Direção: Charles Laughton
Roteiro: James Agree
(baseado na obra de Davis Grubb)
Produção: Paul
Gregory
Elenco: Robert
Mitchum, Shelley Winters, Lilian Gish, James Gleason, Evelyn Varden
O sinistro O Mensageiro
do Diabo é o único filme do grande ator Charles Laughton (o Dr.
Moreau de A Ilha das Almas Selvages) com diretor, e é uma fita pesada e
perturbadora, que escancara a maldade humana travestida da fé, trazendo um
brilhante Robert Mitchum no papel de um dos mais significativos (e
horripilantes, por que não?) vilões do cinema. Baseado no romance homônimo de
Robert Grubb, infelizmente O Mensageiro do Diabo foi um fracasso
retumbante de bilheteria, o que acabou cortando pela raiz a recente carreira de
Laughton como cineasta. Uma verdadeira pena, pois o jeito que a história é
contada, seus ângulos inusitados para os padrões Hollywoodianos de época, a
linda fotografia em preto e branco, melancólica e quase expressionista, somada
também ao bom e velho jogo de luz e sombra, torna a fita em um dos mais
importantes exercícios da sétima arte e do suspense, tornando-se um clássico
cultuado apenas anos depois de seu lançamento (como é de costume). Pode se
enganar quem pensar em uma trama demoníaca ao pé da letra pelo título em
português do filme. Não, não é nada disso. Mas assistindo ao filme fica aquela
certeza de que em uma das raras vezes na história, o título que a película
ganhou no Brasil ficou muito melhor do que sua tradução literal, que seria A
Noite do Caçador. Porque o assustador reverendo Harry Powell de Robert Mitchum
é realmente um mensageiro do diabo. Psicopata, ladrão, e implícito serial
killer de mulheres pecaminosas nas horas vagas, utiliza da palavra de Deus,
cânticos religioso, sermões enfurecidos e de todo seu charme e lábia repugnante
para trazer nada mais que o mal puro. Sua caracterização é perfeita, com seus
costumes pretos, chapéu estilo puritano e tatuado nos nós dos dedos da mão
direita AMOR e da esquerda ÓDIO. A trama toda gira em torno de 10 mil dólares
roubados por Ben Harper (Peter Graves) durante um assalto a banco na Virgínia
do Oeste em plena Depressão. O motivo do roubo? Um dos mais nobres. O pai
cansado de ver crianças vagando com fome e maltrapilhas pela América durante
aqueles tempos, resolve fazer o pé de meia dos filhos, John e Pearl, os únicos
que sabem onde o dinheiro foi guardado. O pai deles é preso e condenado à forca
por uma morte durante a escapada. Na prisão ele conhece Powell, que descobre
sobre a fortuna (sim, 10 mil dólares era um fortuna naquela época). Ao sair da
prisão, a primeira coisa que o reverendo faz é ir até a cidade de Harper,
decidido a conseguir colocar a mão na grana, custe o que custar, nem que para
isso se case com a viúva Willa Harper (Shelley Winters), transformando-a em uma
cristã fervorosa para depois matá-la com seu canivete, e coagir os dois meninos
de qualquer forma, para descobrir onde está o dinheiro. E parece que Mitchum
adora esse lance de personagens que saem da prisão e vão em busca de vingança /
dinheiro / assassinato, pois ele também interpretou o Max Cady original
em Círculo do Medo, mais tarde refilmado por Martin Scorcese como Cabo
do Medo, trazendo Robert De Niro no papel. Acuados, os pequenos John e Pearl
fogem rio à baixo, sempre com Powell no encalço, para encontrar abrigo no lar
de Rachel Cooper (Lilian Gish), a força motriz que representa o bem neste
filme, que cuida de algumas crianças carentes. Powell então seduz uma das
jovens protegidas de Cooper e continua sua perseguição às crianças até o rancho
da Sra. Cooper, montando tocaia e cantando “Confie em Jesus”, em uma das cenas
mais climáticas do filme. Auxiliado pela belíssima fotografia de Stanley
Cortez, O Mensageiro do Diabo é sempre comparado com uma espécie de
fábula infantil, em um ensaio sobre ganância, psicose e fé. É uma versão humana
e macabra do conto da Chapeuzinho Vermelho, com o personagem de Mitchum fazendo
às vezes de Lobo Mau. E durante toda a projeção, algumas cenas são simplesmente
memoráveis, como: a queda de braço de Powel com ele mesmo, contando a história
da eterna luta entre Amor e Ódio / Bem e Mal; a descida das crianças fugitivas
pelo rio, sempre perseguidos pelo trotar lento de Powell em seu cavalo, visto
em uma perspectiva da gigante fauna e flora às margens (dando luz ao quanto os
pequenos estavam indefesos); a cena em que Willa está dando seu testemunho
milagroso na tenda que Powell armou para pregar na cidade; ou mesmo a poética
tomada aquática quando o corpo de Willa jaz no fundo do rio, empurrada com
carro e tudo, pelo seu novo marido psicótico. Mesmo sendo um filme amoral, o
final de O Mensageiro do Diabo é uma mensagem de esperança, de que na
queda de braço fictícia daquele homem que (como muitos por aí) usa a palavra de
Deus para ludibriar as pessoas, escondendo o lobo em pele de cordeiro, o mal
acaba por sucumbir, afinal era o que podia se entregar para a plateia naqueles
tempos. E em toda a dança que envolve psicose, manipulação, fé e assassinato, o
repulsivo reverendo está convicto de tudo aquilo que faz, desde sua obsessão
por dinheiro, mentiras compulsivas e seus jogos psicológicos, realmente fazendo
jus ao título nacional do filme.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/02/05/79-o-mensageiro-do-diabo-1955/
300 1955 O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter)
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
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