sexta-feira, 27 de março de 2015

#109 1958 A MOSCA DA CABEÇA BRANCA (The Fly, EUA)


Direção: Kurt Neumann
Roteiro: James Clavell, George Lagelaan (história)
Produção: Kurt Neumann, Robert L. Lippert (não creditado)
Elenco: Vincent Price, Al Hedison, Patricia Owens, Herbert Marshall

A Mosca da Cabeça Branca é um daqueles clássicos do cinema de terror / sci-fi, elevados ao status decult. Diferente da refilmagem asquerosa de David Cronenberg, A Mosca, de 1986, o original sofre as limitações da sua época, claro, o que acaba não impressionando tanto, visualmente falando, quanto sua versão atual, mas mesmo assim, não deixa de ser um filme redondo e com a sua boa dose de suspense. Assim como o filme de Cronenberg, o qual nós somos mais acostumados a ver e rever, a grande mensagem de A Mosca da Cabeça Branca é a respeito dos perigos que a tecnologia pode nos trazer. E aqui isso fica ainda mais evidente, afinal, estamos na década de 50 vivendo sob a paranoia da Guerra Fira e o medo da tecnologia ser usada pelos soviéticos para acabar com o belo modo de vida americano. E essa metáfora é muito bem representada pelo casal do filme, o brilhante cientista Andre Delambre e sua esposa devotada, Helene. Eles tem aquela vida perfeita típica do subúrbio americano dos anos 50: ela dona de casa servil e companheira, ele homem brilhante que traz o sustento à casa. Vivem com o filho pequeno, Phillipe, e a empregada em um mundo ensolarado e positivo. Porém esse status quo é arruinado graças a que? A tecnologia, claro. Logo no começo do filme somos pegos despreparados, com o zelador de uma fábrica encontrando um corpo que teve a cabeça esmagada em uma prensa hidráulica. Assustado, ele liga para o dono da fábrica, François Delambre (Price), irmão de Andre e cunhado de Helene. Em seguida, a moça liga confessando o crime, que acabara de assassinar seu irmão na prensa. Price então contata o Inspetor Charas, para que ele cuide da investigação do assassinato. É aí que Helene resolve contar a trágica história para os dois, afim de evitar que seja presa ou vá parar em um manicômio. Andre trabalhava em um projeto secreto para a aeronáutica americana e construiu uma máquina capaz de teletransportar objetos e pessoas. Como bem já sabemos (acredito eu), durante um teste realizado consigo mesmo, uma maldita mosca entra na cápsula de teletransporte e o computador faz uma recombinação genética dos dois. Diferente da refilmagem, que vai alterando fisicamente o cientista aos poucos até transformá-lo em uma criatura monstruosa e repugnante, aqui os efeitos colaterais são devastadores logo de cara. O corpo de André ganha uma cabeça gigante de mosca e um de seus braços é substituído por uma pata, enquanto o corpo da pequena mosca ganha a cabeça e o braço do pobre infeliz. Inicialmente ele mantém seu rosto coberto por um pano, para que a esposa não o veja. Nisso o filme é incrível, pois vai cercando de expectativa de como será a terrível aparência de André, e aguçando a curiosidade do expectador com uma dose cavalar de suspense, até que Helene enfim retira o pano e se depara com a criatura. Aos poucos, Andre vai perdendo a batalha contra o instinto primitivo do inseto, e sem conseguir encontrar a mosca-homem, o homem-mosca decide que deve ser destruído, o que nos leva aos acontecimentos do começo da fita. O que atrapalha bastante o filme é que ele perde muito o ritmo, enquanto mãe, filha e empregada ficam zanzando pela casa e jardim afim de capturar a tal mosca da cabeça branca, única saída para que Andre tente reverter sua aparência, prejudicando o andamento do filme. Mas no final, novamente o suspense torna-se constante, quando Helene está prestes a ser levada ao manicômio por ter assassinado seu marido, já que nem François e nem o inspetor Charas conseguem engolir essa história. É aí que Phillipe encontra a mosca da cabeça branca presa em uma teia de aranha, prestes a ser devorada, em uma das mais clássicas e bizarras cenas do cinema de terror. Ele conta ao tio, que leva o inspetor até o jardim e os dois presenciam o pavor e agonia da pequena criatura a mercê do aracnídeo, antes de ambos serem destruídos por uma pedra, lançada pelo atormentado Charas, que nunca mais irá esquecer aquela visão e aquele grito de desespero. Mas infelizmente, o final acaba sendo feliz demais (beeeeeem diferente de A Mosca, por exemplo), pois mesmo com a morte de Andre, Helene não é presa, e vive feliz com o filho e com François, que assume o papel de pai do garoto. Aquelas maravilhas dos anos 50, sabe? Os efeitos especiais de A Mosca da Cabeça Branca até que são decentes, se você parar para pensar que estamos falando aqui de um filme B de cinquenta anos atrás. Tanto a maquiagem da cabeça de mosca deve ter sido um choque e assustador na época, quanto os efeitos das luzes de neon enquanto a máquina era utilizada, assim como os objetos sumindo antes de serem materializados na outra máquina. As atuações estão bem sóbrias também, principalmente de Price, que ainda não havia se tornado uma referência no horror até então, e de Patricia Owens, que vive Helene. O excesso de cores, a fotografia e a filmagem em Cinemascope também são muito bem utilizados, para mostrar que o terror pode acontecer em locais ensolarados, claros e em plena luz do dia e não são exclusividades de paisagens e lugares sombrios.

FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/14/109-a-mosca-da-cabeça-branca-1958/

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