domingo, 18 de setembro de 2016
domingo, 11 de setembro de 2016
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
#706 1999 O ÚLTIMO PORTAL (The Ninth Gate, EUA, França, Espanha)
Direção: Roman
Polanski
Roteiro: John
Brownjohn, Enrique Urbizu, Roman Polanski (baseado no livro de Arturo
Pérez-Reverte)
Produção: Roman
Polanski; Mark Allan, Antonio Cardenal, Iñaki Nuñez, Alain Vannier
(Coprodutores); Adam Kempton (Produtor Associado); Michel Cheyko, Wolfgang
Glattes (Produtores Executivos)
Elenco: Johnny
Depp, Frank Langella, Lena Olin, Emmanuelle Seigner, Barbara Jefford
Roman
Polanski retorna ao gênero em O Último Portal, voltando a tratar de um
tema que referencia o satanismo e pactos com o diabo, como havia feito em seu
seminal clássico O Bebê de Rosemary. O Último Portal é aquele tipo de filme oito ou oitenta,
que uns adoram e outros acham uma verdadeira bomba na carreira do diretor. Eu
fico no meio termo, pois particularmente gosto bastante do filme,
principalmente por conta da sua trama, escrita a seis mãos por John Brownjohn,
Enrique Urbizu e o próprio Polanski, baseado no livro “O Clube Dumas”, de
Arturo Pérez-Reverte, e da atuação de um Johnny Depp sério, sórdido, cínico e
ganancioso, distante da afetação de costume de seus papeis. Os pontos que jogam
contra a produção é seu problema de ritmo, uma vez que o filme vai perdendo sua
força no decorrer da narrativa, a banalização do terceiro ato, e as demais
péssimas atuações (exceto Frank Langella, a não ser quando assume um viés
caricato – exatamente no problemático terceiro ato), como de Lena Olin e
principalmente da misteriosa personagem de Emmanuelle Seigner (então esposa do
diretor) que é completamente inexpressiva e apática, para um papel que deveria
ser de tremendo impacto tendo em vista quem ela representa na verdade. Depp faz
Dean Corso, um especialista em livros raros que é contratado pelo colecionador
Boris Balkan (Langella), detentor de uma extensa coleção de livros sobre
demonologia, e acabara de adquirir um raro exemplar de “Os Nove Portais Para o
Reino das Sombras”, comprado de seu antigo dono pouco antes de se suicidar.
Reza a lenda que esse livro foi escrito por Aristide Torchia (que fora queimado
na inquisição por conta disso) e publicado em 1666 (viu o que eles fizeram
aqui?) e o próprio Demônio em si foi o coautor. Neste livro, que só possui três
exemplares no mundo todo, contém nove gravuras que se combinadas de forma
correta com seu texto, irá abrir esses portais para as trevas e evocar o
Coisa-Ruim que lhe concederá seus desejos. Balkan gasta uma quantia exorbitante
de Obamas para que Corso encontre as outras duas cópias, uma em posse de Victor
Fargas (Jack Taylor) em Portugal e outra da Baronesa Kessler (Barbara Jefford)
na França, e compare com sua própria edição para atestar a sua autenticidade e
determinar qual delas é a única verdadeira. Os olhos de cifrão de Corso brilham
e ele embarca em uma jornada em meio a um universo oculto, descobrindo que as
gravuras diferem nas três edições, umas assinadas por Torchia e outra por um
tal de LCF, carinhosamente conhecido como Lúcifer. O problema é que Corso irá
se embrenhar em um perigoso mundo que envolverá assassinato, conspirações e
seitas demoníacas, com a cabeça a prêmio e sempre vigiado de perto e protegido
pela presença de uma dúbia mulher (Seigner) que passa a segui-lo. Toda a sua
investigação converge na obsessão de Liana Tefler (Olin), viúva de Andrew
Tefler (Willy Holt), que deseja recuperar o livro que seu marido vendera a
Balkan antes de se suicidar, a todo custo, para poder praticar seus rituais de
magia negra e invocar o Diabo. A construção da atmosfera que Polanski imprime
funciona muito bem, misturado com o tom sóbrio que o filme se desenrola, a
excelente fotografia e a trilha sonora de Wojciech Kilar, o mesmo de Drácula de Bram Stoker. O
final acaba esbarrando no cartunesco em uma conclusão um tanto quanto clichê e
maniqueísta, mas é aí que Depp e Langella seguram a barra. O Último Portal acaba sendo salvo pela qualidade
indiscutível de Polanski na direção, e apreço do diretor pelo tema (dizem as
más línguas que ele próprio fez um pacto com o Tinhoso), assim como a qualidade
do texto, mas apesar de ser um bom filme, acaba se perdendo um pouco e fica
aquém de todo o potencial que poderia alcançar, e isso gera certo
desapontamento e os sentimentos divididos com relação ao mesmo.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/20/706-o-ultimo-portal-1999/
#705 1999 A TEMPESTADE DO SÉCULO (Storm of the Century, EUA/Canadá)
Direção: Craig
R. Baxley
Roteiro: Stephen
King
Produção: Robert
F. Phillips, Thomas H. Brodek; Bruce Dunn (Produtor Associado); Mark Caliner,
Stephen King (Produtores Executivos)
Elenco: Tim
Daly, Jeffrey DeMunn, Debrah Farentino, Dyllan Christopher, Colim Feroe, Soo
