sexta-feira, 9 de setembro de 2016

#695 1999 A BRUXA DE BLAIR (he Blair Witch Project EUA)


Direção: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Roteiro: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Produção: Rob Cowie e Greg Halle, Michael Monello (Co-produtor), Bob Eicke e Kevin J. Foxe (Produtores Executivos)
Elenco: Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard

Você se lembra do ano de 1999? Então provavelmente também se lembra do sucesso tremendo que A Bruxa de Blair fez. Como tudo aquilo era novo e realmente assustador. Toda aquela campanha de marketing utilizando a Internet era uma baita novidade. A ideia de que o filme eram as supostas fitas encontradas dos três estudantes de cinema perdidos na floresta era de gelar a espinha. E estou falando de uma época em que não existia uma enxurrada dos chamados “mockumentaries”, ou falsos documentários, como RECCloverfield – MonstroAtividade Paranormal, e TANTOS outros (e olhe que só estou citando os bons aqui, e não as bombas, tipo A Forca). A única coisa perto dessa ideia decinema verité que já havíamos visto no gênero era Cannibal Holocaust de Ruggero Deodato, no início dos anos 80, ou Aconteceu Perto de Sua Casa no começo da década de 90. E a ideia de A Bruxa de Blair era se virar com um orçamento ridículo e subverter a ordem natural do cinema de horror, onde por mais que o espectador buscasse sentir medo e ser ameaçado, ele estava seguro em sua poltrona, com o contato o mais distante possível dos personagens. Aqui você, eu e todo mundo que assiste A Bruxa de Blair é testemunha ocular, está ali vendo (ou melhor, não vendo) o mesmo que os protagonistas, e exposto aos mesmos apuros e medos que eles. O começo do filme, sem créditos iniciais, sem trilha sonora, já alerta o espectador sobre a origem das filmagens: “Em outubro de 1994, três estudantes de cinema desapareceram na floresta próxima a Burkittsville, Maryland, enquanto filmavam um documentário… Um ano depois as imagens foram encontradas”. Esses três estudantes são Heather, Michael e Joshua, que resolvem fazer o documentário sobra uma antiga lenda da cidade de Burkittsville, ex-Blair. Após o desaparecimento de várias pessoas nos arredores da floresta Black Hills, Elly Kedward, a suposta bruxa, foi tida como responsável e banida em 1785. Após seu banimento, várias crianças desapareceram da cidade, o que alimentou a lenda de que elas eram levadas para a cabana da bruxa na floresta, que as matava de duas em duas, sempre deixando uma virada para a parede enquanto executava a outra. Na década de 40, um assassino chamamdo Rustin Parr alega inocência no tribunal dizendo estar mancomunado com o espírito da bruxa. Além disso, há uma testemunha ocular, uma maluca chamada Mary Brown, que jura de pé junto ter visto a bruxa e que ela tinha o corpo todo coberto de pelos, dos pés a cabeça. Enfim, essa mitologia inteira foi criada pelos diretores Daniel Myrick e Eduardo Sánchez para tentar corroborar ainda mais a tal autenticidade do filme. Os três documentaristas se embrenham na mata em busca de cenas para compor seu trabalho, quando inevitavelmente se perdem e começam a vivenciar experiências assustadoras, como escutar sons bizarros durante a noite e encontrar montes de pedras empilhados do lado de fora da barraca e galhos misteriosos em formato de bonecos pendurados nas árvores. E tudo sem desligar a câmera nervosa, que alterna entre cenas em preto e branco e colorido, mostrando além dos perigos sobrenaturais subentendidos, a degradação psicológica dos personagens, que perdidos e desamparados, partem para brigas e discussões intermináveis, choros e gritos de desespero, que vão aumentando ainda mais a angústia e a tensão dividida de forma igual com o público também imerso naquele ambiente. Os próprios atores eram ilustres desconhecidos, pessoas comuns como eu você, que usaram até seus nomes verdadeiros como seus personagens. Eles mesmos foram os cinegrafistas e tiveram de aprender a manejar câmera e áudio para aumentar ainda mais a verossimilhança do filme, fora uma quase sádica tática de guerrilha imposta pelos diretores. Os atores foram jogados a esmo na floresta, munidos de um GPS e partes do roteiro. A equipe então se encumbiu de criar todo o clima para meter medo nos coitados (e na gente), fazendo ruídos estranhos, gritos e barulhos durante a noite, e até mesmo atacando a barraca onde eles acampavam. E fora isso, foi dada total liberdade de improviso em diálogos e cenas. Assistir A Bruxa de Blair hoje em dia com certeza não traz o mesmo impacto de vê-lo pela primeira vez lá no final dos anos 90, no cinema. Eu estava lá, um adolescente com seus 17 anos, sozinho no cinema assistindo ao que estava sendo uma baita experiência cinematográfica e compartilhando daquele medo e tensão com todos os outros ali presentes. Quando o filme termina, você fica um pouco perplexo com o final abrupto, mas ao mesmo tempo sente um baita alívio por as luzes terem se acendido. E isso é o grande charme d’A Bruxa de Blair e que o faz ser horripilante. Hitchcock já havia ensinado que mete muito mais medo o que a gente não vê, do que realmente vê. Não há um monstro maquiado, ou um efeito especial ou sonoro para dar susto. É o medo, cru, primal do desconhecido. E muita gente sentiu esse medo, porque A Bruxa de Blair foi um estouro de bilheteria. Uma produção baratérrima que gastou 60 mil dólares para ser rodado em oito dias, faturou mais de 240 milhões em todo o mundo e tornou-se um verdadeiro fenômeno do horror e uma aula de como fazer uma campanha de marketing, como explorar o poder da Internet e seus grupos de discussão na época (o que hoje seriam as redes sociais) e como fazer o boca a boca realmente trabalhar em prol do sucesso de uma produção. Mas a maldição da bruxa recaiu sobre os inventivos e originais diretores do filme. Após a enorme febre e o sucesso astronômico, logo foram cotados como os próximos grandes nomes do cinema de horror. Mas o que se veio foi uma malfadada sequência caça-níquel (mesmo que não dirigida por eles), e ambos haviam sido contratados pela FOX para desenvolver uma série no ano seguinte, chamada Freakylinks (alguém lembra?), que foi um fiasco. E até hoje, passados 15 anos não conseguiram engatar sequer um projeto decente no cinema. A bruxa realmente ficou solta.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/07/30/695-a-bruxa-de-blair-1999/

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