Direção: Taylor Hackford
Roteiro: Jonathan Lemkin, Tony
Gilroy (baseado no livro de Andrew Neiderman)
Produção: Anne Kopelson, Arnold
Kopelson, Arnon Milchan; Stephen Brown (Coprodutor); Barry Bernardi, Taylor
Hackford, Erwin Stoff, Michael Tadross, Steve White (Produtores Executivos)
Elenco: Keanu Reaves, Al
Pacino, Charlize Theron, Jeffrey Jones, Judith Ivey, Connie Nelsen, Craig T.
Nelson
Lembro como foi mind blowing para mim
assistir Advogado do Diabo lá em 1998, quando aluguei
o VHS na saudosa locadora do bairro. Foi aquele plot twist, que hoje é manjadíssimo, mas era simplesmente
fantástico no auge dos meus 16 anos, e seu final absolutamente sacana que
contribuíram para que desde então, o longa do diretor Taylor Hackford, me
conquistasse e tivesse um local reservado no meu coração, e isso por um
principal motivo: O grande e eloquente discurso de Al Pacino na sequência
final, que com o perdão do trocadilho, é diabolicamente delicioso! Talvez o
último grande papel do ator, que apesar de mostrar-se mais um arrogante e
sádico sedento por sangue, até de forma caricata por assim dizer, que um
demônio classudo, parece ter caído como uma luva, cada vez que utiliza uma
metáfora habilmente jogada no decorrer do longa (como, por exemplo, enfatizar
que só anda de metrô pelo subterrâneo) até chegar até a explosão de falácia
herege que desconserta qualquer um e deve deixar os cabelos dos carolas em pé.
Afinal, refletindo um pouco do contexto e tirando o clichê da concepção do
Anticristo e tudo mais, as ácidas palavras contra “Nosso criador” proferidas
pelo egoísta e ciumento anjo caído portador da luz, é de uma sabedoria mórbida
absurda. Falo isso como um ateu e penso que se realmente Deus existisse, ele de
fato é o sacana que Milton vocifera naquele discurso onde tenta convencer o
Kevin Lomax de Keanu Reaves, o tal “advogado do diabo” do título. Um sujeitinho
entediado, que se diverte com a quantidade de desgraça, humilhação e sofrimento
alheio colocado em nossas costas, sendo apenas um mero espectador zapeando
seu reality show universal
e dando a mínima para nossa súplicas e instintos (o que ele estaria no completo
direito dele se fosse essa entidade que nos fez a imagem e semelhança como as
papagaiadas judaico-cristãs prezam). O prazer doentio no conjunto de regras e
pecados que Deus nos impôs é explicado quase de forma didática ao melhor estilo
“tapa na cara”, que impossível não levar a sério o que o Capeta está falando.
Apesar de sempre focar na questão do livre arbítrio, que foi talvez a maior
dádiva do Criador para nossa espécie, e algo que o Diabo não consegue entender
e sempre tenta barganhar contra isso usando de sua influência pecaminosa, há
toda aquela controvérsia inerente de seu sádico conjunto das regras do jogo
escancaradas na sensacional passagem: “Veja, mas não toque. Toque, mas não prove.
Ok, prove, mas não engula” (aí já tem uma puta conotação sexual, o que também é
impreterivelmente divertido e perspicaz) completando com: “Enquanto o homem
pula de pé em pé, Deus fica rindo em sua particular comédia cósmica”. E ai se
você desobedecer uma dessas regras: tu está condenado a danação eterna, mesmo
que muitas delas simplesmente vão ao contrário do que define o ser humano por
característica, mas beleza. Já Milton, o Diabo, Satanás, Coisa-Ruim, a Besta,
Belzebú, etc (que eu também não acredito tanto quanto Deus, para ninguém me
chamar de satanista ou coisa do tipo) sempre alimentou todos os instintos da
humanidade, e esteve sempre do lado do homem, apesar de suas imperfeições,
porque oras, ele É FÃ DO HOMEM como grita com gosto (e Pacino mita!) E outra
pérola de sabedoria xula desse grande momento do cinema é enfatizar que o
Século XX foi completamente dele. Foi e continua sendo, e acredito que a
crescente intolerância religiosa e fanatismo fundamentalista que vivemos nesse
Século XXI de merda pós 11 de setembro (e que no Brasil anda ganhando contornos
absurdos com requintes de Idade Média naquela discussão interminável da
inoperância efetiva do Estado Laico e do discurso abusivo anti-humanitário
evangélico principalmente) é nada mais que mais uma vitória, importantíssima,
diga-se de passagem, do Demo nessa “suposta guerra celestial” pelas nossas
almas. E todo esse textão que parece mimim de redes sociais de minha parte
porquê? Para enfatizar que se não fosse essa cena, esse discurso de Pacino, Advogado
de Diabo seria um filme de suspense qualquer, mediano, até esquecível,
com uma ou outra cena interessante (e não tô dizendo só da Charlize Theron
pelada não, tá?), clichê, previsível, com uma reviravolta final mas sem nenhum
arroubo de grandeza, e claro, com Keanu Reaves sendo Keanu Reaves (acho que
isso fala por si só). E ah, não posso me esquecer da cena final, daquela risada
filha da puta de Al Pacino para a câmera dizendo que a “vaidade, com certeza é
meu pecado preferido…”, ao ludibriar mais uma vez o talentoso e tapado
advogado, mostrando que ele tem dezenas de formas de convencer o homem falho.
