terça-feira, 10 de março de 2015

#087 1956 O PLANETA PROIBIDO (Forbidden Planet, EUA)


Direção: Fred M. Wilcox
Roteiro: Cyril Hume (baseado no conto de Irving Block e Allen Adler)
Produção: Nicholas Nayfack
Elenco: Walter Pidgeon, Anne Francis, Leslie Nielsen, Warren Stevens, Jack Kelly, Richard Anderson

É a melhor ficção científica da década de 50, e uma das mais emblemáticas e importantes produções do gênero de todos os tempos. O Planeta Proibido tem um caráter imortal. Para mim, é mais ou menos o mesmo caso que se sucedeu com A Guerra dos Mundos. É um filme que envelheceu muito bem. Claro, aquele monte de parafernalha clichê das produções sci-fi dos anos 50, vários tubos, luzinhas piscando, cenário pintado ao fundo, pistolas de laser que parecem secadores de cabelo e mesmo o robô, hoje em dia está obsoleto e datado, mas o filme não cai no ridículo, como muitos outros filmes caíram devido ao passar dos anos. Quer um exemplo oposto? Veja Guerra Entre Planetas. O filme foi lançado um ano antes e se você assistir de novo, você acha a coisa mais patética do mundo. Já O Planeta Proibido não cai nessa armadilha. E talvez muito disso seja por conta do esmero e capricho na produção e nos efeitos especiais, já que a MGM resolveu entrar com os dois pés no peito na ficção científica, pois já havia ficado bem para trás com relação aos outros estúdios, e gastou a bagatela astronômica para a época de 2 milhões de dólares. E principalmente pelo roteiro fantástico, inteligente e extremamente adulto, ainda mais comparando-se ao que era feito por aí. O roteirista Cyril Hume baseou-se no conto de Irving Block e Allen Adler, que por sua vez, foi inspirada na peça A Tempestade, de William Shakespeare. A trama shakespeariana traz a história de uma embarcação que naufraga em uma ilha (aqui representado pelo planeta Altair IV), onde Próspero (substituído por Dr. Morbius) vivia com sua esposa e sua criada, aqui o eficiente robô Robby, um dos mais clássicos robôs do cinema, famosíssimo brinquedo até os dias de hoje e fonte de inspiração para o B9 da série Perdidos no Espaço (Perigo, Will Robinson). Em 2208 a nave C57D é enviada à Altair IV para descobrir o paradeiros dos tripulantes de outra nave espacial, a Belerofonte (nome do personagem da mitologia grega que matou a Quimera) que deveria montar uma colônia no planeta e nunca deu sinais de vida. E veja só quem é o comandante da nave de resgate? Leslie Nielsen. Isso mesmo, o eterno Frank Drebin de Corra que a Polícia Vem Aí, famoso por seus papeis cômicos, debuta no cinema na pele do Com. J. J. Adams, com 30 anos de idade, quase irreconhecível de tão novo, tendo em vista que estamos acostumados com aquela figura simpática de cabelos brancos, pronta para soltar uma piada. Lá ele encontra o Dr. Morbius, vivido por Walter Pidgeon, único sobrevivente da Belerofonte, que vive no planeta com seu robô serviçal capaz de sintetizar comida, bebida e qualquer tipo de objeto ou elemento químico e com sua filha, a deliciosa Altaira, interpretada por Anne Francis. E como se não bastasse toda a importância cultural e estética de O Planeta Proibido, ele ainda foi o filme que inventou a periguete. Porque a linda e loura Altaira vive para cima e para baixo com vestidos curtíssimos, lembrando os vestidos que vemos nas baladas hoje em dia, com suas torneadas pernas de fora, atiçando a libido dos marmanjos que pousaram no planeta e ainda toma uma banho nua em um laguinho artificial, tudo extremamente ousado para os padrões da época (mesmo ela usando um maiô cor da pele, mas o que importa é a mensagem subentendida). Mas porque o tal planeta é proibido? É o que vamos descobrir no decorrer do filme, quando o Comandante Adams e o Tenente Dr. Ostrow começam aos poucos a arrancar a verdade do Dr. Morbius sobre o que se passa naquele planeta inóspito. E aí que a coisa começa a ficar realmente assustadora. Toda a tripulação da Belerofonte foi misteriosamente morta, ou melhor, despedaçada, por uma terrível força alienígena incontrolável, sobrando apenas