sexta-feira, 31 de julho de 2015

#212 1968 O GATO PRETO (Yabu no naka no kuroneko / The Black Cat from the Grove, Japão)


Direção: Kaneto Shindô
Roteiro: Kaneto Shindô
Produção: Nichiei Shinsha
Elenco: Kichiemon Nakamura, Nabuko Otowa, Kiwako Taichi, Kei Satô, Taiji Tonoyama

Antes que alguém me pergunte (ou se pergunte), esse filme não tem nada a ver com o famoso conto homônimo de Edgar Allan Poe, que inclusive inspirou diversas adaptações cinematográficas. O Gato Preto é um dos maiores exemplares do cinema de horror japonês, dirigido por Kaneto Shindô, diretor de outro clássico da Terra do Sol Nascente, Onibaba – A Mulher Demônio. Na verdade, Onibaba e O Gato Preto possuem uma grande semelhança narrativa, passando-se no mesmo momento histórico do Japão medieval, o período Sengoku, trazendo como pano de fundo os efeitos que essa longeva guerra civil teve no povo japonês, principalmente nas mulheres, que viam seus maridos e filhos irem para a guerra e nunca retornarem, sendo largadas à sua própria sorte em uma sociedade brutalmente machista. Onibaba representa a luta de classes, a opressão, e traz a história de duas mulheres, uma sogra e sua nora, que vivem juntas no limiar da subsistência enquanto aguarda o filho / marido retornar, e incumbe-se de entocar e matar samurais que se perdem na vasta plantação de junco onde moram em um trapiche, para trocar suas armas por comida. Aqui em O Gato Preto, a estrutura é extremamente parecida, só que menos opressora e mais fantástica (sendo que o elemento do terror surge apenas nos momentos final de Onibaba): duas mulheres, uma sogra e sua nora, que enquanto aguardam o filho / marido retornar, são estupradas e mortas por um grupo de soldados samurais, que ainda colocam fogo em sua casa. Um gato preto, importante simbolismo para toda a trama, aparece e lambe o sangue das duas falecidas. Do além, elas juram vingança (como todo bom espírito japonês que se preze) e fazem um pacto com o demônio, de matar todos os samurais, chupando seu sangue e o oferecendo ao demônio como oferenda. Para tal feito, elas retornam do além-túmulo como espíritos errantes, e atraem todos os samurais que passarem pelo bambuzal perto de sua antiga residência, na região de Kyoto (onde também se passa Onibaba), perto do portão sul de Rashomon, para a armadilha sobrenatural. A jovem convence o soldado de que está com medo de atravessar o sinistro bambuzal, e pede ajuda para acompanhá-la até sua casa. Lá ele é bem recebido pela velha (que ela diz ser sua mãe), que embebeda o samurai de saquê, enquanto a jovem começa a seduzi-lo sexualmente. Aí não dá outra: o espírito enfurecido da garota ataca o samurai, cravando seus dentes no pescoço do pobre diabo, matando-o e bebendo seu sangue, depois se transformando em um gato preto. Seguidamente, diversos samurais são mortos, até que um general dá a missão para um samurai recém-promovido descubrir quem está matando todos os seus soldados. Ao chegar ao local, vem a revelação que irá permear o restante do filme: o samurai é na verdade filho da velha e marido da jovem, que havia sido levado de casa para a guerra e ao retornar, encontrado apenas as cinzas. Então um dilema irá se construir, já que elas são obrigadas, por conta do pacto, a matar todos os samurais, mas não conseguem fazer o mesmo com o próprio filho e marido, ainda mais com o reacender da paixão do casal. Por outro lado, há a pressão do general para que aqueles terríveis monstros sejam destruídos. E para ilustrar, todo esse desenrolar será mostrado por meio de um misto de poesia sublime com horror fantasmagórico, ao melhor estilo artístico do cinema oriental, contando também com a belíssima fotografia preta e branca de Kiyomi Kuroda, e a trilha sonora de Hikaru Hayashi, rústica, utilizando tambores e bambus. Ambos também acompanharam Shindô em Onibaba. Mais uma vez, somos submersos nas alegorias e lendas do Japão feudal de forma competente, já que o roteiro, também de Shindô, é baseado em um conto folclórico japonês. Muito diferente do stablishment causado pelo J-Horror moderno, principalmente após o sucesso estrondoso de Ring – O Chamado de Hideo Nakata, O Gato Preto é calcado em uma elegância visual peculiar, investe no terror psicológico sem nenhum jump scare, e aposta em movimentos sinuosos de câmera e na dança graciosa das almas penadas, que apesar de diabólicas, ainda são dotadas de um sentimento de sofrimento humano. Isso tudo além de momentos de extrema violência gráfica quando são cometidos os assassinatos, tornando-o um filme de terror perfeito.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/12/212-o-gato-preto-1968/

Nenhum comentário:

Postar um comentário