Garay, Spencer Breslin, John Innes, Casey Siemaszko
“Dê-me
o que eu quero, e eu irei embora”. Essa é a assustadora frase chave de A Tempestade do Século. Só
acho que Andre Linoge deveria ter dito antes o que ele queria e a população da
ilha de Little Tall, no Maine, dado logo essa bagaça a ele, por que olhe, é
dureza aguentar as suas mais de quatro horas de duração. Posso estar sendo
polêmico ao dizer isso, porque na real, A
Tempestade do Século é um dos melhores trabalhos de Stephen King
para a TV (e até para o cinema se ampliarmos a coisa), um puta horror
psicológico, com desdobramentos verdadeiramente sinistros, um vilão dos mais
interessantes, e um final que é um soco no estômago, mas ficar na frente da
televisão vendo por 257 minutos é de cair o cu da bunda. Fácil fácil eu
conseguiria editá-lo em duas horas! Claro, vamos pensar que estamos falando de
uma minissérie que fora exibido em três episódios (aqui no Brasil chegou as
locadoras naqueles VHS de fita dupla), mas ao mesmo tempo que ele tem o mérito
de apresentar e fundamentar bem sua grande leva de personagens (algo que
Stephen King simplesmente tem um tesão absurdo), ele cai na armadilha do Made for TV, com atores qualquer
nota, efeitos especiais baratos e a direção nada inspirada e burocrática de um
zé ninguém como Craig R. Baxley. E sério, a gente não precisa ficar tanto tempo
aguentando isso. Só que temos Andre Linoge (com direito a seu sobrenome sendo
uma anagrama para Legião) que é um PUTA vilão, a única interpretação fora da
curva de todo o elenco, feita por Colim Feroe, que nos proporciona sempre os
melhores momentos de deleite de A
Tempestade do Século. O sujeito é maldade pura e acompanhamos sua
chegada à pequena e pacata ilha, onde todos os moradores se ajudam e vivem em
harmonia na comunidade, e sabem muito bem guardar um segredo (lembrando que
Little Tall é a mesma ilha onde é situada a história de Eclipse Total e
os acontecimentos que envolveram Dolores Claiborne, citados no roteiro), para
tocar o terror, naquele excelente argumento do forasteiro chegando para abalar
o status quo, ainda mais
quando a ilha é castigada por uma terrível tempestade que parece não ter fim. Linoge,
munido de sua bengala com um lobo de prata na ponta, aparece já assassinando
uma velha senhora e passa a influenciar todos os locais, revelando seus mais
terríveis segredos. Como o próprio Linoge diz, a cidade está cheia de
adúlteros, pedófilos, ladrões, glutões, assassinos, valentões, patifes e
idiotas ciumentos. Tá bom para você? isso sem contar a forma que ele vai
controlando mentalmente os moradores para matarem uns aos outros ou cometerem
suicídio. Só que tudo pode cessar quando o único desejo dele for cumprido: lhe
darem o que ele quer, que ele irá embora. Foda é que o maluco fica embaçando até
metade do terceiro episódio para finalmente dizer o que diabos ele quer, e
enquanto isso, ao mesmo tempo que vemos cenas assustadoras do poderoso controle
de Linoge nos munícipes (destaco aí a excelente cena do sonho coletivo que
revela o que irá acontecer a todos se não lhe for entregue o que ele deseja) e
o teor de suas ameaças, temos enrolação desnecessária atrás de enrolação
desnecessária que eu deixaria facilmente na lata do lixo da sala de edição. Mas
King está afiadíssimo no seu texto, no suspense e crescente, no sentimento de
impotência de todos, inclusive do espectador, contra aquela força maligna, na
atmosfera claustrofóbica de ninguém poder fugir da ilha por conta da
tempestade, e no embate maniqueísta entre Linoge e o xerife Michael Anderson (Tim
Daly), o único que parece ser razoável, uma pessoa de bem, mas que está fadado
a sucumbir perante o desejo coletivo e a terrível escolha que os moradores
terão de tomar para aquela ameaça demoníaca ir embora, nem que para isso eles
devam pagar um preço muito alto. Quanto a isso, outro ponto que eu questiono é
a sequência do sorteio das pedras, para descobrirmos quem deverá entregar para
Linoge o que ele quer, que demora uns longos e eternos dez minutos de falsa
tensão construída, uma vez que obviamente já sabemos logo de cara qual será o
resultado. Mas apesar do saco de Papai Noel que se precise para assistir A Tempestade do Século na íntegra, pelo
menos ele é uma boa produção audiovisual, com um roteiro acima da média e uma
construção narrativa melhor que outras empreitadas de King e sua obra na
televisão, como A Dança da Morte ouTommyknockers – Tranquem as Suas Portas. E
talvez esse seja o grande trunfo, o fato do Mestre do Terror tê-lo escrito para
o formato de minissérie da ABC, e depois ter sido novelizado pelo próprio,
seguindo o caminho inverso ao de costume.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/19/705-a-tempestade-do-seculo-1999/
#704 1999 STIGMATA (EUA)
Direção: Rupert
Wainwright
Roteiro: Tom
Lazarus, Rick Ramage
Produção: Frank
Macuso, Jr.
