Direção: Wes Craven
Roteiro: Kevin Williamson
Produção: Cathy Konrad e Cary Woods , Dixie J. Capp (Co-produtora), Nicholas
Mastandrea (Produtor Associado), Stuart M. Besser (Co-produtor Executivo),
Marianne Maddalena, Bob Weinstein e Harvey Weinstein (Produtores Executivos
Elenco: Neve Campbell, Courtney Cox, David Arquette,
Skeet Ulrich, Rose McGowan
Wes Craven, graças ao sucesso
de Pânico, foi o responsável por ressuscitar o cinema de
terror e salvá-lo da decadência total e da possibilidade de seu desaparecimento
durante a década de 90. Acha exagero? Não é. Para exemplificar melhor o que
estou dizendo, vou contextualizar um pouco mais as coisas: Os anos 70 foram sem
dúvida os mais prolíficos para o cinema de terror. Naquela época, o sonho
americano tinha ido literalmente para o buraco, o pessimismo havia tomado conta
dos jovens, as cicatrizes do Vietnã eram imensas e o cinema foi a maior
reflexão disso tudo. Um universo autoral, o chamado “cinema de diretor” surgiu
naquela década e o gênero de terror, e transgressor no geral foi um
grande catalisador para essa “geração perdida”. Tanto que a década de 70 nos
brindou com filmes como O Exorcista, O Massacre da Serra Elétrica, o próprio Aniversário Macabro de Craven, entre outros.
Então os anos 80 chegaram com tudo, como seu hedonismo exacerbado, o
crescimento de novas tecnologias, o surgimento da geração yuppie e o famoso exagero presente
nas mais diversas formas culturais, desde a música, passando pela moda e claro,
pelo cinema. Os adolescentes finalmente haviam se rendido ao poder dos multiplex e dos blockbusters naqueles anos e
eram os responsáveis por encher os bolsos dos estúdios, como acontece até hoje.
E o cinema de terror aproveitou essa carona, dando origem a verdadeiros ícones,
como Jason, Freddy, Chucky e por aí vai. O terror parou de ser levado a sério
por um bom tempo em diversas produções que se misturavam com comédia e a
“bolha” das sequências havia sido criada. A coisa começa a degringolar por aí,
pois todos esses exemplos acima, e colocando também o setentista Michael Myers
nesse balaio de gato, começaram a ser vítimas da inescrupulosa máquina
caça-níqueis de Hollywood e gerar infinitas continuações, uma pior que a outra.
Não bastasse isso, na mesma época surgiu um aparelho mágico chamado
videocassete e voilá, ele
revolucionou a indústria do cinema. Ávidas por conseguir um lugar ao sol e
adentrar no mercado, dezenas de produtoras começaram a produzir caralhadas de
filmes para serem lançados direto para os febris frequentadores das
videolocadoras. E qual o gênero mais fácil de produzir com o menor orçamento
possível? Bingo! Os filmes de terror (e os pornôs, claro, mas esses não
precisavam de uma história decente, pelo menos). Então o que se viu nos anos 90
foi um gênero tão saturado, com tanto lixo sendo feito direto para o vídeo,
produções de baixíssima categoria, a ressaca de tantas e tantas continuações
querendo tirar os centavos dos bolsos dos pobres espectadores, fiascos de
bilheterias e o surgimento de uma geração vazia e inerte sem ter o que temer
(como o medo da bomba atômica, os traumas do Vietnã, a escalada da violência, o
pavor dos russos incitado pela era Reagan), que fez com que os grandes
estúdios e produtores resolvessem ignorar completamente o gênero (salvo
pretensas superproduções, como Drácula de Bram Stoker, Frankenstein de Mary Shelley, Entrevista com Vampiro, etc) e deixassem de investir no
que era sinônimo de fracasso de público, critica e de mau gosto. Todo o
resultado dessas equações também afastavam os fãs. Quer uma pequena prova do
que estou falando? Dê uma olhada na lista dos anos 90 publicada nesse blog até
aqui, por exemplo. Olhe como são poucos os títulos realmente bons, se
comparados as duas décadas anteriores. E olhe que os 90’s começaram
promissores, com filmes como O Silêncio dos Inocentes ganhando até Oscar,
parecendo que iria ditar as regras dos anos vindouros. Foi aí nesse cenário
desolador que o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson deram um
novo gás e novo charme ao gênero slasher,
atualizando o conceito de cinema de horror adolescente, prestando a ele uma
belíssima homenagem e criando um novo assassino icônico com o lançamento dePânico.
