terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

#066 1951 O MONSTRO DO ÁRTICO (The Thing from Another World, EUA)



Direção: Christian Nyby, Howard Hawks (não creditado)
Roteiro: Charles Lederer (baseado na obra de John W. Campbell Jr.)
Produção: Howard Hawks, Edward Lasker (Produtor Associado)
Elenco: Margaret Sheridan, Kenneth Tobey, Robert Cornthwaite, Douglas Spencer, James Youg

Chegamos aos anos 50. A década em que o cinema de horror e de sci-fi andaram de mãos dadas, cheio de suas invasões alienígenas, animais gigantes e monstros espaciais e/ou radioativos para ajudar a enfiar na cabeça dos americanos e de uma geração inteira de baby boomers, a iminente ameaça nuclear e o temores do comunismo em tentar destruir o precioso american way of life. O Monstro do Ártico é o primeiro dessa lista. Clássico absoluto da ficção científica, a fita produzida por Howard Hawks (e dirigida, de forma não creditada) para a RKO Radio Pictures é baseada na história Who Goes There? de John W. Campbell Jr., publicada na revista Astounding Stories e refilmada 30 anos depois por John Carpenter, resultando na obra prima do terror alienígena O Enigma de Outro Mundo. Lançado em plena Guerra Fria, claro que a história de um alienígena maligno é uma metáfora para os comunistas, quase como todos os filmes do período, funcionando como uma verdadeira propaganda ideológica macarthista. Junto com o igualmente famoso Vampiros de Almas e O Dia Em Que a Terra Parou, O Monstro do Ártico é um dos filmes que mais ganhou conotações políticas (até talvez mais do que fosse sua real intenção), graças a seu enredo que caiu como uma luva no sentimento xenofóbico obscuro e negativista dos americanos nos anos pós bomba atômica, apresentado por meio de uma forma de vida implacável que se alimenta de sangue, predisposto a eliminar o status quo e instalar o medo e paranoia no mundo. Para não colocar a carroça na frente dos bois, uma forma de vida alienígena vegetal caiu na terra e ficou em animação suspensa congelada em um bloco de gelo em pleno ártico, até ser encontrado por homens da força aérea americana, liderados pelo capitão e piloto Patrick Hendry (Kenneth Tobey), que vivem isolados em uma base militar no continente gelado e um grupo de cientistas, chefiados pelo Dr. Arthur Carrington. Ao ser levado para a base, o monstro descongela e acorda do seu sono milenar, morrendo de fome e sedento por sangue humano. Andando indestrutível pelos corredores, os cientistas descobrem que a coisa do outro mundo (título original do filme) na verdade vem de um planeta onde a evolução foi diferente da nossa, e os vegetais estavam no topo da escala evolucionária, e aquela super cenoura (como um dos próprios cientistas o descreve), pode se adaptar tranquilamente do meio inóspito e se reproduzir de forma acelerada e assexuada, tal como os vegetais, e podendo assim infestar todo o mundo, se escapar do local. Enquanto Hendry quer dar cabo da criatura antes que tal mal aconteça, o Dr. Carrington quer tê-lo como objeto de estudo e encontrar uma forma de pacificação com a raça alienígena. Claro que o plano do Dr. Carrington vai para as cuias e o voto é pela destruição do monstro, que na verdade é extremamente resistente a tiros e fogo. Um verdadeiro titã do espaço sideral. Apesar de alegadamente ser um filme B, o visual da criatura é realmente assustador, talvez pelo fato de não aparecer frequentemente de forma explícita na tela, o que com certeza seria um desastre, mas de ficar andando e espreitando pelos corredores escuros, alimentando o temor dos espectadores e ser visto apenas de relance e em meio à sombra, auxiliado pela opressiva fotografia preto e branca, que aumenta ainda mais o sentimento de clausura e impotência contra o monstro vegetal (interpretado por James Arness). Ponto também para a ótima utilização dos efeitos sonoros em prol do medo, tanto no constante uivar do vento polar lá fora, quanto os urros assustadores da criatura. A crueldade do alien implacável também é um dos pontos altos do filme, já que ele não tinha a menor dó de acabar com a vida de seus caçadores, tanto que lá paras tantas vamos encontrar dois cientistas mortos, pendurados como carne do açougue, de cabeça para baixo, com todo seu sangue extraído para servir de alimento ao vilão espacial. Além disso a sequência final do filme é muito bem executada, após os envolvidos, militares, cientistas e civis debaterem muito sobre a melhor (e talvez única) forma de conseguir destruir o alienígena: eletrocutando-o. Claro que O Monstro do Ártico não funciona tão bem como O Enigma de Outro Mundo de Carpenter, ainda mais pensando na plateia de hoje, já que o filme de 1982 tirou toda a aventura e o heroísmo para criar uma obra claustrofóbica e extremamente pessimista, com a criatura tendo o poder mimético de se transformar em outros seres humanos, jogando os homens isolados um contra os outros. Mas ainda assim é um importante exemplar da amálgama entre terror e sci-fi que seriam produzidos a rodo durante essa década, e um dos mais bem sucedidos filmes do período, servindo de referência e influência para diversas obras vindouras.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/01/21/66-o-monstro-do-artico-1951/

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