Direção: Tod Browning
Roteiro: Guy Endore, Bernard
Schubert
Produção:Tod Browning, E.J.
Mannix
Elenco: Bela
Lugosi, Lionel Barrymore, Elizabeth Allan, Lionel Atwill, Jean Hersholt
Um filme dirigido pelo Tod
Browning, com Bela Lugosi no elenco fazendo o papel de um… hã, conde vampiro,
um professor especialista no oculto que tenta derrotá-lo, um casal jovem e
apaixonado onde a mocinha é mordida e fica a mercê da terrível criatura. Opa,
acho que já vi esse filme antes… Só que não! A Marca do
Vampiro parece que é uma coisa, mas é outra em um final
deliciosamente surpreendente. Juro que comecei a assistir a essa fita com um
enorme pé atrás. Cinco anos depois de Drácula, diretor e estrela se reúnem para fazer uma cópia em
carbono do clássico da Universal para a MGM, mudando nomes e situações? Achei
de uma baita picaretagem. Como eles se atreveram a protagonizar um filme
desses? Browning, um dos mais importantes (e menosprezados, infelizmente)
diretor de terror de sua época e Lugosi que havia imortalizado o conde,
sujeitando-se a esse plágio? Mas quando A Marca do Vampiro entra em
seu terceiro ato, de repente ele dá uma reviravolta completamente maluca e do
nada, o filme torna-se genial. Naquela época não era nem um pouco comum vermos
esses twists na trama (hoje saturados), que enganam o espectador
durante boa parte do filme e depois mostra uma coisa completamente
inimaginável. E nesse quesito o filme é extremamente ousado, e mais uma mostra
da capacidade de Browning como um contador de histórias. Além de tudo, tira
sarro, junto com Lugosi, do principal sucesso das suas carreiras, os quais
seriam reféns até o final de suas vidas. Fora isso, A Marca do Vampiro é
um filme insólito, difícil de entender, que pode se tornar inteligível em
determinados momentos, já que a MGM simplesmente ceifou 20 minutos (isso mesmo
que você leu, 20 minutos) da fita, a revelia de Browning. O estúdio estava
preocupado com o exagero do diretor em Monstros e fez questão de passar a foice (eliminando até
uma possível insinuação de incesto e a explicação do porque o personagem de
Lugosi tem aquele maldito ferimento de bala na testa, ao melhor estilo Mikhail
Gorbachev), para poder atingir um público maior. Impossível uma obra manter seu
esqueleto original de roteiro com 20 minutos a menos. E isso prejudicaria
demais o andamento do filme, já que muita coisa não faz o menor sentido, se a
confusão na história não acabasse tornando-a tão interessante. Não está entendendo nada, não é?
Então vamos aos fatos: A Marca do Vampiro começa com um vilarejo
sendo aterrorizado por um vampiro, o Conde Mora (interpretado por Lugosi, que
mal tem falas praticamente o filme todo e só fica mudo com aquele seu jeitão canastra
de olhos esbugalhados com uma luz lançada sobre eles) e Luna (Carroll Borland),
sua filha sedenta de sangue, que moram em um castelo cheio de morcegos e teias
de aranha. É quando o ilustríssimo Sir Karrel Boroty, um importante figurão do
local é encontrado morto, com a característica marca da mordida de vampiros em
seu pescoço e o sangue todo drenado. Com a morte de Karrel, ele deixa seu
castelo como herança e a tutela de sua filha, a bela Irena, aos cuidados do
Barão Otto (Jean Hersholt). Detalhe que Karrel morreu pouco antes de do
casamento da filha com o jovem Fedor. Durante a investigação médica, o Dr.
Doskill conclui que a causa foi mesmo vampirismo, e uma investigação policial
toma curso, chefiada pelo inspetor Neumann (outra figurinha carimbada do cinema
de horror, o ator Lionel Atwill). Ele recebe a ajuda do Professor Zelen,
interpretado impecavelmente por Lionel Barrymore, cópia descarada de Abrahan
Van Helsing, que já começa a convencer todos que realmente há terríveis
vampiros a solta, com uma penca de suas teorias malucas. É durante essa
investigação que Irena é atacada por Luna, e como reza a tradição, estará à
mercê do domínio vampírico todas as noites, com sua longa camisola de seda,
indo ao chamado das criaturas das trevas no jardim, exatamente como a Lucy de Drácula!
Lá pelas tantas o filme tem a sua reviravolta maluca, completamente absurda e
sem noção, que eu preciso muito comentar aqui, que é o que vai dar todo o
charme à produção. Então já sabe, alerta de SPOILER. Pule para o último parágrafo
ou leia por sua conta e risco. Na verdade essa história toda de vampiro não
passava de uma puta farsa, arquitetada por Neumann e Zelen para capturar o real
assassino do Sir Karrel. Não existe vampiro coisa nenhuma, e Zelen usa das suas
habilidades hipnóticas para hipnotizar o Barão Otto e que com isso ele faça a
reconstituição do crime, revelando-se como o verdadeiro assassino, motivado por
ciúmes de Irena. Então, usando um sósia de Karrel,
que atuava como um morto-vivo, Otto se incrimina na reconstrução envenenando-o
e fazendo a marca em seu pescoço com uma tesoura, para simular a mordida do
vampiro, e esquenta um copo para coloca-lo no ferimento e fazer a sucção de
todo o sangue (em um copo, você consegue fazer uma ventosa esquentando-o, e
sugar todo o sangue de uma pessoa?). Irena e todos os empregados estavam
mancomunados nessa história doida. Só seu noivo Fedor que não sabia de nada. E
o Conde Mora e sua filha, Luna, na verdade eram dois atores de circos
contratados para fazer o papel dos vampiros. E Lugosi solta a seguinte pérola
com seu carregado sotaque húngaro, na cena final, ao se despir do personagem:
“Este negócio de vampiro me deu uma grande ideia para um novo número. Nesse
novo número, eu serei um vampiro. Você me viu? Eu dei o melhor de mim. Estive
melhor que qualquer vampiro autêntico”. Impagável. Toda essa maluquice faz A
Marca do Vampiro ser um filme fantástico. Além de ter a sempre ótima
direção de Browning, uma fotografia primorosa, do genial James Wong Howe (que
seria o diretor de fotografia de Cidadão Kane alguns anos depois), além de
excelente ambientação e mixagem de som. Para completar, é um filme que serviu
como referencia para outras obras, como Plano 9 do
Espaço Sideral de Ed Wood (os personagens de Lugosi e Carroll
Borland inspirariam a dupla de Joanna Lee com Lugosi em seu último filme) e
também Luna foi inspiração confessa para a criação da personagem Mortícia, de A
Família Addams.
FONTE:
http://101horrormovies.com/
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