Direção: Rupert
Wainwright
Roteiro: Tom
Lazarus, Rick Ramage
Produção: Frank
Macuso, Jr.
Elenco: Patricia
Arquette, Gabriel Byrne, Jonathan Price, Nia Long, Thomas Kopache, Rade
Serbedzija, Enrico Colantoni, Dick Latessa
Foi
exatamente em dezembro de 1999, poucos dias antes de acabar o milênio, que fui
aos cinemas assistir Stigmata. E
como eu havia adorado o filme lá no auge dos meus 17 anos! Sempre
considerei O Exorcista meu filme de terror preferido de todos os
tempos, e ver um bom longa com essa temática de possessão e preceitos
religiosos foi uma experiência altamente interessante. Hoje, passados 16 anos
de sua estreia, o filme perdeu bastante da sua força e de seu impacto inicial,
mas ainda assim é um dos bons exemplares do cinema de terror que surgiu ali no
final dos anos 90, em meio a questionamentos religiosos e dúvidas por conta da
chegada do Século XXI, e também um dos mais emblemáticos, que ajudaram a
definir o final daquela década. Mais que isso, Stigmata fez
um belo trabalho nas bilheterias e tornou-se um hit.No site Christian Answers
(não, eu não o leio, foi apenas uma pesquisa para esse meu texto, tá), um dos
leitores escreveu que Stigmata é
“um filme que mistura o misticismo cristão com cinismo narcisista, resultando
em um produto que glorifica satã mais do que glorifica Deus”. Tá, críticas
cristãs de cinema não merecem ser levadas nada a sério, mas ao meu ver, essas
qualidades aí citadas ajudam a atestar a eficácia do roteiro do filme, que
coloca a verdadeira Igreja Católica como inimiga, com seus círculos secretos,
conchavos e conspirações por poder, influência, controle e dinheiro cada vez
maiores, algo que remete a Santa Sé desde que ela fora criada, e não algum
demônio que resolve possuir o corpo de uma garota incauta. Na verdade, ao
chegarmos em todas as conclusões do longa, vemos que na verdade o demônio não
tem papel algum na história, apesar de acreditarmos que sim, a personagem de
Patrícia Arquette está possuída pelo capeta, mas na real, sua possessão é muito
mais religiosa e cristã do que poderíamos imaginar (o que também não faz lá o
menor sentido, mas tudo bem, vamos deixar na conta da boa e velha suspensão da
descrença). Talvez o mais interessante ponto do filme de Rupert Wainwright é
explorar a questão dos estigmas, fenômeno onde em determinadas pessoas,
geralmente profundamente religiosas, surgem as chagas de Cristo, que remetem
aos ferimentos sofridos durante a crucificação. São cinco essas chagas: a
perfuração nos pés, punhos, a coroa de espinhos, as chibatadas e por último, a
lança que atravessou seu peito. Frankie Paige (Arquette) é uma
cabelereira clubber de
Pittsburgh, ateia confessa, que passa misteriosamente a ser acometida por esses
ferimentos. O padre Andrew Kiernan (Gabriel Byrne) que faz parte de uma divisão
do Vaticano chamada Congregação da Causa dos Santos, é o responsável por
percorrer o mundo em busca de provas científicas que atestem ou desmistifiquem
milagres. Ele é enviado para uma cidade fictícia no sudeste do Brasil, Belo Quinto,
para solucionar o caso da estátua de uma santa que chorava sangue, e encontra
toda uma comunidade religiosa em luto pela morte de seu pároco, o Padre
Alameida (alguém já viu aí um brasileiro com sobrenome de Alameida? Eu conheço
vários Almeidas…). Um brasileirinho típico retrato da nossamalandrági rouba o terço do
padre e vende em uma feira local, e uma gringa o compra, enviando para sua
filha nos EUA, que é exatamente a Frankie. Os estigmas começam a surgir logo
após o contado dela com o artefato religioso. Pois bem, Kiernan é enviado para
investigar a recém estigmatária, e acaba descobrindo uma conspiração maciça
dentro da Igreja, onde três padres, incluindo Alameida, estavam traduzindo um
