Direção: Robert
Aldrich
Roteiro: Henry
Farrel, Lukas Heller
Produção:Robert
Aldrich, Walter Blake (Produtor Associado)
Elenco: Bette
Davis, Olivia de Havilland, Joseph Cotten, Agnes Moorehead, Victor Buono
Com o sucesso de público e
crítica de O Que Terá Acontecido com Baby Jane?, Robert Aldrich tentou
mais uma vez repetir a mesma fórmula, trazendo novamente as desafetas Bette
Davis e Joan Crawford sob sua batuta, utilizando um roteiro escrito por Henry
Farrel e Lukas Heller, e apostando no terrorpsycho-biddie que ele mesmo
ajudou a fomentar. O resultado em Com a Maldade
na Alma, ficou anos luz do filme anterior. Talvez seja a metragem
longa demais (133 minutos), talvez seja o começo impactante e avassalador que
vá caindo no marasmo com o decorrer do filme, talvez seja o uso da mesma
fórmula e um final que você já imagina que terá uma reviravolta assim como
em Baby Jane, talvez a substituição de Joan Crawford por Olivia de
Havilland por problemas de saúde/ aporrinhação de Davis. Tudo isso junto fez o
filme não funcionar da forma que deveria. Afinal é impossível se equiparar a um
clássico anterior. Não que Com a Maldade na Alma seja ruim. Esse
irmão bastardo de Baby Jane é simplesmente… Desnecessário, podemos
assim dizer. Com a mesma estrutura narrativa e enredo parecidíssimo, Com a
Maldade na Alma começa em um suntuosa festa em 1927, quando a jovem
Charlotte está preste a fugir com John Mayhew, homem casado que é seu amante,
dissuadido de última hora por ameaças feitas pelo pai de Charlotte, Big Sam
(Victor Buono) e dá um bolo na garota na tão importante noite. Em seguida, ele
é brutal e misteriosamente assassinado, tendo sua mão e cabeça decepados por um
cutelo. Inclusive o corte da mão é chocantemente feito em close. Todas as suspeitas
recaem sobre Charlotte, que aparece na festa com seu vestido todo ensanguentado
e transtornada. Passam-se 37 anos e Charlotte, agora interpretada por Bette
Davis, vive enclausurada na mansão da família em Baton Rouge, desequilibrada,
impulsiva, infantil e remoendo a culpa durante todos estes anos do assassinato
de seu grande amor. Para auxiliá-la, somente a empregada fiel da casa, Velma,
interpretada por Agnes Moorehead, indicada ao Oscar de melhor atriz
coadjuvante pelo papel. Só que a construção de uma ponte e estrada no local
obriga que Charlotte saia da casa, desapropriada pelo Estado, e na tentativa de
conseguir ficar por lá, terá a ajuda de dois velhos conhecidos, o Dr. Drew
(Joseph Cotten) e sua prima Miriam (de Havilland). Ambos já tiveram um caso no
passado, mas Miriam deixou o local logo após o escândalo, tornando-se uma
mulher bem sucedida e confiante. Esse é o ponto de partida para uma
interminável sessão de intrigas e psicose, onde nada é o que aparenta ser e
todos parecem utilizar-se de máscaras. Neste meio tempo, um jornalista inglês
aparece em Baton Rouge para investigar a história e tentar solucionar porquê
Jewel Mayhew, viúva de John, nunca acionou a seguradora para receber a apólice
pela morte do marido. A situação começa a ficar cada vez mais insustentável, e
a sanidade de Charlotte piorando a tal ponto, que ela começa a ter alucinações
pesadíssimas, inclusive de ver o morto-vivo na escadaria do casarão, até
acidentalmente atirar no Dr. Drew, matando-o. Daí cabe a Miriam agir como cúmplice
e ajudar a despachar o corpo do antigo amante no rio.
ALERTA DE SPOILER. Leia por conta e risco ou pule para o próximo
parágrafo.
É então que no terceiro ato,
depois de duas horas de filmes e de muito vai e vem na trama, que se você já
assistiu O Que Terá Acontecido com Baby Jane?, sacará qual será o
final, que é praticamente idêntico. Em ambos a personagem de Bette Davis não
tem culpa pelo acontecido, e viveu uma mentira durante toda a vida, vítima de
culpa e remorso. Neste caso, John foi morto pela própria esposa, que ficou
sabendo da traição do marido por fofoca de Miriam. E a morte de Drew também foi
um embuste, sendo que ele está vivo e as balas do revólver que Charlotte usou
eram de festim. Claro que Charlotte vai descobrir tudo isso e sua inocência
durante todos estes anos e se vingar dos dois salafrários, redimindo-se perante
ao espectador no final da película. Mas agora eu reservo o momento Nelson
Rubens, pois realmente o mais interessante de Com a Maldade na
Alma foram os bastidores da produção, que era para contar mais uma vez com
a dupla Davis e Crawford. Fato é que Davis anunciou logo de cara que não
filmaria nenhuma cena com Crawford. Nas diversas cenas em que elas aparecem
juntas, Aldrich deveria usar um dublê de corpo ou tomadas por cima dos ombros.
Claro que isso seria impossível e o diretor não aceitou. O clima no set ficou
tão pesado e a tensão das duas senhoras aumentou de tal forma que Crawford
acabou surtando, adquirindo uma doença psicossomática diagnosticada como
infecção nas vias respiratórias e foi parar no hospital. Quando voltou a
trabalhar, estava tão atormentada e com medo de Davis que só conseguia filmar
três horas por dia, e teve que voltar ao hospital, com apenas três cenas
rodadas. Obviamente ela teve de ser substituída. As primeiras opções eram
Katherine Hepburn e Vivian Leigh para o papel de Miriam. Hepburn sequer
retornou as ligações do estúdio e Leigh disse a seguinte negativa: “Não,
obrigado. Eu posso até aguentar olhar para Joan Crawford às seis horas da manhã,
mas certamente não para Bette Davis”. A velha deveria ser uma megera! Barbara
Stanwyck e Loretta Young foram as próximas a serem procuradas, que também
recusaram o papel. Young por sua vez disse: “Eu não acredito em histórias de
terror para mulheres e eu não faria um papel desses nem que estivesse passando
fome”. Então tá. E fato que as duas eram amigas de Crawford também. No final,
por própria indicação de Davis, Olivia de Havilland foi chamada, pois as duas
já haviam contracenado juntas. Crawford só ficou sabendo que havia sido
substituída no hospital, ao ouvir pelo rádio. Sua reação foi jogar um vaso de
flores contra a parede. Para finalizar o post, um trecho retirado da biografia
de Bette Davis escrita por Charles Hugham, o qual compactuo com sua opinião:
“Dinheiro foi novamente o motivo pelo qual Bette foi forçada a tomar uma
decisão espantosa no verão de 1964. Inacreditavelmente, concordou em
co-estrelar com Joan Crawford outro melodrama de Robert Aldrich, Com a
Maldade na Alma. O script dava-lhe o papel de uma assassina suspeita de um novo
crime, que é levada à loucura por parentes implacáveis. Trechos plagiados por
atacado de outros filmes, confrontações desabridas, uma mixórdia de elementos
de teatro de marionetes certamente não supriria a base para uma continuação
digna do entretenimento proporcionado por O Que Terá Acontecida com Baby
Jane?”. Assino embaixo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/22/169-com-a-maldade-na-alma-1964/
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