Elenco: Patricia
Arquette, Gabriel Byrne, Jonathan Price, Nia Long, Thomas Kopache, Rade
Serbedzija, Enrico Colantoni, Dick Latessa
Foi
exatamente em dezembro de 1999, poucos dias antes de acabar o milênio, que fui
aos cinemas assistir Stigmata. E
como eu havia adorado o filme lá no auge dos meus 17 anos! Sempre
considerei O Exorcista meu filme de terror preferido de todos os
tempos, e ver um bom longa com essa temática de possessão e preceitos
religiosos foi uma experiência altamente interessante. Hoje, passados 16 anos
de sua estreia, o filme perdeu bastante da sua força e de seu impacto inicial,
mas ainda assim é um dos bons exemplares do cinema de terror que surgiu ali no
final dos anos 90, em meio a questionamentos religiosos e dúvidas por conta da
chegada do Século XXI, e também um dos mais emblemáticos, que ajudaram a
definir o final daquela década. Mais que isso, Stigmata fez
um belo trabalho nas bilheterias e tornou-se um hit.No site Christian Answers
(não, eu não o leio, foi apenas uma pesquisa para esse meu texto, tá), um dos
leitores escreveu que Stigmata é
“um filme que mistura o misticismo cristão com cinismo narcisista, resultando
em um produto que glorifica satã mais do que glorifica Deus”. Tá, críticas
cristãs de cinema não merecem ser levadas nada a sério, mas ao meu ver, essas
qualidades aí citadas ajudam a atestar a eficácia do roteiro do filme, que
coloca a verdadeira Igreja Católica como inimiga, com seus círculos secretos,
conchavos e conspirações por poder, influência, controle e dinheiro cada vez
maiores, algo que remete a Santa Sé desde que ela fora criada, e não algum
demônio que resolve possuir o corpo de uma garota incauta. Na verdade, ao
chegarmos em todas as conclusões do longa, vemos que na verdade o demônio não
tem papel algum na história, apesar de acreditarmos que sim, a personagem de
Patrícia Arquette está possuída pelo capeta, mas na real, sua possessão é muito
mais religiosa e cristã do que poderíamos imaginar (o que também não faz lá o
menor sentido, mas tudo bem, vamos deixar na conta da boa e velha suspensão da
descrença). Talvez o mais interessante ponto do filme de Rupert Wainwright é
explorar a questão dos estigmas, fenômeno onde em determinadas pessoas,
geralmente profundamente religiosas, surgem as chagas de Cristo, que remetem
aos ferimentos sofridos durante a crucificação. São cinco essas chagas: a
perfuração nos pés, punhos, a coroa de espinhos, as chibatadas e por último, a
lança que atravessou seu peito. Frankie Paige (Arquette) é uma
cabelereira clubber de
Pittsburgh, ateia confessa, que passa misteriosamente a ser acometida por esses
ferimentos. O padre Andrew Kiernan (Gabriel Byrne) que faz parte de uma divisão
do Vaticano chamada Congregação da Causa dos Santos, é o responsável por
percorrer o mundo em busca de provas científicas que atestem ou desmistifiquem
milagres. Ele é enviado para uma cidade fictícia no sudeste do Brasil, Belo Quinto,
para solucionar o caso da estátua de uma santa que chorava sangue, e encontra
toda uma comunidade religiosa em luto pela morte de seu pároco, o Padre
Alameida (alguém já viu aí um brasileiro com sobrenome de Alameida? Eu conheço
vários Almeidas…). Um brasileirinho típico retrato da nossamalandrági rouba o terço do
padre e vende em uma feira local, e uma gringa o compra, enviando para sua
filha nos EUA, que é exatamente a Frankie. Os estigmas começam a surgir logo
após o contado dela com o artefato religioso. Pois bem, Kiernan é enviado para
investigar a recém estigmatária, e acaba descobrindo uma conspiração maciça
dentro da Igreja, onde três padres, incluindo Alameida, estavam traduzindo um
documento conhecido como o evangelho de Tomás, escrito em aramaico, que é um
dos evangelhos apócrifos, e acredita-se ser as verdadeiras palavras de Jesus
para seus discípulos, e foram silenciados com seu trabalho interrompido. Esse
documento existe de verdade, só que está escrito em copto, uma antiga língua
egípcia baseada no alfabeto grego. Só que essas palavras, se atestadas a sua
veracidade, implodiriam a Igreja Católica do jeito que nós conhecemos, pois
prega que Jesus está em todo lugar, e não necessariamente, sobre o teto de um
igreja ou uma instituição de doutrina. Claro que os carolas não iam querer
isso. Então logo o Cardeal Daniel Houseman (Jonathan Pryce, que hoje reprisa um
papel de líder religioso fanático como o Alto Septão de Game of Thrones, que obrigou Cersei Lannister a andar pelada
pelas vielas de Porto Real na temporada passada) descobre a abelhudice de
Kiernan e o perigo real que Frankie representa ao Vaticano, e resolve então
usar os bons e velhos métodos da Igreja utilizados na idade média, e dar cabo
de seu probleminha. Mas durante o processo, além de rolar um clima entre a moça
e o padre, vamos sendo apresentados a um comportamento errático de Frankie que
dá a entender que ela está de fato possuída por um demônio, uma vez que os
estigmatários acabam se tornando muito próximos de Deus, e em contrapartida,
atormentados pelas tentações do mal, como aconteceu com o próprio JC durante
seus 40 dias no deserto onde foi tentado pelo Coisa-Ruim. Isso claro,
representado por todos os elementos visuais básicos do subgênero, como mudanças
de feição, vozes guturais (com a mais clássica cena da frase “O mensageiro não
é importante”), verbalização de línguas mortas, telecinese e levitação.
ALERTA DE SPOILER. Pule os
próximos dois parágrafos ou leia por sua conta e risco.
