sábado, 20 de agosto de 2016

#676 1997 CUBO (Cube, Canadá)


Direção: Vincenzo Natali
Roteiro: André Bijelic, Vincenzo Natali, Graeme Manson
Produção: Mehra Meh, Betty Orr; Colin Brunton (Produtor Executivo)
Elenco: Maurice Dean Wint, David Hewlett, Nicole de Boer, Nicky Guadagni, Andrew Miller, Julian Richings, Wayne Robson.

De vez em quando o cinema alternativo de baixo orçamento nos apresenta algumas verdadeiras pérolas. Filmes criativos, impactantes, que se tornam cultuados devido sua transgressão e excelentes roteiros que se sobressai dentro de qualquer limitação. Esse é o caso de Cubo, inteligentíssimo sci-fi B canadense, dirigido por Vincenzo Natali. Quando Cubo foi lançado naquele final dos anos 90, e sabemos muito bem do histórico de porcarias daquela década, foi um fenômeno. Absolutamente mind blowing. Um filme gravado em um cenário mínimo, orçamento de pouco mais de 360 mil dólares canadenses, com uma estrutura narrativa interessantíssima, atores completamente desconhecidos e uma trama que ao mesmo tempo, envolve elementos do suspense, paranoia, medo, desespero e cárcere, e adentra a ficção com elementos da matemática e física, muito bem amarrados. O intrigante e inteligente conceito de Cubo reside em pessoas díspares colocadas em uma situação limítrofe, em uma engenhosa armadilha da engenharia no formato de um gigantesco cubo. Sete estranhos completamente diferentes acordam dentro dessa armadilha, sem saber como chegaram até ali e sem a menor ideia em como escapar, uma vez que em algumas das 21 salas que compõe o cubo estão dispostas terríveis e mortais arapucas que podem acabar com sua vida, como na engenhosa cena de abertura, quando um sujeito tem seu corpo dividido em diversos pedacinhos por conta de uma rede que o atravessa por inteiro quando ativada. É o suficiente para te prender até o final da fita, conjecturando milhares de hipóteses junto com as vítimas ali presas, misturado com um clima de tensão crescente muito bem executado, onde maior perigo até que as armadilhas mortais, está o próprio ser humano que sempre aflora o pior de si nesse tipo de ocasião. Entre os personagens presos no local misterioso estão o policial Quentin (Maurice Dean Wint), o designer Worth (David Hewlett), a estudante de matemática Leaven (Nicole de Boer), a médica Holloway (Nicky Guadagni), o ex-presidiário mestre em escapismo, Rennes (Wayne Robson) e o autista Kazan (Andrew Miller). Desesperados e despreparados, sofrendo de estafa física e mental, os ânimos do grupo vão explodindo, jogando uns contra os outros. Explora as tensões da questão da sobrevivência em detrimento do humanitarismo, na tentativa de se escapar de uma armadilha, em uma intensa batalha para se manter a sanidade, que vai se esvaindo em conflitos, estresse e na exaustão dos personagens usando apenas o que cada um pode oferecer, que vai da força bruta até as resoluções matemáticas. Ao mesmo tempo, as reviravoltas, incluindo aí no comportamento padrão dos prisioneiros, misturando seus arquétipos e posicionamentos perante o grupo, vão mantendo o espectador quase sem conseguir piscar. O personagem que tendia a ser o líder altruísta do grupo, Quentin, vai se tornando um sociopata agressivo e abusivo, Holloway vomita dezenas de teorias da conspiração sobre os criadores do cubo e seus motivos escusos, Worth, que se mostra cansado de sua vida medíocre em um escritório e sem motivos para viver, acaba sendo descoberto como o projetista do ambiente externo do local, Rennes, o criminoso astuto que já escapara de diversas prisões é o primeiro a perder a vida e Leaven é quem consegue identificar os mecanismos caóticos dos quebra-cabeças matemáticos que indicam se a sala possui armadilhas ou não, por meio dos números primos, e depois com a ajuda de Kazan, que se mostra um gênio, calculando a potência dos números primos de cabeça, algo de proporções astronômicas de cálculo que só poderia ser feito naquela velocidade por calculadoras ou computadores. As respostas definitivas que ficam em aberto mesmo com o final de Cubo (Quem projetou o cubo? Quais os motivos? Quem observa os “jogadores”? Como são escolhidas as vítimas? Faz parte de algum esquema governamental, militar, ou simplesmente uma burocracia empresarial?), e faz com que mesmo depois que os créditos subam e as luzes se acendam, ele continue na sua cabeça em suas próprias reflexões e nos papos de boteco com os amigos nerds, inevitavelmente é respondido na terceira continuação, que na verdade é uma prequela, chamada Cubo Zero, lançada em 2004, dois anos após a sequência direta, Cubo 2 – Hipercubo (completamente dispensável).  Definitivamente Cubo é um dos mais originais e inventivos sci-fi da década retrasada. Suas ideias e sua execução, mostrando a paranoia do confinamento, os inevitáveis conflitos sociais em um grupo social diferente em ambiente delimitado e a complexidade da sua trama que flertam com a matemática, física e filosofia, misturado com um clima opressivo de bizarrice, desgraça, paranoia e claustrofobia, são executadas de forma brilhante até seu final. Porém é o tipo de filme oito ou oitenta. Tem que ame, e tem quem odeie. Porém, é impossível ficar incólume.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/25/676-cubo-1997/

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