Direção: Robert Siodmak
Roteiro: Mel Dinelli
(baseado na obra de Ethel Lina White)
Produção: Dore Schary (não
creditado)
Elenco: Dorothy
McGuire, George Brent, Ethel Barrymore, Kent Smith, Rhonda Fleming, Gordon
Oliver
No Silêncio
das Trevas é filme muito bem executado pelo diretor Robert Siodmak,
que teve sua escola no expressionismo alemão, que mistura suspense, um casarão
vitoriano, um serial killer, estética de filme noir e um clima gótico de
mistério. Toda a forma que o longa é conduzido é magistral. Sua fotografia, o
jogo de câmera, ângulos e movimentos pouco usuais no cinema até então, os
planos, e o mais importante, a construção da atmosfera perfeita, até levar a
conclusão final, que infelizmente acaba pecando um pouco e deixa-o por um triz
de torná-lo um filme perfeito. O roteiro, baseado no livro Some Must
Watch de Ethel Lina White nos traz um assassino que vem aterrorizando uma
pequena cidade, matando mulheres que tenham em comum algum tipo de deficiência.
Aí entra na história Helen, protagonista do filme, interpretada estupendamente
por Dorothy McGuire, uma jovem que ficou muda após passar por uma traumática
experiência ao ver a casa de seus pais ardendo em chamas. Helen trabalha na
casa dos Warren, onde moram o Professor Warren, sua mãe enferma que vive de
cama e precisa de cuidados constantes, Sra. Warren, e seu meio-irmão Stephen.
Junto com ela trabalham e vivem na mansão Blanche, a secretária que tem um caso
com Stephen, o Sr. e Sra. Oates, ambos empregados e a enfermeira Baker, que
vive sendo maltratada pela rabugenta Sra. Warren. Uma noite de tempestade se
aproxima, e todos esses personagens, incluindo o Dr. Parry (interpretado por
Kent Smith, de Sangue de Pantera), apaixonado por Helen que tenta ajudá-la a
recuperar sua voz, estarão ligados dentro desse casarão como cenário,
envolvidos em intrigas familiares, paixões e mistério, elementos perfeitos para
um suspense controlado enquanto o assassino trabalha à espreita, em busca de
sua próxima vítima. Isso é o que posso contar do filme sem estragar nada. Claro
que no decorrer da história seremos munidos de informações sobre cada um dos
ali presentes, que nos dará pistas para tentarmos desvendar quem anda
praticando tais atos hediondos, até chegarmos no final, onde a verdadeira
identidade do assassino é revelada em uma cena de extrema tensão crescente, que
acontece na tal escada espiral, que remete ao título original do filme. Mas
toda a fita é construída de forma magnífica, com todos seus elementos em
perfeita sintonia. Primeiro, temos uma garota que não pode gritar ou pedir por
socorro, então isso vai aumentando ainda mais a dose de pavor e angústia,
principalmente durante sua perseguição. Segundo, temos diversos personagens
excêntricos, enclausurados dento daquele casarão, cada um com uma motivação ou
comportamento suspeito, que poderia pintar como o assassino no final da trama.
Terceiro é a ambientação perfeita nas tomadas entre os grandes quartos e
corredores da mansão, porões e demais aposentos, opressivamente somada com a
ameaçadora tempestade lá fora. Quarto é a competente atuação de todos os
atores, em plena sintonia, principalmente de Dorothy McGuire e de Ethel
Barrymore, que faz o papel da Sra. Warren, que concorreu ao Oscar de
Melhor Atriz Coadjuvante naquele ano. O que mais chama a atenção em No Silêncio
das Trevas é a direção vanguardista de Siodmak, e certos detalhes que ele
coloca em cena que deslumbram. Vamos sempre lembrar que estamos falando de um
filme da década de 40, mas alguns elementos nos rementem aos
melhores giallos que serão rodados décadas depois. Parece que você
está você está assistindo um filme perdido no tempo / espaço de Dario Argento
ou Mario Bava. O assassino usando sua luva de couro, mortes violentas e com
requintes de crueldade, mesmo nunca sendo explícitas (como acontecia nos giallos),
e principalmente o voyeurismo. Na cena do primeiro assassinato, enquanto a
garota troca de roupa, somos testemunhas de um sádico espreitando dentro do
armário, apenas observando-a, com o diretor nos mostrando um close em seu olhar
doente, já prestes a atacar a vítima. Esse mesmo olhar à espreita na escuridão
é visto antes do criminoso cometer o segundo (e último) assassinato do longa,
já envolto nas sombras do velho casarão dos Warren, onde um corte de cena e
excelente jogo de luz e sombra ilumina apenas as mãos da vítima se contorcendo.
Fora isso, ao descobrirmos sua motivação, em querer livrar o mundo dessas
mulheres com imperfeições, vemos que apesar das aparências que nos enganaram
até então, já que nos é reservado uma reviravolta ao descobrir a verdadeira
identidade do assassino, sempre tratou-se de uma mente distorcida e perturbada.
Em nenhum momento soa datado e canhestro, dá para ver nitidamente a ousadia da
direção de Siodmak na década de 40, e vislumbrar quantas influências futuras
ele deixou para o gênero.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/01/18/64-no-silencio-das-trevas-1945/
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