Direção: Roger
Corman
Roteiro: Robert
Dillon, Ray Russel
Produção: Roger
Corman, Bartlett A. Carré (Produtor Associado), Samuel Z. Arkoff e James H.
Nicholson (Produtor Executivo)
Elenco: Ray Milland, Diana Van der Vlis, Harold
J. Stone, John Hoyt, Don Rickles
O Homem dos
Olhos de Raio X é mais uma preciosidade de Roger Corman
entregue para a American International Pictures dos produtores Samuel Z. Arkoff
e James H. Nicholson (pai de Jack Nicholson). Clássico do sci-fi /
horror / filme B, com um dos melhores finais do gênero de todos os tempos. A
fita é mais um dos exemplos gritantes dos perigos da ciência e de se brincar de
Deus, que resultam em catástrofe quando cientistas, que mesmo obstinados e
procurando promover o bem, acabam vítimas de suas experiências, resultando em
terríveis mutações, poderes fora de controle ou enlouquecimento. Na maioria das
vezes, os três em uma tacada só. O cinema é cheio de filmes com essa temática.
Para citar alguns mais antigos quando cientistas testam suas invenções em si
mesmo, antes do lançamento de O Homem dos Olhos de Raio X e que já
apareceram aqui pelo blog: O Raio Invisível, com a dupla Boris Karloff e Bela Lugosi,
e A Mosca da Cabeça Branca com a Vincent Price. E esse
cientista/ médico da vez é o Dr. James Xavier, vivido por Ray Milland, que já
havia atuado em Obsessão Macabra de Corman. Xavier está trabalhando numa
pesquisa científica secreta conhecida como X, que é capaz de aumentar a visão
humana. Decidido a aumentar exponencialmente o potencial limitado de nossos
olhos, que segundo ele, somos capaz de enxergar apenas 90% do universo que está
em nossa volta, Xavier se empenha em sua fórmula e começa o teste em um macaco,
que apesar de primeiramente ser bem sucedido, o símio logo morre de ataque
cardíaco, pois não estava preparado para tudo aquilo que conseguia ver agora.
Sinistro. Claro que brilhantemente, Xavier
vai testar a fórmula em si mesmo, com a ajuda do seu amigo oftalmologista, Dr.
Samuel Brant (Harold J. Stone). Isso também porque sua pesquisa está a um passo
do corte de verbas pela fundação de pesquisa que financia o seu projeto,
chefiada pela Dra. Diane Fairfax (Diana Van der Vlis), que exige resultados.
Mesmo sem maiores testes, Xavier encara o desafio, pingando a fórmula em seus
olhos através de um colírio, e assim, expande sua visão para algo além do
imaginado. Primeiramente ele começa a enxergar tudo como um enorme clarão e
explosão de cores. Acostumando-se com a nova visão e ao mesmo tempo
extrapolando sua experiência e usando o colírio cada vez mais, ele adquire a
sobre humana capacidade de ver através de objetos sólidos, tornando-se assim o
Homem dos Olhos de Raio X do título. E como todo homem que se preze, uma das
vantagens que ele dará para a nova visão, é ver mulheres sem roupa, claro, em
uma divertida cena em uma festinha em um apartamento onde vê todo mundo
dançando peladão. Mas há também importantes aplicações para a super visão de
Xavier, como a capacidade de olhar através do tecido humano para encontrar
doenças e obter diagnósticos muito mais precisos que qualquer máquina da raio
x. Isso faz com que ele faça uma interferência não autorizada para operar uma
garotinha com problemas cardíacos e é acusado pelo cirurgião Dr. William Benson
de conduta antiética da profissão, sendo afastado e tendo sua pesquisa
cancelada pela fundação. O cientista então é obrigado a fugir e decide
aventurar-se em um circo, utilizando o nome de Mentallo, trabalhando como
adivinhador e depois até como curandeiro, quando começa a ser chantageado pelo
vigarista Crane (Don Rickles), que descobre sua identidade. Tentando continuar
suas experiências e ganhar um dinheiro, Xavier monta um novo consultório para
atender e diagnosticar pacientes, parecendo uma espécie de Chico Xavier, pois
agora é obrigado a utilizar permanentemente óculos escuros e bandagens nos
olhos, pois mesmo fechados, ele ainda consegue enxergar, como se estivessem
permanentemente abertos, o que começa a deixá-lo cada vez mais perturbado e
viciado em seu colírio. Obrigado a continuar sempre fugindo, ele se reencontra
com a Dra. Fairfax que agora o ajuda, até chegar em Las Vegas com todas as suas
cores berrantes e letreiros luminosos, onde resolve trapacear em um cassino
para conseguir dinheiro, usando seus poderes visuais. Mais uma vez a polícia
descobre seu paradeiro e ele é obrigado a fugir, em uma perseguição pelo
deserto de Nevada. Até que ele encontra uma daquelas tendas evangélicas
itinerantes no deserto. Aí é que o filme tem seu ápice, revelando um dos mais
fantásticos finais do gênero, como já disse anteriormente. ALERTA DE
SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Atormentado pelo seu poder, já que Xavier começa a enxergar além da matéria,
com seus olhos, agora negros e sem pupila, servindo como receptores
dimensionais para outros mundos e realidades, em um estado de confusão mental,
Xavier ajoelha perante ao pastor, que pergunta a ele se ele é um pecador e
deseja ser salvo, quando o ex-cientista admite ter visto Deus, metaforicamente,
no centro do universo, como uma luz, um olho que nos vê a todos, além de toda a
escuridão. O pastor então cita Mateus, capítulo 5: “Se teu olho o faz pecar,
irmão, arranque-o”. E é exatamente isso que ele faz. Uma cena chocante, de
Xavier arrancando os olhos com as próprias mãos e olhando para o alto com dois
buracos nas órbitas. O filme oficialmente termina aí com um fade
out e os créditos, mas o roteiro original conta que Xavier ainda gritaria:
“eu ainda consigo ver”, mas que foi vetado pela MGM por ser considerado ainda
mais perturbador. Com um orçamento baixo, efeitos especiais modestos, mas um
roteiro intrigante e com uma temática assustadora que explode em seu terrível
final pessimista, O Homem dos Olhos de Raio X é uma gema de Corman
que escancara os medos do desenvolvimento científico e como ele pode ser
perigoso. E ainda há essa mensagem teológica em seu final, mostrando que há
certas coisas que os humanos não deveriam ver, e tampouco se atrever a olhar
além do que é permitido para nossa compreensão, pois essas forças das trevas e
luz do desconhecido, podem nos levar à loucura, quase como uma mensagem
lovecraftiana incidental.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/16/164-o-homem-dos-olhos-de-raio-x-1963/
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