Direção: Ishirô
Honda
Roteiro: Ishirô
Honda, Takeo Murata, Shigeru Kayama (história)
Produção: Tomoyuki
Tanaka
Elenco: Akira
Takarada, Momoko Kôchi, Akihiko Hirata, Takashi Shimura
Godzilla é
a personificação de 50 metros de altura dos efeitos devastadores da estupidez
do lançamento da bomba atômica pelos americanos no Japão durante a Segunda
Guerra Mundial. Cada
ataque do monstro gigante, cada onda de destruição, cada frase muito bem
colocada em questão, diálogo minucioso ou maneirismo dos personagens, é
executado meticulosamente para escancarar esse medo. Godzilla ganhou uma
série infindável de continuações e travou batalhas com inimigos antológicos,
como Mothra, Rodan, Ghidorah e Biollante . Até mesmo
contra o King Kong ele já tretou, na mais épica batalha entre monstros do
cinema. Só que
toda essa banalização do monstro jurássico radioativo escondeu o charme e o
verdadeiro contexto político social de quando o original de Ishirô Honda foi
lançado em 1954. Fazia exatos nove anos que as bombas de Hiroshima e Nagazaki
haviam caído no Japão, arruinando o país tanto física quanto moral e
espiritualmente. E a origem do monstro Gojira remete
diretamente a esse período em específico e todos os efeitos da entrada na era
atômica. Com as explosões nucleares, uma criatura pré-histórica do período
jurássico, que vivia presa nas fendas marinhas subterrâneas, foi libertada. Como se não bastasse, a radiação
também deu poderes para o lagartão, além de torná-lo imenso e indestrutível,
ele adquiriu um hálito radioativo capaz de atear fogo e provocar uma destruição
sem precedentes. A criação de Godzilla ficou a cargo do mago dos efeitos especiais
Eiji Tsuburaya, que mais tarde seria o responsável pela criação da família
Ultra (Ultraman, Ultraseven, e por aí vai…). Infelizmente os efeitos estão
defasados e completamente, datados por se tratar de uma produção da década de
50. É nítido que Godzilla é interpretado por um homem em uma roupa de
lagarto, utilizando uma técnica conhecida como suitmation e toda a
cidade destruída, prédios, pontes, carros, barcos e trens, são maquetes. Porém, inteligentemente todas as
tomadas de destruição são rápidas, misturando truques de sobreposição e
excelente uso da fotografia, principalmente noturna, para impressionar os
espectadores. Outro ponto alto do filme é a trilha sonora contundente, criada
por Akira Ifukube. Principalmente a música título que representa
os ataques de Godzilla. Ao tocar nas cenas de créditos iniciais do filme, já dá
um certo gelo na espinha. Os efeitos sonoros também foram bastante felizes no filme, entre eles,
os estrondos graves causado pelo marchar do monstro e seu urro inconfundível,
além do barulho característico quando as suas barbatanas dorsais se iluminam e
ele dispara o seu mortal bafo radioativo pela boca. Mas apesar de adorarmos
destruição e querermos ver a criatura arrebentando com Tóquio e o circo pegar
fogo, são todas as mensagens subliminares, e nem tão subliminares assim,
implícitas no filme, que enchem os olhos ao assistir Godzilla. Primeiro
é a união e perseverança do povo japonês. Muitas cenas mostram claramente como
eles ainda estão abatidos pelas bombas, mas mesmo assim, sempre vemos um povo
unido, que consegue se recuperar rápido, e toda sua força de vontade e todo
trabalho solidário em conjunto perante as dificuldades. E isso é até hoje, só
lembrarmos do terrível terremoto que devastou a costa do país no início de
2011, e o quão rápida foi sua reconstrução. Se o Godzilla atacasse o Brasil, podia fechar o
país, que ficaria naquele estado para sempre. Aqui de chover já ficamos sem
Internet, telefone celular e semáforos nas ruas! Além disso, outro elemento
inerente é a severa crítica aos americanos. Especialmente
representada pelo cientista Daisuke, que desenvolveu uma experiência com um
potencial poderosíssimo, único meio capaz de deter o monstro, porém ele reluta
em usá-la e torná-la pública, para que não caia em mãos erradas e seja usada
para fins bélicos e de destruição. No final ele acaba cedendo, porém a um preço muito
alto, na poética sequência final de Godzilla, quando após destruir todas
suas anotações e lançar o experimento na água, que é capaz de destruir as
partículas de oxigênio do oceano, habitat natural do monstro, Daisuke fica por
lá mesmo para se sacrificar pelo bem da nação, e porque não, da humanidade,
acabando de vez com a chance de alguém tomar conhecimento da sua arma. Também
há espaço para uma puxada de orelha e tapa na cara da sociedade dada pelo
professor Tanabe, interpretado por Takashi Shimura, conhecido por alguns filmes
de Akira Kurosawa. A última frase do filme é: “Eu não acredito
que Godzilla era o único membro sobrevivente de sua espécie. Mas se nós continuarmos a fazer testes
nucleares é possível que um outro Godzilla possa aparecer em algum lugar do
mundo, novamente”. A influência de Godzilla na cultura pop japonesa é
imensurável. É impossível alguém que nunca tenha ouvido falar do monstro, mesmo que
não tenha assistido ao original. Deu origem a uma série de filmes japoneses
sobre monstros gigantes que destroem a ilha, e vários seriados de super herois
nipônicos foram desenvolvidos do ponto de partida criado por Godzilla. E claro,
houveram as versões americanas, que popularizaram o dinossauro mundialmente:
uma já tosca criada em 1956, chamado Godzilla – O Rei dos Monstros, para
capitalizar em cima do original, e aquela bomba do tamanho do lagarto gigante
em si, feita em 1998, pelo diretor canastra Roland Emmerich, levando a criatura
para Nova York, desvirtuando sua origem para ser um lagarto anabolizado pela
radiação criado através dos testes nucleares na Polinésia Francesa.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/01/29/73-godzilla-1954/
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