O fato
que escapa um pouco do sentido em meio a um enredo interessantíssimo, é por que
cargas d’ água Frankie começou a sofrer dos estigmas, sendo que apenas pessoas
extremamente religiosas apresentaram as chagas de Cristo no decorrer da
história da humanidade, sendo o primeiro, São Francisco de Assis, que só teve
duas dela, e a moça caminhava para a quinta e fatal, mostrando-se a mais devota
e abençoada dos seres humanos que já caminharam sobre a Terra? Daí ligando os
pontos baseado na investigação de Kiernan que descobrimos que na verdade ela está
possuída pelo espírito do Pe. Alameida, que era um estigmatário e quer foder
com a porra toda da Igreja. Agora como diabos ele tem poderes supernaturais (a
levitação, telecinese…) e pirocinese, como vemos na cena final, não me
pergunte. Aliás, falando sobre o desfecho de Stigmata, temos
a questão do final alternativo, que para mim, funciona muito melhor do que
aquele usado na versão de cinema, mais pessimista, onde ela acaba falecendo nos
braços do Pe. Kiernan, após a tentativa de assassinato de Houseman e seus
asseclas, como um mártir, e menos floreada, mostrando que Frankie sai daquela
experiência quase como uma santa, canonizada, como a reencarnação de São
Francisco de Assis misturada com a Virgem Maria e tudo de bom de todos os
santos, e provavelmente viverá feliz para sempre com o padre bonitão. Mas que
vai detonar a Igreja apesar de tudo, claro, já que em ambos os finais, o agora
ex-padre vai até Belo Quinto na busca dos documentos traduzidos por Alameida. Bem,
como disse lá em cima, Stigmata é
um desses filmes chaves e emblemáticos do final dos 90’s (quem não curtia
aquela música tema do Chumbawamba, e quer porra mais anos 90 que
CHUMBAWAMBA???), que entra no rol dos melhores do subgênero possessão, padres,
Igreja Católica e afins.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/18/704-stigmata-1999/
#703 1999 O SEXTO SENTIDO (The Sixth Sense, EUA)
Direção: M.
Night Shyamalan
Roteiro: M.
Night Shyamalan
Produção: Kathleen
Kennedy, Frank Marshall e Barry Mendel, Sam Mercer (Produtor Executivo)
Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni
Collette, Olivia Williams, Trevor Morgan, Donnie Wahlberg, Mischa Barton
O Sexto Sentido foi
um verdadeiro marco do horror, trazendo de volta o interesse no terror
psicológico com elementos sobrenaturais, e sendo um sucesso incrível de
bilheteria por todo o globo, exatamente por trazer um tema universal: a vida
após a morte. Fora que o final é uma das maiores reviravoltas da história da
sétima arte. O diretor indiano M. Night Shyamalan despontava forte como o novo
mestre do suspense, amplamente influenciado por Alfred Hitchcock, graças a essa
intrincada e muito bem elaborada produção que assustou muita gente, e fez com
que cada um que terminasse de vê-la pela primeira vez, quisesse assistir de
novo só para entender como deixou todas aquelas mensagens passarem batido e
claro, tentar procurar furos no roteiro, que realmente não há. O grande achado
de O Sexto Sentido é Haley Joel Osment, que rouba o filme com uma
atuação impecável no papel do torturado garotinho Cole Sear, que tinha o
ingrato dom de “ver pessoas mortas, todo o tempo” e a capacidade de se
comunicar com elas. Sua química perfeita com o canastríssimo Bruce Willis, que
interpreta o psicólogo infantil, Dr. Malcom Crowe, e o papel forte e
arrebatador de Toni Collette, que interpreta Lynn, a mãe do garoto, misturado
com o roteiro, os simbolismos e a direção de arte e fotografia,
transformam O Sexto Sentido e um verdadeiro neoclássico do
horror. Somos apresentados ao Dr. Crowe
e sua esposa Anna (Olivia Williams) na noite em que ele acaba de ganhar um
prêmio da cidade de Filadélfia, onde vivem, pelo seu trabalho e estão
comemorando em casa, quando Vincent Gray (Donnie Whalberg, 21 quilos mais
magro), um antigo paciente de Crowe, com quem havia falhado, invade a casa e
atira no psicólogo, antes de atirar em sua própria cabeça. Passam-se três meses
e com o fracasso lhe atormentando, Crowe conhece Cole, um garoto de seis anos,
mesma idade que tinha Vincent durante o tratamento, que parece ter os mesmos
problemas. Compelido a ajudá-lo, o doutor e o garoto vão desenvolvendo uma
estreita relação, até que em uma noite após uma experiência traumática em uma
festa de aniversário, Cole revela seu segredo, que é essa capacidade mediúnica
de ver os mortos. Após várias aparições assustadoras das presenças para o
menino, com a ajuda de Crowe ele acaba entendendo que na verdade eles só querem
se comunicar e pedir ajuda, como acaba descobrindo quando uma menina aparece em
sua barraca de dormir (uma jovem Mischa Barton, antes de virar surtada), na
cena mais apavorante do filme, lhe pedindo ajuda para entregar uma fita ao pai,
que denunciava o verdadeiro motivo dela ter adoecido. Bom, problema resolvido é
hora de o menino ajudar ao bom doutor, que passava por um problema conjugal e
seu casamento estava muito distante, com sua esposa agindo de forma fria e
tomando antidepressivos, além de parecerem estranhos um ao outro. Bom, acredito
que você já tenha assistido a O Sexto Sentido, pelo amor… Se não assistiu,
primeiro, shame on you, e segundo, aí vai um SPOILER, que continua no
parágrafo seguinte. É aí que o filme realmente te dá um tapa na cara, pois
Crowe está morto na verdade, tendo sido assassinado na mesma noite que levou o
tiro lá no começo do filme. É simplesmente fantástico e você fica embasbacado
