sábado, 16 de maio de 2015

#151 1962 MURALHAS DO PAVOR (Tales of Terror, EUA)


Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman, Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson
Elenco: Vincent Price, Maggie Pierce, Leona Gage, Peter Lorre, Joyce Jameson, Basil Rathnone, Debra Paget

Não preciso dizer mais uma vez o quanto eu sou fã de Vincent Price e de Roger Corman e as adaptações das obras de Edgar Allan Poe que eles fizeram juntos, roteirizadas por Richard Matheson. Seria chover no molhado. Então isso basta para dizer o quanto é satisfatório assistir Muralhas do Pavor. Título safadíssimo em português, pois a tradução literal, “Contos de Terror”, soaria muito melhor que o noscense Muralhas do Pavor, aqui somos brindados com três histórias de Poe, ao melhor estilo filme mosaico, todos estrelados por Price, roteirizados por Matheson, adaptados dos famosos contos: Morela, O Gato Preto e O Caso do Sr. Valdemar. Todos, obviamente com suas devidas licenças poéticas e com aquele ar indefectível dos filmes de Corman: baixo orçamento, ambientação de época, direção de arte e figurino que parece que foi copiado em todos os filmes anteriores (como O Solar Maldito e A Mansão do Terror), com seus casarões vitorianos ou castelos empoeirados, interpretação caricata e teatral de Price, abuso de cores quentes, e carregado na sugestão de suspense e de violência na medida certa. O primeiro deles, Morela, traz Price como Locke, viúvo amargurado, que recebe a visita de sua filha, Lenora (Maggie Pierce), que viveu rejeitada nos últimos 25 anos, apontada como responsável pela morte da mãe, a tal Morela em questão, vivida por Leona Gage. O pai sempre culpou a garota, que ao voltar revela estar com uma doença terminal, o que faz com que ele reveja seus conceitos e tente recuperar o tempo perdido com a garota. Mas o que ela não sabe é que Locke guardou durante todo este tempo o corpo embalsamado de Morela, que sobrenaturalmente voltará à vida em busca de vingança da filha e do marido. Detalhe que neste curta, foram utilizados os mesmos cenários de O Solar Maldito. Já o segundo segmento, O Gato Preto, também traz também elementos de outro famoso conto de Poe, O Barril de Amontilhado, além, é claro, do conto homônimo que o nomeia. Misturando uma trama de vingança com toques de comédia e humor negro, aqui Price não é o protagonista, honra dada a outro monstro do cinema de horror (e da sétima arte em si), o esquisito Peter Lorre, que entre outros clássicos, interpretou o assassino de crianças Hans Beckert em M, O Vampiro de Dusseldorf de Fritz Lang e o obsessivo médico psicopata em Dr. Gogol – O Médico Louco. Lorre é Montresor, um beberrão inveterado, casado com a lindíssima Annabel (Joyce Jameson), que vive caindo pelas tabelas embriagado por aí, gastando o dinheiro da mulher nas tavernas e maltratando o pobre gato preto de estimação da moça. Sujeitinho desprezível, invade uma degustação de vinhos e conhece o maior expert do mundo, Fortunato Luchresi (agora sim, Price, hilário). Os dois acabam numa disputa pessoal, a princípio sobre quem entende mais da bebida, com Price e seus trejeitos cômicos, e depois pela bela Annabel, que decide pular a cerca com Luchresi. Ao descobrir a traição da esposa com o recém amigo, Monstresor irá por em prática a mais famosa vingança de Poe: emparedar pessoas. Mas o gato também misteriosamente foi parar atrás da parede junto com os corpos, miando ininterruptamente de forma macabra para entregar o criminoso à polícia. A história de encerramento, inspirada em O Caso do Sr. Valdemar traz novamente Price, como o personagem que dá nome ao conto, que vive em seus últimos dias devido a uma grave doença terminal, e se utiliza da ajuda de um especialista em hipnose, Carmichael, interpretado por Basil Rathbone, outro grande ator dos filmes de terror clássicos, muito deles na Era de Ouro da Universal. Carmichael, ambicioso e maquiavélico, primeiro ganha toda a confiança de Valdemar, aplacando sua terrível dor graças às sessões de hipnose, indo contra a vontade de sua esposa, Helene e seu médico, o Dr. James. Prestes a comer capim pela raiz, Ernest Valdemar pede para que o Dr. James se case com Helene após sua morte, para tomar conta da ex-esposa. Olha que altruísta. Mas ao morrer, Carmichael consegue manter, através de hipnose, a mente de Valdemar presa em seu corpo morto, impedindo-o de descansar para sempre. Carmichael quer todo o dinheiro e, claro, a bela Helene para ele. No final, Valdemar consegue sair do transe, e retorna à vida como uma criatura zumbificada com o rosto derretendo, excelente maquiagem de Lou La Cava, uma mistura de cola, glicerina, raspas de espiga de milho e tinta de maquiagem aquecida (que era tão quente que Price conseguiu aguentá-lo por poucos segundos em seu rosto), pronto para se vingar do vilão. Muralhas do Pavor tem de tudo um pouco: assassinato, necrofilia, hipnose, vingança, zumbis, adultério… Todos aqueles temas que a gente sempre adora e que Poe conseguiu de forma ímpar imprimir em seus contos góticos, transportados mais uma vez de forma salutar por Corman, que mostra que não é só o Rei dos Filmes B, mas sim um excelente contador de histórias, principalmente durante esta fase em que trabalhou com Price e com Matheson. E para você que está em uma fase Edgar Allan Poe por conta do seriado The Following, com Kevin Bacon e que vai ao ar no Warner Channel, ou da minisérie nacional Contos do Edgar na FOX, vale conhecer além das obras completas deste, que foi o mais importante escritor de terror de todos os tempos, a visão peculiar de Corman sobre os contos criados por esse gênio da literatura gótica e as várias facetas que Price conseguiu imprimir em seus excêntricos personagens.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/01/151-muralhas-do-pavor-1962/

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