quinta-feira, 25 de agosto de 2016

PÂNICO 4 (EUA, 2011)


#684 1997 A RELÍQUIA (The Relic, EUA, Alemanha, Japão, Nova Zelândia, Reino Unido)


Direção: Peter Hyams
Roteiro: Amy Holden Jones, John Raffo, Rick Jaffa, Amanda Silver
Produção: Gale Anne Hurd, Sam Mercer; Mark Gordon, Gary Levinsohn (Produtor Executivo)
Elenco: Penelope Ann Miller, Tom Sizemore, Linda Hunt, James Whitmore, Clayton Rohner, Chi Muoi Lo

Como já escrevi aqui no blog algumas (muitas) vezes, a década de 90 foi um período de estiagem para o cinema de horror, então toda e qualquer produção que aparecesse minimamente decente durante aqueles tempos de vacas magras, era um sopro de alivio para os fãs. Mesmo sendo lançado em 1997, quando o gênero começava a se recuperar, A Relíquia é um desses casos. Em um post sobre Um Lobisomem Americano em Paris, um dos fãs do horror comentou sobre o uso de CGI nos filmes de terror, e principalmente o fato de a grande maioria das produções do gênero serem marginais e de baixo orçamento, o que fatalmente fará com que os efeitos especiais fiquem toscos e gere uma tremenda perda de credibilidade. O que era para ser visualmente sério, vira motivo de troça. A Relíquia, felizmente, não cai nessa armadilha, com seus 40 milhões de dólares de orçamento e a criatura sendo desenvolvida pelo mago Stan Winston. E pela primeira vez na história do cinema, um problema acabou se tornando uma involuntária solução acertadíssima. Acontece que o filme estava programado para estrear em agosto de 1996, mas por conta dos atrasos nos efeitos especiais, e o fato da criatura principal não tenha ficado pronta em tempo hábil para as sequências em que sua presença física e visual se faria necessária no set, o filme acabou sendo lançado somente inverno do ano seguinte, e o monstrengo foi dar as caras somente nos trinta minutos finais do filme. O que claro, é uma puta boa ideia no sentido narrativo, como já havia nos ensinado Alfred Hitchcock ou mesmo Steven Spielberg com seu Tubarão. Nada de banalizar o monstro e já colocá-lo em toda sua glória e esplendor no começo da fita. Foi se guardado a sete chaves (inclusive os produtores fizeram isso, não deixando ninguém se aproximar das criações de Winston, como acontecera em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros, dadas as devidas proporções), para manter o suspense. Afinal de contas, você pensar que estamos falando de uma deidade indígena sul-americana e que é uma mistura de lagarto, inseto, besouro e tigre, qualquer um ficaria ressabiado. Pois bem, acontece que a história também é interessante, baseada no best seller homônimo de Douglas Preston (ex-jornalista e relações públicas do American Museum of Natural History de Nova York) e Lincoln Child, onde um antropólogo americano, John Whitney (Lewis Van Berger) está realizando um estudo sobre antigos rituais sagrados na floresta amazônica aqui em nossa terra brazilis. Ele bebe uma espécie de poção alucinógena, tipo uma irmã do ayahuasca, tem uma alucinação da brava, e corta para ele enviando alguns artefatos para o Museu de História Nacional de Chicago, de navio. Acontece que ao desembarcar no porto da Cidade dos Ventos, toda a tripulação do navio está morta e o antropólogo desaparecido. Os detetives Vincent D’Agosta (Tom Sizemore) e Hollingsworth (Clayton Rohner) passam a investigar o assassinato, sendo que a próxima vítima é exatamente um dos seguranças do museu onde as peças foram enviadas. Um detalhe é que todas as vítimas têm seu cérebro removido e a região do hipotálamo devorada. O museu está preste a abrir uma importante exposição sobre superstições e alguns conflitos e interesses comerciais, incluindo do prefeito de Chicago, impedem o fechamento do local para uma investigação maior. Paralelo a isso, a bióloga evolucionista Dra. Margo Green (Penelope Ann Miller) irá ajudar o supersticioso detective D’Agosta na tentativa de  juntar pistas de quem é o assassino, que continua fazendo suas vítimas dentro do museu. Durante o evento de gala é que o bicho vai pegar (literalmente), quando a criatura resolve sair do seu esconderijo no subterrâneo e tocar o terror. Todos os sistemas de segurança do museu entram em pane e os convidados ficarão presos dentro do local e terão que correr por suas vidas, para não serem devorados pela encarnação de Kothoga, que se descobre uma besta quimera sul-americana, uma vez que os membros daquela tribo lá no começo do filme usavam as propriedades de uma planta nativa para transformar animais em uma criatura mutante guerreira para enfrentar seus inimigos. A Relíquia ao entrar em seu terceiro ato, quando Kothoga realmente aparece em cena, tirando a explicação das mais fantásticas, que requer um nível altíssimo de suspensão de descrença, recorre aos preceitos básicos dos filmes de terror de monstros gingantes assassinos mutantes: correria, claustrofobia, ataques vorazes, uma boa dose de gore e o bom e velho maniqueísmo presente nos surtos heroicos dos protagonistas, e egoístas dos antagonistas. O que ajuda bastante são os efeitos especiais de Stan Wiston, fazendo com que para a época, o CGI dê certo , diferente de outros longas já citados (e comentados) por aqui. Um entretenimento justo e que até surpreende, tendo em vista sua premissa e o fato de usar e abusar de velhos clichês do gênero (a crítica de Leonard Martin diz que é como “Alien – O Oitavo Passageirono museu”), é o que você pode esperar de A Relíquia, que atingiu o primeiro lugar no seu final de semana de estreia, mas não manteve força e fechou a bilheteria doméstica com apenas pouco mais de 33 milhões de dólares, não chegando nem a se pagar, relegando-o a um destino obscuro e subestimado.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/07/08/684-a-reliquia-1997/

#682 1997 MUTAÇÃO (Mimic, EUA)


Direção: Guillermo Del Toro
Roteiro: Matthew Robbins, Guillermo del Toro (baseado no conto de Donald A. Wollheim)
Produção: Ole Bornedal, B.J. Rack, Bob Weinstein; Cary Grant, Richard Potter, Andrew Roma, Scott Shiffman, Michael Zoumas (Coprodutores); Clark Henderson (Produtor Associado); Stuart Cornfeld, Harvey Weinstein (Coprodutor Executivo); Michael Phillips (Produtor Executivo
Elenco: Mira Sorvino, Jeremy Northam, Alexander Goodwin, Giancarlo Giannini, Charles S. Dutton, Josh Brolin