O filme surpreendentemente foi um estouro nas bilheterias (faturou mais de 103
milhões de dólares só nos EUA e até hoje é a maior bilheteria de um slasher movie da história) e
provou para estúdios e produtoras que o cinema de terror estava vivo, poderia
fazer dinheiro, agradar público e crítica e ter uma história inteligente por
trás. O que fez com que Pânico desse tão certo foi o fato de
ter sido dirigido por alguém que realmente sabia o que estava fazendo, e tinha
a expertise de se conectar a um público que ia dos mais exigentes até os
mais mainstream, mesmo
com uma carreira tão instável. Afinal
o cara já havia criado Freddy Krueger há pouco mais de dez anos, e o roteirista
Kevin Williamson era um verdadeiro devoto de Halloween – A Noite do Terror de John Carpenter, tendo aprendido direitinho tudo
que ele quis passar em seu seminal filme. Soma-se isso um estrelado time de
jovens atores em ascensão, oriundos de séries adolescentes de televisão e com a
cara da geração MTV e a figura do Ghostface, um novo assassino que usa uma
máscara inspirada em “O Grito” de Munch, feito sob medida para vender bonecos e
fantasias de Dia das Bruxas. Pronto, você tem um novo clássico! E cá entre nós,
a sequência de abertura de Pânico é uma das mais memoráveis da
história do cinema, quando o assassino liga para Drew Barrymore e a força a
entrar em um quiz sobre
filme de terror, onde as respostas corretas valeriam sua vida e de seu
namorado. Ela errar quando ele pergunta quem era o assassino de Sexta-Feira 13 ao responder Jason com toda
convicção, ao invés de sua mãe na verdade, é brilhante! O resto do filme não
traz nada de novo, mas é de um frescor incrível, quando Ghostface começa a
matar os jovens da cidade de Woodsboro, espalhando o medo e o terror. Toda a
trama se passa em torno de Sidney Prescott (interpretada por Neve Campbell) a
heroína virginal atormentada pela morte de sua mãe infiel no passado. Gravitam
ao seu redor os mesmo estereótipos dos slasher movies de sempre: seu namorado que tenta de toda
forma levá-la para cama (Skeet Ulrich, ótimo); a repórter de TV gananciosa que
quer o furo de sua vida (Courtney Cox, a eterna Monica de Friends);
e o policial atrapalhado (David Arquette), entre outros. Mas dentre os
personagens extremamente bem escritos por Williamson, o melhor de todos sem
dúvida é Randy, intepretado por Jamie Kennedy, o bitolado por filmes de terror,
que trabalha na locadora da cidade e é quem conhece as regras básicas para
manter-se vivo (aquelas ditadas por Halloween de Carpenter lá
no longínquo ano de 1979: não fume maconha, não faça sexo e nunca diga “eu já
volto”) e que desenvolve as mais complexas teorias para tentar descobrir a
identidade do assassino. Outra sacada brilhante de Craven e Williamson é
brincar com a metalinguagem do filme (algo que o diretor já havia experimentado
em O Novo Pesadelo: O Retorno de
Freddy Krueger) ao
situar os personagens em um universo em que todos aqueles filmes de terror que
nós assistimos existem de verdade. Na cena da festa, por exemplo, Randy leva
para todos os amigos assistirem Halloween e A Morte Convida Para Dançar, ambos com a scream queen Jamie Lee Curtis. A
homenagem definitiva à rainha dos slashers.
E o final é digno de tirar o chapéu, quando é revelada a(s) identidade(s) do(s)
assassino(s) e sua(s) motivação(ões). Mas claro que como tudo que é bom, dura
pouco, ainda mais se tratando de filmes de terror, uma enxurrada de slasher movies 2.0, se assim podemos
dizer (sem nudez e violência em off, completamente diferente do irmão
oitentista mais velho), invadiram os cinemas no final dos anos 90 e começo dos
anos 2000, a maioria grandissíssimas porcarias, sem conseguir manter o nível
que Pânico tinha acabado de elevar, como Eu Sei O Que
Vocês Fizeram no Verão Passado, Lenda Urbana, O Dia do
Terror, e por aí vai. E o próprio Craven escorregou em sua própria
armadilha, lançando mais duas continuações nos anos seguintes, que são muito,
mas muito ruins, e mesmo mantendo a brincadeira com essa questão
metalinguística, do massacre do primeiro filme virar um filme dentro do filme
chamado “Facada” (confuso?) e sempre se aprofundar nas regras cinematográficas
básicas de uma sequência ou de uma trilogia, a brincadeira realmente perdeu a
graça. Em 2011 fora lançada a quarta parte, trazendo os atores originais de
volta, que é bem melhor que as outras duas sequências, pois Craven põe dessa
vez em xeque a onda dos remakes que
Hollywood vem produzindo sem escrúpulos (ele mesmo é uma vítima recorrente,
afinal três de seus filmes ganharam refilmagens recentes: A Hora do Pesadelo, Quadrilha de Sádicos e Aniversário
Macabro) e até dá uma cutucada quando diz que é impossível ser melhor que o
original. Aliás, Pânico vem aí como uma série da MTV agora. É
o gênero nunca aprendendo com seus próprios erros…
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/17/671-panico-1996/
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