Lide com isso ou corra para o próximo culto. Bom, o próprio nome do filme já é
um spoiler, certo? Apesar
do inteligente trocadilho, uma vez que o termo “advogado do diabo” surgiu
originalmente utilizado pela Igreja Católica como o sujeito que apresentaria
provas contra o candidato a beatificação, e depois tornou-se uma expressão
popular daquele que tece um argumento contrário contra a maioria para testar sua
aplicabilidade, Kevin Lomax, o advogado em ascensão em uma cidadezinha na
Flórida que nunca perdeu nenhum caso, mesmo sabendo da culpa de seus clientes
(como o professor pedófilo do julgamento do início do longa) e que aprendera a
escolher júri escutando clandestinamente durante anos, os jurados deliberarem
por um buraco na parede da sala, é contratado para trabalhar numa poderosa
empresa de advocacia, que tem como CEO o Capiroto. Mudando para a cidade grande
com sua esposa, Mary Ann (Theron), Lomax modifica radicalmente seu estilo de
vida, vivendo em um apartamento luxuoso na Big Apple, ganhando rios de dinheiro, conquistando os holofotes,
rodeado de mulheres lindas e tentadoras, focando-se cada vez mais na carreira,
se tornando um advogado vaidoso e sem escrúpulos, deixando de lado todos os
valores familiares em nome da ganância e sucesso, enquanto sua mulher vai sendo
relegada e sucumbindo a um jogo de tortura psicológica proferido por Milton e
suas demoníacas criaturas, que a levarão ao terror absoluto e limiar da razão.
Mas ainda assim, Milton usa do subterfúgio do livre arbítrio de Lomax (porque o
de Mary Ann não vale absolutamente nada para ele) para que ele desista do
grande caso de sua vida e acompanhe a saúde debilitada da esposa, mas claro que
a escolha do ambicioso personagem é com relação a sua carreira. Só depois, que
a culpa funcionará em conjunto com o livre arbítrio para interferir no plano do
Satã em usá-lo para gerar um filho com sua meia-irmã, que por sinal
também trabalha na firma.
ALERTA DE SPOILER se você nunca assistiu ao filme, pule para o próximo parágrafo ou
leia por sua conta e risco.
Ah, aliás, Lomax é filho de
Milton, que seduziu e engravidou sua mãe beata durante uma visita missionária
para NY há trinta anos. Ou seja, toda sua vidinha ordinária e carreia de
sucesso foram seguidas de perto por forças ocultas, preparando Lomax para
aquele momento em que ele e sua meia-irmã, com quem cometeria incesto,
conduzisse seus negócios pelo próximo milênio que se aproximava. Originalmente,
Pacino recusara o papel CINCO VEZES porque o filme seria um blockbuster cheio de efeitos
especiais (tipo Fim dos Dias, saca?) e sem toda a pegada de horror
psicológico, mas depois do roteiro ser reescrito diversas vezes por Hackford,
finalmente Pacino cedeu (ainda assim achando que não era a pessoa indicada, que
o papel deveria ir para Sean Connery ou Robert Redford), dando sua inestimável
contribuição como John Milton, nome que por sua vez foi inspirado naquele John
Milton autor de “Paraíso Perdido”, obra do século XVII sobre a queda do homem
por meio da tentação de Adão e Eva por Lúcifer e sua expulsão do Jardim do
Éden. A frase, também dita no discurso final: “Melhor reinar no Inferno que
servir no Céu” é retirado do poema. Em 1994, Joel Schumacher havia sido
selecionado para dirigir a adaptação do livro homônimo de Andrew Neiderman
(descoberto mais tarde ser o escritor fantasma da falecida Virginia C. Andrews,
que deu continuidade a sua obra) com Brad Pitt no papel de Lomax (Christian
Slater, John Cusack e Edward Norton foram considerados para o elenco naquela
oportunidade). Três anos depois Hackford (que dirigira anteriormente o
ótimo Eclipse Total e mais tarde o Oscarizado Ray)
ficou com a cadeira do diretor e com Al Pacino e seu inflamado discurso final,
foram os o responsáveis pelo sucesso e méritos de Advogado do Diabo,
transformando-o num grande filme.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/06/19/673-advogado-do-diabo-1997/
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