da primeira vez que assiste. Eu me lembro boquiaberto na sala de cinema quando
a verdade é revelada. E aí que você quer de qualquer jeito assistir de novo e
tentar pegar todos os detalhes. Primeiro que o personagem de Bruce Willis passa
o filme todo usando a mesma roupa, aquela com qual foi assassinado, apenas
alterando essas peças entre si. Segundo que ele não troca uma palavra com
ninguém o filme todo, nem com a mãe do garoto e nem com sua esposa, apesar de
parecer que o faz na cena do restaurante, mas na verdade ali acontece um
monólogo. Terceiro que toda vez que ele vai abrir a porta do porão, ela está
trancada (imagina o susto da esposa toda vez ver aquela porta que ele deixa
aberta?). Isso além da reação de espanto de Cole quando o vê pela primeira vez,
ou na segunda quando está em sua casa. E finalmente, o frio que sua esposa
sente quando ele está por perto e ela deixa a aliança cair, na cena que
desvenda todo esse mistério. Daí você pensa: como diabos eu não percebi isso
antes? Essa é a força do roteiro de Shyamalan. E ainda há outros detalhes bem
curiosos no filme. Um é a questão da queda de temperatura, que acontece toda vez
que há a presença de um espírito irritado, maldoso ou inquieto. Isso não
acontece quando Malcom está ao lado de Cole porque ele sempre está calmo e
tentando ajudar. Na cena final, por exemplo, Malcom está afetado pela
descoberta e confuso, por isso a queda brusca de temperatura também. Outro
detalhe curioso é o uso da cor vermelha. Ela somente aparece indicando a
presença de um fantasma ou algum acontecimento ou objeto que tenha uma relação
direta com eles. Fora isso, perceba que a cor vermelha não é usada mais nenhuma
vez no filme todo. E claro que Shyamalan coloca na história todo um simbolismo,
de não sabermos lidar direito com a morte e a perda, de só enxergarmos aquilo
que queremos ver e que devemos abrir a mente e o coração para ouvir o que os
outros têm a dizer e tudo mais. O Sexto Sentido faturou mais de 600
milhões de dólares em todo o mundo. Foi a segunda maior bilheteria americana de
1999, perdendo somente para Star Wars Episódio I – A Ameaça
Fantasma e ganhando até de Matrix. No Brasil, foi o filme mais visto
daquele ano. Foi indicado a seis Oscars: melhor ator coadjuvante (Osment),
atriz coadjuvante (Collette), diretor, edição, filme e roteiro original. Não
ganhou nenhum (esse tipo de coisa acontece só uma vez a cada 100 anos, como
ocorreu com O
Silêncio dos Inocentes). Apesar do grande sucesso, pode parecer
irônico, mas O Sexto Sentido acabou atrapalhando um pouco a vida de
Shyamalan dali para frente, exatamente por ter sido tão superestimado. Nunca
mais conseguiu fazer um filme realmente decente, e todos eles geraram uma
tremenda expectativa para se tornar um novo O Sexto Sentido com um
final tão arrebatador quanto, e o indiano infelizmente falhou miseravelmente em
todos eles, principalmente nos seus lançamentos seguintes como Corpo
Fechado,Sinais e A Vila.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/14/703-o-sexto-sentido-1999/
#702 1999 RESSURREIÇÃO (Resurrection, EUA, Canadá)
Direção:
Russel Mulcahy
Roteiro: Brad Mirman
Produção: Howard Baldwin, Patrick D. Cheh,
Christopher Lambert, Nile Niami; Karen Elise Baldwin, Jack Gilardi Jr.
(Coprodutores); Richard M. Cohen, Paul Pompian (Produtores Executivos)
Elenco: Christopher Lambert, Leland Orser,
Robert Joy, Barbara Tyson, Rick Fox, David Cronenberg
Se você
quiser resumir Ressurreição – Retalhos de um
Crime de forma tacanha, é só taxa-lo como uma cópia
de Seven – Os Sete Crimes Capitais.
Afinal temos aqui uma dupla de detetives da polícia de uma Chicago que chove a
todo instante, perseguindo um serial
killer com motivações religiosas, mortes violentas e toda uma
atmosfera e fotografia soturna. Mas se você abrir sua cabeça e deixar as
semelhanças com Seven de
lado, vai perceber que o filme dirigida pelo australiano Russel Mulcahy e
protagonizada pela canastra-mor, Christopher Lambert, é um baita suspense, com
um roteiro inteligentíssimo, cenas verdadeiramente pesadas e chocantes, e que
não deixa nada a dever a sua tal fonte inspiradora. Sempre achei fantástico o
enredo de Ressurreição, com
um toque de morbidez altíssimo. Afinal estamos falando de um psicopata que é
descendente de Judas e quer reconstruir o corpo de Cristo até o domingo de
Páscoa, e para isso utiliza pedaços de cadáveres de suas vítimas assassinadas
brutalmente para montar o seu “Frankenstein religioso”.Macabro não é? E não
para por aí. O assassino é extremamente meticuloso ao escolher o padrão de suas
vítimas e executar seu modus
operandi (leia-se, tem muitos parafusos a menos): todas as vítimas,
as quais ele leva um souvenir (braços,
pernas, tronco, cabeça…) tem nomes dos apóstolos, Pedro, Matheus, Thiago, todos
eles têm a mesma profissão dos seus pares bíblicos e 33 anos, idade que Cristo
foi crucificado. Genial! Em contraponto ao excelente roteiro, que nos brinda
com cenas de investigação inteligentes e momentos bem desagradáveis de se ver,
como as cenas com os cadáveres mutilados e o tal “corpo de Cristo”
reconstruído, temos aí alguns problemas que interferem que a fita alcance o
verdadeiro status que ela merece que é a direção ineficaz de Mulcahy,
principalmente quando ele parece ter descoberto um novo efeito ótico (e tosco)
de distorção de câmera e utiliza-o em várias cenas, a péssima atuação de
Lambert (que como diz a máxima de Highlander, “só