documento conhecido como o evangelho de Tomás, escrito em aramaico, que é um
dos evangelhos apócrifos, e acredita-se ser as verdadeiras palavras de Jesus
para seus discípulos, e foram silenciados com seu trabalho interrompido. Esse
documento existe de verdade, só que está escrito em copto, uma antiga língua
egípcia baseada no alfabeto grego. Só que essas palavras, se atestadas a sua
veracidade, implodiriam a Igreja Católica do jeito que nós conhecemos, pois
prega que Jesus está em todo lugar, e não necessariamente, sobre o teto de um
igreja ou uma instituição de doutrina. Claro que os carolas não iam querer
isso. Então logo o Cardeal Daniel Houseman (Jonathan Pryce, que hoje reprisa um
papel de líder religioso fanático como o Alto Septão de Game of Thrones, que obrigou Cersei Lannister a andar pelada
pelas vielas de Porto Real na temporada passada) descobre a abelhudice de
Kiernan e o perigo real que Frankie representa ao Vaticano, e resolve então
usar os bons e velhos métodos da Igreja utilizados na idade média, e dar cabo
de seu probleminha. Mas durante o processo, além de rolar um clima entre a moça
e o padre, vamos sendo apresentados a um comportamento errático de Frankie que
dá a entender que ela está de fato possuída por um demônio, uma vez que os
estigmatários acabam se tornando muito próximos de Deus, e em contrapartida,
atormentados pelas tentações do mal, como aconteceu com o próprio JC durante
seus 40 dias no deserto onde foi tentado pelo Coisa-Ruim. Isso claro,
representado por todos os elementos visuais básicos do subgênero, como mudanças
de feição, vozes guturais (com a mais clássica cena da frase “O mensageiro não
é importante”), verbalização de línguas mortas, telecinese e levitação.
ALERTA DE SPOILER. Pule os
próximos dois parágrafos ou leia por sua conta e risco.
O fato
que escapa um pouco do sentido em meio a um enredo interessantíssimo, é por que
cargas d’ água Frankie começou a sofrer dos estigmas, sendo que apenas pessoas
extremamente religiosas apresentaram as chagas de Cristo no decorrer da
história da humanidade, sendo o primeiro, São Francisco de Assis, que só teve
duas dela, e a moça caminhava para a quinta e fatal, mostrando-se a mais devota
e abençoada dos seres humanos que já caminharam sobre a Terra? Daí ligando os
pontos baseado na investigação de Kiernan que descobrimos que na verdade ela está
possuída pelo espírito do Pe. Alameida, que era um estigmatário e quer foder
com a porra toda da Igreja. Agora como diabos ele tem poderes supernaturais (a
levitação, telecinese…) e pirocinese, como vemos na cena final, não me
pergunte. Aliás, falando sobre o desfecho de Stigmata, temos
a questão do final alternativo, que para mim, funciona muito melhor do que
aquele usado na versão de cinema, mais pessimista, onde ela acaba falecendo nos
braços do Pe. Kiernan, após a tentativa de assassinato de Houseman e seus
asseclas, como um mártir, e menos floreada, mostrando que Frankie sai daquela
experiência quase como uma santa, canonizada, como a reencarnação de São
Francisco de Assis misturada com a Virgem Maria e tudo de bom de todos os
santos, e provavelmente viverá feliz para sempre com o padre bonitão. Mas que
vai detonar a Igreja apesar de tudo, claro, já que em ambos os finais, o agora
ex-padre vai até Belo Quinto na busca dos documentos traduzidos por Alameida. Bem,
como disse lá em cima, Stigmata é
um desses filmes chaves e emblemáticos do final dos 90’s (quem não curtia
aquela música tema do Chumbawamba, e quer porra mais anos 90 que
CHUMBAWAMBA???), que entra no rol dos melhores do subgênero possessão, padres,
Igreja Católica e afins.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/18/704-stigmata-1999/
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