Direção: Mick
Garris
Roteiro: Stephen
King (baseado em seu livro)
Produção:Mick
Carliner; Laura Gibson (Produtor Associado); Laura Gibson (Supervisora de
Produção); Stephen King (Produtor Executivo)
Elenco: Rebecca De Mornay, Steven Webber, Will
Horneff, Courtland Mead, Melvin Van Peebles, John Durbin, Pat Hingle, Elliott
Gould
Eu sei
que eu serei apedrejado em praça pública pelo que irei dizer, mas prefiro essa
versão minissérie para a TV de O Iluminado do que o filme de Kubrick
de 1980. Não estou dizendo como cinema, mas sim como adaptação do livro de
Stephen King. E todos vocês podem discordar de mim, mas sei que o pai da
criança está comigo nessa. Afinal, é público o quanto ele odeia a versão de
cinema, e até hoje disparas suas farpas assim que possível. Li recentemente
“Doutor Sono”, a tão esperada continuação de seu livro, e em suas considerações
o mestre do terror escreve: “Além disso, é claro, há o filme de Stanley
Kubrick, que muita gente parece recordar – por motivos que nunca cheguei a
compreender – como um dos filmes mais aterrorizantes que já viram. (Se você viu
o filme, mas não leu o livro, repare só que Doutor Sono segue este
último, que é, na minha opinião, a verdadeira história da família Torrance”.
Sabemos que é uma produção feita para a ABC, ou seja, nunca terá os mesmos
recursos visuais e orçamento de um filme hollywoodiano, ainda mais que estamos
falando lá dos anos 90 e na TV não existia produções como da HBO e no Netflix.
Sabemos igualmente que Mick Garris é um diretor dos mais meia-boca, que não
chega no dedinho do pé da genialidade de um Stanley Kubrick. Então mais uma vez
não estou analisando a obra cinematográfica e toda sua experiência visual
incrível, design de produção, semiótica, fotografia e tudo que lhe rendeu o
status de obra-prima. Mas a questão é que O Iluminado de Kubrick peca
exatamente por não capturar a essência do livro de King, que é sem sombra de
dúvida, para mim pelo menos, o melhor que ele já escreveu. Em conversas sobre
filmes versus livros, sempre surge na discussão que ambos são duas
mídias diferentes, óbvio, e adaptações ipsis literis são praticamente
impossíveis e até desnecessárias. Aqui não temos um Jack Nicholson, mesmo que
caricato com sua ensandecida atuação forçada, mas em seu lugar, um até
esforçado Steve Webber como Jack Torrance, mas a construção do personagem (claro,
sem levar em conta a metragem) é infinitamente melhor do que do ator consagrado
ganhador do Oscar. Nicholson já CHEGA com cara de louco na entrevista com o Sr.
Ullman e tudo já está errado logo a partir daí. Ao que parece, a crise que ele
tem no Overlook parece mais um cabin fever do que a ação dos
fantasmas ali residentes. Aliás, o Overlook é personagem central do livro, e
tão protagonista quanto a família Torrance, com um histórico de escândalos,
suicídios, assassinatos, acertos de contas da máfia. Por isso o lugar é maldito
(além de ter sido construído em cima de um cemitério indígena, expediente que
King adora!). Tudo isso é mandados às favas em O Iluminado de
Kubrick, e aqui muito bem explorado. A Wendy Torrance de Rebecca De Mornay que
também é uma atriz série B, engole com farinha a louca histérica, fraca e sem
personalidade de Shelley Duvall, talvez uma das maiores reclamações de King,
uma vez que ele escrevera uma mulher forte que aguenta o tranco de uma vidinha
miserável e de abusos. Insuportável é Courtland Mead como Danny Torrance. Eu
não sei o porquê, mas odeio aquelas bochechas dele, aquela boca dele e a forma
manhosa como ele fala às vezes, além da atuação bem abaixo da nota!!!! Odeio!!!
Mas pelo menos ele não conversa com o Tony versão dedinho… Aliás, se tem uma
coisa que é foda na livre adaptação de Kubrick são os passeios de triciclo de
Danny pelos corredores labirínticos do Overlook e a adição das meninas mortas,
filhas do antigo zelador. E vai, Jack usar um machado ao invés de um mísero taco
de críquete, mas isso já arrebenta com o destino de outro personagem
importantíssimo e querido: Dick Halloran. King resolveu escrever o roteiro
de O Iluminado de 1997 e também é o produtor executivo da bagaça,
então veremos uma versão fidedigna de seu livro. E sua maior adição, além de
dezenas de coisas que Kubrick deixou de fora (a caldeira, as topiarias, etc), é
o fato de explorar o alcoolismo de Jack, e como isso vai levando-o a ruína,
sobrepujado pela terrível influência sobrenatural do lugar. Que aliás, foi
inspirado no próprio problema alcóolico que o escritor vivia no momento em que
escreveu a história. E esse é o grande barato de O Iluminado. As falhas
humanas, os problemas conjugais daquele casal, o desespero de um homem que
destruiu sua vida por causa do álcool e tem naquele emprego de merda de zelador
de um hotel de veraneio, a última chance de sua vida, completamente sob
pressão, sempre vivendo na sombra da desconfiança constante da mulher, e
culpando-se pelos traumas em seu filho, que como se não bastasse, tem poderes
pré-cognitivos e irá passar o inverno isolado em um lugar MUITO mal-assombrado.
Dispondo de nada menos que 270 minutos de duração, dividido em três partes,
King deitou e rolou para mostrar a degradação psicológica de Jack, e isso demora
pacas, num perfeito processo de slow burning, e se Steven Webber, seus
pares de atuação, a cara de Made for TV e os efeitos toscos das
topiarias, e a costumeira apatia de Mick Garris e falta de inventividade na
direção não ajudam muito, pelo menos o roteiro, seu desenvolver e toda a trama
prendem o espectador no aspecto psicológico, que é o que realmente interessa
numa obra de horror. Muito mais que afetados sorrisos de escárnio, imitações de
Johnny Carson ou elevadores que cospem sangue. Sou defensor ferrenho
desse O Iluminado. Gosto da versão do genial Kubrick, considero clássico,
obra prima do cinema, aula de audiovisual, de meter medo de verdade, pago pau
para a insanidade de Nicholson em algumas cenas, mas sou fã para caralho do
livro de King acima de tudo, e mesmo que corra o risco de até perder leitores
por esse post (que espero ter embasado muito bem todos os meus motivos),
reafirmo: prefiro essa obra menor e menosprezada, mas que condiz muito mais ao
que o Mestre escrevera.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2015/07/01/679-o-iluminado-1997/
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