Mesmo deserdado por Guillermo Del Toro, Mutação é um excelente filme de “insetos gigantes assassinos”. Nada parecido com aqueles do subgênero dos big bugs dos anos 50, e sim, outra prova de todo o potencial que o diretor mexicano nerd-mor conseguiria alcançar futuramente, seguindo os passos projetados por seu longa anterior: Cronos. E atrevo-me a dizer que Mutação só funciona por conta de Del Toro. Talvez o filme ficasse no campo da trasheira se caísse nas mãos de um diretor sem tamanha habilidade visual e apreço pelo fantástico, e olha, bem que tentaram sabotar o trampo do cara, tendo em vista todos os problemas que ele teve com o produtor Bob Weinstein, que vivia metendo os bedelhos em frequentes visitas ao set, alterando o roteiro e dizendo o que e como deveria ser filmado. Vai vendo… Bom, começa que a história rende um belo de um sci-fi, escrito por Del Toro e Matthew Robbins, inspirado no conto homônimo de Donald A. Wolheim. Originalmente, a ideia era que a produção fosse dividida em três médias de 30 minutos, parte de uma antologia de horror, comédia e ficção científica da Miramax, mas o roteiro acabou crescendo e se transformando em um longa metragem. Apesar do aceitável título em português, Mutação, o original “Mimic”, vem de mimetizar, sinônimo de imitar, simular, uma característica muito comum no reino animal, e principalmente dos insetos. Na trama, a cidade de Nova York está infestada de baratas, que disseminam uma terrível epidemia que matara cerca de mil crianças, sem que nenhuma técnica consiga impedir a doença. A entomologista Dra. Susan Tyler (vivida pela eterna Poderosa Afrodite, Mira Sorvino), e seu futuro marido, Dr. Peter Mann (Jeremy Northam), do CDC (centro de controle de doenças) desenvolvem um inseto geneticamente alterado, chamado de Judas, que será colocado junto das outras baratas e contaminá-las, “traindo-as”. O experimento é um sucesso, as criancinhas são salvas e como o artrópode não tem a capacidade de procriar, logo esses animais também estariam mortos, sem o risco de colocar no ecossistema nova-iorquino um novo tipo de inseto. Tudo beleza, certo? Errado! Acontece que depois de três anos, os insetos da geração Judas acabaram mutando e se reproduzindo, dando origem a um híbrido gigante, que se mimetiza de seu predador natural para poder atacá-los: ou seja, os homens. As baratonas voadoras gigantes constroem seu ninho numa abandonada estação do metrô e passam a fazer suas vítimas. Mann e o CDC são chamados para investigar esses estranhos assassinatos, junto do detetive de polícia Josh (Josh Brolin). Paralelo a isso, a Dra. Susan encontra uma larva de inseto gigante que se assemelha muito ao Judas e resolve ir até o subsolo para tentar descobrir o que está acontecendo, onde ficará presa junto de seu marido com o policial da estação, Leonard (Charles S. Dutton), o menino autista Chuy (Alexander Goodwin), primeiro a avistar a criatura e imitar seus passos com o bater de uma colher, apelidando-o de “Sr. Sapatos Engraçados” e seu pai, o engraxate, Manny (Giancarlo Giannini). Todos terão de sobreviver às mortais investidas dos insetos mutantes, obrigados a ficar acuados em um vagão abandonada e ter de se besuntar com a gosma dos bichos para disfarçar os odores do suor e assim não atraí-los. O terceiro ato, esse que se desenvolve na estação do metrô, é quando Del Toro manipula muito bem a situação claustrofóbica, misturando toda a tensão do suspense com excelentes efeitos especiais para a época (méritos de Colin Penman) e boas doses de gore. Toda a técnica de filmagem do mexicano, o apreço pela história e seus personagens e a construção dos elementos do longa, fez com que Mutação voasse para longe (viu o que eu fiz aqui?) do rótulo de um simples sci-fi B. Destoa apenas o seu final, que fora refeito após todas as desavenças de Del Toro e produção, para uma conclusão feliz e bonitinha, diferente do desfecho pessimista do roteiro original. Mas Mutação não foi nada bem nas bilheterias. Foram gastos 25 milhões de dólares e acabou apenas empatando no mercado doméstico, o que para as produtoras, não é uma conta nem um pouco interessante. Ainda assim ganhou mais duas continuações de qualquer forma, direto para o vídeo. Porém, a fita serviu para deixar o mexicano nos holofotes. Depois disso o diretor mandou Hollywood às favas e voltou-se para o mercado europeu, dirigindo o excelente A Espinha do Diabo, produzido por Pedro Almodóvar, mas sua volta não tardaria para assumir as adaptações de quadrinhos Blade II – O Caçador de Vampiros e Hellboy e de vez conquistando os corações geeks do mundo.

#681 1997 O MESTRE DOS DESEJOS (Wishmaster, EUA)


Direção: Robert Kurtzman
Roteiro: Peter Atkins
Produção: Pierre David, Clark Peterson, Nöel Zanitsch; David Tripet (Coprodutor); Erik Salzgaber (Produtor Associado), Wes Craven (Produtor Executivo)
Elenco: Tammy Lauren, Andrew Divoff, Robert Englund, Chris Lemmon, Wendy Benson-Landes, Tony Crane, Kane Hodder, Tony Todd

