Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson
(baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman,
Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson
Elenco: Vincent Price,
Maggie Pierce, Leona Gage, Peter Lorre, Joyce Jameson, Basil Rathnone, Debra
Paget
Não preciso dizer mais uma vez o
quanto eu sou fã de Vincent Price e de Roger Corman e as adaptações das obras
de Edgar Allan Poe que eles fizeram juntos, roteirizadas por Richard Matheson.
Seria chover no molhado. Então isso basta para dizer o quanto é satisfatório
assistir Muralhas do Pavor. Título safadíssimo em português, pois a
tradução literal, “Contos de Terror”, soaria muito melhor que o
noscense Muralhas do Pavor, aqui somos brindados com três histórias de
Poe, ao melhor estilo filme mosaico, todos estrelados por Price, roteirizados
por Matheson, adaptados dos famosos contos: Morela, O Gato Preto e O Caso do
Sr. Valdemar. Todos, obviamente com suas devidas licenças poéticas e com aquele
ar indefectível dos filmes de Corman: baixo orçamento, ambientação de época,
direção de arte e figurino que parece que foi copiado em todos os filmes
anteriores (como O Solar Maldito e A Mansão do Terror), com seus casarões vitorianos ou castelos
empoeirados, interpretação caricata e teatral de Price, abuso de cores quentes,
e carregado na sugestão de suspense e de violência na medida certa. O primeiro
deles, Morela, traz Price como Locke, viúvo amargurado, que recebe a visita de
sua filha, Lenora (Maggie Pierce), que viveu rejeitada nos últimos 25 anos,
apontada como responsável pela morte da mãe, a tal Morela em questão, vivida
por Leona Gage. O pai sempre culpou a garota, que ao voltar revela estar com uma
doença terminal, o que faz com que ele reveja seus conceitos e tente recuperar
o tempo perdido com a garota. Mas o que ela não sabe é que Locke guardou
durante todo este tempo o corpo embalsamado de Morela, que sobrenaturalmente
voltará à vida em busca de vingança da filha e do marido. Detalhe que neste
curta, foram utilizados os mesmos cenários de O Solar Maldito. Já o
segundo segmento, O Gato Preto, também traz também elementos de outro famoso
conto de Poe, O Barril de Amontilhado, além, é claro, do conto homônimo que o
nomeia. Misturando uma trama de vingança com toques de comédia e humor negro,
aqui Price não é o protagonista, honra dada a outro monstro do cinema de horror
(e da sétima arte em si), o esquisito Peter Lorre, que entre outros clássicos,
interpretou o assassino de crianças Hans Beckert em M, O Vampiro de Dusseldorf de Fritz Lang e o obsessivo
médico psicopata em Dr. Gogol – O Médico Louco. Lorre é Montresor, um beberrão
inveterado, casado com a lindíssima Annabel (Joyce Jameson), que vive caindo
pelas tabelas embriagado por aí, gastando o dinheiro da mulher nas tavernas e
maltratando o pobre gato preto de estimação da moça. Sujeitinho desprezível,
invade uma degustação de vinhos e conhece o maior expert do mundo, Fortunato
Luchresi (agora sim, Price, hilário). Os dois acabam numa disputa pessoal, a
princípio sobre quem entende mais da bebida, com Price e seus trejeitos
cômicos, e depois pela bela Annabel, que decide pular a cerca com Luchresi. Ao
descobrir a traição da esposa com o recém amigo, Monstresor irá por em prática
a mais famosa vingança de Poe: emparedar pessoas. Mas o gato também
misteriosamente foi parar atrás da parede junto com os corpos, miando
ininterruptamente de forma macabra para entregar o criminoso à polícia. A
história de encerramento, inspirada em O Caso do Sr. Valdemar traz novamente
Price, como o personagem que dá nome ao conto, que vive em seus últimos dias
devido a uma grave doença terminal, e se utiliza da ajuda de um especialista em
hipnose, Carmichael, interpretado por Basil Rathbone, outro grande ator dos
filmes de terror clássicos, muito deles na Era de Ouro da Universal.
Carmichael, ambicioso e maquiavélico, primeiro ganha toda a confiança de
Valdemar, aplacando sua terrível dor graças às sessões de hipnose, indo contra
a vontade de sua esposa, Helene e seu médico, o Dr. James. Prestes a comer
capim pela raiz, Ernest Valdemar pede para que o Dr. James se case com Helene
após sua morte, para tomar conta da ex-esposa. Olha que altruísta. Mas ao
morrer, Carmichael consegue manter, através de hipnose, a mente de Valdemar presa
em seu corpo morto, impedindo-o de descansar para sempre. Carmichael quer todo
o dinheiro e, claro, a bela Helene para ele. No final, Valdemar consegue sair
do transe, e retorna à vida como uma criatura zumbificada com o rosto
derretendo, excelente maquiagem de Lou La Cava, uma mistura de cola, glicerina,
raspas de espiga de milho e tinta de maquiagem aquecida (que era tão quente que
Price conseguiu aguentá-lo por poucos segundos em seu rosto), pronto para se
vingar do vilão. Muralhas do Pavor tem de tudo um pouco: assassinato,
necrofilia, hipnose, vingança, zumbis, adultério… Todos aqueles temas que a
gente sempre adora e que Poe conseguiu de forma ímpar imprimir em seus contos
góticos, transportados mais uma vez de forma salutar por Corman, que mostra que
não é só o Rei dos Filmes B, mas sim um excelente contador de histórias,
principalmente durante esta fase em que trabalhou com Price e com Matheson. E
para você que está em uma fase Edgar Allan Poe por conta do seriado The
Following, com Kevin Bacon e que vai ao ar no Warner Channel, ou da minisérie
nacional Contos do Edgar na FOX, vale conhecer além das obras completas deste,
que foi o mais importante escritor de terror de todos os tempos, a visão
peculiar de Corman sobre os contos criados por esse gênio da literatura gótica
e as várias facetas que Price conseguiu imprimir em seus excêntricos
personagens.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/01/151-muralhas-do-pavor-1962/
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