Direção: Antonio
Margheriti
Roteiro: Ernesto
Gastaldi, Edmond T. Gréville, Antonio Margheriti (baseado na obra de Frank
Bogart)
Produção: Marco
Vicario
Elenco: Rossana
Podestà, Georges Riviére, Christopher Lee, Jim Dolen, Anny Degli Uberti
Um filme de Antonio
MAR-GHE-RI-TI!!! MAR-GHE-RI-TI!!! Sim, mais um dos importantíssimos diretores
italianos, que serviu como fonte de inspiração para o cineasta Quentin
Tarantino, que gentilmente homenageou-o dando seu nome para o falso personagem
de Eli Roth (outro diretor de filmes de terror, por sinal) em Bastardos
Inglórios, em uma das cenas mais antológicas do filme, em que ele o pronuncia
cantarolando ao melhor sotaque italiano caricato. Pois bem, A Mansão do
Homem sem Alma é mais um excelente exemplar do cinema de terror
italiano, extremamente frutífero durante as décadas de 60, 70 e 80, com seus
mais diversos gêneros como giallo, splatter, e o ciclo canibal,
responsáveis por uma excelente safra de diretores que tinham em comum o sangue,
sexo e violência explícita, como Mario Bava, Sergio Martino, Dario Argento,
Lucio Fulci, Michele Soavi, e o nosso querido Antonio Margheriti, que assinava
seus filmes com o pseudônimo americanizado de Anthony Dawson, algo muito comum
entre os diretores italianos. Fato é que A Mansão do Homem sem Alma é
uma espécie de percursor do gênero pois aqui veríamos diversos elementos
cinematográficos e estéticos que seriam utilizados nos filmes da terra da bota
e que o tornariam característicos: a dose exagerada de violência estilizada e
sangue, assassinos impiedosos, belas mulheres indefesas, situações
claustrofóbicas ou de cárcere e completo domínio da fotografia, que tirariam
todo e qualquer foco do orçamento baixo, primando pela excelência do jogo de
cores, geralmente quentes, com um pé no barroco e com vermelho vivo acentuado,
acompanhada sempre por uma bela direção de arte e a trilha sonora contundente,
aqui, assinada por Riz Ortolani, o mesmo que criou a famosíssima trilha sonora
de Cannibal Holocaust. A trama, inspirada no livro de Frank
Bogart, traz a história do casal Max e Mary Hunter (respectivamente Georges
Rivière e Rossana Podestà), que mudam-se para o castelo do pai de Max na
Alemanha, que hoje funciona como uma espécie de museu negro, devido aos
diversos aparatos de tortura medieval que existem no local, utilizados por um
impiedoso carrasco, ancestral de Max. A tal Virgem de Nuremberg do título
original do filme, é um instrumento de tortura, que consiste em uma esquife com
pregos em seu interior onde as mulheres pecadoras e infiéis eram colocadas. E
para não perder tempo, logo antes dos créditos vemos Mary de camisola andando
pelos corredores do castelo em uma noite de tempestade, encontrando essa câmara
de tortura e uma jovem no interior da Virgem, com seus olhos perfurados pela
máquina. Max tenta fazer com que Mary acredite que tudo não passou de um
pesadelo, mas o clima soturno do castelo e seus funcionários estranhos, entre
eles a governanta Marta e o zelador do castelo e amigo íntimo do falecido pai
de Max, o deformado Erich (interpretado por um contido Christopher Lee com
coadjuvante) não ajudam muito, além do policial do FBI John Selby que vive
rondando o castelo, e do doutor da família, que encontra um tufo de cabelos
loiros na cena do crime. Em suas incursões noturnas pelo castelo sombrio, Mary
tem a certeza que não era sonho coisíssima nenhuma quando depara com o carrasco
e sua sinistra roupa vermelha e capuz preto na cabeça perseguindo-a, ou quando
é testemunha ocular do vilão torturando uma outra garota, usando um antigo
método medieval, colocando um rato esfomeado dentro de uma jaula e abrindo-a no
rosto da vítima, em uma das cenas mais gore do filme, com closes do
rato devorando lábios e nariz da pobre coitada. Todos as suspeitas, obviamente
vão cair sobre Max e o sinistro Erich, mas na verdade, no terceiro ato temos a
revelação final da verdadeira identidade do carrasco.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e
risco.
Na verdade, o assassino demente é
o pai de Max, que lutou com os nazistas durante a segunda guerra, e depois
acabou se tornando uma vítima de suas experiências bizarras devido a um ato de
traição. Ele teve seu rosto escalpelado e transformado em uma grotesca “caveira
humana” (muito bem feita pelo próprio Margherite como maquiador, agora usando o
pseudônimo de Anthony Matthews) , perdendo completamente sua sanidade e
cometendo esses horrendos assassinatos. Sua face lembra muito do personagem
Caveira Vermelha, inimigo do Capitão América dos quadrinhos, que também era
nazista. A Mansão do Homem sem Alma é o filme que melhor ilustra o apreço
de Margherite pelo macabro e fez com que pela primeira vez o público italiano
tivesse contato com a selvageria do horror explícito, algo que seria muito
corriqueiro futuramente. Mas apesar dos efeitos, que são cruéis e bem
trabalhados em detrimento do pouco dinheiro, o filme deve muito também pela sua
atmosfera gótica, e certos nuances modernos, como o fato de a história se
passar em um castelo medieval, mas com uma trilha sonora Jazz nos seus créditos
iniciais, algo que o deixa contemporâneo e funciona até como inspiração para o
recente surto de filmes de torture porn.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/05/17/165-a-mansao-do-homem-sem-alma-1963/
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