O Mestre dos Desejos é um filme um tanto quanto ambíguo. Ele funciona muito bem como homenagem ao cinema de terror, tem em seus créditos uma porrada de gente importante para o gênero, criou mais um movie maniac, mesmo que sem o charme ou sucesso de outras criaturas da lista, tem uma história até que interessante e efeitos especiais e de maquiagem bem bacanas. Mas… Sempre tem um mas. E aqui no caso é que apesar de tudo isso, é um filme mediano, que fica meio em um limbo daquelas produções sem muito brilho dos anos 90, apesar do esforço de todos os envolvidos, começando aí por Wes Craven, o nome com mais destaque – inclusive em toda a campanha de marketing – produtor executivo do longa, e que em matéria de criar personagens icônicos do cinema de terror, já havia nos brindado com o Freddy Krueger e o Ghostface. A direção ficou por conta de Robert Kurtzman, especialista em efeitos especiais e de maquiagem, mais precisamente, o K da KNB EFX Group, empresa em que é sócio junto de Greg Nicotero e Howard Berger, experts no assunto (para você saber, são os responsáveis pela série The Walking Dead), e que também assinam os efeitos visuais em pareceria com a Image Animation International. Por isso volto a frisar que os efeitos especiais, a maquiagem (e o gore, por conseguinte) e o visual do vilão, são de primeira. A trama, escrita por Peter Atkins explora a figura do Djinn, o gênio das lendas árabes, que ao invés de ser aquele sujeito azul que sai da lâmpada e ajuda o Alladin (ou o KAZAM! de Shaquille O’Neal, muito mais assustador) é uma criatura demoníaca, devassa, que distorce o desejo do humano cheio de cobiça que o liberta. É sua obrigação conceder três desejos àquele que o tirar do sono eterno, e quando esse último desejo é atendido, o Djinn transformará toda nossa realidade em um inferno e acabará com a humanidade. Bem assim… Pois bem, um sacerdote persa consegue aprisionar a malévola criatura em uma gema opalina e milênios depois, é libertado acidentalmente por uma jovem pesquisadora, Alexandra Amberson (Tammy Lauren). O Djinn parte em busca da moça, assumindo uma forma humana de nome Nathaniel Demerest (Andrew Divoff), deixando um rastro de morte concedendo desejos adulterados para aqueles que encontra pelo caminho, tocando o terror para que a moça faça seus três desejos e assim, o monstro megalomaníaco domine o mundo. A realização dos desejos por parte do Djinn é das mais espetaculosas, e remete aos mais pirados momentos do pesadelos do Freddy Krueger, tipo transformando uma garota em manequim, fundindo um segurança com uma porta de vidro ou metendo outro leão de chácara amarrado em uma camisa de força dentro de um tanque de água, à lá Houdini. Isso sem contar a orgia de sangue e mortes escalafobéticas quando o vilão resolve dar de penetra em uma festa organizada pelo museólogo Raymond Beaumont, papel do Robert Englund, o Titio Freddy em pessoa. Aliás, falando em Robert Englund, O Mestre dos Desejos tem uma pá de participações especiais de vários atores do cinema de terror, entre eles Angus Scrimm, o Tallman de Fantasma; Tony Todd, oCandyman; Kane Hodder, o Jason Voorhees a partir de ; e Ted Raimi, irmão de Sam Raimi, fake shemp em A Morte do Demônio e a velha Henrietta possuída em Uma Noite Alucinante, entre outros.. E os sobrenomes dos personagens: Finney, Beaumont, Derleth e Demerest são todos referências aos escritores de terror, suspense e ficção-científica dos anos 50. O Mestre dos Desejos foi lançado nos cinemas e fez um relativo sucesso, faturando mais de seis milhões de dólares de bilheteria doméstica (seu orçamento foi estimado em cinco milhões), mais sucesso no mercado de home-vídeo (eu mesmo assisti em VHS na casa dos amigos), acabou se tornando um filme até cultuado e respeitado em seu meio, e deu origem uma franquia, com mais outras três continuações.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/07/03/681-o-mestre-dos-desejos-1997/

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

#680 1997 UM LOBISOMEM AMERICANO EM PARIS (An American Werewolf in Paris, EUA / Reino Unido, Holanda, Luxemburgo, França)


Direção: Anthony Walker
Roteiro: Tim Burn, Tom Stern, Anthony Walker
Produção: Richard Claus; Bob Bellion, Alexander Buchman (Coprodutores); Jacques-Eric Strauss (Coprodutor Associado); Klaus Bauschulte, Jimmy de Barbant, (Produtores Associados); Anthony Walker (Produtor Executivo)
Elenco: Tom Everett Scott, Julie Delpy, Vince Vieluf, Phl Buckman, Julie Bowen, Pierre Cosso, Thierry Lhermitte

Sou só eu ou Um Lobisomem Americano em Paris é uma afronta? Sério, primeiro por ter a audácia de ser intitulado, de forma completamente errônea, de uma continuação só do melhor filme do subgênero já feito: Um Lobisomem Americano em Londres. Segundo por ser ruim de doer, só isso. Um projeto que ficou em desenvolvimento por mais de seis anos, onde John Landis, diretor do filme de 1981 era cotado para dirigir e chegou até a escrever um dos vários roteiros considerados para esse fiasco, Um Lobisomem Americano em Paris utiliza apenas alguns dos elementos do seu irmão mais velho londrino para um pano de fundo que eu resumo em uma bobagem adolescente, com piadas ridículas e momentos de humor forçado, nada nem próximo do humor negro do original, e um dos piores CGIs de que se tem notícia. Sério, talvez o grande diferencial de Um Lobisomem Americano em Londres, que o tornou um filme notório e relevante até os dias de hoje, foram os efeitos especiais. A fantástica transformação do personagem de David Naughton em homem-lobo, que valeu até um Oscar® para seu realizador, Rick Baker sem dúvida é um dos grandes momentos de todo o cinema de horror. E olha que estamos falando do ano de 1981. Como pode 16 anos depois, com avanços da tecnologia, um filme optar por lobisomens completamente feitos em CGI, sem obviamente ter orçamento, ou profissionais ou técnica para tal, e criar aquelas criaturas tão falsas e tão mal feitas que parecem tiradas de um documentário ruim do History Channel? É simplesmente impossível não dar risadas involuntárias (ou ficar puto) com aqueles lobisomens digitalmente porcos, aquelas transformações nada críveis, aqueles ataques bisonhos. Impossível! Mas isso não é o pior do filme, não. A trama até é interessante: um rapaz americano, Andy McDermott (Tom Everet Scott) está viajando com seus amigos pela Europa, chega em Paris e se apaixona por uma garota que salva do suicídio ao tenta se jogar do alto da Torre Eiffel. Essa moça é Serafine Pigot (Julie Delpy) e ela é uma lobisomem, que faz parte de um clã das criaturas que querem de sua maneira, dominar o mundo, e conseguir uma espécie de soro que poderá fazer com que sua licantropia se manifeste em noites de qualquer fase lunar. Durante uma festa dada apenas para americanos, em que os lobisomens se transformam e dizimam ferozmente todas as suas incautas vítimas, Andy acaba sendo atacado e vai se transformar no tal lobisomem americano em Paris. Cabe a ele e Serafine enfrentar essa casta de monstros malvados e impedir seus planos terríveis. Até aí tudo bem, parece até uma aventura de RPG de Lobisomem: O Apocalipse. O grande problema é exatamente o tom extremamente jocoso, com piadas sem graça e a trilha sonora típica dos besteirol americanos dos anos 90 com umas bandas de punk rock californiana. Parece mais um American Pie do que um filme de terror, que tenta ser uma sequência do clássico dos clássicos lupinos. Aliás, coloque nessa conta algumas cenas realmente patéticas de dar vergonha alheia, como a trágica passagem da cafeteria e a camisinha, o momento que ele descobre que se tornou um lobo no quarto de Serafine, ou a garota americana que ele conhece num bar e toda a passagem do jantar e do cemitério. Com relação ao original, o que temos em comum? O fato das vítimas mortas dos lobisomens voltarem para trocar ideia com eles, só que retire todo o humor negro e mórbido e troque por piadas de situação ao melhor estilo Zorra Total; os sonhos sobre sonhos, que acontecem em uma dessas sequências ridículas que escrevi aí em cima; e a inépcia da polícia atrapalhada que investiga os assassinatos, que enquanto no primeiro filme parece um esquete de Monty Python, aqui faria Peter Selles e seu Inspetor Clouseau se revirar no túmulo. Então o veredicto é que o maior erro de Um Lobisomem Americano em Paris é se aproveitar desse título de forma sem vergonha, ao invés de tentar manter-se como um filme, descolando-se o máximo da fita de John Landis. Não funciona nem como homenagem! Fora a expectativa de você assistir algo considerado a sequência de Um Lobisomem Americano em Londres gera. Lembro que assisti a esse filme esperando muito, afinal, já era fã de longa data do original, e acabei detestando de forma avassaladora. E isso perdura até hoje, fazendo com que eu passe um pouco mais de raiva cada vez que eu assisto (e se não me engano, foram apenas duas na vida). Conselho de amigo? Ignore que Um Lobisomem Americano em Paris exista (ainda mais se você é um sortudo que nunca o viu) e assista novamente Um Lobisomem Americano em Londres. Melhor coisa a fazer, sem dúvida!
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/07/02/680-um-lobisomem-americano-em-paris-1997/

