Direção: William
Cameron Menzies
Roteiro: Richard
Blake, John Tucker Battle (história/não creditado)
Produção: Edward
L. Alperson
Elenco: Helena
Carter, Arthur Franz, Jimmy Hunt, Leif Erickson, Hillary Brooke
Os Invasores de Marte é um daqueles filmes que
beiram o ridículo, tanto em seu roteiro quanto em seus, hã, (d)efeitos especiais,
que acaba se tornando uma experiência divertidíssima. Fica meio óbvio que a
intenção de alguns filmes B na época era realmente serem levados a sério, mas
hoje em dia é impossível passar incólume da sua podridão. Os Invasores de Marte não
se presta a essa caso. É o típico exemplo do filme canastra, feito às pressas
por produtores inescrupulosos querendo abocanhar sua fatia de grana de uma
população incauta que via qualquer porcaria no cinema só pelo fato de trazer
uma história com invasão alienígena e transparecer o terrível perigo de uma
guerra nuclear. Dirigido por William Cameron Menzies (saiba você que James
Cameron adotou seu sobrenome artístico por conta desse sujeito aí), Os
Invasores de Marte é uma picaretagem clássica dos créditos iniciais aos
finais. O começo é extremamente promissor. Abusando do uso das cores quentes, em contrapartida
da maioria esmagadora dos filmes de sci-fi preto e branco que eram
produzidos na época, somos logo apresentados a um garotinho ruivo sardento
chamado David MacLean (Jimmy Hunt) que acorda no meio de uma noite de
tempestade e vê um disco voador, daqueles da forma mais tradicional possível,
pousar perto da sua casa. Assustado, o moleque acorda seu pai, que por
coincidência do destino é um engenheiro que trabalha com alta tecnologia e
criação de motores e espaçonaves utilizando energia nuclear (olha ela aí), que
resolve investigar a teoria do garoto, uma vez que ele é um menino sério (como
dito mais de uma vez no filme) e não é desses de ficar mentindo e inventando
histórias. Pois bem, na manhã seguinte o pai volta completamente diferente, bruto,
frio e violento, agindo de forma estranha, dando até uns safanões no garoto.
Adivinhe por quê? Está
sendo controlado pelos alienígenas, que implantam uma espécie de transmissor em
sua nuca (forma com o qual descobriremos quais humanos estão sobre o controle
marciano), e logo junto com outros, irá começar a executar uma conspiração
doida de dominação mundial e destruição do nosso planeta e nossa perigosa
tecnologia. David é o único testemunho da história e no começo ninguém acredita
nele. Até sua mãe e o chefe de polícia estão sob domínio alien. Mas é aí que a
coisa muda de figura de repente e o astrônomo Dr. Stuart Kelston e a médica
Dra. Pat Blake compram a ideia do moleque sardento e já conseguem descobrir
todo o nefasto plano dos marcianos, assim em um estalar de dedos, logo
acionando o exército que coloca uma verdadeira tropa em alerta para tentar
livrar a América de uma invasão iminente, simplesmente acreditando em um
garoto, fácil assim, sem ao menos questionar ou levantar provas. GE-NI-AL. Então eles cercam o
local onde a nave está enterrada, com vários tanques de guerra que passam a
atirar sem a menor necessidade, e os milicos resolvem entrar no buraco, logo
após a Dra. Blake e o garotinho terem sido levados para o covil marciano. E aí meu
amigo, é que vem o ápice do filme. O momento alto. O clímax. Quando finalmente
nos é apresentado os terríveis marcianos. É de rolar no chão de dar risada. Eles estão vestidos com uma
pijamão verde de camurça, todo felpudo, que eu juro por Deus que vi o zíper na
parte de trás de um deles. E o líder marciano é uma cabeça que fica dentro de
um aquário, com dois mini tentáculos saindo do ombro, que fica mexendo
impacientemente os olhos para um lado e para o outro, comandando
telepaticamente os seus conterrâneos. Para completar o absurdo, eles possuem
uma espécie de bazuca de raio e sempre só vamos ver quatro desses alienígenas
mequetrefes em cena, nunca mais que isso, pois provavelmente tiveram verba só
para quatro fantasias toscas. Não demora para o exército descer até a nave e
travar uma “feroz batalha” contra os invasores do planeta vermelho. Quando a
nave está prestes a decolar e os marcianos se safarem, os soldados plantam uma
bomba na geringonça espacial e decide mandar tudo para os ares. Com o local
desmoronando e a saída soterrada, David tem a ideia brilhante de usar a bazuca
alienígena para abrir espaço. Sim, David, porque nenhum dos treinados soldados
do exército dos Estados Unidos pensou nisso. Por isso tomaram pau no Vietnã, no
Afeganistão e no Iraque. Até David
é obrigado a empunhar a bazuca e ajudar a dispará-la. Ao escaparem e saírem
correndo para fugir da explosão, em mais uma cena de direção patética, um close
do garoto correndo em câmera lenta enquanto o filme vai sendo repassado em flashback pouco
a pouco sem a menor necessidade, até que taraaaan, o garoto acorda e era tudo
um sonho!!! Ah vá? O garotinho assustado corre para a cama dos pais, que estão lá em
seus pijamas e nunca viraram escravos do desejo do líder marciano dentro do
aquário. Mas eis que David é posto na cama, e exatamente como no começo do
filme, vê um clarão na noite e a mesma nave pousar sobre o campo. Ou seja, além disso o menino é
clarividente… Mas claro que em meio a toda essa alegoria e falta de qualquer
mínimo de senso estético, está lá a mensagem subliminar obrigatória do sci-fi americano
dos anos 50: o medo da invasão comunista. Aqui,
David e sua família são a típica família suburbana americana que tem a vidinha
perfeita, até que o vilão de outro planeta (conhecido na boca pequena como
União Soviética) aparece com seu tenebroso regime que tira a autonomia e a
vontade das pessoas e as transforma em escravas da massa e de seu líder. Mas não tenham medo, pois o
exército americano e todo seu poderio militar está pronto para chutar seus
traseiros e colocar esses comun… ops, marcianos, para correr. Na boa, é preciso
assistir Invasores de Marte para ter dimensão da ambiguidade desse
filme, que em seu vasto esplendor remete toda a ruindade de uma produção B de
ficção científica da década de 50 e ao mesmo tempo, toda sua genialidade como
pérola trash do cinema, que vem divertindo gerações há 60 anos.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/01/24/69-os-invasores-de-marte-1953/
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