Direção: Roger Corman
Roteiro: Richard Matheson
(baseado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Roger Corman,
Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson (Produtores Executivos)
Elenco:Vincent
Price, John Kerr, Barbara Steele, Luana Anders, Antony Carbone
A Mansão de
Terror (Por quê? Por que o filme não se chama O Poço e o
Pêndulo? Por quêêêêêê?) é a segunda empreitada de Roger Corman e Vincent Price
nas telonas vivendo um conto do escritor americano Edgar Allan Poe. E outro
tapa na cara da sociedade que taxa Corman como realizador apenas de filmes trashes.
Afinal, se tem uma coisa que A Mansão do Terror não é, é um filme B.
Claro que ele tem um orçamento baixo, uma estética cafona, típica de todas as
adaptações de Poe dirigidas por Corman, com seus castelos empoeirados e cheio
de teias de aranha, tapeçaria antiquada e roupas bufantes, e tudo mais. Só que
é mais um excelente exercício de direção de Corman, que conta habilmente com a
atuação sempre teatral de Price e o roteiro inventivo de Richard Matheson, se
apoderando de um conto curto e desenvolvendo toda uma trama paralela em seu
entorno, utilizando apenas o poço e o pêndulo, no terceiro ato. A trama se
passa na Espanha durante a Inquisição, onde um homem é julgado e condenado
pelos inquisidores, e atirado em um calabouço, que consiste em uma sala escura
de paredes de metal, com desenhos de criaturas demoníacas em seu entorno, e um
poço no seu centro. Certa noite ele cai em sono profundo após ser drogado e
acorda amarrado a uma cama, onde um pêndulo com uma afiada lâmina de metal
desce lentamente a fim de cortá-lo ao meio. Aqui no filme, Price faz às vezes
de Nicholas Medina, filho do infame inquisidor Sebastian Medina, que passou por
um terrível trauma de infância ao invadir secretamente as câmaras de tortura
que o pai possuía nos níveis inferiores do castelo. Nicholas foi testemunha
ocular da morte da mãe, Isabella e do tio, Bartolomeu, acusados pelo insano
Sebastian de terem um caso adúltero. Nicholas recebe a visita do inglês Francis
Bernard (John Kerr), irmão da recém-falecida esposa de Nicholas, Elizabeth
(vivida pela Scream Queen da época, Barbara Steele), que vai à sua procura em
busca de respostas com relação à misteriosa morte da irmã. Nicholas conta uma
bizarra história de que o amoroso e dedicado casamento acabou quando Elizabeth
começou a perder o juízo e viver fascinada por aquelas máquinas de tortura,
passando horas a fio no calabouço, até ser encontrada morta certa noite. Esta
história é corroborada por Catherine (Luana Anders), irmã de Nicholas, e pelo
médico, amigo e confidente do castelão, Dr. Charles Leon (Anthony Carbone). É
aí que as coisas começam a ficar estranhas, e o amargurado e atormentado
Nicholas começa a ser assombrado pela presença de Elizabeth na casa, tocando o
piano e aparecendo fantasmagoricamente em noites de tempestade, tudo no mais
completo clima de suspense magistralmente construído por Corman, muito bem pontuado
com efeitos sonoros aterrorizantes e brincadeiras com as matizes de cores.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e
risco.
Nicholas segue o chamado do
além-túmulo de Elizabeth, sem saber se está são ou louco, até a câmara de
torturas. Lá ele se depara com o fantasma da esposa andando em sua direção, o
que faz com que Nicholas surte e caia em um abismo de loucura, entrando num
estado semi-catatônico de pânico. Mas a moça não estava morta coisa nenhuma.
Vivinha da silva, Elizabeth pulava a cerca com o Dr. Leon e a encenação toda
não passa de um embuste para enlouquecer o marido e tirá-lo de uma vez por
todas do caminho do romance proibido dos dois. Prepare-se para a cereja do
bolo, nestes quinze minutos finais de filme. Price então dá um show de
interpretação, exagerada, caricata e macabra, acordando completamente xarope do
seu susto, que de tão profundo, soltou um parafuso de Nicholas, fazendo com que
ele sofresse de uma abrupta crise de dupla personalidade e achasse que era na
verdade o pai, Sebastian, vendo a esposa como Isabella, a mãe infiel, e o Dr.
Leon, como seu tio Bartolomeu. A vingança preparada para eles será tal qual seu
pai preparou para os dois no passado. Elizabeth fica presa em um sarcófago de
espinhos e Dr. Leon é colocado no poço, com o pêndulo a descer sobre sua
barriga, assim como o conto de Poe, atormentado pela risada de escárnio de seu
malfeitor e as figuras tenebrosas de demônios pintadas nas paredes. Uma pena
que uma solução de fácil aceitação do público seja encontrada no final, o que
fez me sentir um pouco frustrado (afinal eu SEMPRE torço pelos personagens de
Price, por mais vilanesco que ele possa ser). Mas então a última cena, é a mais
legal de todo o filme. E aaaaah, que olhos têm a Barbara Steele! O maior mérito
de A Mansão do Terror é exatamente seguir um padrão que deu certo,
surgido em O Solar
Maldito no ano anterior e que permaneceu até O Túmulo
Sinistro, último filme da santíssima trindade Corman – Price – Poe.
E é inquestionável quando se diz que essas são as melhores adaptações do poeta
americano do macabro para as telonas. Apenas a ideia original dos contos é
mantida, e as tramas expandidas até seus chocantes ápices. E tem de se tirar o
chapéu ao pegar 37 parágrafos e transformar em um filme de 80 minutos. Stuart
Gordon também adaptaria o filme em 1991, aqui já lançado com o título original, O
Poço e o Pêndulo, que mistura a ficção de Poe com personagens históricos, como
Tomás de Torquemada, vivido por Lance Henriksen. Inferior a este clássico,
obviamente.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/23/144-a-mansao-do-terror-1961/
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