#679 1997 O ILUMINADO (The Shining, EUA)


Direção: Mick Garris
Roteiro: Stephen King (baseado em seu livro)
Produção:Mick Carliner; Laura Gibson (Produtor Associado); Laura Gibson (Supervisora de Produção); Stephen King (Produtor Executivo)
Elenco: Rebecca De Mornay, Steven Webber, Will Horneff, Courtland Mead, Melvin Van Peebles, John Durbin, Pat Hingle, Elliott Gould

Eu sei que eu serei apedrejado em praça pública pelo que irei dizer, mas prefiro essa versão minissérie para a TV de O Iluminado do que o filme de Kubrick de 1980. Não estou dizendo como cinema, mas sim como adaptação do livro de Stephen King. E todos vocês podem discordar de mim, mas sei que o pai da criança está comigo nessa. Afinal, é público o quanto ele odeia a versão de cinema, e até hoje disparas suas farpas assim que possível. Li recentemente “Doutor Sono”, a tão esperada continuação de seu livro, e em suas considerações o mestre do terror escreve: “Além disso, é claro, há o filme de Stanley Kubrick, que muita gente parece recordar – por motivos que nunca cheguei a compreender – como um dos filmes mais aterrorizantes que já viram. (Se você viu o filme, mas não leu o livro, repare só que Doutor Sono segue este último, que é, na minha opinião, a verdadeira história da família Torrance”. Sabemos que é uma produção feita para a ABC, ou seja, nunca terá os mesmos recursos visuais e orçamento de um filme hollywoodiano, ainda mais que estamos falando lá dos anos 90 e na TV não existia produções como da HBO e no Netflix. Sabemos igualmente que Mick Garris é um diretor dos mais meia-boca, que não chega no dedinho do pé da genialidade de um Stanley Kubrick. Então mais uma vez não estou analisando a obra cinematográfica e toda sua experiência visual incrível, design de produção, semiótica, fotografia e tudo que lhe rendeu o status de obra-prima. Mas a questão é que O Iluminado de Kubrick peca exatamente por não capturar a essência do livro de King, que é sem sombra de dúvida, para mim pelo menos, o melhor que ele já escreveu. Em conversas sobre filmes versus livros, sempre surge na discussão que ambos são duas mídias diferentes, óbvio, e adaptações ipsis literis são praticamente impossíveis e até desnecessárias. Aqui não temos um Jack Nicholson, mesmo que caricato com sua ensandecida atuação forçada, mas em seu lugar, um até esforçado Steve Webber como Jack Torrance, mas a construção do personagem (claro, sem levar em conta a metragem) é infinitamente melhor do que do ator consagrado ganhador do Oscar. Nicholson já CHEGA com cara de louco na entrevista com o Sr. Ullman e tudo já está errado logo a partir daí. Ao que parece, a crise que ele tem no Overlook parece mais um cabin fever do que a ação dos fantasmas ali residentes. Aliás, o Overlook é personagem central do livro, e tão protagonista quanto a família Torrance, com um histórico de escândalos, suicídios, assassinatos, acertos de contas da máfia. Por isso o lugar é maldito (além de ter sido construído em cima de um cemitério indígena, expediente que King adora!). Tudo isso é mandados às favas em O Iluminado de Kubrick, e aqui muito bem explorado. A Wendy Torrance de Rebecca De Mornay que também é uma atriz série B, engole com farinha a louca histérica, fraca e sem personalidade de Shelley Duvall, talvez uma das maiores reclamações de King, uma vez que ele escrevera uma mulher forte que aguenta o tranco de uma vidinha miserável e de abusos. Insuportável é Courtland Mead como Danny Torrance. Eu não sei o porquê, mas odeio aquelas bochechas dele, aquela boca dele e a forma manhosa como ele fala às vezes, além da atuação bem abaixo da nota!!!! Odeio!!! Mas pelo menos ele não conversa com o Tony versão dedinho… Aliás, se tem uma coisa que é foda na livre adaptação de Kubrick são os passeios de triciclo de Danny pelos corredores labirínticos do Overlook e a adição das meninas mortas, filhas do antigo zelador. E vai, Jack usar um machado ao invés de um mísero taco de críquete, mas isso já arrebenta com o destino de outro personagem importantíssimo e querido: Dick Halloran. King resolveu escrever o roteiro de O Iluminado de 1997 e também é o produtor executivo da bagaça, então veremos uma versão fidedigna de seu livro. E sua maior adição, além de dezenas de coisas que Kubrick deixou de fora (a caldeira, as topiarias, etc), é o fato de explorar o alcoolismo de Jack, e como isso vai levando-o a ruína, sobrepujado pela terrível influência sobrenatural do lugar. Que aliás, foi inspirado no próprio problema alcóolico que o escritor vivia no momento em que escreveu a história. E esse é o grande barato de O Iluminado. As falhas humanas, os problemas conjugais daquele casal, o desespero de um homem que destruiu sua vida por causa do álcool e tem naquele emprego de merda de zelador de um hotel de veraneio, a última chance de sua vida, completamente sob pressão, sempre vivendo na sombra da desconfiança constante da mulher, e culpando-se pelos traumas em seu filho, que como se não bastasse, tem poderes pré-cognitivos e irá passar o inverno isolado em um lugar MUITO mal-assombrado. Dispondo de nada menos que 270 minutos de duração, dividido em três partes, King deitou e rolou para mostrar a degradação psicológica de Jack, e isso demora pacas, num perfeito processo de slow burning, e se Steven Webber, seus pares de atuação, a cara de Made for TV e os efeitos toscos das topiarias, e a costumeira apatia de Mick Garris e falta de inventividade na direção não ajudam muito, pelo menos o roteiro, seu desenvolver e toda a trama prendem o espectador no aspecto psicológico, que é o que realmente interessa numa obra de horror. Muito mais que afetados sorrisos de escárnio, imitações de Johnny Carson ou elevadores que cospem sangue. Sou defensor ferrenho desse O Iluminado. Gosto da versão do genial Kubrick, considero clássico, obra prima do cinema, aula de audiovisual, de meter medo de verdade, pago pau para a insanidade de Nicholson em algumas cenas, mas sou fã para caralho do livro de King acima de tudo, e mesmo que corra o risco de até perder leitores por esse post (que espero ter embasado muito bem todos os meus motivos), reafirmo: prefiro essa obra menor e menosprezada, mas que condiz muito mais ao que o Mestre escrevera.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/07/01/679-o-iluminado-1997/