Morbius e sua esposa, que viria a falecer por causas naturais. Altair IV era habitada por uma superiora raça alienígena, os Krells, agora uma civilização perdida que vivera no planeta e sumira sem explicação, deixando apenas sua tecnologia. Algo ao melhor estilo “Eram os Deuses Astronautas?”, com um toque meio Lovecraft (completamente não intencional). Morbius começa a estudar e controlar essa tecnologia, inclusive uma estapafúrdia máquina capaz de aumentar o seu QI. É daí então que depois de uma hora de filme, alternando momentos de suspense e expectativa e cenas cômicas com o robô e o cozinheiro pinguço da C57D, que os elementos de terror começam a se desenhar, ao sermos apresentados ao vilões do filme, criaturas alienígenas animalescas invisíveis, que primeiramente aparecem apenas deixando suas pegadas na terra para estraçalhar (off screen) um dos tripulantes da nave, seguido apenas pelo seus gritos. Depois vemos o embate da equipe do Comandante Adams tentando impedir o avanço da criatura através de um campo de energia que os protege, quando vislumbramos a animação do monstro espacial, contornado por raios vermelhos de energia, feitos de forma não creditada por animadores da Disney em um trabalho freelance (dizem por aí que Walt em pessoa pediu para qualquer menção à Disney fosse retirada do filme, devido ao seu conteúdo “não família”. Azar da Disney). De repente, o roteiro dá uma guinada inesperada e uma penca de explicações filosóficas e psicológicas se dá curso, quando Adams em confronto com Morbius, descobre que na verdade esses monstros Id, como são chamados, são uma manifestação do subconsciente do ódio e desejo de auto destruição, exatamente como prega a teoria de Sigmund Freud, sendo responsáveis por dizimar toda uma raça alienígena extremamente desenvolvida com os Krells, e que aqui foram despertados por Morbius e seu intelecto alterado, para destruir a tripulação da nave de resgate por se sentir-se ameaçado, assim como fizera outrora com a equipe da Belerofonte. É uma baita de uma viagem, que foge da curva de tudo que havia sido escrito no campo da ficção científica até então. Até hoje, quase 60 anos depois, é meio difícil de acompanhar a resolução freudiana de O Planeta Proibido e a discussão sobre a intrínseca natureza destrutiva do ser humano. Agora imagine para o público médio dos anos 50, acostumados à comunistas travestidos de homenzinhos verdes e feras nucleares gigantescas? E por incrível que pareça, a fita foi um sucesso de bilheteria, e fez mais de 3 milhões de dólares nos cinemas só nos EUA. E tudo isso filmado em Cinemascope widescreen, coloridaço, com a assustadora e climática trilha sonora totalmente eletrônica do casal Louis e Bebe Barron (primeira da história do cinema), que trouxe a inovação de misturar as bandas sonoras, mesclando a música progressiva eletroacústica com os próprios efeitos sonoros, direção de arte interessantíssima de Irving Block e Mentor Hunter (reutilizando até cenários de O Mágico de Oz, também da MGM), além dos efeitos especiais indicados ao Oscar® e o imortal design do robô criado por Robert Kinoshita (o mesmo de Perdidos no Espaço). E a contribuição absoluta de O Planeta Proibido para o cinema é inegável e escancarado aos nossos olhos. A noção de uma equipe de resgate que vai até outro planeta procurar humanos desaparecidos já foi utilizada como argumento inúmeras vezes em filmes de terror sci-fi, como o próprio Alien – O Oitavo Passageiro como um exemplo apenas. Gene Roddenberry, pai de Star Trek já afirmou que o seriado foi criado inspirado por O Planeta Proibido. Ou mesmo veja a semelhança do uniforme dos funcionários da Estrela da Morte em Star Wars e compare com os macacões e bonés da tripulação da nave C57D. Enfim, clássico imortal e mais que obrigatório.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/02/16/87-o-planeta-proibido-1956/

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302 1956 Planeta Proibido (Forbidden Planet)

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