Direção: José Mojica Marins
Roteiro: José Mojica Marins
Produção: Arildo Iruam,
Geraldo Martins, Ilídio Martins
Elenco: José Mojica Marins,
Magda Mei, Nivaldo de Lima, Valeria Vasquez
Por uma coincidência do destino,
eis que o post de uma véspera de feriado religioso (Corpus Christi) é do maior
nome do cinema de terror no Brasil: José Mojica Marins. O pioneiro e desbravador
diretor do gênero fantástico no país, nos apresentou pela primeira vez em À Meia-Noite
Levarei Sua Alma, seu mais famoso personagem: Zé do Caixão. O cruel
e sádico coveiro nasceu de um pesadelo que Mojica teve certa noite, quando
sonhou que uma figura de capa preta e cartola o perseguia, até ser arrastado em
direção ao seu próprio túmulo, onde estava gravado seu nome e a data de sua
morte. Mojica acordou apavorado e com a ideia do personagem que se tornaria sua
marca registrada. O cineasta já tinha 27 anos e vários filmes em seu currículo,
todos devidamente ignorados por público, crítica e distribuidores, quando em
1963, resolveu juntar os alunos de sua escola de atuação, pegou emprestado móveis,
objetos cenográficos, construiu túmulos de papelão, roubou arbustos do Largo do
Arouche em São Paulo para fazer uma floresta cenográfica e em um estúdio de 20
metros quadrados, rodou a maioria das cenas do maior clássico do cinema de
horror nacional. Primeiro capítulo da trilogia que incluiria Esta Noite
Encarnarei no Teu Cadáver (1967) e A Encarnação do Demônio (2008),
narra a busca insana do coveiro Zé do Caixão em gerar um filho e perpetuar o
seu sangue. Sua esposa é estéril e ele acredita que a namorada de seu melhor
amigo seja a mulher ideal para lhe gerar a prole, e não mede esforços para
atender suas necessidades, matando a própria esposa, o amigo e estuprando a
jovem, que acaba por se suicidar. Mas antes, de se matar, ela roga uma praga
que à meia-noite, mesmo horário que o noivo foi enterrado, ela voltará para
puxar o pé do coveiro. Algumas passagens do filme são simplesmente
sensacionais, já que Zé adora aloprar com crendices populares esdrúxulas
tipicamente brasileiras. Por exemplo, logo no começo do filme, ele quer a todo
custo comer carne na Sexta-Feira Santa e troca o seguinte diálogo com a esposa:
– Hoje eu como carne de qualquer
jeito, nem que seja humana.
– Cuidado Zé, o diabo tenta.
– Se eu o encontrar, vou chamá-lo
para jantar em casa
Sensacional, não é? E logo mostra
na cena seguinte Zé se lambuzando com uma coxa de cordeiro enquanto a procissão
passa ao seu lado. O Dia de Finados também não passa batido da zombaria do
coveiro, desdenhando do dito popular de que quem sair à noite no dia 2 de
novembro pode correr o risco de ver a procissão dos mortos. Fora isso, ele comete
todo tipo de blasfêmia possível, como pegar o dinheiro e a cachaça deixada em
uma macumba na encruzilhada, profanar o sono dos mortos no cemitério e negar-se
a acreditar na religião, que segundo ele, é uma força criada pela ignorância. Agora
imagine esse filme sendo lançado em novembro de 1964, no começo do governo
militar, em um país carola e quadrado como o Brasil? Claro que foi exibido em
pouquíssimas salas e gerou um enorme bate-boca com os católicos que queriam de
qualquer jeito boicotar o lançamento do filme. Na verdade, o próprio brasileiro
sempre renegou o cinema transgressor de Mojica, que só foi ser reconhecido fora
do país, quando fez um baita sucesso nos EUA, ao ter suas fitas lançadas por lá
nos anos 90, sob o codinome de Coffin’ Joe. Hoje sua importância para o cinema
nacional é inegável. Fora que ele foi o apresentador do Cine Trash, que estreou
no ano de 1996 na Band e foi a mais importante iniciativa para o cinema de
terror já feita por uma emissora de TV no Brasil. Claro que há dezenas de
defeitos técnicos no filme, afinal estamos falando de Brasil e estamos falando
de um orçamento ridículo. Mas isso não deve se tornar um empecilho para ver
essa obra, e sim louvá-la, afinal, a interpretação de Mojica é intensa, com seu
figurino claramente inspirado em Bela Lugosi, a maquiagem, por mais tosca, até
que dá para encarar. À Meia-Noite Levarei Sua Alma ganhou o prêmio L’Ecran
Fantastique por sua originalidade, prêmio Tiers Monde da imprensa na Convention
du Cinema Fantastique e Prêmio Especial no Festival de Cine Fantástico y de
Terror de Sitges. Não poderia ficar de fora dessa lista!
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/29/175-a-meia-noite-levarei-sua-alma-1964/
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