segunda-feira, 22 de agosto de 2016

#677 1997 O ENIGMA DO HORIZONTE (Event Horizon, EUA, Reino Unido)


Direção: Paul W. S. Anderson
Roteiro: Phillip Eisner
Produção: Jeremy Bolt, Lawrence Gordon, Lloyd Levin; Colin Brown, Nick Gillott (Produção Executiva)
Elenco: Laurence Fishburne, Sam Neill, Kathleen Quinlan, Joely Richardson, Richard T. Jones, Jack Noseworthy, Jason Isaacs, Sean Pertwee

Quando assisti ao O Enigma do Horizonte em 1997, eu fui com uma expectativa altíssima ao cinema para com o longa, afinal era um sci-fi misturado com terror, daquele mesmo molde de amálgama entre os dois gêneros, eternizado por Alien – O Oitavo Passageiro, que eu adoro, com suas referências  a Solaris de Tarkovsky e 2001 – Uma Odisseia do Espaço de Kubrick. Eu acabei me decepcionando um bocado, tenho que confessar, apesar de ter gostado bastante do filme. Eu já o assisti pelo menos uma dezena de vezes desde que sentei naquela cadeira do Cinemark (que era uma novidade por aqui, diga-se de passagem) e sempre o achei um filme brilhante, porém incompleto, que não entrega tudo que promete. Parece que crítica e público compartilharam de minha opinião, uma vez que ele foi mal recebido por ambos, fracassou na bilheteria e tornou-se um daqueles filmes subestimados, quase até malditos para todos os envolvidos. Até descobrir em seu lançamento em DVD em 2006 que minha impressão não estava errada, e que o corte original do diretor Paul W. S. Anderson (que nunca mais acertou em NENHUM FILME de sua carreira) tinha 130 minutos e foi obrigado pelos mandachuvas da Paramount, após duas desastrosas exibições teste, a cortar nada menos que meia-hora, que ajudaria muito mais no esclarecimento sobre aquela confusa viagem dimensional/infernal que a nave Event Horizon fez, aprofundaria no backgrounddos personagens, uma vez que eles revivem cada um seus infernos pessoais, medos e culpas e principalmente, uma cena absolutamente gráfica cheia de sangue, gore e uma violentíssima orgia sexual que envolvia além dos famosos olhos sendo arrancados, tortura, sodomização por canos de ferro, estupros coletivos, dentes arrancados, intestinos puxados pela boca, espancamento e seios sendo arrancados a dentadas, onde amputados e atrizes do cinema pornô foram contratados para atuar e deixar o realismo lá em cima. O mais triste de tudo é que essa versão do diretor nunca viu a luz do dia e nunca verá, pois todo esse material se perdeu, exceto alguns fotogramas e cenas gravadas em videotape. Tá bom, por mais que eu seja fã confesso da ultraviolência, e ainda mais sabendo que Clive Barker prestou consultoria para o longa, que pretendia trazer o típico terror escatológico e pervertido do escritor britânico, inspirado por seu Hellraiser – Renascido do Inferno, o que deixa mesmo um sentido de frustração quanto ao O Enigma do Horizonte é mesmo pensar que toda a profundidade da trama e o horror psicológico que seria explorado por conta daquele desastrosa viagem por um buraco negro, foram deixados de lado por questões mercadológicas de estúdio, e medo da classificação R em detrimento de cenas de explosões, ação desenfreada e toda a tonelada de clichês da ficção científica básica. Pois é, viagem por um buraco negro. A nave Event Horizon teve o nome emprestado pela teoria de Stephen Hawking, que ao escrever “Uma Breve História do Tempo” definiu o “horizonte de eventos” como um limite teórico de um buraco negro, região limítrofe do espaço-tempo, onde as leis da Física terminam e a gravidade é tão intensa que nem a luz pode escapar. Pois então, essa embarcação espacial foi construída para que o homem pudesse viajar para outras galáxias, no caso, Proxima Centauri, projetada pelo Dr. William Weir (Sam Neill), através de um mecanismo que criaria a dobra de um buraco negro experimental, que pretendia ligar dois pontos do espaço por um buraco de minhoca e assim