terça-feira, 9 de junho de 2015

#169 1964 COM A MALDADE NA ALMA (Hush…Hush, Sweet Charlotte, EUA)


Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Henry Farrel, Lukas Heller
Produção:Robert Aldrich, Walter Blake (Produtor Associado)
Elenco: Bette Davis, Olivia de Havilland, Joseph Cotten, Agnes Moorehead, Victor Buono

Com o sucesso de público e crítica de O Que Terá Acontecido com Baby Jane?, Robert Aldrich tentou mais uma vez repetir a mesma fórmula, trazendo novamente as desafetas Bette Davis e Joan Crawford sob sua batuta, utilizando um roteiro escrito por Henry Farrel e Lukas Heller, e apostando no terrorpsycho-biddie que ele mesmo ajudou a fomentar. O resultado em Com a Maldade na Alma, ficou anos luz do filme anterior. Talvez seja a metragem longa demais (133 minutos), talvez seja o começo impactante e avassalador que vá caindo no marasmo com o decorrer do filme, talvez seja o uso da mesma fórmula e um final que você já imagina que terá uma reviravolta assim como em Baby Jane, talvez a substituição de Joan Crawford por Olivia de Havilland por problemas de saúde/ aporrinhação de Davis. Tudo isso junto fez o filme não funcionar da forma que deveria. Afinal é impossível se equiparar a um clássico anterior. Não que Com a Maldade na Alma seja ruim. Esse irmão bastardo de Baby Jane é simplesmente… Desnecessário, podemos assim dizer. Com a mesma estrutura narrativa e enredo parecidíssimo, Com a Maldade na Alma começa em um suntuosa festa em 1927, quando a jovem Charlotte está preste a fugir com John Mayhew, homem casado que é seu amante, dissuadido de última hora por ameaças feitas pelo pai de Charlotte, Big Sam (Victor Buono) e dá um bolo na garota na tão importante noite. Em seguida, ele é brutal e misteriosamente assassinado, tendo sua mão e cabeça decepados por um cutelo. Inclusive o corte da mão é chocantemente feito em close. Todas as suspeitas recaem sobre Charlotte, que aparece na festa com seu vestido todo ensanguentado e transtornada. Passam-se 37 anos e Charlotte, agora interpretada por Bette Davis, vive enclausurada na mansão da família em Baton Rouge, desequilibrada, impulsiva, infantil e remoendo a culpa durante todos estes anos do assassinato de seu grande amor. Para auxiliá-la, somente a empregada fiel da casa, Velma, interpretada por Agnes Moorehead, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel. Só que a construção de uma ponte e estrada no local obriga que Charlotte saia da casa, desapropriada pelo Estado, e na tentativa de conseguir ficar por lá, terá a ajuda de dois velhos conhecidos, o Dr. Drew (Joseph Cotten) e sua prima Miriam (de Havilland). Ambos já tiveram um caso no passado, mas Miriam deixou o local logo após o escândalo, tornando-se uma mulher bem sucedida e confiante. Esse é o ponto de partida para uma interminável sessão de intrigas e psicose, onde nada é o que aparenta ser e todos parecem utilizar-se de máscaras. Neste meio tempo, um jornalista inglês aparece em Baton Rouge para investigar a história e tentar solucionar porquê Jewel Mayhew, viúva de John, nunca acionou a seguradora para receber a apólice pela morte do marido. A situação começa a ficar cada vez mais insustentável, e a sanidade de Charlotte piorando a tal ponto, que ela começa a ter alucinações pesadíssimas, inclusive de ver o morto-vivo na escadaria do casarão, até acidentalmente atirar no Dr. Drew, matando-o. Daí cabe a Miriam agir como cúmplice e ajudar a despachar o corpo do antigo amante no rio.
ALERTA DE SPOILER. Leia por conta e risco ou pule para o próximo parágrafo.
É então que no terceiro ato, depois de duas horas de filmes e de muito vai e vem na trama, que se você já assistiu O Que Terá Acontecido com Baby Jane?, sacará qual será o final, que é praticamente idêntico. Em ambos a personagem de Bette Davis não tem culpa pelo acontecido, e viveu uma mentira durante toda a vida, vítima de culpa e remorso. Neste caso, John foi morto pela própria esposa, que ficou sabendo da traição do marido por fofoca de Miriam. E a morte de Drew também foi um embuste, sendo que ele está vivo e as balas do revólver que Charlotte usou eram de festim. Claro que Charlotte vai descobrir tudo isso e sua inocência durante todos estes anos e se vingar dos dois salafrários, redimindo-se perante ao espectador no final da película. Mas agora eu reservo o momento Nelson Rubens, pois realmente o mais interessante de Com a Maldade na Alma foram os bastidores da produção, que era para contar mais uma vez com a dupla Davis e Crawford. Fato é que Davis anunciou logo de cara que não filmaria nenhuma cena com Crawford. Nas diversas cenas em que elas aparecem juntas, Aldrich deveria usar um dublê de corpo ou tomadas por cima dos ombros. Claro que isso seria impossível e o diretor não aceitou. O clima no set ficou tão pesado e a tensão das duas senhoras aumentou de tal forma que Crawford acabou surtando, adquirindo uma doença psicossomática diagnosticada como infecção nas vias respiratórias e foi parar no hospital. Quando voltou a trabalhar, estava tão atormentada e com medo de Davis que só conseguia filmar três horas por dia, e teve que voltar ao hospital, com apenas três cenas rodadas. Obviamente ela teve de ser substituída. As primeiras opções eram Katherine Hepburn e Vivian Leigh para o papel de Miriam. Hepburn sequer retornou as ligações do estúdio e Leigh disse a seguinte negativa: “Não, obrigado. Eu posso até aguentar olhar para Joan Crawford às seis horas da manhã, mas certamente não para Bette Davis”. A velha deveria ser uma megera! Barbara Stanwyck e  Loretta Young foram as próximas a serem procuradas, que também recusaram o papel. Young por sua vez disse: “Eu não acredito em histórias de terror para mulheres e eu não faria um papel desses nem que estivesse passando fome”. Então tá. E fato que as duas eram amigas de Crawford também. No final, por própria indicação de Davis, Olivia de Havilland foi chamada, pois as duas já haviam contracenado juntas. Crawford só ficou sabendo que havia sido substituída no hospital, ao ouvir pelo rádio. Sua reação foi jogar um vaso de flores contra a parede. Para finalizar o post, um trecho retirado da biografia de Bette Davis escrita por Charles Hugham, o qual compactuo com sua opinião: “Dinheiro foi novamente o motivo pelo qual Bette foi forçada a tomar uma decisão espantosa no verão de 1964. Inacreditavelmente, concordou em co-estrelar com Joan Crawford outro melodrama de Robert Aldrich, Com a Maldade na Alma. O script dava-lhe o papel de uma assassina suspeita de um novo crime, que é levada à loucura por parentes implacáveis. Trechos plagiados por atacado de outros filmes, confrontações desabridas, uma mixórdia de elementos de teatro de marionetes certamente não supriria a base para uma continuação digna do entretenimento proporcionado por O Que Terá Acontecida com Baby Jane?”. Assino embaixo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/22/169-com-a-maldade-na-alma-1964/

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