Direção: H.G. Clouzot
Roteiro: H.G Clouzot, Jérome
Geronimi (baseado na obra de Boileau e Narcejac)
Produção: H.G. Clouzot,
Georges Lorau (não creditado)
Elenco: Simone Signoret,
Vera Clouzot, Paul Meurisse, Charles Vanel
As Diabólicas é
um excelente exercício de suspense e thriller psicológico do diretor
Henri-Georges Clouzot. Extremamente bem executado, tenso do seu começo ao fim,
essa mistura hábil de terror, suspense, crime, drama, mistério e com pitadas de
um viés sobrenatural, é um dos grandes filmes da história da sétima arte e
influenciador de diversas outras obras de suspense. Reza a lenda que o livro
que deu origem ao filme As Diabólicas, Celle qui n’était plus,
escrito por Pierre Boileau e Thomas Narcejac, por pouco não teve seus direitos
comprados por Alfred Hitchcock. Ambos diretores perfeccionistas, dizem que
Clouzot conseguiu o direito da obra por uma questão de poucas horas. Hitchcock
depois também adaptou um livro da dupla, D’entre les morts, que ganhou o
título de Um Corpo que Cai. Podemos dizer que Hitchcock aperfeiçoou um gênero
que Clouzot ajudou a pavimentar. Mas tirando a comparação entre
diretores, As Diabólicas é um dos melhores thrillers já
feitos. E o melhor de tudo é o momento histórico em que ele está inserido, já
que o gênero era bombardeado pelos sci-fis, e aqui o que vemos é uma
verdadeira ousadia sem tamanho, fugindo dos padrões do puritanismo
Hollywoodiano para escancarar um triângulo amoroso disfuncional,
relacionamentos abertos, masoquismo, lesbianismo latente, sexualidade,
misantropia e misoginia. Na trama, Michel Delassalle (Paul Meurisse) é o
diretor de um internato para meninos na França, violento e dominador marido de
Christina (Vera Clouzot), de quem se apoderou da instituição e de todo o
dinheiro após o casamento. Ele faz a mulher de gato e sapato, humilhando-a em
público (vide a cena do restaurante onde ele a obriga a engolir o peixe podre
que está comendo) e notoriamente tem outras amantes. Uma delas é Nicole Horner
(Simone Signoret), que por incrível que pareça, simpatiza com o drama de
Christina, e também não é melhor tratada pelo salafrário. Cansadas dos maus
tratos, Nicole coloca pilha em Christina para ela se separar do marido de uma
vez, coisa que não tinha a coragem de fazer, por ser uma mulher medrosa e
submissa. A forte Nicole então arquiteta um plano de vingança verdadeiramente
diabólico (com o perdão do trocadilho), onde elas irão assassinar Michel, para
que as duas fiquem livres do bronco e com todo o dinheiro e controle do
colégio. Após misturar um poderoso sonífero na bebida de Michel, as duas enchem
a banheira de água e o afogam lá dentro, depois livrando-se do cadáver na
piscina na escola em uma noite. Só que as coisas não saíram como planejado,
pois o corpo do desaparecido Michel nunca é encontrado na piscina, mesmo depois
de completamente esvaziada, e claramente aquilo começa a levá-las às raias da
loucura, jogando uma contra a outra, além de explodir um brutal sentimento de
remorso e impotência em Christina. E no decorrer do filme, são ilustradas para
os espectadores algumas hipóteses sobre o que realmente está acontecendo,
chegando a levantar até uma resolução sobrenatural para o caso. Essas hipóteses
começam a ser investigadas pelo comissário Alfred Fichet, que resolve descobrir
o paradeiro do diretor sumido. Também reza a lenda que a figura de Fichet
serviria futuramente de inspiração para o famoso detetive Columbo, da TV
americana. E prepare-se para uma daquelas reviravoltas no final da trama,
completamente não usuais para os filmes da época.
AVISO DE SPOILER. Pule para o último parágrafo ou leia por sua conta e risco. No último
ato, após ficarmos intrigados durante mais da metade do filme do que diabos
aconteceu com o corpo e o que de fato se passa naquele internato, e de algumas
pistas jogadas em cenas realmente singulares, (como a excepcional cena em que
um dos estudantes, mentiroso patológico, jura ter visto e encontrado o diretor,
que o deixou de castigo após ter quebrado uma janela com um estilingue), vem
uma reviravolta sensacional, muito bem trabalhada, em uma sequência
verdadeiramente assustadora, daquelas de não tirar o olho da tela, com
excelente uso do jogo de luz e sombras, vultos e barulhos, quando finalmente
vemos, assim como Christina, o corpo de Michel com seus olhos revirados,
levantando lentamente da banheira, colocando a velha de O Iluminado no chinelo no quesito pavor. Já consumida
pela culpa, à beira de um ataque de nervos e com problemas cardíacos, Christina
não aguenta ver o marido morto-vivo saindo da banheira e cai dura no chão,
morta de susto. É quando vemos Michel tirando as lentes de seus olhos e que ele
está vivinho da silva. Na verdade, era um complô orquestrado perfeitamente
entre ele e a amante, Nicole, para se livrar de uma vez por todas de Christina
e ficar com todo seu dinheiro, já que Michel nunca havia realmente sido dado
como morto. Mas o plano não dá certo, pois no mesmo momento eles são
desmascarados pelo comissário. Ainda resta uma cena final antes dos créditos,
onde fica um quê meio fantasmagórico, quando o mesmo menino (o mentiroso) que
havia levado a bronca do diretor que tomou seu estilingue (que nessa altura do
campeonato sabemos que estava vivo), está com seu estilingue de volta, e conta
que quem o devolveu foi a diretora (que nessa altura do campeonato sabemos que
estava morta). Genial.
Claro que antes de mais nada é
importante colocar As Diabólicas na perspectiva histórica, depois de
termos tido aí quase 60 anos de filmes com reviravoltas no final da trama. Mas
esse suspense eterno de Clouzot foi responsável por servir de referência para
diversos filmes vindouros do gênero, e sua fórmula copiada à exaustão. E vamos
admitir, é um baita de um filme depravado, de relações humanas distorcidas,
vingança, mesquinharia, controle e assassinato. Em 1996 ganhou um remake horroroso
com a dupla Isabelle Adjani e Sharon Stone nos papéis principais. Passe longe!
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/02/02/77-as-diabolicas-1955/
272 1954 As
Diabólicas (Les Diaboliques)
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
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