Direção: Peter Graham Scott
Roteiro: John Elder, Barbara
S. Harper (diálogos adicionais) (baseado na obra de Russell Thorndike/ não
creditado)
Produção: John
Temple-Smith
Elenco: Peter
Cushing, Yvonne Romain, Patrick Allen, Oliver Reed, Michael Ripper, Martin
Benson
Criaturas da
Noite é um filme no mínimo ambíguo. Poxa, é mó legal, tem Peter
Cushing na sua melhor forma, é da Hammer, é um dos grandes clássicos do
estúdio, uma história que te prende e é bem desenvolvida e ambientada… Mas
então por que fica aquela sensação de que alguma coisa está errada? Eu acredito
que seja por conta de, em detrimento de ser um filme de horror sobrenatural, é
uma história de ação, com piratas, contrabando de álcool, soldados ingleses,
etc. Com direito até ao personagem de Cushing se pendurar em um candelabro em
uma escapada. Enquanto os tais Fantasmas do Pântano ficam completamente em
segundo plano, e é mais uma saída ao melhor estilo vilões do Scooby-Doo do que
um terror real do além-túmulo de verdade. Não dá para dizer muito sobre a trama
sem mandar uma porrada de SPOILERS. Não o farei então. Vale dizer então
que o filme começa no século XVIII, com o famigerado e temido capitão Nathaniel
Clegg condenando um mulato a perder a orelha, a língua e ser deixando amarrado
em uma ilha deserta, por ter traído o pirata mor. Alguns anos depois, quando o
pirata já havia há muito sido capturado e enforcado por seus crimes, um bando
de oficiais ingleses a serviço do rei, liderador pelo Capitão Colier (Patrick
Allen), estão procurando contrabandistas de bebida na cidade de Dymchurch. O
complô de contrabandistas envolve desde a o reverendo local, Dr. Blyss (papel
de Cushing que está ótimo, uma das suas melhores atuações do cinema), até o
filho do escudeiro da cidade, Harry Cobtree (Oliver Reed), o carpinteiro de
caixões Jeremiah Mipps (Michael Ripper – coadjuvante de vários filmes da
Hammer), o estalajadeiro Sr. Rash (Martin Benson) e sua protegida, a belíssima
Imogene (Yvonne Romain). E mais uma cambada de beberrões safados. Capitão
Colier ficará desconfiado destra trupe, e ao mesmo tempo irá tentar desvendar
se os Fantasmas do Pântano são reais ou contos da carrochinha. Onde está agora
o elemento de horror do filme? Nos tais Fantasmas do Pântano, um grupo de
cavaleiros demônios esqueléticos montando cavalos fantasmagóricos, liderados
pelo espírito do Capitão Clegg, trazendo a perdição para todos aqueles que
vagam nos pântanos durante a noite, e obviamente, aqueles que supostamente
atrapalham o fortuito plano de contrabando dos locais. Ponto. Convido todos a
assistir ao resto do filme para ver o desenrolar da história e seu final. Fato
é que nunca tive tanta dificuldade para escrever sobre um filme. Porque Criaturas
da Noite é SUPER legal de se assistir, e é um das “obras primas” do
estúdio. Mas destoa de todo os demais filmes da Hammer. Você pensa na história
escrita por Anthony Hinds, sob o pseudônimo de John Elder, baseada de forma não
creditada no livro Doctor Syn de Russel Thorndike: cavaleiros
fantasmas andando pelos pântanos apavorando geral. UAU! E mesmo que a maquiagem
e os figurinos sejam toscos, assim como o efeito especial translúcido das almas
penadas cavalgando, você se apaixona instantaneamente pelo filme, pela aura que
ele desperta. Fora a icônica figura do maligno corsário, o Capitão Clegg. É
como ver o avô do primeiro Piratas do Caribe, dada as devidas proporções,
que mistura uma trama de aventura com elementos de horror, com Capitão Barbosa
e seus fantasmas amaldiçoados. E o figurino de Cushing, com aquele cabelinho de
nona com uma mecha branca? Aqui ele faz um real personagem multi-dimensional, bem
diferente dos papeis que estamos acostumados a ver o galante inglês interpretar
(sempre maniqueísta causador do bem, como Van Helsing, ou do mal, como
Victor Frankenstein). Aqui ele é divertido, cínico, ameaçador, tenso, calmo,
rebelde, herói, complacente, vilão. Rasgação de seda com méritos. E também há
todos os personagens de apoio: beberrões, salafrários, sarcásticos, em
contraponto aos soldados rígidos, mas incompetentes. Mas por fim, mesmo com os twists do
roteiro no final, direção e condução competente de Peter Graham Scott e
ambientação de época nos trinques, Criaturas da Noite me deixou um
gosto de cabo de guarda chuva na boca. Esse foi o caminho escolhido pelo
estúdio para fugir do usual, mas poderia apostar um pouco mais no famoso estilo
sobrenatural-gótico-místico da Hammer. É um bom entretenimento, com 80 minutos
divertidos e que fluem te prendendo à tela, que você nem percebe o tempo
passar.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/27/148-criaturas-da-noite-1962/
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