Direção: Tim
Burton
Roteiro: Kevin
Yagher, Andrew Kevin Walker (baseado na história de Washington Irving)
Produção: Scott
Rudin, Adam Schroeder; Kevin Yagher (Coprodutor); Andrew Kevin Walker
(Coprodutor – não creditado); Dieter Geissler, Mark Roybal (Produtores
Associados); Larry J. Franco, Francis Ford Copolla (Produtores Executivos)
Elenco: Johnny
Depp, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon, Casper Van Dien,
Jeffrey Jones, Michael Gough, Christopher Lee, Christopher Walken
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é
meu filme preferido de Tim Burton. Apesar do cara ter esse lado dark/ gótico/
esquisito bem acentuado, sempre colocando esses elementos peculiares em seus
filmes e animações, principalmente no começo de sua carreira, a sua adaptação
para a clássica história da literatura americana escrita por Washington Irving
é realmente a bola mais dentro nos padrões do filme de gênero, e talvez a mais
legítima, até se você levar em conta as bobagens tresloucadas posteriores
como Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet e
o execrável Sombras da Noite. Lembro
que quando o filme chegou aos cinemas do Brasil eu ainda era menor de idade,
mas estava em vias de completar meus 18 anos, que era a classificação
indicativa da produção. Não consegui comprar o ingresso, pois a moça da
bilheteria pediu meu RG e realmente me proibiu de assisti-lo, e olhe que eu não
acreditava que esse lance de censura realmente existisse. Mas eis então que o
espertalhão aqui escolheu um filme qualquer (juro que não me lembro qual) que
começava próximo ao horário de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e
zás, após entrar no interior do corredor do multiplex habilmente troquei de sala, me afundei o máximo
que pude na poltrona do cinema, jurando que aparecia ali um lanterninha para
pegar meu delito em flagrante e pude assistir ao filme de Burton numa boa. E
olha que eu nem sou filho da Alessandra Negrini… Mas pois bem, depois de contar
um pouco mais um causo da minha vida de fã do horror, eis que A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é um verdadeiro
deleite que funciona em todos os seus níveis. Começa do fato de ter a marca
registrada depressiva e atmosfera soturna de Burton, misturado por uma série de
influências que teve em sua vida, as quais nunca efetivamente tinha conseguido
levar para as telas, como as óbvias referências, principalmente estéticas e
caricatas, dos filmes da Hammer dos anos 60 e do visual gótico do maestro do
macabro, Mario Bava – mais nitidamente de A Máscara de Satã e Mata Bebê, Mata –
além da pegada que mistura um pouco da Era de Ouro da Universal e os filmes de
Roger Corman estrelados por Vincent Price. Até a presença de Christopher Lee e
Michael Gough no elenco reforça isso. Originalmente, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça deveria ser
dirigido pelo especialista em efeitos especiais, Kevin Yagher, o criador do
visual de Chucky em Brinquedo Assassino e
do Coveiro de Contos da Cripta. O
primeiro esboço do roteiro e conversas com a Paramount datam de 1993, e o
projeto seria o próximo após Yagher dirigir o fiasco Hellraiser IV: Herança Maldita. Porém
sua ideia era fazer um slasher de
baixo orçamento, e por problemas criativos com o estúdio, a cadeira de diretor
lhe foi tomada, deixando-o apenas como coprodutor e responsável pela maquiagem
e protética. Seu roteiro escrito junto com Andrew Kevin Walker passou pela
revisão de Tom Stoppard e Burton fora contratado, uma vez que naquele final de
século o terror tinha voltado para ficar, para assumir a direção, após o
fracasso de tentar levar à frente o que seria o hipoteticamente pavoroso Superman Lves com Nicholas Cage (que nesse momento vira tema
de documentário). Claro que Burton só poderia chamar ninguém menos que seu ator
fetiche, Johnny Depp, para o papel de Ichabod Crane, que aqui se transforma em
um detetive de Nova York, ao invés de um professor, como no texto original de
Irwing, que viaja até Sleepy Hollow para investigar uma série de assassinatos
misteriosos ocorridos naquela colônia holandesa agrícola do final do século
XVIII, onde as vítimas eram degoladas e suas cabeças desapareciam, levadas como
souvenir pelo assassino. E claro que Depp faria o sujeito o mais estranho que
poderia conceber, com seu toque peculiar, mas ainda assim dentro das imposições
do estúdio, que não queriam algo também tão esquisito e exigiram que nomes como
Brad Pitt, Liam Neeson ou Daniel Day-Lewis fossem considerados para o papel. Cê
acha que Burton ia topar? Descobre-se então lá pelas tantas, e isso nem pode
ser considerado um spoiler,
vai, que as vítimas todas são os poderosos de Sleepy Hollow e tem alguma
ligação com a abastada família Van Tassel, sendo que o terrível executor é o
tal do Cavaleiro sem Cabeça, um sanguinário ex-combatente hesseno que sai da
floresta em busca de… hã, cabeças, na procura por sua própria, perdida durante
a guerra quando morto em uma emboscada, que é vivido por Christopher Walken,
que não fala uma palavra o filme todo, mas vale pela sua sempre aparência
assustadora e seus dentes pontiagudos. Claro que Crane não acredita muito nessa
história, uma vez que pretende aplicar seus recém adquiridos conhecimentos
científicos em prol da investigação criminal. Mas durante o processo, acaba
conhecendo e se apaixonando por Katrina Van Tassel, papel da não menos
esquisita Christina Ricci, a eterna Vandinha da Família Addams, que tem lá seu
pezinho na bruxaria e no oculto, e está prometida a Brom Van Brunt (Capser Van
Dien), mas que acabará se apaixonando por Crane, e vice-versa, garantindo,
lógico, um par amoroso para a trama. A Lenda
do Cavaleiro Sem Cabeça tem lá seus momentos atmosféricos e
sombrios, mas sempre com um característico misto de comédia caricata camp, que Burton e Depp sabem usar
como ninguém, ainda mais pela inspiração no cinema de terror dos anos 50 e 60,
cenas de decapitação e violência com uma dose considerável de sangue e uma
perfeita amálgama entre os efeitos especiais digitais assinados pela Industrial
Light and Magic e a maquiagem e efeitos em humanos e criaturas supervisionados
por Yagher. Mas o desbunde mesmo da fita são a direção de arte e design de
produção do set, que não por menos deram um Oscar® a Rick Heinrichs e
Peter Young, além de valer indicação ao careca dourado pela direção de
fotografia de Emmanuel Lubezki e design de figurino, de Colleen Atwood, ambos
também um espetáculo a parte.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/07/699-a-lenda-do-cavaleiro-sem-cabeca-1999/
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