segunda-feira, 22 de agosto de 2016

#679 1997 O ILUMINADO (The Shining, EUA)


Direção: Mick Garris
Roteiro: Stephen King (baseado em seu livro)
Produção:Mick Carliner; Laura Gibson (Produtor Associado); Laura Gibson (Supervisora de Produção); Stephen King (Produtor Executivo)
Elenco: Rebecca De Mornay, Steven Webber, Will Horneff, Courtland Mead, Melvin Van Peebles, John Durbin, Pat Hingle, Elliott Gould

Eu sei que eu serei apedrejado em praça pública pelo que irei dizer, mas prefiro essa versão minissérie para a TV de O Iluminado do que o filme de Kubrick de 1980. Não estou dizendo como cinema, mas sim como adaptação do livro de Stephen King. E todos vocês podem discordar de mim, mas sei que o pai da criança está comigo nessa. Afinal, é público o quanto ele odeia a versão de cinema, e até hoje disparas suas farpas assim que possível. Li recentemente “Doutor Sono”, a tão esperada continuação de seu livro, e em suas considerações o mestre do terror escreve: “Além disso, é claro, há o filme de Stanley Kubrick, que muita gente parece recordar – por motivos que nunca cheguei a compreender – como um dos filmes mais aterrorizantes que já viram. (Se você viu o filme, mas não leu o livro, repare só que Doutor Sono segue este último, que é, na minha opinião, a verdadeira história da família Torrance”. Sabemos que é uma produção feita para a ABC, ou seja, nunca terá os mesmos recursos visuais e orçamento de um filme hollywoodiano, ainda mais que estamos falando lá dos anos 90 e na TV não existia produções como da HBO e no Netflix. Sabemos igualmente que Mick Garris é um diretor dos mais meia-boca, que não chega no dedinho do pé da genialidade de um Stanley Kubrick. Então mais uma vez não estou analisando a obra cinematográfica e toda sua experiência visual incrível, design de produção, semiótica, fotografia e tudo que lhe rendeu o status de obra-prima. Mas a questão é que O Iluminado de Kubrick peca exatamente por não capturar a essência do livro de King, que é sem sombra de dúvida, para mim pelo menos, o melhor que ele já escreveu. Em conversas sobre filmes versus livros, sempre surge na discussão que ambos são duas mídias diferentes, óbvio, e adaptações ipsis literis são praticamente impossíveis e até desnecessárias. Aqui não temos um Jack Nicholson, mesmo que caricato com sua ensandecida atuação forçada, mas em seu lugar, um até esforçado Steve Webber como Jack Torrance, mas a construção do personagem (claro, sem levar em conta a metragem) é infinitamente melhor do que do ator consagrado ganhador do Oscar. Nicholson já CHEGA com cara de louco na entrevista com o Sr. Ullman e tudo já está errado logo a partir daí. Ao que parece, a crise que ele tem no Overlook parece mais um cabin fever do que a ação dos fantasmas ali residentes. Aliás, o Overlook é personagem central do livro, e tão protagonista quanto a família Torrance, com um histórico de escândalos, suicídios, assassinatos, acertos de contas da máfia. Por isso o lugar é maldito (além de ter sido construído em cima de um cemitério indígena, expediente que King adora!). Tudo isso é mandados às favas em O Iluminado de Kubrick, e aqui muito bem explorado. A Wendy Torrance de Rebecca De Mornay que também é uma atriz série B, engole com farinha a louca histérica, fraca e sem personalidade de Shelley Duvall, talvez uma das maiores reclamações de King, uma vez que ele escrevera uma mulher forte que aguenta o tranco de uma vidinha miserável e de abusos. Insuportável é Courtland Mead como Danny Torrance. Eu não sei o porquê, mas odeio aquelas bochechas dele, aquela boca dele e a forma manhosa como ele fala às vezes, além da atuação bem abaixo da nota!!!! Odeio!!! Mas pelo menos ele não conversa com o Tony versão dedinho… Aliás, se tem uma coisa que é foda na livre adaptação de Kubrick são os passeios de triciclo de Danny pelos corredores labirínticos do Overlook e a adição das meninas mortas, filhas do antigo zelador. E vai, Jack usar um machado ao invés de um mísero taco de críquete, mas isso já arrebenta com o destino de outro personagem importantíssimo e querido: Dick Halloran. King resolveu escrever o roteiro de O Iluminado de 1997 e também é o produtor executivo da bagaça, então veremos uma versão fidedigna de seu livro. E sua maior adição, além de dezenas de coisas que Kubrick deixou de fora (a caldeira, as topiarias, etc), é o fato de explorar o alcoolismo de Jack, e como isso vai levando-o a ruína, sobrepujado pela terrível influência sobrenatural do lugar. Que aliás, foi inspirado no próprio problema alcóolico que o escritor vivia no momento em que escreveu a história. E esse é o grande barato de O Iluminado. As falhas humanas, os problemas conjugais daquele casal, o desespero de um homem que destruiu sua vida por causa do álcool e tem naquele emprego de merda de zelador de um hotel de veraneio, a última chance de sua vida, completamente sob pressão, sempre vivendo na sombra da desconfiança constante da mulher, e culpando-se pelos traumas em seu filho, que como se não bastasse, tem poderes pré-cognitivos e irá passar o inverno isolado em um lugar MUITO mal-assombrado. Dispondo de nada menos que 270 minutos de duração, dividido em três partes, King deitou e rolou para mostrar a degradação psicológica de Jack, e isso demora pacas, num perfeito processo de slow burning, e se Steven Webber, seus pares de atuação, a cara de Made for TV e os efeitos toscos das topiarias, e a costumeira apatia de Mick Garris e falta de inventividade na direção não ajudam muito, pelo menos o roteiro, seu desenvolver e toda a trama prendem o espectador no aspecto psicológico, que é o que realmente interessa numa obra de horror. Muito mais que afetados sorrisos de escárnio, imitações de Johnny Carson ou elevadores que cospem sangue. Sou defensor ferrenho desse O Iluminado. Gosto da versão do genial Kubrick, considero clássico, obra prima do cinema, aula de audiovisual, de meter medo de verdade, pago pau para a insanidade de Nicholson em algumas cenas, mas sou fã para caralho do livro de King acima de tudo, e mesmo que corra o risco de até perder leitores por esse post (que espero ter embasado muito bem todos os meus motivos), reafirmo: prefiro essa obra menor e menosprezada, mas que condiz muito mais ao que o Mestre escrevera.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/07/01/679-o-iluminado-1997/

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