Direção: Antonia
Bird
Roteiro: Ted
Griffin
Produção:Adam Fields, David
Heyman; Tim Van Relim (Produtor Executivo)
Elenco: Guy
Pearce, Robert Carlyle, David Arquette, Jeremy Daves, Jeffrey Jones, John
Spencer, Stephen Spinella, Neal McDonough
Mortos de Fome é um estranho e
subestimado filme sobre canibalismo, que foge (e muito) do senso comum,
principalmente do subgênero e é recheado de humor negro em uma trama que
envolve os horrores da guerra, assassinato, covardia, loucura e até uma velha
lenda indígena americana. E claro, gente comendo carne humana! Dirigido por
Antonia Bird (que substituiu Milcho Mancheviski que ficou a frente da direção
por apenas duas semanas) e com roteiro de Ted Griffin, somos logo de cara
apresentados ao protagonista da história, que de herói não tem absolutamente
nada: o capitão John Boyd de Guy Pearce. Condecorado durante a Guerra Mexicana,
no Século XIX o “herói de guerra” na verdade foi um covarde que viu todo
seu batalhão ser assassinado enquanto se fingia de morto para sobreviver,
escondendo-se embaixo de uma pilha de cadáveres, tomando acidentalmente seu
sangue, até que ele se levanta, e sozinho pega os líderes rebeldes com a guarda
baixa e os assassina. Como o sujeito no fundo é uma vergonha nacional ele é
enviado para um distante posto do exército conhecido como Forte Spencer,
localizado na Califórnia, que serve como ponto de passagem para os viajantes
que desbravam Serra Nevada, conhecido pelo seu rigoroso inverno. O forte é
comandado pelo Coronel Hart (Jeffrey Jones) e lá está uma série de soldados
caricatos e desajustados, como o médico beberrão, o sujeito de temperamento
explosivo, o religioso que vive querendo escrever hinos de louvor, e um sujeito
viciado em ervas alucinógenas e mulheres, além de um casal de irmãos nativos. Certa
noite, um estranho errante chamado F.W. Colqhoun (papel de Robert Carlyle)
aparece no forte precisando de ajuda, e contando sua história, descobre-se que
ele era um pioneiro que viajava junto de uma caravana pega desprevenida por uma
tempestade de inverno, ao melhor estilo da Expedição dos Donner (e exatamente
no mesmo local!), sendo obrigados a se refugiar em uma caverna e recorrer ao
canibalismo para sobreviver. Como alguns membros da expedição ainda podem estar
vivos, Hart mobiliza seus homens para tentar encontra-los. Na verdade, tudo não
passa de um embuste e Colqhorn é um sádico que só queria preparar uma armadilha
e assim fazer novas vítimas para se alimentar. Do grupo de resgate, Boyd é o
único que sobrevive (que a gente sabe até esse momento), mas obrigado a
recorrer também ao canibalismo ao ferir gravemente a perna, somente para voltar
ao Forte Spencer e descobrir que o verdadeiro nome do facínora é Coronel Ives,
membro patenteado do exército americano que se tornará o novo chefe daquele
posto. Como se não bastasse toda essa picuinha e Boyd sendo taxado como louco,
uma vez que ninguém acredita na sua história sobre canibalismo e que o Cel.
Ives na verdade é um demente psicopata, um elemento fantástico é jogado na
trama, ao evocar a velha lenda do wendigo, criatura sobrenatural que surgiu de
um ser humano que passou extrema fome durante o inverno e comeu seus
companheiros para se alimentar, e após perpetuar seus atos canibais, ganha
atributos sobre-humanos, assimilando também sua força, inteligência, espírito,
além da cura de doenças e regeneração de ferimentos. Além de abordar o tema
canibalismo de uma forma peculiar, longe de filmes tradicionais do gênero que
evocam a antropofagia, como O Massacre da Serra Elétrica, O Silêncio dos Inocentes ou até
mesmo o infame ciclo italiano canibal dos anos 70, Mortos de Fome também tem
suas doses de violência sem apelar para o exploitation, mas com uma boa quantidade gráfica de sangue
derramado, que atinge seu auge justamente no terceiro ato, no feroz e brutal
embate final entre Boyd e Ives, no que obviamente, completará de forma
maniqueísta o ciclo de redenção do herói, uma vez que só a morte pode livrar a
pessoa da maldição do wendigo. Negligenciado, pouco entendido, deliciosamente
maluco e fora dos padrões, Mortos de Fome é
uma original mistura de filme de horror com comédia de humor negro, que joga
luz sobre um tema controverso de um modo completamente não ortodoxo e ainda nos
brinda com a absurdamente inverossímil (de forma proposital) e famosa cena
quando Boyd se joga do penhasco em direção a um queda vertiginosa entre as
copas das árvores e o máximo que acontece é uma perna quebrada! Altamente
recomendado.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/08/11/700-mortos-de-fome-1999/
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