pode haver um”, e ele deveria ter feito somente esse filme na carreira) como o
detetive John Prudhomme, e a tentativa forçada daquele velho joguinho do
sistema de parceiro dos detetives, com o herói sendo o carrancudo e seu
parceiro, o alívio cômico gente boa piadista, Andrew Hollinsworth, vivido por
Leland Orser. Outro ponto que foge à curva em Ressurreição é
o drama pessoal vivido por Prudhomme, que perdera o filho atropelado, e não
serve para carregar o personagem de peso, uma vez né, que Lambert é um ator
horrível, e poderia muito bem ter sido descartado. Pelo menos, essa passagem
serve para que o detetive afaste-se de sua fé, e isso o colocará bem em rota de
colisão com um assassino religioso extremista, e uma ponta do diretor David
Cronenberg como um padre, amigo da família. Mas no frigir do ovos, Ressurreição – Retalhos de um Crime é um ótimo
thriller, e bastante subestimado, que se pode torcer o nariz a princípio por conta
de suas inevitáveis comparações com Seven, mas
que não deveria sofrer desse estigma pura e simplesmente por birra, e deve ser
assistido de coração aberto, pois certamente, pelo menos para mim, está naquela
fatídica lista dos melhores longas sobre serial killers.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/13/702-ressurreicao-retalhos-de-um-crime-1999/
#701 1999 PÂNICO NO LAGO (Lake Placid, EUA)
Direção: Steve
Miner
Roteiro: David
E. Kelley
Produção: David
E. Kelley, Michael Pressman; Jeff Kaligheri (Produtor Associado); Peter Bogart
(Produtor Executivo)
Elenco: Bill
Pulman, Bridget Fonda, Oliver Platt, Brendan Gleeson, Betty White, David Lewis
Pânico no Lago é um típico filme
B, só que de estúdio. Orçamento considerável, saído dos bolsos dos executivos
da FOX, com grandes atores de Hollywood no elenco, tipo Bill Pullman e Bridget
Fonda, um diretor consagrado no gênero, Steve Miner, e o mais importante,
produção e roteiro de um nome que despontava no canal de TV da raposa naqueles
tempos: David E. Kelley. Além de ser casado com Michelle Pfeiffer, Kelley foi o
responsável por uma safra de séries de sucesso exibidas na FOX durante o final
dos anos 90 e começo dos anos 00, como o drama de hospital, Chicago Hope, as comédias de tribunais, Ally McBeal e O Desafio e
o drama sobre escola, Boston Public.
Mas Pânico no Lago parece ser bem
aquela válvula de escape em que Kelley resolveu fazer uma homenagem aos bons e
velhos eco-horror clássicos,
e trouxe novamente à tona (desculpe, não resisti) o perigo de um crocodilo
gigante assassino, que já havia sido imortalizado em Alligator – O Jacaré Gigante,
clássico da Sessão das Dez, e esculhambado em trasheiras como Crocodilo – A Fera Assassinade
Sergio Martino ou Killer Crocodile do
picareta Fabrizio de Angelis. Com Miner atrás das câmeras, que já
dirigira Sexta-Feira 13: Parte 2, Sexta-Feira 13 – Parte 3 e
Halloween H20 – 20 Anos Depois, então
é um sujeito que manja do riscado, Pânico no
Lago entretém na medida, com atuações bem leves dos
atores (tirando o insuportável papel caricato de Oliver Platt), tem lá sua boas
doses de violência e sangue, e acerta em cheio nos efeitos especiais, tanto no
CGI quanto nos animatrônicos do réptil anabolizado, cortesia da equipe de Stan
Winston. Na trama, um crocodilo gigante aparece em um lago no Maine, e o xerife
Hank Keough (Brendan Gleeson) e o oficial do departamento de Caça e Pesca, Jack
Wells (Pulman), após a morte de um mergulhador que é devorado ao meio, envia um
pedaço de dente para análise em um museu de Chicago. O chefe do departamento de
paleontologia do museu envia a patricinha Kelly Schott (Fonda), com quem teve
um caso recente e agora começara a sair com sua amiga, para o local para ajudar
nas investigações (e se livrar da moça, super gente boa o sujeito). Junta-se a
equipe o excêntrico professor Hector Cyr (Platt), um sujeito ricaço e sem papas
na língua, que é obcecado por crocodilos e se atem ao preceito de que os
antigos os veneravam como verdadeiras divindades. Durante a investigação,
fatalmente descobre-se que o crocodilo tem cerca de nove metros de comprimento
(após o animal atacar um urso e arrastá-lo para a água como se fosse um
gatinho), e que simplesmente não deveria estar ali em um lago do Maine.
Acontece que uma senhorinha que mora nas redondezas, Delores Bickerman (Betty
White), está cuidando e alimentando o enorme monstro com seu gado, como se
fosse seu bichinho de estimação! Miner obviamente se aproveita da cartilha
de Tubarão de
Spilelberg e na primeira metade do filme mantém o suspense, mostrando
pouquíssimas vezes o animal, para guarda-lo em todo seu esplendor para o ato
final. Após diversas desavenças entre o grupo, principalmente entre Cyr e o
xerife Kenough, sobre matar a ameaça ou captura-la viva, e um crescente romance
entre Kelly, típico mocinha da cidade grande que não se adapta ao local e a
vida selvagem, com Wells, tudo converge para um confronto final com a criatura,
em uma cena absolutamente desnecessária de crueldade animal com uma vaca usada
como isca. Bom, Pânico no Lago é um
típico filme de Sessão da Tarde e não é de se esperar muito mais que um
entretenimento descompromissado, e essa é bem a ideia. Ainda assim ele fez um
relativo sucesso nos cinemas (e na TV a cabo, pois lembro o quanto era
reprisado a exaustão na FOX, pois sempre via o comercial do filme durante os
intervalos de Arquivo X) e
gerou uma quadrilogia (isso mesmo, você leu direito) e até um recente crossover com a Anaconda (sim,
você também leu direito)!!!!
