sábado, 9 de maio de 2015

#144 1961 A MANSÃO DO TERROR (The Pit and the Pendulum, EUA)


Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson (baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman, Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson (Produtores Executivos)
Elenco:Vincent Price, John Kerr, Barbara Steele, Luana Anders, Antony Carbone

A Mansão de Terror (Por quê? Por que o filme não se chama O Poço e o Pêndulo? Por quêêêêêê?) é a segunda empreitada de Roger Corman e Vincent Price nas telonas vivendo um conto do escritor americano Edgar Allan Poe. E outro tapa na cara da sociedade que taxa Corman como realizador apenas de filmes trashes. Afinal, se tem uma coisa que A Mansão do Terror não é, é um filme B. Claro que ele tem um orçamento baixo, uma estética cafona, típica de todas as adaptações de Poe dirigidas por Corman, com seus castelos empoeirados e cheio de teias de aranha, tapeçaria antiquada e roupas bufantes, e tudo mais. Só que é mais um excelente exercício de direção de Corman, que conta habilmente com a atuação sempre teatral de Price e o roteiro inventivo de Richard Matheson, se apoderando de um conto curto e desenvolvendo toda uma trama paralela em seu entorno, utilizando apenas o poço e o pêndulo, no terceiro ato. A trama se passa na Espanha durante a Inquisição, onde um homem é julgado e condenado pelos inquisidores, e atirado em um calabouço, que consiste em uma sala escura de paredes de metal, com desenhos de criaturas demoníacas em seu entorno, e um poço no seu centro. Certa noite ele cai em sono profundo após ser drogado e acorda amarrado a uma cama, onde um pêndulo com uma afiada lâmina de metal desce lentamente a fim de cortá-lo ao meio. Aqui no filme, Price faz às vezes de Nicholas Medina, filho do infame inquisidor Sebastian Medina, que passou por um terrível trauma de infância ao invadir secretamente as câmaras de tortura que o pai possuía nos níveis inferiores do castelo. Nicholas foi testemunha ocular da morte da mãe, Isabella e do tio, Bartolomeu, acusados pelo insano Sebastian de terem um caso adúltero. Nicholas recebe a visita do inglês Francis Bernard (John Kerr), irmão da recém-falecida esposa de Nicholas, Elizabeth (vivida pela Scream Queen da época, Barbara Steele), que vai à sua procura em busca de respostas com relação à misteriosa morte da irmã. Nicholas conta uma bizarra história de que o amoroso e dedicado casamento acabou quando Elizabeth começou a perder o juízo e viver fascinada por aquelas máquinas de tortura, passando horas a fio no calabouço, até ser encontrada morta certa noite. Esta história é corroborada por Catherine (Luana Anders), irmã de Nicholas, e pelo médico, amigo e confidente do castelão, Dr. Charles Leon (Anthony Carbone). É aí que as coisas começam a ficar estranhas, e o amargurado e atormentado Nicholas começa a ser assombrado pela presença de Elizabeth na casa, tocando o piano e aparecendo fantasmagoricamente em noites de tempestade, tudo no mais completo clima de suspense magistralmente construído por Corman, muito bem pontuado com efeitos sonoros aterrorizantes e brincadeiras com as matizes de cores.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Nicholas segue o chamado do além-túmulo de Elizabeth, sem saber se está são ou louco, até a câmara de torturas. Lá ele se depara com o fantasma da esposa andando em sua direção, o que faz com que Nicholas surte e caia em um abismo de loucura, entrando num estado semi-catatônico de pânico. Mas a moça não estava morta coisa nenhuma. Vivinha da silva, Elizabeth pulava a cerca com o Dr. Leon e a encenação toda não passa de um embuste para enlouquecer o marido e tirá-lo de uma vez por todas do caminho do romance proibido dos dois. Prepare-se para a cereja do bolo, nestes quinze minutos finais de filme. Price então dá um show de interpretação, exagerada, caricata e macabra, acordando completamente xarope do seu susto, que de tão profundo, soltou um parafuso de Nicholas, fazendo com que ele sofresse de uma abrupta crise de dupla personalidade e achasse que era na verdade o pai, Sebastian, vendo a esposa como Isabella, a mãe infiel, e o Dr. Leon, como seu tio Bartolomeu. A vingança preparada para eles será tal qual seu pai preparou para os dois no passado. Elizabeth fica presa em um sarcófago de espinhos e Dr. Leon é colocado no poço, com o pêndulo a descer sobre sua barriga, assim como o conto de Poe, atormentado pela risada de escárnio de seu malfeitor e as figuras tenebrosas de demônios pintadas nas paredes. Uma pena que uma solução de fácil aceitação do público seja encontrada no final, o que fez me sentir um pouco frustrado (afinal eu SEMPRE torço pelos personagens de Price, por mais vilanesco que ele possa ser). Mas então a última cena, é a mais legal de todo o filme. E aaaaah, que olhos têm a Barbara Steele! O maior mérito de A Mansão do Terror é exatamente seguir um padrão que deu certo, surgido em O Solar Maldito no ano anterior e que permaneceu até O Túmulo Sinistro, último filme da santíssima trindade Corman – Price – Poe. E é inquestionável quando se diz que essas são as melhores adaptações do poeta americano do macabro para as telonas. Apenas a ideia original dos contos é mantida, e as tramas expandidas até seus chocantes ápices. E tem de se tirar o chapéu ao pegar 37 parágrafos e transformar em um filme de 80 minutos. Stuart Gordon também adaptaria o filme em 1991, aqui já lançado com o título original, O Poço e o Pêndulo, que mistura a ficção de Poe com personagens históricos, como Tomás de Torquemada, vivido por Lance Henriksen. Inferior a este clássico, obviamente.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/23/144-a-mansao-do-terror-1961/

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