sábado, 16 de maio de 2015

#152 1962 OBSESSÃO MACABRA (The Premature Burial, EUA)


Direção: Roger Corman
Roteiro: Charles Beaumont, Ray Russell (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman, Samuel Z. Arkoff, Gene Corman (Produtor Executivo)
Elenco:Ray Milland, Hazel Court, Richer Nery, Heather Angel, Alan Napier

Cronologicamente, Obsessão Macabra foi lançado antes de Muralhas do Pavor, meu post anterior. Um chegou aos cinemas em Março de 62, enquanto o outro estreou em Julho do mesmo ano. Por uma questão de ordem alfabética, Muralhas do Pavor foi postado antes. Bom, isso tudo para dizer que em 1962, Roger Corman dirigiu para a AIP dois filmes baseados na obra de Edgar Allan Poe, mas desta vez, sem a presença de Vincent Price, sendo substituído pelo também excelente Ray Milland. O mais interessante é que Milland trouxe um aspecto completamente diferente ao estilo de filme adaptado da obra de Poe que havia sido feito até então. Nos dois filmes anteriores, O Solar Maldito e A Mansão do Terror, e mesmo no próprio Muralhas do Pavor e os demais filmes da fase Poe (seriam oito, ao total). Price sempre foi um ator que abusa de recursos de teatralidade, exagerado, cartunesco, dramático, que faz parte do mundo decadente que está em sua volta, sempre sofrendo de alguma degradação específica tanto de personalidade quanto de caráter. Veja Roderick Usher ou Nicholas Medina. Enquanto o personagem Guy Carrell de Milland é uma pessoa comum, jogada em uma situação macabra, alterando todo o ambiente a sua volta. Isso porque Carrell presencia uma cena que o tira dos eixos e coloca sua sanidade a fio, ao desenterrar um cadáver junto de seu amigo, o Dr. Gault (interpretado por Alan Napier, o Alfred o seriado do Batman dos anos 60), a fim de utilizá-lo em pesquisas médicas, descobrindo que ele foi enterrado vivo, encontrando o defunto com uma horrível expressão de pânico no rosto e sob a tampa do caixão, marcas de arranhões e sangue. Isso desperta um medo irracional em Carrell, que acredita sofrer de catalepsia, assim como seu pai, e começa a sentir um pavor indescritível de que aquilo possa a vir ocorrer também com ele. Vivendo na sombra desse medo que se torna uma obsessão, Carrell se muda com sua irmã, a dúbia personagem Kate (Heather Angel) para sua casa afastada da cidade, pintando quadros sinistros e se drogando com láudano, desistindo de se casar com sua noiva, Emily, filha de Gault, que é interpretada pela bela Hazel Court, famosa pelos filmes da Hammer como A Maldição de Frankenstein e O Homem que Enganou a Morte. Mas a moçoila não se dá por vencida e resolve insistir em trazê-lo de volta ao mundo real e consumar o casório. Porém mesmo depois de casado, e ainda auxiliado pelo médico amigo da família Gault, Miles Archer, que sempre nutriu uma paixonite por Emily, Carrell não consegue se afastar de seus medos e de sua conduta hostil, tendo uma ideia mirabolante caso ele venha a ser enterrado vivo como o pobre diabo que viu no começo do filme. Em seu mausoléu pessoal, ele cria uma série de traquitanas que irão salvá-lo. Entre elas: um caixão que abre facilmente com um só toque; um sino que irá avisar aos criados que está vivo ao ser tocado por ele; portas que se abrem automaticamente ao puxar de cordas; um estoque de alimentos e bebidas; uma escada com saída para uma claraboia; ferramentas e bananas de dinamite para estourar a porta se nada mais dar certo; e em último e extremo caso, uma dose de veneno para que ele dê cabo de sua vida e não fique mais naquela prisão eterna. Até que em uma noite na floresta, ele escuta um assobio que o remete ao assobiar dos dois ladrões de túmulo que o acompanharam naquela fatídica noite, e tem um terrível pesadelo, filmado com filtros em verde e azul, ao melhor estilo Corman, onde ele é enterrado em seu mausoléu e simplesmente todas as suas tentativas de sair de lá, tão premeditadas, dão errado. As alavancas não funcionam, as bananas de dinamite estão podres e a até o veneno é substituído por um cálice cheio de vermes. Cada vez mais paranoico, com a ajuda de sua esposa e de Miles, ele finalmente encara que está sofrendo de uma neurose compulsiva, desejando a morte e se tornando um escravo do medo, até resolver que para sua própria sanidade, deve se livrar do mausoléu e afastar de uma vez por todas esses pensamentos, após levar um ultimato de sua mulher, ao melhor estilo “ou a morte ou eu”. As coisas parecem melhorar consideravelmente para Carrell, até que… 
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e risco…
o nosso protagonista sofre uma parada cardíaca ao tentar exumar o corpo de seu pai, e é dado como morto por Gault. Mas na verdade ele não morreu, e sim está em um estado catalético, como sempre temeu, tentando desesperadamente ser ouvido e impedir que seja enterrado vivo em uma cova no cemitério, já que seu mausoléu havia sido destruído. Não dá muito certo. Os dois coveiros ladrões de corpo o desenterram a pedido de Gault, que quer utilizar o corpo do próprio genro, e é quando Carrell é salvo, voltando completamente insano e transtornado, matando os coveiros, indo atrás de Gault e de sua esposa, e descobrindo o terrível plano que foi meticulosamente arquitetado por Emily desde o começo, até um embate final no cemitério, com uma cena envolvendo Emily, Miles e Kate, que até então sempre teve uma presença taciturna e levantando diversas suspeitas durante todo o longa. Obsessão Macabra pode não ter o charme e ter feito o mesmo sucesso que as demais adaptações de Poe dirigida por Corman, mas é um excelente filme de terror, com um clima de suspense crescente até seu final surpresa, os cenários de Daniel Haller (que contribuiu com Corman nos filmes anteriores) repletos de cemitérios, florestas de galhos retorcidos e névoa constante, passando toda a atmosfera gótica e morbidez pertinente ao tema, e sóbria atuação de Milland, mostrando ter sido uma escolha perfeita para o papel ao invés de Price. Mais um ponto para Roger Corman, que sabia trabalhar atores como poucos no gênero.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/02/152-obsessao-macabra-1962/

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