terça-feira, 23 de junho de 2015

#174 1964 MANÍACOS (Two Thousand Maniacs!, EUA)


Direção: Herschell Gordon Lewis
Roteiro: Herschell Gordon Lewis
Produção: David F. Friedman
Elenco: Connie Mason, William Kerwin, Jeffrey Allen, Ben Moore, Gary Bakeman

O diretor Herschell Gordon Lewis é um daqueles sujeitos xaropes e transgressores, e graças a ele, o cinema de terror deu um passo a mais na transformação para um gênero sangrento, impiedoso e violento, que viria a moldar o que seria o gore e qual seu impacto em futuras produções. Maníacos é um filme retardado, divisor de águas do gênero, ainda mais por ter sido feito na década de 60. Só para contextualizar, sabemos que foi a partir dos anos 70 e da Guerra do Vietnã que os filmes de terror adquiriram um tom sádico, pessimista e explícito, graças a produções como Aniversário Macabro e O Massacre da Serra Elétrica, além do ciclo splatter italiano e mesmo o giallo. Na década de 60, o que víamos eram os filmes da Hammer e as produções de Roger Corman baseado nos contos de Edgar Allan Poe. Se alguém quisesse fazer algo mais, digamos, violento ou contestador naquela época, tomava um pau da crítica e público, como Psicose de Alfred Hitchcock, A Tortura do Medo de Michael Powell ou Os Olhos sem Rosto de Georges Franju. Eis que surge Herschell Gordon Lewis em 1963 e lança o seminal gore Banquete de Sangue, uma podreira sem tamanho, com uma história ridícula e atores de quinta categoria, mas que era de um choque tremendo por suas cenas de mutilação, sangue à rodo, vísceras expostas e ideias de servir pedaços humanos em um bufê para uma deusa egípcia. Dando ênfase à violência gráfica ao invés do conteúdo e da técnica, H.G. Lewis assim criou o gore. No ano seguinte, ele faria sua, hã… obra-prima e mais famoso filme, Maníacos. O absurdo já começa com o teor da história. Seis viajantes são propositalmente obrigados a desviar o caminho de uma estrada e vão parar em uma cidadezinha sulista chamada Pleasant Valley, população duas mil pessoas (maníacas, segundo o título original), que é composta por rednecks tresloucados que querem comemorar o centenário da cidade. Mas não é o centenário de fundação não. É o centenário da destruição, quando os yankees invadiram o local durante a Guerra Civil Americana e mataram todo mundo por lá. Claro que os seis desafortunados não sabem nada disso, e acreditam serem mesmo os convidados de honra do prefeito Buckman e parte de uma celebração. Exceto o professor Tom White e a jovem Terry Adams (ambos já haviam “atuado” em Banquete de Sangue). O que se segue é uma cidade inteira de confederados sedenta de vingança contra os viajantes do norte, colocando-os em jogos sangrentos dos mais bizarros, como rolar dentro de um barril cheio de pregos, ficar a mercê de uma pedra gigante que pode cair sobre sua cabeça quando o alvo é acertado por uma bola de tênis ou ter os membros amarrados em quatro cavalos diferentes para ser estraçalhado. Isso sem contar a primeira moça que é esquartejada e servida em um churrasco. E para piorar, ou melhorar, Lewis imprime uma ideia sobrenatural de cidade fantasma no final do filme. O engraçado, ou trágico, ou sei lá, é que Maníacos é muito mais contido em violência do que seu predecessor, Banquete de Sangue. As cenas são fortes, mas não são tão explícitas quanto o filme anterior de Lewis (ou outros posteriores, vide o apelável The Wizard of Gore). Talvez para abrandar a censura. E nota-se, por incrível que pareça, um certo avanço técnico também, se é que podemos chamar de avanço técnico, principalmente no uso maior de figurantes e de recursos narrativos. O filme é ruim de doer, mas é aquele tipo de diversão sem precedentes, onde o baixo orçamento, as atuações toscas, a edição precária, trilha sonora bisonha, roteiro esdrúxulo sem razão de ser e as técnicas de filmagem são tão infelizes, que o filme torna-se essencial e garante boas risadas, com direito a muito sangue, violência, banalização da vida humana e dos valores da sociedade, e claro, humor. Tanto que suas exibições nos drive-in fizeram bastante sucesso e elevaram-no ao status de cult, ganhando até uma refilmagem em 2005, chamada de 2001 Maníacos, com Robert Englund, o eterno Freddy Krueger, fazendo o papel do prefeito Buckman.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/28/174-maniacos-1964/


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