Direção: Kurt Neumann
Roteiro: James Clavell,
George Lagelaan (história)
Produção: Kurt
Neumann, Robert L. Lippert (não creditado)
Elenco: Vincent
Price, Al Hedison, Patricia Owens, Herbert Marshall
A Mosca da
Cabeça Branca é um daqueles clássicos do cinema de terror
/ sci-fi, elevados ao status decult. Diferente da refilmagem asquerosa de
David Cronenberg, A Mosca, de 1986, o original sofre as limitações da sua época,
claro, o que acaba não impressionando tanto, visualmente falando, quanto sua
versão atual, mas mesmo assim, não deixa de ser um filme redondo e com a sua
boa dose de suspense. Assim como o filme de Cronenberg, o qual nós somos mais
acostumados a ver e rever, a grande mensagem de A Mosca da Cabeça
Branca é a respeito dos perigos que a tecnologia pode nos trazer. E aqui
isso fica ainda mais evidente, afinal, estamos na década de 50 vivendo sob a
paranoia da Guerra Fira e o medo da tecnologia ser usada pelos soviéticos para
acabar com o belo modo de vida americano. E essa metáfora é muito bem
representada pelo casal do filme, o brilhante cientista Andre Delambre e sua
esposa devotada, Helene. Eles tem aquela vida perfeita típica do subúrbio
americano dos anos 50: ela dona de casa servil e companheira, ele homem
brilhante que traz o sustento à casa. Vivem com o filho pequeno, Phillipe, e a
empregada em um mundo ensolarado e positivo. Porém esse status quo é
arruinado graças a que? A tecnologia, claro. Logo no começo do filme somos
pegos despreparados, com o zelador de uma fábrica encontrando um corpo que teve
a cabeça esmagada em uma prensa hidráulica. Assustado, ele liga para o dono da
fábrica, François Delambre (Price), irmão de Andre e cunhado de Helene. Em
seguida, a moça liga confessando o crime, que acabara de assassinar seu irmão
na prensa. Price então contata o Inspetor Charas, para que ele cuide da
investigação do assassinato. É aí que Helene resolve contar a trágica história
para os dois, afim de evitar que seja presa ou vá parar em um manicômio. Andre
trabalhava em um projeto secreto para a aeronáutica americana e construiu uma
máquina capaz de teletransportar objetos e pessoas. Como bem já sabemos
(acredito eu), durante um teste realizado consigo mesmo, uma maldita mosca
entra na cápsula de teletransporte e o computador faz uma recombinação genética
dos dois. Diferente da refilmagem, que vai alterando fisicamente o cientista
aos poucos até transformá-lo em uma criatura monstruosa e repugnante, aqui os
efeitos colaterais são devastadores logo de cara. O corpo de André ganha uma
cabeça gigante de mosca e um de seus braços é substituído por uma pata,
enquanto o corpo da pequena mosca ganha a cabeça e o braço do pobre infeliz. Inicialmente
ele mantém seu rosto coberto por um pano, para que a esposa não o veja. Nisso o
filme é incrível, pois vai cercando de expectativa de como será a terrível aparência
de André, e aguçando a curiosidade do expectador com uma dose cavalar de
suspense, até que Helene enfim retira o pano e se depara com a criatura. Aos
poucos, Andre vai perdendo a batalha contra o instinto primitivo do inseto, e
sem conseguir encontrar a mosca-homem, o homem-mosca decide que deve ser
destruído, o que nos leva aos acontecimentos do começo da fita. O que atrapalha
bastante o filme é que ele perde muito o ritmo, enquanto mãe, filha e empregada
ficam zanzando pela casa e jardim afim de capturar a tal mosca da cabeça
branca, única saída para que Andre tente reverter sua aparência, prejudicando o
andamento do filme. Mas no final, novamente o suspense torna-se constante,
quando Helene está prestes a ser levada ao manicômio por ter assassinado seu
marido, já que nem François e nem o inspetor Charas conseguem engolir essa
história. É aí que Phillipe encontra a mosca da cabeça branca presa em uma teia
de aranha, prestes a ser devorada, em uma das mais clássicas e bizarras cenas
do cinema de terror. Ele conta ao tio, que leva o inspetor até o jardim e os
dois presenciam o pavor e agonia da pequena criatura a mercê do aracnídeo,
antes de ambos serem destruídos por uma pedra, lançada pelo atormentado Charas,
que nunca mais irá esquecer aquela visão e aquele grito de desespero. Mas
infelizmente, o final acaba sendo feliz demais (beeeeeem diferente de A
Mosca, por exemplo), pois mesmo com a morte de Andre, Helene não é presa, e
vive feliz com o filho e com François, que assume o papel de pai do garoto. Aquelas
maravilhas dos anos 50, sabe? Os efeitos especiais de A Mosca da Cabeça
Branca até que são decentes, se você parar para pensar que estamos falando
aqui de um filme B de cinquenta anos atrás. Tanto a maquiagem da cabeça de
mosca deve ter sido um choque e assustador na época, quanto os efeitos das
luzes de neon enquanto a máquina era utilizada, assim como os objetos sumindo
antes de serem materializados na outra máquina. As atuações estão bem sóbrias
também, principalmente de Price, que ainda não havia se tornado uma referência
no horror até então, e de Patricia Owens, que vive Helene. O excesso de cores,
a fotografia e a filmagem em Cinemascope também são muito bem utilizados, para
mostrar que o terror pode acontecer em locais ensolarados, claros e em plena
luz do dia e não são exclusividades de paisagens e lugares sombrios.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/14/109-a-mosca-da-cabeça-branca-1958/
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