Direção: Mario
Bava
Roteiro: Mario
Bava, Alberto Bevilacqua, Marcello Fondato (baseados nas obras de Ivan Chekhov,
F.G. Snyder, Aleksei Tolstoy)
Produção: Salvatore
Billitteri, Paolo Mercuri
Elenco: Boris Karloff, Michéle Mercier, Lidia
Alfoni, Mark Damon, Jacqueline Pierreux
Todo filme que você ler nos
créditos “regia di Mario Bava”, você pode crer que na maioria das vezes verá um
excelente filme de terror, afinal, Bava foi um dos mais brilhantes e técnicos
diretores italianos de todos os tempos. Aqui em As Três
Máscaras da Morte, mais uma vez ele mostra todos os seus recursos
narrativos e estéticos. Certo dia, Ozzy Osbourne e Tony Iommi estavam andando
na rua nos anos 60 quando viram o pôster de As Três Máscaras da Morte, porém
com o título que ele ganhou na Inglaterra: Black Sabbath. Maravilhados com
o cartaz, que trazia Boris Karloff em um cavalo segurando uma cabeça decepada
nas mãos, eles decidiram então trocar o nome da atual banda, The Earth, por
aquele. O resto é história… As Três Máscaras da Morte é um filme composto
de três contos de terror, dirigidos pelo maestro do macabro Mario Bava, que
desde o primeiro filme tardio como diretor, A Máscara de Satã, trouxe um novo olhar para os filmes de
horror, elevando o seu nível. Isso porque ele levou consigo toda sua
experiência adquirida como diretor de fotografia, criando uma certa
sofisticação visual, uso exagerado de cores vivas, jogos de luz e sombra,
enquadramentos minuciosos e abuso
de zooms e travellingsinovadores na época. Estrelado e
apresentado por Boris Karloff, o filme traz três elementos de horror diferentes
em seu enredo, mostrando toda a versatilidade do diretor em assustar a plateia
nas mais variadas formas: o primeiro, O Telefone, que podemos considerar a
protogênese do giallo, traz uma história de assassinato, vingança,
voyeurismo e sexualidade; o segundo, O Wurdalak é uma história russa de
vampiros; o terceiro e último, A Gota D’água, é uma história sobrenatural de
espíritos, ganância e vinagança. O Telefone, baseado em um conto de F.G. Snyder
é a história mais curta e “fraca” da três. Possui um enredo simples, mas que
funciona muito bem e cria uma clima de tensão crescente no espectador.
Basicamente Rosy (a estonteante Michèle Mercier), uma prostituta de luxo,
começa a receber ameaçadoras ligações de um desconhecido, jurando-a de morte,
que logo ela deduz ser seu antigo cafetão, Frank Rainer, que havia sido
libertado da prisão há pouco. Morrendo de medo, ela liga para Mary para pedir
ajuda. Detalhe que Mary é um ex-caso de Rosy, que até hoje não digeriu bem a
separação. O conto inteiro é rodado dentro do apartamento de Rosy, gerando um
clima de claustrofobia e colocando o lar como local não seguro, já que Rosy
está sendo vigiada constantemente e o perseguidor sabe de todos os seus passos.
O episódio em suas entrelinhas explora muito a tensão sexual nesse triângulo
amoroso Rosy / Mary / Frank, a possessão e controle e de maneira bem sutil, mas
óbvia, e o lesbianismo e o fetiche sexual, tema que era uma baita tabu na
década de 60. O Wurdalak, estrelado por Karloff, é o filme mais bem planejado e
executado, tanto falando do roteiro quanto da ambientação e dos elementos
utilizados aqui. Baseado em uma história do escritor russo Aleksei Tolstoy, o
filme pega emprestado elementos típicos dos filmes da Hammer, para contar a
história de uma família que vive isolada em uma lúgubre floresta e morre de
medo dos Wurdalaks, vampiros das lendas locais que suga o sangue apenas
daqueles que amam. Karloff é Gorca, o patriarca da família que sai em uma noite
para caçar um impiedoso assassino turco que rondava a região. A lenda dizia que
se daqui a cinco noites ele não voltasse, era para temer pelo pior que ele
haveria se transformado na criatura, e deveria ter a cabeça decepada e uma
adaga enfiada no coração. Quem se dá mal nessa história toda é Vladimir (Mark
Damon), um viajante que repudia as superstições locais, e que vai parar na casa
de Gorca pedindo descanso durante à noite, se apaixonando pela belíssima Sdenka
(Susy Anderson) e se metendo no meio de uma macabra trama familiar. Vale
prestar muita atenção na cena em que o neto de Gorka é transformado e perambula
pelo exterior da casa logo após sair da cova, chorando para seus pais que está
com frio. É de arrepiar todos os pelos do braço, da nuca, e de onde mais os
tiver. Para terminar, A Gota D’água é a cereja do bolo, e o melhor do três
contos. Simples, contido mas de um pavor sem tamanho. Se nego chegar e falar
que não sentiu medo da expressão daquela velha morta, pode ter certeza que está
mentindo. São pequenos detalhes que compõe o aspecto assustador da história da
enfermeira Helen Chester que é chamada no meio de uma noite de tempestade para
preparar o corpo de uma velha psíquica que acabara de morrer durante uma de
suas sessões. A velha rígida, estatelada na cama com uma expressão grotesca no
rosto é algo ímpar no cinema de horror. Movida por uma ganância suprema, a
enfermeira rouba um valioso anel de diamantes do dedo da velha. É aí que entra
os tais detalhes: a mosca que aparece em seu dedo no lugar do anel, os
inusitados ângulos da câmera, as cores frias piscando intermitentemente no
apartamento da enfermeira e claro, a maldita gota d’água que fica pingando de
forma a atormentar a ladra, até que o fantasma da morta (ou materialização do
sentimento de culpa?) venha se vingar de lhe roubarem o precioso anel. Baseado
em um conto de Ivan Chekhov. Três histórias com os finais pessimistas, mostram
uma verdadeira aula do que é fazer um filme de terror: uso de temas como
obsessão, sexualidade, destruição da unidade familiar, ganância e
arrependimento e tecnicamente falando, explora iluminação rica, jogo de cores,
direção de arte deslumbrante, fotografia muito bem trabalhada e todo
o mise-en-scène detalhado para fazer cada história funcionar de seu
jeito peculiar, mesmo com contos que variam em sua essência e eficácia. Nos
EUA, As Três Máscaras da Morte foi lançado completamente modificado
pela AIP (American International Pictures), perdendo toda a narrativa
estrutural que Bava havia criado no original, para que tivesse um efeito
cumulativo, invertendo a ordem dos contos, além de sofrer alteração da
excelente trilha sonora de Roberto Nicolosi, manipulação dos frames para
abrandar a censura, narrações intertítulos de Karloff e um final com uma
desnecessária sugestão sobrenatural adicional (dirigida por Salvatore
Billiteri) na sequência O Telefone. Aqui no Brasil chegou a ser lançado em DVD
pelo selo Dark Side, em mais uma caprichada edição da Editora Works em meados
dos anos 2000.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/20/167-as-tres-mascaras-do-terror-1963/
Nenhum comentário:
Postar um comentário