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/12/701-panico-no-lago-1999/
#700 1999 MORTOS DE FOME (Ravenous, EUA, Reino Unido, República Tcheca)
Direção: Antonia
Bird
Roteiro: Ted
Griffin
Produção:Adam Fields, David
Heyman; Tim Van Relim (Produtor Executivo)
Elenco: Guy
Pearce, Robert Carlyle, David Arquette, Jeremy Daves, Jeffrey Jones, John
Spencer, Stephen Spinella, Neal McDonough
Mortos de Fome é um estranho e
subestimado filme sobre canibalismo, que foge (e muito) do senso comum,
principalmente do subgênero e é recheado de humor negro em uma trama que
envolve os horrores da guerra, assassinato, covardia, loucura e até uma velha
lenda indígena americana. E claro, gente comendo carne humana! Dirigido por
Antonia Bird (que substituiu Milcho Mancheviski que ficou a frente da direção
por apenas duas semanas) e com roteiro de Ted Griffin, somos logo de cara
apresentados ao protagonista da história, que de herói não tem absolutamente
nada: o capitão John Boyd de Guy Pearce. Condecorado durante a Guerra Mexicana,
no Século XIX o “herói de guerra” na verdade foi um covarde que viu todo
seu batalhão ser assassinado enquanto se fingia de morto para sobreviver,
escondendo-se embaixo de uma pilha de cadáveres, tomando acidentalmente seu
sangue, até que ele se levanta, e sozinho pega os líderes rebeldes com a guarda
baixa e os assassina. Como o sujeito no fundo é uma vergonha nacional ele é
enviado para um distante posto do exército conhecido como Forte Spencer,
localizado na Califórnia, que serve como ponto de passagem para os viajantes
que desbravam Serra Nevada, conhecido pelo seu rigoroso inverno. O forte é
comandado pelo Coronel Hart (Jeffrey Jones) e lá está uma série de soldados
caricatos e desajustados, como o médico beberrão, o sujeito de temperamento
explosivo, o religioso que vive querendo escrever hinos de louvor, e um sujeito
viciado em ervas alucinógenas e mulheres, além de um casal de irmãos nativos. Certa
noite, um estranho errante chamado F.W. Colqhoun (papel de Robert Carlyle)
aparece no forte precisando de ajuda, e contando sua história, descobre-se que
ele era um pioneiro que viajava junto de uma caravana pega desprevenida por uma
tempestade de inverno, ao melhor estilo da Expedição dos Donner (e exatamente
no mesmo local!), sendo obrigados a se refugiar em uma caverna e recorrer ao
canibalismo para sobreviver. Como alguns membros da expedição ainda podem estar
vivos, Hart mobiliza seus homens para tentar encontra-los. Na verdade, tudo não
passa de um embuste e Colqhorn é um sádico que só queria preparar uma armadilha
e assim fazer novas vítimas para se alimentar. Do grupo de resgate, Boyd é o
único que sobrevive (que a gente sabe até esse momento), mas obrigado a
recorrer também ao canibalismo ao ferir gravemente a perna, somente para voltar
ao Forte Spencer e descobrir que o verdadeiro nome do facínora é Coronel Ives,
membro patenteado do exército americano que se tornará o novo chefe daquele
posto. Como se não bastasse toda essa picuinha e Boyd sendo taxado como louco,
uma vez que ninguém acredita na sua história sobre canibalismo e que o Cel.
Ives na verdade é um demente psicopata, um elemento fantástico é jogado na
trama, ao evocar a velha lenda do wendigo, criatura sobrenatural que surgiu de
um ser humano que passou extrema fome durante o inverno e comeu seus
companheiros para se alimentar, e após perpetuar seus atos canibais, ganha
atributos sobre-humanos, assimilando também sua força, inteligência, espírito,
além da cura de doenças e regeneração de ferimentos. Além de abordar o tema
canibalismo de uma forma peculiar, longe de filmes tradicionais do gênero que
evocam a antropofagia, como O Massacre da Serra Elétrica, O Silêncio dos Inocentes ou até
mesmo o infame ciclo italiano canibal dos anos 70, Mortos de Fome também tem
suas doses de violência sem apelar para o exploitation, mas com uma boa quantidade gráfica de sangue
derramado, que atinge seu auge justamente no terceiro ato, no feroz e brutal
embate final entre Boyd e Ives, no que obviamente, completará de forma
maniqueísta o ciclo de redenção do herói, uma vez que só a morte pode livrar a
pessoa da maldição do wendigo. Negligenciado, pouco entendido, deliciosamente
maluco e fora dos padrões, Mortos de Fome é
uma original mistura de filme de horror com comédia de humor negro, que joga
luz sobre um tema controverso de um modo completamente não ortodoxo e ainda nos
brinda com a absurdamente inverossímil (de forma proposital) e famosa cena
quando Boyd se joga do penhasco em direção a um queda vertiginosa entre as
copas das árvores e o máximo que acontece é uma perna quebrada! Altamente
recomendado.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/11/700-mortos-de-fome-1999/
#699 1999 A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (Sleepy Hollow, EUA, Alemanha)
Direção: Tim
Burton
Roteiro: Kevin
Yagher, Andrew Kevin Walker (baseado na história de Washington Irving)
Produção: Scott
Rudin, Adam Schroeder; Kevin Yagher (Coprodutor); Andrew Kevin Walker
(Coprodutor – não creditado); Dieter Geissler, Mark Roybal (Produtores
Associados); Larry J. Franco, Francis Ford Copolla (Produtores Executivos)
Elenco: Johnny
Depp, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon, Casper Van Dien,
Jeffrey Jones, Michael Gough, Christopher Lee, Christopher Walken
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é
meu filme preferido de Tim Burton. Apesar do cara ter esse lado dark/ gótico/
esquisito bem acentuado, sempre colocando esses elementos peculiares em seus
filmes e animações, principalmente no começo de sua carreira, a sua adaptação
para a clássica história da literatura americana escrita por Washington Irving
