Direção: Walter
Grauman
Roteiro: Luther
Davis
Produção: Luther Davis
Elenco: Olivia de Havilland, James Caan, Jennifer
Billingsley, Rafael Campos, William Swan, Jeff Corey, Ann Sothern
Se A DAMA ENJAULADA fosse lançado dez anos depois, com certeza seria um
filme exploitation: violento, sádico, recheado de requintes de crueldade e
tortura física. Mas como foi lançado em meio a inocência ainda presente nos
meados dos anos 60, não deixa de ser violento, sádico e com requintes de
crueldade, mas de uma forma bem mais atenuada e mais centrado na tortura
psicológica. Após O Que Terá Acontecido com Baby Jane? ter ressuscitado a
carreira de Bette Davis e Joan Crawford no cinema, todas essas velhas senhoras
oscarizadas enfrentando a decadência encontraram no terror/ suspense uma forma
de tentar recuperar suas carreiras. Então surgiu o
subgênero psycho-biddie, estrelado por mulheres maduras, na maioria das
vezes mentalmente instáveis, colocadas em situação de perigo. Além de Baby
Jane, os três principais exemplares do gênero foram lançados no mesmo ano,
1964: Almas Mortas de William Castle, com Joan Crawford no
elenco; Com a Maldade da Alma, de Richard Aldrich, mesmo diretor
de Baby Jane, com Bette Davis e Olivia de Havilland e A Dama
Enjaulada, que de longe, é o melhor de todos eles. A duas vezes ganhadora do
Oscar, Olivia de Havilland, também protagoniza esta película, execrada pela
crítica devido a sua violência e “mau gosto” e tendo até sido banida na
Inglaterra, que depois ganharia o status de uma das mais importantes obras do
suspense, que com certeza influenciaria uma penca de produções futuras (ao ver
o filme conseguiu me vir na cabeça facilmente Aniversário
Macabro de Wes Craven e Violência Gratuita de Michael
Haneke, por exemplo). Engraçado essa crítica conservadora. Na Internet, por
exemplo, encontrei uma resenha do filme escrita pelo crítico coxinha-mor, o
insuportável Rubens Ewald Filho, que dá até asco de ler. A Dama
Enjaulada merece ser respeitado, pois é um baita filme de suspense,
daqueles de incomodar desde sua abertura esquizofrênica, e jogar na nossa cara
a maldade e baixeza humana. O fio condutor do longa escrito por Luther Davis é
extremamente simples e muito bem executado: a Sra. Cornelia Hilyard (de
Havilland) é uma velha viúva, que sofreu um acidente que atingiu seus quadris e
a deixou debilitada, e fica presa durante uma queda de energia em um elevador
pessoal que usava para se locomover até o andar de cima de sua casa. Seu filho,
nitidamente infeliz rapaz de seus 30 anos, mimado, que vive sob a sombra da mãe
chantagista e super protetora, vai viajar no feriado de 4 de julho, quando o
incidente acontece deixando a mãe presa no elevador durante todo o quente final
de semana até a próxima terça-feira. Desesperadamente tocando a campainha de
emergência do elevador, nenhum transeunte dá a menor bola para o barulho,
apenas um mendigo alcoólatra, George L. Brady Jr. (Jeff Corey) que vê a
oportunidade de conseguir uma grana roubando os pertences da casa sem defesa, e
vendê-las em uma loja de penhores para lá de escusa, além das garrafas de vinho
para uso pessoal. O mendigo pede ajuda para uma prostituta velha e decadente,
Sade (Ann Sothern, outrora grande estrela da MGM) para fazer a rapa na
residência da Sra. Hilyard, mas chama a atenção de uma gangue de três
criminosos psicóticos, que resolvem pilhar a casa toda para eles (como é o
ditado? Ladrão que rouba ladrão…), e torturar tanto fisicamente o mendigo e a
prostituta, quando psicologicamente a velha viúva presa em sua jaula. Detalhe
para o líder da gangue, Randall Simpson O’Connel, primeiro papel do cinema de
um jovem James Caan, futuramente indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro
por O Poderoso Chefão, e que depois iria sentir na pele como é ser
inválido e ameaçado em Louca Obsessão. O que se segue então é o máximo da crueldade
para a época, com os três delinquentes tocando o terror com a velha e os outros
dois pobres diabos, chegando até seu clímax tenso e insuportável, que irá
resultar em morte e na bombástica revelação da carta deixada por Malcom Hilyard
para sua mãe pouco antes de viajar, que dará um ar chocante à trama e inflamará
a busca por sobrevivência da Sra. Hilyard, na tentativa de se livrar daquela
situação e enfrentar os marginais. Os trinta minutos finais do filme são
impactantes e incríveis. Outro personagem para ficar ligado, só por curiosidade
é no assistente do dono da loja de penhores, interpretado por Scatman Crothers,
nome inesquecível, que logo lembramos de seu papel como Dick Halloran em O Iluminado de Stanley Kubrick. O diretor Walter
Grauman, mais conhecido pelo seu trabalho em telefilmes e diversas séries de TV
como Assassinato por Escrito, Columbo, Os Intocáveis e V – A Batalha Final, faz
um filme coeso, com um bom ritmo, bem dirigido e com alguns enquadramentos
eclose ups inusitados. O roteiro vez por outra fica enfadonho,
principalmente nos solilóquios de Olivia presa sozinha no elevador. Quanto a
sua atuação em A Dama Enjaulada, está exagerada, como se deve ser em um
filme com um teor destes, porém sempre competente. Já a violência contida e a
falta de apreço pelo ser humano, hoje pode ser risível para o público, perto de
tanta bizarrice que já vimos dentro e fora das telas, mas para a época, como
disse anteriormente, causou bastante choque.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/23/170-a-dama-enjaulada-1964/
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