#678 1997 EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO PASSADO (I Know What You Did Last Summer, EUA)


Direção: Jim Gillespie
Roteiro: Kevin Williamson (baseado no livro de Lois Duncan)
Produção: Stokely Chaffin, Erik Feig, Neal H. Moritz; William S. Beasley (Produtor Executivo
Elenco:Jennifer Love Hewitt, Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillippe, Freddie Prinze Jr., Bridgette Wilson-Sampras, Anne Heche, Johnny Galecki, Muse Watson

Pânico foi o responsável por salvar o cinema de terror nos anos 90 e reinventar o gênero slasher para uma nova geração. Do que eu chamo de slasher 2.0, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passadofoi o primeiro e mais bem sucedido filho. Primeiro de muitos que viriam e encheriam o saco tanto quanto aconteceu nos anos 80, só que desse vez, sem nudez e sem sangue. Oh, puxa! E olhem só, Kevin Williamson, o mesmo roteirista do filme de Wes Craven, foi quem escreveu Eu Sei…(ah é um título muito longo para ficar escrevendo aqui toda hora). Na verdade, ele escreveu esse roteiro antes, baseado no livro de Lois Duncan, só que não conseguiu vendê-lo. Foi só Pânico faturar mais de 170 milhões de bilheteria mundial que a Columbia Pictures rapidinho mudou de ideia e comprou os direitos. Como em time que está ganhando não se mexe, logo novos atores oriundos de séries adolescentes de sucesso estão no elenco, como Jennifer Love Hewitt, de O Quinteto, ironicamente o mesmo seriado de onde saiu Neve Campbell, e Sarah Michelle Gellar, a Buffy, que vinha galgando seu status de novascream queen do cinema de terror. Além disso, os galãzinhos em ascensão Ryan Phillippe e Freddie Prinze Jr., também foram escalados. Aproveitando esse novo gás para o cinema de terror, e principalmente para os slasher movies, a fórmula prosaica pré-estabelecida e uma nova procura dos jovens pelo subgênero fez com que Eu Sei… também bombasse na bilheteria mundial e faturasse expressivos 125 milhões de dólares em todo o mundo. Lucro exorbitante para seus 17 milhões gastos. Eu fui um desses que entra nessa estatística mundial da bilheteria. Fui assisti-lo no cinema quando exibido no começo de 98 aqui no Brasil. Aliás, se você acompanha o blog todo dia (o que me faz pensar que você ou é tão afetado quanto eu, ou procrastina demais, ou simplesmente não parece ter nada melhor que fazer) pode perceber que a partir de 1997, quando completei meus 15 anos, entrei no ensino médio (colegial na minha época) e passei a frequentar o cinema de verdade, com meus amigos de classe, depois das aulas ou mesmo quando gazeteava e ia para o shopping, deixando para lá as tardes de ensino na ETESP José Rocha Mendes. E eu fui MUITO ao cinema durante esses três próximos anos, quando o bilhete no Cinemark custava DOIS REAIS a meia-entrada nas quartas-feiras, e vi vários desses filmes de terror mais famosinhos na tela grande!!! Voltando, a trama de Eu Sei… é daquelas mais manjadas da paróquia. Quatro adolescentes atropelam por acidente um sujeito à noite no meio da estrada. É o último ano do high school (mesmo eles todos com seus vinte e poucos anos como de praxe), cada um está com seu futuro encaminhado, e então para que suas vidas não fossem arruinadas por um assassinato, eles fazem um pacto entre si de nunca contar para ninguém o ocorrido e se livrar do corpo. Um ano depois, o trágico acontcimento afetou seriamente a vida de todos os envolvidos, quando também a realidade da “vida adulta” incumbiu-se de lhes darem vários tapas na cara. Julie James (a absurdamente gracinha e apaixonante Hewitt) foi para Boston estudar direito, mas suas notas estão péssimas e sua bolsa por um fio, quando volta para sua cidade natal para passar as férias de verão, atormentada pela culpa do assassinato de uma pessoa. Ela terminou seu namorico com Ray (Prinze), que dos quatro era o mais pobretão e acabou virando pescador. Helen (Gellar) queria se tornar atriz de novelas em NY, mas não deu certo e voltou com o rabo entre as pernas para trabalhar na loja de departamento da família, e além disso, como acontece com a maioria das gatas populares do colégio (ela havia sido escolhida miss municipal no ano anterior), “embarangou”. Seu ex-namorado, Barry (Phillipe) foi o único que relativamente se deu bem, treina para ser jogador profissional de Futebol Americano, mas é um babaca com b maiúsculo. Dentro desses quatro personagens vemos todos os arquétipos e clichês possíveis e imagináveis dos adolescentes dos filmes slasher, e do cinema americano do besteirol em geral. Julie é a CDFzinha, mas que pelo menos não é mais virgem, taí um diferencial; Ray é o plebeu apaixonado esforçado de coração partido; Helen é a típica loira burra patricinha fracassada e Barry, o boyzinho arrogante coxa metido a machão. Mas, como o próprio título do filme alardeia, adivinhem? Alguém sabe o que eles fizeram no verão passado! TCHARAM! E eles passam a ser perseguidos por uma maníaco psicopata que deseja vingança, vestido em um traje impermeável de pescador e utilizando um gancho de mão para matar suas vítimas. Mesmo que elas não tenham NADA a ver com seu hit and run, como Max Neurick, outro pescador, que nutria um antigo amor platônico por Julie, e vejam só minha surpresa ao assistir novamente: é Johnny Galecki, o Dr. Leonard Hoffstader de The Big Bang Theory, ou Elsa (Bridgette Wilson-Sampreas), irmã de Helen. Julie começa uma investigação de quem poderá ser o verdadeiro assassino, baseada na teoria de que a vítima havia sido um tal de David Egan, que supostamente morrera “afogado” no verão passado, sendo que no ano retrasado, havia sido responsável por um acidente que tirara a vida do seu eterno amor. Enquanto isso os quatro amigos vão sendo ameaçados, desconfianças entre eles começam a surgir, passam a ser abatidos como moscas, até a revelação nada empolgante de quem é o verdadeiro assassino surgir no terceiro ato. Isso tudo com buracos grotescos no roteiro e erros crassos, claro. Meu preferido é quando Julie encontra o cadáver de Max no porta-malas de seu carro, coberto de caranguejos. Ela deixa o carro no meio de uma rua do subúrbio em plena luz do dia, e corre para chamar Barry e Helen, que descem correndo as escadas e quando todos chegam lá, não há NENHUM corpo no porta-malas, nenhum caranguejo e nenhum sinal sequer de que ele estivesse lá em algum momento. Ou a mina é louca de pedra, ou o assassino trocou o carro dela nesse espaço de tempo curtíssimo, ou ele era o Flash e se livrou do presunto e dos crustáceos na velocidade da luz! Eu Sei o Que Vocês Fizeram No Verão Passado segue nessa toada dos slashers 2.0. Asséptico, assexuado, com mortes em off e quantidades ínfimas de sangue derramado, um mistério canhestro com relação a identidade do assassino que deveria ser um plot twist, mas não surpreende ninguém, um finalzinho feliz xulo, e rios de dinheiro entrando no bolso dos envolvidos, todos com as artes dos pôsteres quase idênticas, até o subgênero ser extinto mais uma vez. E claro que tivemos continuações com suas extensões de nomes ridículos, como Eu Ainda Sei o Que Vocês Fizeram No Verão PassadoEu Sempre Vou Saber o Que Vocês Fizeram No Verão Passado, que na verdade só serve como motivo de xacota.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/30/678-eu-sei-o-que-voces-fizeram-no-verao-passado-1997/

