quinta-feira, 18 de agosto de 2016

#671 1996 PÂNICO (Scream, EUA)


Direção: Wes Craven
Roteiro: Kevin Williamson
Produção: Cathy Konrad e Cary Woods , Dixie J. Capp (Co-produtora), Nicholas Mastandrea (Produtor Associado), Stuart M. Besser (Co-produtor Executivo), Marianne Maddalena, Bob Weinstein e Harvey Weinstein (Produtores Executivos
Elenco: Neve Campbell, Courtney Cox, David Arquette, Skeet Ulrich, Rose McGowan

Wes Craven, graças ao sucesso de Pânico, foi o responsável por ressuscitar o cinema de terror e salvá-lo da decadência total e da possibilidade de seu desaparecimento durante a década de 90. Acha exagero? Não é. Para exemplificar melhor o que estou dizendo, vou contextualizar um pouco mais as coisas: Os anos 70 foram sem dúvida os mais prolíficos para o cinema de terror. Naquela época, o sonho americano tinha ido literalmente para o buraco, o pessimismo havia tomado conta dos jovens, as cicatrizes do Vietnã eram imensas e o cinema foi a maior reflexão disso tudo. Um universo autoral, o chamado “cinema de diretor” surgiu naquela década e o gênero de terror, e  transgressor no geral foi um grande catalisador para essa “geração perdida”. Tanto que a década de 70 nos brindou com filmes como O ExorcistaO Massacre da Serra Elétrica, o próprio Aniversário Macabro de Craven, entre outros. Então os anos 80 chegaram com tudo, como seu hedonismo exacerbado, o crescimento de novas tecnologias, o surgimento da geração yuppie e o famoso exagero presente nas mais diversas formas culturais, desde a música, passando pela moda e claro, pelo cinema. Os adolescentes finalmente haviam se rendido ao poder dos multiplex e dos blockbusters naqueles anos e eram os responsáveis por encher os bolsos dos estúdios, como acontece até hoje. E o cinema de terror aproveitou essa carona, dando origem a verdadeiros ícones, como Jason, Freddy, Chucky e por aí vai. O terror parou de ser levado a sério por um bom tempo em diversas produções que se misturavam com comédia e a “bolha” das sequências havia sido criada. A coisa começa a degringolar por aí, pois todos esses exemplos acima, e colocando também o setentista Michael Myers nesse balaio de gato, começaram a ser vítimas da inescrupulosa máquina caça-níqueis de Hollywood e gerar infinitas continuações, uma pior que a outra. Não bastasse isso, na mesma época surgiu um aparelho mágico chamado videocassete e voilá, ele revolucionou a indústria do cinema. Ávidas por conseguir um lugar ao sol e adentrar no mercado, dezenas de produtoras começaram a produzir caralhadas de filmes para serem lançados direto para os febris frequentadores das videolocadoras. E qual o gênero mais fácil de produzir com o menor orçamento possível? Bingo! Os filmes de terror (e os pornôs, claro, mas esses não precisavam de uma história decente, pelo menos). Então o que se viu nos anos 90 foi um gênero tão saturado, com tanto lixo sendo feito direto para o vídeo, produções de baixíssima categoria, a ressaca de tantas e tantas continuações querendo tirar os centavos dos bolsos dos pobres espectadores, fiascos de bilheterias e o surgimento de uma geração vazia e inerte sem ter o que temer (como o medo da bomba atômica, os traumas do Vietnã, a escalada da violência, o pavor dos russos incitado pela era Reagan),  que fez com que os grandes estúdios e produtores resolvessem ignorar completamente o gênero (salvo pretensas superproduções, como Drácula de Bram StokerFrankenstein de Mary ShelleyEntrevista com Vampiro, etc) e deixassem de investir no que era sinônimo de fracasso de público, critica e de mau gosto. Todo o resultado dessas equações também afastavam os fãs. Quer uma pequena prova do que estou falando? Dê uma olhada na lista dos anos 90 publicada nesse blog até aqui, por exemplo. Olhe como são poucos os títulos realmente bons, se comparados as duas décadas anteriores. E olhe que os 90’s começaram promissores, com filmes como O Silêncio dos Inocentes ganhando até Oscar, parecendo que iria ditar as regras dos anos vindouros. Foi aí nesse cenário desolador que o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson deram um novo gás e novo charme ao gênero slasher, atualizando o conceito de cinema de horror adolescente, prestando a ele uma belíssima homenagem e criando um novo assassino icônico com o lançamento dePânico. O filme surpreendentemente foi um estouro nas bilheterias (faturou mais de 103 milhões de dólares só nos EUA e até hoje é a maior bilheteria de um slasher movie da história) e provou para estúdios e produtoras que o cinema de terror estava vivo, poderia fazer dinheiro, agradar público e crítica e ter uma história inteligente por