quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

#069 1953 OS INVASORES DE MARTE (Invaders from Mars, EUA)


Direção: William Cameron Menzies
Roteiro: Richard Blake, John Tucker Battle (história/não creditado)
Produção: Edward L. Alperson
Elenco: Helena Carter, Arthur Franz, Jimmy Hunt, Leif Erickson, Hillary Brooke

Os Invasores de Marte é um daqueles filmes que beiram o ridículo, tanto em seu roteiro quanto em seus, hã, (d)efeitos especiais, que acaba se tornando uma experiência divertidíssima. Fica meio óbvio que a intenção de alguns filmes B na época era realmente serem levados a sério, mas hoje em dia é impossível passar incólume da sua podridão. Os Invasores de Marte não se presta a essa caso. É o típico exemplo do filme canastra, feito às pressas por produtores inescrupulosos querendo abocanhar sua fatia de grana de uma população incauta que via qualquer porcaria no cinema só pelo fato de trazer uma história com invasão alienígena e transparecer o terrível perigo de uma guerra nuclear. Dirigido por William Cameron Menzies (saiba você que James Cameron adotou seu sobrenome artístico por conta desse sujeito aí), Os Invasores de Marte é uma picaretagem clássica dos créditos iniciais aos finais. O começo é extremamente promissor. Abusando do uso das cores quentes, em contrapartida da maioria esmagadora dos filmes de sci-fi preto e branco que eram produzidos na época, somos logo apresentados a um garotinho ruivo sardento chamado David MacLean (Jimmy Hunt) que acorda no meio de uma noite de tempestade e vê um disco voador, daqueles da forma mais tradicional possível, pousar perto da sua casa. Assustado, o moleque acorda seu pai, que por coincidência do destino é um engenheiro que trabalha com alta tecnologia e criação de motores e espaçonaves utilizando energia nuclear (olha ela aí), que resolve investigar a teoria do garoto, uma vez que ele é um menino sério (como dito mais de uma vez no filme) e não é desses de ficar mentindo e inventando histórias. Pois bem, na manhã seguinte o pai volta completamente diferente, bruto, frio e violento, agindo de forma estranha, dando até uns safanões no garoto. Adivinhe por quê? Está sendo controlado pelos alienígenas, que implantam uma espécie de transmissor em sua nuca (forma com o qual descobriremos quais humanos estão sobre o controle marciano), e logo junto com outros, irá começar a executar uma conspiração doida de dominação mundial e destruição do nosso planeta e nossa perigosa tecnologia. David é o único testemunho da história e no começo ninguém acredita nele. Até sua mãe e o chefe de polícia estão sob domínio alien. Mas é aí que a coisa muda de figura de repente e o astrônomo Dr. Stuart Kelston e a médica Dra. Pat Blake compram a ideia do moleque sardento e já conseguem descobrir todo o nefasto plano dos marcianos, assim em um estalar de dedos, logo acionando o exército que coloca uma verdadeira tropa em alerta para tentar livrar a América de uma invasão iminente, simplesmente acreditando em um garoto, fácil assim, sem ao menos questionar ou levantar provas. GE-NI-AL. Então eles cercam o local onde a nave está enterrada, com vários tanques de guerra que passam a atirar sem a menor necessidade, e os milicos resolvem entrar no buraco, logo após a Dra. Blake e o garotinho terem sido levados para o covil marciano. E aí meu amigo, é que vem o ápice do filme. O momento alto. O clímax. Quando finalmente nos é apresentado os terríveis marcianos. É de rolar no chão de dar risada. Eles estão vestidos com uma pijamão verde de camurça, todo felpudo, que eu juro por Deus que vi o zíper na parte de trás de um deles. E o líder marciano é uma cabeça que fica dentro de um aquário, com dois mini tentáculos saindo do ombro, que fica mexendo impacientemente os olhos para um lado e para o outro, comandando telepaticamente os seus conterrâneos. Para completar o absurdo, eles possuem uma espécie de bazuca de raio e sempre só vamos ver quatro desses alienígenas mequetrefes em cena, nunca mais que isso, pois provavelmente tiveram verba só para quatro fantasias toscas. Não demora para o exército descer até a nave e travar uma “feroz batalha” contra os invasores do planeta vermelho. Quando a nave está prestes a decolar e os marcianos se safarem, os soldados plantam uma bomba na geringonça espacial e decide mandar tudo para os ares. Com o local desmoronando e a saída soterrada, David tem a ideia brilhante de usar a bazuca alienígena para abrir espaço. Sim, David, porque nenhum dos treinados soldados do exército dos Estados Unidos pensou nisso. Por isso tomaram pau no Vietnã, no Afeganistão e no Iraque. Até David é obrigado a empunhar a bazuca e ajudar a dispará-la. Ao escaparem e saírem correndo para fugir da explosão, em mais uma cena de direção patética, um close do garoto correndo em câmera lenta enquanto o filme vai sendo repassado em flashback pouco a pouco sem a menor necessidade, até que taraaaan, o garoto acorda e era tudo um sonho!!! Ah vá? O garotinho assustado corre para a cama dos pais, que estão lá em seus pijamas e nunca viraram escravos do desejo do líder marciano dentro do aquário. Mas eis que David é posto na cama, e exatamente como no começo do filme, vê um clarão na noite e a mesma nave pousar sobre o campo. Ou seja, além disso o menino é clarividente… Mas claro que em meio a toda essa alegoria e falta de qualquer mínimo de senso estético, está lá a mensagem subliminar obrigatória do sci-fi americano dos anos 50: o medo da invasão comunista. Aqui, David e sua família são a típica família suburbana americana que tem a vidinha perfeita, até que o vilão de outro planeta (conhecido na boca pequena como União Soviética) aparece com seu tenebroso regime que tira a autonomia e a vontade das pessoas e as transforma em escravas da massa e de seu líder. Mas não tenham medo, pois o exército americano e todo seu poderio militar está pronto para chutar seus traseiros e colocar esses comun… ops, marcianos, para correr. Na boa, é preciso assistir Invasores de Marte para ter dimensão da ambiguidade desse filme, que em seu vasto esplendor remete toda a ruindade de uma produção B de ficção científica da década de 50 e ao mesmo tempo, toda sua genialidade como pérola trash do cinema, que vem divertindo gerações há 60 anos.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/01/24/69-os-invasores-de-marte-1953/

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