#677 1997 O ENIGMA DO HORIZONTE (Event Horizon, EUA, Reino Unido)


Direção: Paul W. S. Anderson
Roteiro: Phillip Eisner
Produção: Jeremy Bolt, Lawrence Gordon, Lloyd Levin; Colin Brown, Nick Gillott (Produção Executiva)
Elenco: Laurence Fishburne, Sam Neill, Kathleen Quinlan, Joely Richardson, Richard T. Jones, Jack Noseworthy, Jason Isaacs, Sean Pertwee

Quando assisti ao O Enigma do Horizonte em 1997, eu fui com uma expectativa altíssima ao cinema para com o longa, afinal era um sci-fi misturado com terror, daquele mesmo molde de amálgama entre os dois gêneros, eternizado por Alien – O Oitavo Passageiro, que eu adoro, com suas referências  a Solaris de Tarkovsky e 2001 – Uma Odisseia do Espaço de Kubrick. Eu acabei me decepcionando um bocado, tenho que confessar, apesar de ter gostado bastante do filme. Eu já o assisti pelo menos uma dezena de vezes desde que sentei naquela cadeira do Cinemark (que era uma novidade por aqui, diga-se de passagem) e sempre o achei um filme brilhante, porém incompleto, que não entrega tudo que promete. Parece que crítica e público compartilharam de minha opinião, uma vez que ele foi mal recebido por ambos, fracassou na bilheteria e tornou-se um daqueles filmes subestimados, quase até malditos para todos os envolvidos. Até descobrir em seu lançamento em DVD em 2006 que minha impressão não estava errada, e que o corte original do diretor Paul W. S. Anderson (que nunca mais acertou em NENHUM FILME de sua carreira) tinha 130 minutos e foi obrigado pelos mandachuvas da Paramount, após duas desastrosas exibições teste, a cortar nada menos que meia-hora, que ajudaria muito mais no esclarecimento sobre aquela confusa viagem dimensional/infernal que a nave Event Horizon fez, aprofundaria no backgrounddos personagens, uma vez que eles revivem cada um seus infernos pessoais, medos e culpas e principalmente, uma cena absolutamente gráfica cheia de sangue, gore e uma violentíssima orgia sexual que envolvia além dos famosos olhos sendo arrancados, tortura, sodomização por canos de ferro, estupros coletivos, dentes arrancados, intestinos puxados pela boca, espancamento e seios sendo arrancados a dentadas, onde amputados e atrizes do cinema pornô foram contratados para atuar e deixar o realismo lá em cima. O mais triste de tudo é que essa versão do diretor nunca viu a luz do dia e nunca verá, pois todo esse material se perdeu, exceto alguns fotogramas e cenas gravadas em videotape. Tá bom, por mais que eu seja fã confesso da ultraviolência, e ainda mais sabendo que Clive Barker prestou consultoria para o longa, que pretendia trazer o típico terror escatológico e pervertido do escritor britânico, inspirado por seu Hellraiser – Renascido do Inferno, o que deixa mesmo um sentido de frustração quanto ao O Enigma do Horizonte é mesmo pensar que toda a profundidade da trama e o horror psicológico que seria explorado por conta daquele desastrosa viagem por um buraco negro, foram deixados de lado por questões mercadológicas de estúdio, e medo da classificação R em detrimento de cenas de explosões, ação desenfreada e toda a tonelada de clichês da ficção científica básica. Pois é, viagem por um buraco negro. A nave Event Horizon teve o nome emprestado pela teoria de Stephen Hawking, que ao escrever “Uma Breve História do Tempo” definiu o “horizonte de eventos” como um limite teórico de um buraco negro, região limítrofe do espaço-tempo, onde as leis da Física terminam e a gravidade é tão intensa que nem a luz pode escapar. Pois então, essa embarcação espacial foi construída para que o homem pudesse viajar para outras galáxias, no caso, Proxima Centauri, projetada pelo Dr. William Weir (Sam Neill), através de um mecanismo que criaria a dobra de um buraco negro experimental, que pretendia ligar dois pontos do espaço por um buraco de minhoca e assim viajar mais rápido que a velocidade da luz. Opa, você me pergunta: peraí, você não está falando do Interestelar não? Não, Nolanbitches, Paul W. S. Anderson, o diretor de RESIDENT EVIL, já tinha colocado isso na tela quase duas décadas antes, e lide com isso! A viagem da Event Horizon aconteceu em 2040 e a nave perdeu contato, sendo considerada a maior catástrofe da história espacial, até que sete anos depois, ela emitiu novamente um sinal de socorro, localizada próximo a Netuno. A nave Lewis & Clark (nome da dupla de expedicionários que realizaram a primeira grande exploração do continente norte-americano), liderada pelo Capitão Miller (Laurence Fishburne) então é acionada para uma missão secreta de resgate da Event Horizon. Ao chegar no local indicado, a antiga tripulação não responde a nenhum chamado, e o sinal interceptado traz uma mensagem em latim, “liberate me ex inferis” que significa “salve-me do inferno”. Toda a tripulação da Event Horizon foi morta e após um acidente, que faz com que a Lewis & Clark precise de reparo, seus membros ficam presos na nave fantasma com limite de oxigênio de apenas 20 horas.  Aí que o bicho começa a pegar, quando descobre-se que na verdade a nave não foi parar em outra galáxia, e muito menos em outra dimensão, mas no próprio inferno dantesco em si, fazendo com que a tripulação se matasse de forma atroz, com corpos dilacerados, olhos arrancados, mutilações e muito sangue (mesmo com o grosso da cena cortada na versão final). E a mensagem em latim teve um erro de tradução, sendo na verdade “liberate tuteme ex inferis”, ou “salve-se do inferno”. Ops…Só que o que quer que seja esse multiverso infernal por onde a Event Horizon esteve, trouxe consigo sua essência, que passou a atingir os membros da Lewis & Clark ali aprisionados, tal qual o Solaris, materializando suas culpas e remorsos, como a médica da nave, Peters, que tem a visão de seu filho aleijado com as pernas cobertas de feridas, Dr. Weir tendo pesadelos recorrentes de sua esposa que se suicidara e o Capitão Miller, sendo confrontado por um fantasma do passado, de um oficial que morrera queimado e fora deixado para trás por ele. Até aí tudo bem, o filme vai causando um claustrofóbico e sufocante sentimento crescente de terror físico e psicológico, misturado com algumas cenas gráficas (como a excelente sequência em que um dos tripulantes entra na câmara de descompressão e é ejetado para o espaço sem traje de proteção) mas do final para frente, fica confuso e descompassado com relação a suas reais intenções, além de deixar o espectador na mão com uma explicação mais detalhada sobre o funcionamento daquele estranho mecanismo circular que realiza a dobra temporal, deixa de lado todos os desdobramentos filosóficos, físicos, teóricos e teológicos para virar mais um filme de ação no espaço, transformando a figura do Dr. Weir em um supervilão espacial psicopata deformado. Hoje acredito que o fato se deve muito a esses cortes, e se você analisar bem friamente o filme, percebe que ele ficou confuso, truncado, e muita coisa importante deve ter ficado no chão da sala de edição, atrapalhando o andamento, narrativa, desenvolvimento dos personagens e até mesmo o ritmo da produção. E isso como disse, refletiu na crítica e no público, uma vez que o faturamento nas bilheterias foi de fracos 26 milhões de dólares nos EUA, e mais 20 milhões no mundo todo, contra 50 milhões de orçamento, fazendo com que O Enigma do Horizonte sequer se pagasse, mas tornou-o de forma tímida um filme cultuado no meio sci-fi/ nerd, subestimado, que infelizmente deixa a desejar por conta de seu tremendo potencial desperdiçado que poderia tê-lo colocado fácil entre os maiores clássicos do gênero.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/26/677-o-enigma-do-horizonte-1997/

