terça-feira, 3 de março de 2015

#073 1954 GODZILLA (Gojira, Japão)


Direção: Ishirô Honda
Roteiro: Ishirô Honda, Takeo Murata, Shigeru Kayama (história)
Produção: Tomoyuki Tanaka
Elenco: Akira Takarada, Momoko Kôchi, Akihiko Hirata, Takashi Shimura

Godzilla é a personificação de 50 metros de altura dos efeitos devastadores da estupidez do lançamento da bomba atômica pelos americanos no Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Cada ataque do monstro gigante, cada onda de destruição, cada frase muito bem colocada em questão, diálogo minucioso ou maneirismo dos personagens, é executado meticulosamente para escancarar esse medo. Godzilla ganhou uma série infindável de continuações e travou batalhas com inimigos antológicos, como Mothra, Rodan, Ghidorah e Biollante . Até mesmo contra o King Kong ele já tretou, na mais épica batalha entre monstros do cinema. Só que toda essa banalização do monstro jurássico radioativo escondeu o charme e o verdadeiro contexto político social de quando o original de Ishirô Honda foi lançado em 1954. Fazia exatos nove anos que as bombas de Hiroshima e Nagazaki haviam caído no Japão, arruinando o país tanto física quanto moral e espiritualmente. E a origem do monstro Gojira remete diretamente a esse período em específico e todos os efeitos da entrada na era atômica. Com as explosões nucleares, uma criatura pré-histórica do período jurássico, que vivia presa nas fendas marinhas subterrâneas, foi libertada. Como se não bastasse, a radiação também deu poderes para o lagartão, além de torná-lo imenso e indestrutível, ele adquiriu um hálito radioativo capaz de atear fogo e provocar uma destruição sem precedentes. A criação de Godzilla ficou a cargo do mago dos efeitos especiais Eiji Tsuburaya, que mais tarde seria o responsável pela criação da família Ultra (Ultraman, Ultraseven, e por aí vai…). Infelizmente os efeitos estão defasados e completamente, datados por se tratar de uma produção da década de 50. É nítido que Godzilla é interpretado por um homem em uma roupa de lagarto, utilizando uma técnica conhecida como suitmation e toda a cidade destruída, prédios, pontes, carros, barcos e trens, são maquetes. Porém, inteligentemente todas as tomadas de destruição são rápidas, misturando truques de sobreposição e excelente uso da fotografia, principalmente noturna, para impressionar os espectadores. Outro ponto alto do filme é a trilha sonora contundente, criada por Akira Ifukube. Principalmente a música título que representa os ataques de Godzilla. Ao tocar nas cenas de créditos iniciais do filme, já dá um certo gelo na espinha. Os efeitos sonoros também foram bastante felizes no filme, entre eles, os estrondos graves causado pelo marchar do monstro e seu urro inconfundível, além do barulho característico quando as suas barbatanas dorsais se iluminam e ele dispara o seu mortal bafo radioativo pela boca. Mas apesar de adorarmos destruição e querermos ver a criatura arrebentando com Tóquio e o circo pegar fogo, são todas as mensagens subliminares, e nem tão subliminares assim, implícitas no filme, que enchem os olhos ao assistir Godzilla. Primeiro é a união e perseverança do povo japonês. Muitas cenas mostram claramente como eles ainda estão abatidos pelas bombas, mas mesmo assim, sempre vemos um povo unido, que consegue se recuperar rápido, e toda sua força de vontade e todo trabalho solidário em conjunto perante as dificuldades. E isso é até hoje, só lembrarmos do terrível terremoto que devastou a costa do país no início de 2011, e o quão rápida foi sua reconstrução. Se o Godzilla atacasse o Brasil, podia fechar o país, que ficaria naquele estado para sempre. Aqui de chover já ficamos sem Internet, telefone celular e semáforos nas ruas! Além disso, outro elemento inerente é a severa crítica aos americanos. Especialmente representada pelo cientista Daisuke, que desenvolveu uma experiência com um potencial poderosíssimo, único meio capaz de deter o monstro, porém ele reluta em usá-la e torná-la pública, para que não caia em mãos erradas e seja usada para fins bélicos e de destruição. No final ele acaba cedendo, porém a um preço muito alto, na poética sequência final de Godzilla, quando após destruir todas suas anotações e lançar o experimento na água, que é capaz de destruir as partículas de oxigênio do oceano, habitat natural do monstro, Daisuke fica por lá mesmo para se sacrificar pelo bem da nação, e porque não, da humanidade, acabando de vez com a chance de alguém tomar conhecimento da sua arma. Também há espaço para uma puxada de orelha e tapa na cara da sociedade dada pelo professor Tanabe, interpretado por Takashi Shimura, conhecido por alguns filmes de Akira Kurosawa. A última frase do filme é: “Eu não acredito que Godzilla era o único membro sobrevivente de sua espécie. Mas se nós continuarmos a fazer testes nucleares é possível que um outro Godzilla possa aparecer em algum lugar do mundo, novamente”. A influência de Godzilla na cultura pop japonesa é imensurável. É impossível alguém que nunca tenha ouvido falar do monstro, mesmo que não tenha assistido ao original. Deu origem a uma série de filmes japoneses sobre monstros gigantes que destroem a ilha, e vários seriados de super herois nipônicos foram desenvolvidos do ponto de partida criado por Godzilla. E claro, houveram as versões americanas, que popularizaram o dinossauro mundialmente: uma já tosca criada em 1956, chamado Godzilla – O Rei dos Monstros, para capitalizar em cima do original, e aquela bomba do tamanho do lagarto gigante em si, feita em 1998, pelo diretor canastra Roland Emmerich, levando a criatura para Nova York, desvirtuando sua origem para ser um lagarto anabolizado pela radiação criado através dos testes nucleares na Polinésia Francesa.

FONTE: http://101horrormovies.com/2013/01/29/73-godzilla-1954/

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