhão e encontra o carro em chamas, com a garota presa nas ferragens. É quando ele simplesmente, arranca a cabeça dela do lugar, com as próprias mãos, enrola na jaqueta e sai correndo até sua casa/ laboratório. Lá, ele finca a cabeça em uma bandeja, ao melhor estilo Re-Animator – A Hora dos Mortos Vivos, e através de um soro especial que desenvolveu, consegue manter a cabeça com vida pelas próximas 48 horas. É isso mesmo que você leu. E para completar, ela descobre ter desenvolvido uma espécie de poder telepático que a faz se comunicar com a criatura deformada atrás da porta. A atriz Virginia Leight passa o resto da película embaixo de uma mesa, somente com a cabeça para fora, a fim de simular que está decepada em cima da bandeja, e desfilando diálogos afiados tanto com o assistente medroso quanto com a deformidade, que não fazemos a menor ideia de como é sua aparência até então. A próxima ideia brilhante de Bill é arranjar um novo corpo para sua noiva e fazer o transplante de cabeça. Claro! E onde ele vai procurar esse corpo? Nos locais mais propícios para tal. Primeiro em um prostíbulo e depois em um concurso de trajes de banho. Afinal, já que é para colocar a cabeça em um novo corpo, que seja de uma gostosa, não é mesmo? A vítima que ele escolhe é uma modelo que posa para fotos e desenhos artísticos, que sofreu violência de um homem há tempos, que mutilou seu rosto, sendo salva pelo próprio Bill, e adquiriu um grau elevadíssimo de misantropia e virou lésbica. O experimento de Bill vai para as cuias quando a atormentada Jan, querendo vingança contra seu noivo por não tê-la deixado morrer e colocado-a nesse experimento bizarro, tornando-a uma anomalia da natureza, incita o monstrengão a escapar do seu cárcere e matar tanto o assistente de Bill, arrancando seu braço inteiro por meio de uma portinhola, e depois partir para cima do médico. Apesar do orçamento pífio, a maquiagem do monstro, interpretado por Eddie Carmel, está bastante interessante e bem feita, cortesia de George Fiala. Um detalhe peculiar é que Carmel sofria de deformidades na vida real. Ele possuía mais de dois metros, uma má formação óssea e um tumor na glândula pituitária que o conferiu esse tamanho e aparência bizarra, tendo ele trabalhado em diversos “freak shows”. Ele morreu com apenas 37 anos, decorrente de falência glandular. Outro ponto extremamente positivo em O Cérebro que Não Queria Morrer é o gore. Os filmes da Hammer e também a chamada Sadian Trilogy já haviam começado a deixar o sangue e a violência cada vez mais explícitas no cinema. Aqui, mesmo com fotografia preto e branca, uma boa quantidade de sangue é utilizada, principalmente no personagem Kurt, o assistente de Bill, quando tem seu braço arrancado e sai esperneando com sangue esguichando pelas paredes e chão da casa. Se o filme fosse colorido, teria feito bastante barulho para a época. E ainda tem todo um poder feminino implícito no filme, tanto com as prostitutas de personalidade forte que trabalham no cabaré que Bill vai visitar, quanto Doris Powell (vivida pela bela Adele Lamont), com seu lesbianismo escancarado, até afirmando que tem uma namorada, coisa ultrajante para a época. Hoje O Cérebro que Não Queria Morrer está em domínio público. Uma merecida preciosidade trash.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/26/147-o-cerebro-que-nao-queria-morrer-1962/

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