viajar mais rápido que a velocidade da luz. Opa, você me pergunta: peraí, você não está falando do Interestelar não? Não, Nolanbitches, Paul W. S. Anderson, o diretor de RESIDENT EVIL, já tinha colocado isso na tela quase duas décadas antes, e lide com isso! A viagem da Event Horizon aconteceu em 2040 e a nave perdeu contato, sendo considerada a maior catástrofe da história espacial, até que sete anos depois, ela emitiu novamente um sinal de socorro, localizada próximo a Netuno. A nave Lewis & Clark (nome da dupla de expedicionários que realizaram a primeira grande exploração do continente norte-americano), liderada pelo Capitão Miller (Laurence Fishburne) então é acionada para uma missão secreta de resgate da Event Horizon. Ao chegar no local indicado, a antiga tripulação não responde a nenhum chamado, e o sinal interceptado traz uma mensagem em latim, “liberate me ex inferis” que significa “salve-me do inferno”. Toda a tripulação da Event Horizon foi morta e após um acidente, que faz com que a Lewis & Clark precise de reparo, seus membros ficam presos na nave fantasma com limite de oxigênio de apenas 20 horas.  Aí que o bicho começa a pegar, quando descobre-se que na verdade a nave não foi parar em outra galáxia, e muito menos em outra dimensão, mas no próprio inferno dantesco em si, fazendo com que a tripulação se matasse de forma atroz, com corpos dilacerados, olhos arrancados, mutilações e muito sangue (mesmo com o grosso da cena cortada na versão final). E a mensagem em latim teve um erro de tradução, sendo na verdade “liberate tuteme ex inferis”, ou “salve-se do inferno”. Ops…Só que o que quer que seja esse multiverso infernal por onde a Event Horizon esteve, trouxe consigo sua essência, que passou a atingir os membros da Lewis & Clark ali aprisionados, tal qual o Solaris, materializando suas culpas e remorsos, como a médica da nave, Peters, que tem a visão de seu filho aleijado com as pernas cobertas de feridas, Dr. Weir tendo pesadelos recorrentes de sua esposa que se suicidara e o Capitão Miller, sendo confrontado por um fantasma do passado, de um oficial que morrera queimado e fora deixado para trás por ele. Até aí tudo bem, o filme vai causando um claustrofóbico e sufocante sentimento crescente de terror físico e psicológico, misturado com algumas cenas gráficas (como a excelente sequência em que um dos tripulantes entra na câmara de descompressão e é ejetado para o espaço sem traje de proteção) mas do final para frente, fica confuso e descompassado com relação a suas reais intenções, além de deixar o espectador na mão com uma explicação mais detalhada sobre o funcionamento daquele estranho mecanismo circular que realiza a dobra temporal, deixa de lado todos os desdobramentos filosóficos, físicos, teóricos e teológicos para virar mais um filme de ação no espaço, transformando a figura do Dr. Weir em um supervilão espacial psicopata deformado. Hoje acredito que o fato se deve muito a esses cortes, e se você analisar bem friamente o filme, percebe que ele ficou confuso, truncado, e muita coisa importante deve ter ficado no chão da sala de edição, atrapalhando o andamento, narrativa, desenvolvimento dos personagens e até mesmo o ritmo da produção. E isso como disse, refletiu na crítica e no público, uma vez que o faturamento nas bilheterias foi de fracos 26 milhões de dólares nos EUA, e mais 20 milhões no mundo todo, contra 50 milhões de orçamento, fazendo com que O Enigma do Horizonte sequer se pagasse, mas tornou-o de forma tímida um filme cultuado no meio sci-fi/ nerd, subestimado, que infelizmente deixa a desejar por conta de seu tremendo potencial desperdiçado que poderia tê-lo colocado fácil entre os maiores clássicos do gênero.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/06/26/677-o-enigma-do-horizonte-1997/

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