246 1952 VIVER (Ikiru, Japão)


1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER


sábado, 20 de agosto de 2016

245 1952 CANTANDO NA CHUVA (Singin In The Rain, EUA)


1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER

244 1952 ALMA EM PÂNICO (Angel Face, EUA)


1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER


243 1952 BRINQUEDO PROIBIDO (Jeux Interdits, França)


1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
OSCAR FILME ESTRANGEIRO 1952

#676 1997 CUBO (Cube, Canadá)


Direção: Vincenzo Natali
Roteiro: André Bijelic, Vincenzo Natali, Graeme Manson
Produção: Mehra Meh, Betty Orr; Colin Brunton (Produtor Executivo)
Elenco: Maurice Dean Wint, David Hewlett, Nicole de Boer, Nicky Guadagni, Andrew Miller, Julian Richings, Wayne Robson.

De vez em quando o cinema alternativo de baixo orçamento nos apresenta algumas verdadeiras pérolas. Filmes criativos, impactantes, que se tornam cultuados devido sua transgressão e excelentes roteiros que se sobressai dentro de qualquer limitação. Esse é o caso de Cubo, inteligentíssimo sci-fi B canadense, dirigido por Vincenzo Natali. Quando Cubo foi lançado naquele final dos anos 90, e sabemos muito bem do histórico de porcarias daquela década, foi um fenômeno. Absolutamente mind blowing. Um filme gravado em um cenário mínimo, orçamento de pouco mais de 360 mil dólares canadenses, com uma estrutura narrativa interessantíssima, atores completamente desconhecidos e uma trama que ao mesmo tempo, envolve elementos do suspense, paranoia, medo, desespero e cárcere, e adentra a ficção com elementos da matemática e física, muito bem amarrados. O intrigante e inteligente conceito de Cubo reside em pessoas díspares colocadas em uma situação limítrofe, em uma engenhosa armadilha da engenharia no formato de um gigantesco cubo. Sete estranhos completamente diferentes acordam dentro dessa armadilha, sem saber como chegaram até ali e sem a menor ideia em como escapar, uma vez que em algumas das 21 salas que compõe o cubo estão dispostas terríveis e mortais arapucas que podem acabar com sua vida, como na engenhosa cena de abertura, quando um sujeito tem seu corpo dividido em diversos pedacinhos por conta de uma rede que o atravessa por inteiro quando ativada. É o suficiente para te prender até o final da fita, conjecturando milhares de hipóteses junto com as vítimas ali presas, misturado com um clima de tensão crescente muito bem executado, onde maior perigo até que as armadilhas mortais, está o próprio ser humano que sempre aflora o pior de si nesse tipo de ocasião. Entre os personagens presos no local misterioso estão o policial Quentin (Maurice Dean Wint), o designer Worth (David Hewlett), a estudante de matemática Leaven (Nicole de Boer), a médica Holloway (Nicky Guadagni), o ex-presidiário mestre em escapismo, Rennes (Wayne Robson) e o autista Kazan (Andrew Miller). Desesperados e despreparados, sofrendo de estafa física e mental, os ânimos do grupo vão explodindo, jogando uns contra os outros. Explora as tensões da questão da sobrevivência em detrimento do humanitarismo, na tentativa de se escapar de uma armadilha, em uma intensa batalha para se manter a sanidade, que vai se esvaindo em conflitos, estresse e na exaustão dos personagens usando apenas o que cada um pode oferecer, que vai da força bruta até as resoluções matemáticas. Ao mesmo tempo, as reviravoltas, incluindo aí no comportamento padrão dos prisioneiros, misturando seus arquétipos e posicionamentos perante o grupo, vão mantendo o espectador quase sem conseguir piscar. O personagem que tendia a ser o líder altruísta do grupo, Quentin, vai se tornando um sociopata agressivo e abusivo, Holloway vomita dezenas de teorias da conspiração sobre os criadores do cubo e seus motivos escusos, Worth, que se mostra cansado de sua vida medíocre em um escritório e sem motivos para viver, acaba sendo descoberto como o projetista do ambiente externo do local, Rennes, o criminoso astuto que já escapara de diversas prisões é o primeiro a perder a vida e Leaven é quem consegue identificar os mecanismos caóticos dos quebra-cabeças matemáticos que indicam se a sala possui armadilhas ou não, por meio dos números primos, e depois com a ajuda de Kazan, que se mostra um gênio, calculando a potência dos números primos de cabeça, algo de proporções astronômicas de cálculo que só poderia ser feito naquela velocidade por calculadoras ou computadores. As respostas definitivas que ficam em aberto mesmo com o final de Cubo (Quem projetou o cubo? Quais os motivos? Quem observa os “jogadores”? Como são escolhidas as vítimas? Faz parte de algum esquema governamental, militar, ou simplesmente uma burocracia empresarial?), e faz com que mesmo depois que os créditos subam e as luzes se acendam, ele continue na sua cabeça em suas próprias reflexões e nos papos de boteco com os amigos nerds, inevitavelmente é respondido na terceira continuação, que na verdade é uma prequela, chamada Cubo Zero, lançada em 2004, dois anos após a sequência direta, Cubo 2 – Hipercubo (completamente dispensável).  Definitivamente Cubo é um dos mais originais e inventivos sci-fi da década retrasada. Suas ideias e sua execução, mostrando a paranoia do confinamento, os inevitáveis conflitos sociais em um grupo social diferente em ambiente delimitado e a complexidade da sua trama que flertam com a matemática, física e filosofia, misturado com um clima opressivo de bizarrice, desgraça, paranoia e claustrofobia, são executadas de forma brilhante até seu final. Porém é o tipo de filme oito ou oitenta. Tem que ame, e tem quem odeie. Porém, é impossível ficar incólume.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/25/676-cubo-1997/