é realmente a bola mais dentro nos padrões do filme de gênero, e talvez a mais
legítima, até se você levar em conta as bobagens tresloucadas posteriores
como Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet e
o execrável Sombras da Noite. Lembro
que quando o filme chegou aos cinemas do Brasil eu ainda era menor de idade,
mas estava em vias de completar meus 18 anos, que era a classificação
indicativa da produção. Não consegui comprar o ingresso, pois a moça da
bilheteria pediu meu RG e realmente me proibiu de assisti-lo, e olhe que eu não
acreditava que esse lance de censura realmente existisse. Mas eis então que o
espertalhão aqui escolheu um filme qualquer (juro que não me lembro qual) que
começava próximo ao horário de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e
zás, após entrar no interior do corredor do multiplex habilmente troquei de sala, me afundei o máximo
que pude na poltrona do cinema, jurando que aparecia ali um lanterninha para
pegar meu delito em flagrante e pude assistir ao filme de Burton numa boa. E
olha que eu nem sou filho da Alessandra Negrini… Mas pois bem, depois de contar
um pouco mais um causo da minha vida de fã do horror, eis que A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é um verdadeiro
deleite que funciona em todos os seus níveis. Começa do fato de ter a marca
registrada depressiva e atmosfera soturna de Burton, misturado por uma série de
influências que teve em sua vida, as quais nunca efetivamente tinha conseguido
levar para as telas, como as óbvias referências, principalmente estéticas e
caricatas, dos filmes da Hammer dos anos 60 e do visual gótico do maestro do
macabro, Mario Bava – mais nitidamente de A Máscara de Satã e Mata Bebê, Mata –
além da pegada que mistura um pouco da Era de Ouro da Universal e os filmes de
Roger Corman estrelados por Vincent Price. Até a presença de Christopher Lee e
Michael Gough no elenco reforça isso. Originalmente, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça deveria ser
dirigido pelo especialista em efeitos especiais, Kevin Yagher, o criador do
visual de Chucky em Brinquedo Assassino e
do Coveiro de Contos da Cripta. O
primeiro esboço do roteiro e conversas com a Paramount datam de 1993, e o
projeto seria o próximo após Yagher dirigir o fiasco Hellraiser IV: Herança Maldita. Porém
sua ideia era fazer um slasher de
baixo orçamento, e por problemas criativos com o estúdio, a cadeira de diretor
lhe foi tomada, deixando-o apenas como coprodutor e responsável pela maquiagem
e protética. Seu roteiro escrito junto com Andrew Kevin Walker passou pela
revisão de Tom Stoppard e Burton fora contratado, uma vez que naquele final de
século o terror tinha voltado para ficar, para assumir a direção, após o
fracasso de tentar levar à frente o que seria o hipoteticamente pavoroso Superman Lves com Nicholas Cage (que nesse momento vira tema
de documentário). Claro que Burton só poderia chamar ninguém menos que seu ator
fetiche, Johnny Depp, para o papel de Ichabod Crane, que aqui se transforma em
um detetive de Nova York, ao invés de um professor, como no texto original de
Irwing, que viaja até Sleepy Hollow para investigar uma série de assassinatos
misteriosos ocorridos naquela colônia holandesa agrícola do final do século
XVIII, onde as vítimas eram degoladas e suas cabeças desapareciam, levadas como
souvenir pelo assassino. E claro que Depp faria o sujeito o mais estranho que
poderia conceber, com seu toque peculiar, mas ainda assim dentro das imposições
do estúdio, que não queriam algo também tão esquisito e exigiram que nomes como
Brad Pitt, Liam Neeson ou Daniel Day-Lewis fossem considerados para o papel. Cê
acha que Burton ia topar? Descobre-se então lá pelas tantas, e isso nem pode
ser considerado um spoiler,
vai, que as vítimas todas são os poderosos de Sleepy Hollow e tem alguma
ligação com a abastada família Van Tassel, sendo que o terrível executor é o
tal do Cavaleiro sem Cabeça, um sanguinário ex-combatente hesseno que sai da
floresta em busca de… hã, cabeças, na procura por sua própria, perdida durante
a guerra quando morto em uma emboscada, que é vivido por Christopher Walken,
que não fala uma palavra o filme todo, mas vale pela sua sempre aparência
assustadora e seus dentes pontiagudos. Claro que Crane não acredita muito nessa
história, uma vez que pretende aplicar seus recém adquiridos conhecimentos
científicos em prol da investigação criminal. Mas durante o processo, acaba
conhecendo e se apaixonando por Katrina Van Tassel, papel da não menos
esquisita Christina Ricci, a eterna Vandinha da Família Addams, que tem lá seu
pezinho na bruxaria e no oculto, e está prometida a Brom Van Brunt (Capser Van
Dien), mas que acabará se apaixonando por Crane, e vice-versa, garantindo,
lógico, um par amoroso para a trama. A Lenda
do Cavaleiro Sem Cabeça tem lá seus momentos atmosféricos e
sombrios, mas sempre com um característico misto de comédia caricata camp, que Burton e Depp sabem usar
como ninguém, ainda mais pela inspiração no cinema de terror dos anos 50 e 60,
cenas de decapitação e violência com uma dose considerável de sangue e uma
perfeita amálgama entre os efeitos especiais digitais assinados pela Industrial
Light and Magic e a maquiagem e efeitos em humanos e criaturas supervisionados
por Yagher. Mas o desbunde mesmo da fita são a direção de arte e design de
produção do set, que não por menos deram um Oscar® a Rick Heinrichs e
Peter Young, além de valer indicação ao careca dourado pela direção de
fotografia de Emmanuel Lubezki e design de figurino, de Colleen Atwood, ambos
também um espetáculo a parte.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/07/699-a-lenda-do-cavaleiro-sem-cabeca-1999/
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