Direção: Tom
Holland
Roteiro: Tom
Holland, Stephen King (baseado em seu conto)
Produção: David
R. Kappes; Michael Gornick (Produtor Associado); Mitchell Galin, Richard P.
Rubinstein (Produtores Executivos)
Elenco: Patricia
Wettig, Dean Stockwell, David Morse, Mark Lindsay Chapman, Frankie Faison,
Baxter Harris. Kate Maberly, Bronson Pinchot
Ah, Fenda
no Tempo…
Ah, Stephen King… Ah, Tom Holland… Porque fizestes isso com a gente?
Sinceramente, os envolvidos são capazes de absolutamente tudo para você gostar
dessa minissérie, que traz uma das histórias mais surreais, criativas e
interessantes do Mestre do Terror, ao melhor estilo Além da Imaginação, e ao
mesmo tempo, capazes de tudo para você odiar a porcaria que ela se transforma
quando chega em seu clímax. Lógico que estamos falando de uma produção
meia-boca feita para a TV, sem recursos, e numa época que as minisséries das
telinhas eram qualquer nota, nada comparado as superproduções de hoje, e temos
o histórico das safadezas que Stephen King já aprontou anteriormente nesse
quesito ou que já aprontaram com ele, como os execráveis A Dança da
Morte ou Tommyknockers – Tranquem Suas Portas, para
ficar só nesses dois exemplos. Mas ainda assim, Fenda no Tempo tem a sensacional habilidade de te manter
intrigado e colado na tela a primeira vez que você assiste, apertando bem fundo
o botão da suspensão da descrença, colocando personagens normais e díspares em
uma situação sobrenatural (o melhor que King sabe fazer) das mais inventivas
(mesmo com seus enormes buracos no roteiro) e te deixando tenso, sem ter a
menor ideia do que está acontecendo, como eles sairão dessa e qual o desfecho
que se aproxima a partir do momento que as temíveis criaturas conhecidas como
Langoliers são citados. Você fica lá, quase três horas da sua vida esperando
esses Langoliers aparecerem, com a expectativa lá no alto, até que quando eles
aparecem… Jesus Cristo, que negação! Se tudo ficasse no subentendido, diria que Fenda no Tempo seria quase perfeito em termo de história e
narrativa. Mas quando finalmente aquelas bolas voadoras de dentes serrilhados,
feito com o mais PORCO CGI possível, dão as caras em cena, é a mesma coisa que
jogar tudo que vinha sido trabalhado até então na lata do lixo e criar talvez
um dos maiores anticlímax, maior coito interrompido, da história da televisão
americana. É praticamente o mesmo caso que aconteceu em It – Uma Obra Prima do Medo com aquela aranha
gigante. É tão tosco, tão ridículo, que anestesiado pela porcaria avassaladora
de péssimo gosto, você esquece o quanto o desenvolver da história foi
interessante, assim como seus personagens. Um voo da American Pride parte de
Los Angeles para Boston, e misteriosamente quase todos os passageiros e
tripulação desaparecem, deixando para trás todos os seus objetos pessoais e até
dentaduras, pinos cirúrgicos e marca-passos. Restam apenas um grupo de 10
sobreviventes, entre eles o Comandante Brian Engle (David Morse), a professora
Laurel Stevenson (Patricia Wettig), o escritor de livros de mistério e
responsável por ventilar as principais teorias sobre o que está acontecendo,
Bob Jenkins (Dean Stockwell, já um especialista em viagens no tempo por conta
da sérieContratempos), o agente britânico de
operações especiais, Nick Hopewell (Mark Lindsay Chapman), o estudante de
violino, Albert Kaussner (Christopher Collet), a junkiezinha grunge Bethany
Simms (Kimber Riddle), dois senhores de meia-idade de participação quase nula,
Don Gaffney (Frankie Nelson) e Rudy Warwick (Baxter Harris) e os mais
importantes: a garotinha cega com poderes paranormais, Dinah Bellman (Kate
Maberly, aliás, você já viu como ela está gata hoje em dia?) e o psicótico
Craig Toomy (Bronson Pinchot, o Primo
Cruzado). Toomy merece um parágrafo a parte. Enquanto todo
os outros atores estão no modo “telefilme” ativado, com atuações para lá de
medíocres, Pinchot foge completamente da curva e leva Fenda no Tempo nas costas, no nível dramatúrgico da coisa.
Aliás, eu consigo imaginar que ele daria um fantástico Coringa clássico, não? O
sujeito é um desses engravatados de Wall Street que está indo a uma reunião
importante de negócios em Boston, após ter perdido deliberadamente 43 milhões
de dólares em ações para a empresa que trabalha. Completamente histérico,
descompassado e psicopata, Toomy sofreu severos abusos psicológicos de seu pai
tirano que o obrigava a sempre tirar as melhores notas e ser um profissional de
sucesso, pois se fosse desleixado, os Langoliers iriam devorá-lo. A velha máxima
do Bicho-Papão ou do Homem do Saco, à la Stephen King. E ah, sua maior
bizarrice é sentir tesão rasgando tiras de papel. Acontece que o medo primal de
Tommy de seu pai e dos Langoliers é tão visceral, tão à flor da pele, que cada
vez que se toca no nome das tais criaturas imaginárias, auxiliado pela
fantástica atuação de Pinchot e também quando seu progenitor aparece em cena
gritando e esbravejando (interpretado por John Wintrhop Philbrick) você fica
babando querendo descobrir o que diabo são esse monstros. Porque até então tudo
está redondo na medida do possível. O avião passou por uma hã, fenda no tempo,
em forma de uma aurora boreal no meio do deserto do Mojave (agora o POR QUE os
pilotos resolveram passam bem no meio dela ao invés de desviar, nunca
saberemos), todos que estavam dormindo desapareceram e os pobres diabos se
viram presos, após um pouso forçado no aeroporto de Bangor, no Maine (lógico!),
em uma brecha temporal no passado, onde o som não reverbera, a comida não tem
gosto, os fósforos não queimam, o tempo passa mais rápido, e um terrível
barulho se aproxima, vindo do horizonte, anunciando a iminente chegada dos
Langoliers. Tommy será o fiel da balança, assim como a participação de Dinah
com seus poderes sensitivos (afinal, é de Stephen King que estamos falando
aqui). Mas como disse, depois que os Langoliers aparecem em cena, a vontade
naquela época era ejetar a fita do videocassete, tamanha decepção. É aquela
velha história que a adaptação peca do texto do livro exatamente por ser visual
demais. O baixo orçamento e o FX desfasadíssimo também ajudam, e muito, no
efeito de “cag... e sentar em cima” de Fenda no
Tempo. Dá até uma dó assistir novamente, pois sempre
carrego comigo a lembrança de todo o mistério e das situações enigmáticas se
construindo até aquele final pífio. Fenda no Tempo tem
o roteiro assinado pelo próprio Stephen King e pelo diretor Tom Holland (aquele
mesmo de Brinquedo
Assassino e A Hora do
Espanto), baseado no seu conto homônimo, “Os Langoliers”,
publicado na coletânea “Depois da Meia-Noite”. Não cheguei a ler, então se
algum fã do horror o fez, conte aí se realmente a escrita tem uma história tão
envolvente e fantástica, e se é muito melhor você imaginar os Langoliers ao
invés de ter sua retina queimada vendo aquelas toscas bolas voadoras cheias de
dentes.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/05/26/659-fenda-no-tempo-1995/
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