#675 1997 ANACONDA (Anaconda, EUA, Brasil, Peru)


Direção: Luis Llosa
Roteiro: Hans Bauer, Jim Cash, Jack Epps Jr.
Produção: Jack Epps Jr., Verna Harrah, Carole Little, Leonard Rabinowitz; Beau Marks (Coprodutor); Andy Fickman (Produtor Associado); Susan Ruskin (Produtor Executivo)
Elenco: Jennifer Lopez, Ice Cube, Jon Voight, Eric Stoltz, Jonathan Hyde, Owen Wilson, Kari Wuhrer, Danny Trejo

Eu juro que não consigo entender como um filme como Anaconda fez tanto sucesso. É trash até a medula, com uma cobra gigante assassina que em cada aparição na tela parece ter um tamanho diferente, feita com um CGI porco, animatrônico que parece destaque de carro alegórico de escola samba da divisão de acesso, e tem como estrela protagonista a Jennifer Lopez, ao natural, com visual de empregada latina antes da plástica, botox e chapinha. Não consigo! Mas ainda assim, Anaconda foi um fenômeno inexplicável naquele hoje longínquo ano de 1997. Com seu desbunde de 45 milhões de dólares gastos (leia-se mal aproveitados) em efeitos especiais (o que equivale a 100 mil dólares por segundo!), o longa faturou nada menos que mais de CENTO E TRINTA milhões, sendo que metade, 65 milhões, só nos EUA! Eu lembro claramente de alguma reportagem em algum telejornal da época, ou talvez no Fantástico, sei lá, com filas gigantescas nos cinemas americanos para se assistir a bomba que é esse filme. Eita povo que gosta de uma bagaceira! E para mim não tem essa de anaconda não. O nome da cobra é sucuri! Foi assim que sempre aprendi toda minha vida para vir esses yankees me ensinar como chamar um cobrão do nosso país? Aliás, o filme é uma coprodução entre EUA, Peru e Brasil, e uma vez que se passa no Rio Amazonas, alguns personagens falam português (mal que o diabo) e vemos vários produtos do nosso país varonil na embarcação e até uma caneca do Santos Futebol Clube na cabine do capitão. Bom, um grupo de documentaristas se embrenham até a nascente do Rio Negro para encontrar uma tribo perdida chamada Shirishama, ou “povo da neblina” como são conhecidos. A diretora é Terri Flores, papel da Jennifer Lopez (talentosíssima, só que não), o cinegrafista Danny Rich (Ice Cube, igualmente talentosíssimo, só que não), o antropólogo Dr. Steven Cale (Eric Stoltz, que afundou sua carreira), o apresentador Warren Westridge (Jonathan Hyde) e o técnico de som e sua assistente/affair, Gary Dixon (Owen Wilson) e Denise Kalberg (Kari Wuhrer). Todos devidamente conduzidos pelo picareta capitão Mateo (Vincent Castellanos). Porém durante a incursão eles encontram Paul Serone (Jon Voight, claramente precisando de dinheiro para pagar as contas por topar atuar nesse filme) um caçador de cobras, que na verdade é quase um psicopata e o verdadeiro vilão do filme, e não a cobra, que quer capturar viva uma anaconda, ou melhor, uma sucuri, serpente gigantesca com seus 12 metros de comprimento (!!!!) e faturar milhões. Com sua fixação obsessiva em capturar o animal, emulando o Capitão Ahab de Moby Dick, acaba colocando a vida de toda a equipe em perigo e despertando o instinto mortal do ofídeo com sua técnica de estrangular, sufocar e quebrar os ossos de suas vítimas. Bom, um dos grandes chamarizes de Anaconda foram os “efeitos especiais”, grande aposta do longa, porque não dá para levar a sério o roteiro vagabundo, das atuações ridículas de todo o elenco e da direção do peruano Luis Llosa (primo do escritor ganhador do Nobel Mario Vargas Llosa), que é um desastre e não consegue nem criar um ambiente assustador no meio da Selva Amazônico em detrimento das panorâmicas ao melhor estilo Discovery Channel ou closes na fauna e flora, com aquela musiquinha de flauta inca ao fundo. Mas fato é que o CGI e o animatronico da sucuri são bisonhos! Não venha me falar que para a época era revolucionário e blá blá blá porque diversos outros filmes contemporâneos ou anteriores tiveram efeitos especiais muito melhores, como Jurassic Park,Independence Day, MIB – Homens de Preto ou Os Espíritos. As cenas da cobrona CGI enrolando suas vítimas é tão errado, mas tão errado, que é impossível não segurar o riso involuntário. Aquela cena clássica em que vemos ela nadando em direção a tela e o close do sujeito se debatendo dentro do bucho serpente é impagável. Isso sem entrar nem um pouco no mérito biológico de que uma sucuri leva semanas para fazer a digestão de um animal como bezerro ou capivara (e não os regurgita como alardeia o filme), e fica lá repousando, prostrada, parecido conosco depois de ir em uma churrascaria, comer aquela feijoada de sábado ou ir no Zé do Hamburger e comer o lanche e tomar o milk-shake de leite ninho. Mas aqui não, ela engole rapidamente um homem adulto e opa, já está pronta para outra no próximo take. Cenas clássicas na verdade não faltam em Anaconda. O que dizer do momento mágico da sequência da cachoeira com a água SUBINDO, ao contrário, ou o ataque em extrema velocidade, daquele bicho gigantesco trepando em uma árvore para pegar a vítima em queda livre como se fosse um bungee jump, que aposto que ganharia do Bolt nos 100 metros rasos? Mas o grande momento ápice da trasheira de mal gosto doentio para mim é quando a sucuri devora o outro o Jon Voight também feito em CGI, para logo na sequência, VOMITAR o cara que sai vivo e ainda dá uma piscadela para a câmera. Sério, é simplesmente uma mistura de vergonha alheia embasbacante com uma explosão de risos de doer o pâncreas. Agora como tudo que é ruim, dura muito, Anaconda serviu para gerar mais TRÊS continuações, as quais nunca me atrevi a assistir, deu origem a uma série de barbaridades com cobras gigantes como Pythone seus embates mortais contra a Boa, por exemplo, algumas aberrações tanto da sétima arte quanto da genética ficcional, como Piranhoconda (não me pergunte o que é isso) e até um crossover lançado esse este ano com o crocodilo gigante de Pânico no Lago!
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/24/675-anaconda-1997/