trás. O que fez com que Pânico desse tão certo foi o fato de ter sido dirigido por alguém que realmente sabia o que estava fazendo, e tinha a expertise de se conectar a um público que ia dos mais exigentes até os mais mainstream, mesmo com uma carreira tão instável. Afinal o cara já havia criado Freddy Krueger há pouco mais de dez anos, e o roteirista Kevin Williamson era um verdadeiro devoto de Halloween – A Noite do Terror de John Carpenter, tendo aprendido direitinho tudo que ele quis passar em seu seminal filme. Soma-se isso um estrelado time de jovens atores em ascensão, oriundos de séries adolescentes de televisão e com a cara da geração MTV e a figura do Ghostface, um novo assassino que usa uma máscara inspirada em “O Grito” de Munch, feito sob medida para vender bonecos e fantasias de Dia das Bruxas. Pronto, você tem um novo clássico! E cá entre nós, a sequência de abertura de Pânico é uma das mais memoráveis da história do cinema, quando o assassino liga para Drew Barrymore e a força a entrar em um quiz sobre filme de terror, onde as respostas corretas valeriam sua vida e de seu namorado. Ela errar quando ele pergunta quem era o assassino de Sexta-Feira 13 ao responder Jason com toda convicção, ao invés de sua mãe na verdade, é brilhante! O resto do filme não traz nada de novo, mas é de um frescor incrível, quando Ghostface começa a matar os jovens da cidade de Woodsboro, espalhando o medo e o terror. Toda a trama se passa em torno de Sidney Prescott (interpretada por Neve Campbell) a heroína virginal atormentada pela morte de sua mãe infiel no passado. Gravitam ao seu redor os mesmo estereótipos dos slasher movies de sempre: seu namorado que tenta de toda forma levá-la para cama (Skeet Ulrich, ótimo); a repórter de TV gananciosa que quer o furo de sua vida (Courtney Cox, a eterna Monica de Friends); e o policial atrapalhado (David Arquette), entre outros. Mas dentre os personagens extremamente bem escritos por Williamson, o melhor de todos sem dúvida é Randy, intepretado por Jamie Kennedy, o bitolado por filmes de terror, que trabalha na locadora da cidade e é quem conhece as regras básicas para manter-se vivo (aquelas ditadas por Halloween de Carpenter lá no longínquo ano de 1979: não fume maconha, não faça sexo e nunca diga “eu já volto”) e que desenvolve as mais complexas teorias para tentar descobrir a identidade do assassino. Outra sacada brilhante de Craven e Williamson é brincar com a metalinguagem do filme (algo que o diretor já havia experimentado em O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger) ao situar os personagens em um universo em que todos aqueles filmes de terror que nós assistimos existem de verdade. Na cena da festa, por exemplo, Randy leva para todos os amigos assistirem Halloween e A Morte Convida Para Dançar, ambos com a scream queen Jamie Lee Curtis. A homenagem definitiva à rainha dos slashers. E o final é digno de tirar o chapéu, quando é revelada a(s) identidade(s) do(s) assassino(s) e sua(s) motivação(ões). Mas claro que como tudo que é bom, dura pouco, ainda mais se tratando de filmes de terror, uma enxurrada de slasher movies 2.0, se assim podemos dizer (sem nudez e violência em off, completamente diferente do irmão oitentista mais velho), invadiram os cinemas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, a maioria grandissíssimas porcarias, sem conseguir manter o nível que Pânico tinha acabado de elevar, como Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão PassadoLenda UrbanaO Dia do Terror, e por aí vai. E o próprio Craven escorregou em sua própria armadilha, lançando mais duas continuações nos anos seguintes, que são muito, mas muito ruins, e mesmo mantendo a brincadeira com essa questão metalinguística, do massacre do primeiro filme virar um filme dentro do filme chamado “Facada” (confuso?) e sempre se aprofundar nas regras cinematográficas básicas de uma sequência ou de uma trilogia, a brincadeira realmente perdeu a graça. Em 2011 fora lançada a quarta parte, trazendo os atores originais de volta, que é bem melhor que as outras duas sequências, pois Craven põe dessa vez em xeque a onda dos remakes que Hollywood vem produzindo sem escrúpulos (ele mesmo é uma vítima recorrente, afinal três de seus filmes ganharam refilmagens recentes: A Hora do PesadeloQuadrilha de Sádicos e Aniversário Macabro) e até dá uma cutucada quando diz que é impossível ser melhor que o original. Aliás, Pânico vem aí como uma série da MTV agora. É o gênero nunca aprendendo com seus próprios erros…
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/17/671-panico-1996/

Nenhum comentário:

Postar um comentário