Direção: Daniel Myrick, Eduardo
Sánchez
Roteiro: Daniel Myrick, Eduardo Sánchez
Produção: Rob Cowie e Greg Halle,
Michael Monello (Co-produtor), Bob Eicke e Kevin J. Foxe (Produtores
Executivos)
Elenco: Heather Donahue,
Michael C. Williams, Joshua Leonard
Você
se lembra do ano de 1999? Então provavelmente também se lembra do sucesso
tremendo que A
Bruxa de Blair fez. Como tudo aquilo era novo e realmente
assustador. Toda aquela campanha de marketing utilizando a Internet era uma
baita novidade. A ideia de que o filme eram as supostas fitas encontradas dos
três estudantes de cinema perdidos na floresta era de gelar a espinha. E estou
falando de uma época em que não existia uma enxurrada dos chamados “mockumentaries”, ou falsos documentários, como REC, Cloverfield
– Monstro, Atividade Paranormal, e TANTOS outros (e olhe
que só estou citando os bons aqui, e não as bombas, tipo A
Forca). A única coisa perto dessa ideia decinema verité que já havíamos visto no gênero
era Cannibal
Holocaust de
Ruggero Deodato, no início dos anos 80, ou Aconteceu
Perto de Sua Casa no começo da década de 90. E a ideia de A
Bruxa de Blair era se virar com um orçamento ridículo e subverter a
ordem natural do cinema de horror, onde por mais que o espectador buscasse
sentir medo e ser ameaçado, ele estava seguro em sua poltrona, com o contato o
mais distante possível dos personagens. Aqui você, eu e todo mundo que assiste A
Bruxa de Blair é testemunha ocular, está ali vendo (ou melhor, não
vendo) o mesmo que os protagonistas, e exposto aos mesmos apuros e medos que
eles. O começo do filme, sem créditos iniciais, sem trilha sonora, já alerta o
espectador sobre a origem das filmagens: “Em outubro de 1994, três estudantes
de cinema desapareceram na floresta próxima a Burkittsville, Maryland, enquanto
filmavam um documentário… Um ano depois as imagens foram encontradas”. Esses
três estudantes são Heather, Michael e Joshua, que resolvem fazer o
documentário sobra uma antiga lenda da cidade de Burkittsville, ex-Blair. Após
o desaparecimento de várias pessoas nos arredores da floresta Black Hills, Elly
Kedward, a suposta bruxa, foi tida como responsável e banida em 1785. Após seu
banimento, várias crianças desapareceram da cidade, o que alimentou a lenda de
que elas eram levadas para a cabana da bruxa na floresta, que as matava de duas
em duas, sempre deixando uma virada para a parede enquanto executava a outra.
Na década de 40, um assassino chamamdo Rustin Parr alega inocência no tribunal
dizendo estar mancomunado com o espírito da bruxa. Além disso, há uma
testemunha ocular, uma maluca chamada Mary Brown, que jura de pé junto ter
visto a bruxa e que ela tinha o corpo todo coberto de pelos, dos pés a cabeça.
Enfim, essa mitologia inteira foi criada pelos diretores Daniel Myrick e
Eduardo Sánchez para tentar corroborar ainda mais a tal autenticidade do filme.
Os três documentaristas se embrenham na mata em busca de cenas para compor seu
trabalho, quando inevitavelmente se perdem e começam a vivenciar experiências
assustadoras, como escutar sons bizarros durante a noite e encontrar montes de
pedras empilhados do lado de fora da barraca e galhos misteriosos em formato de
bonecos pendurados nas árvores. E tudo sem desligar a câmera nervosa, que
alterna entre cenas em preto e branco e colorido, mostrando além dos perigos
sobrenaturais subentendidos, a degradação psicológica dos personagens, que
perdidos e desamparados, partem para brigas e discussões intermináveis, choros
e gritos de desespero, que vão aumentando ainda mais a angústia e a tensão
dividida de forma igual com o público também imerso naquele ambiente. Os
próprios atores eram ilustres desconhecidos, pessoas comuns como eu você, que usaram
até seus nomes verdadeiros como seus personagens. Eles mesmos foram os
cinegrafistas e tiveram de aprender a manejar câmera e áudio para aumentar
ainda mais a verossimilhança do filme, fora uma quase sádica tática de
guerrilha imposta pelos diretores. Os atores foram jogados a esmo na floresta,
munidos de um GPS e partes do roteiro. A equipe então se encumbiu de criar todo
o clima para meter medo nos coitados (e na gente), fazendo ruídos estranhos,
gritos e barulhos durante a noite, e até mesmo atacando a barraca onde eles
acampavam. E fora isso, foi dada total liberdade de improviso em diálogos e
cenas. Assistir A Bruxa de Blair hoje em dia com certeza não
traz o mesmo impacto de vê-lo pela primeira vez lá no final dos anos 90, no
cinema. Eu estava lá, um adolescente com seus 17 anos, sozinho no cinema
assistindo ao que estava sendo uma baita experiência cinematográfica e
compartilhando daquele medo e tensão com todos os outros ali presentes. Quando
o filme termina, você fica um pouco perplexo com o final abrupto, mas ao mesmo
tempo sente um baita alívio por as luzes terem se acendido. E isso é o grande
charme d’A Bruxa de Blair e que o faz ser horripilante. Hitchcock
já havia ensinado que mete muito mais medo o que a gente não vê, do que
realmente vê. Não há um monstro maquiado, ou um efeito especial ou sonoro para
dar susto. É o medo, cru, primal do desconhecido. E muita gente sentiu esse
medo, porque A Bruxa de Blair foi um estouro de bilheteria.
Uma produção baratérrima que gastou 60 mil dólares para ser rodado em oito
dias, faturou mais de 240 milhões em todo o mundo e tornou-se um verdadeiro
fenômeno do horror e uma aula de como fazer uma campanha de marketing, como
explorar o poder da Internet e seus grupos de discussão na época (o que hoje
seriam as redes sociais) e como fazer o boca a boca realmente trabalhar em prol
do sucesso de uma produção. Mas a maldição da bruxa recaiu sobre os inventivos
e originais diretores do filme. Após a enorme febre e o sucesso astronômico,
logo foram cotados como os próximos grandes nomes do cinema de horror. Mas o
que se veio foi uma malfadada sequência caça-níquel (mesmo que não dirigida por
eles), e ambos haviam sido contratados pela FOX para desenvolver uma série no
ano seguinte, chamada Freakylinks (alguém lembra?), que foi um
fiasco. E até hoje, passados 15 anos não conseguiram engatar sequer um projeto
decente no cinema. A bruxa realmente ficou solta.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/07/30/695-a-bruxa-de-blair-1999/
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