terça-feira, 2 de agosto de 2016

#659 1995 FENDA NO TEMPO (The Langoliers, EUA)


Direção: Tom Holland
Roteiro: Tom Holland, Stephen King (baseado em seu conto)
Produção: David R. Kappes; Michael Gornick (Produtor Associado); Mitchell Galin, Richard P. Rubinstein (Produtores Executivos)
Elenco: Patricia Wettig, Dean Stockwell, David Morse, Mark Lindsay Chapman, Frankie Faison, Baxter Harris. Kate Maberly, Bronson Pinchot

Ah, Fenda no Tempo… Ah, Stephen King… Ah, Tom Holland… Porque fizestes isso com a gente? Sinceramente, os envolvidos são capazes de absolutamente tudo para você gostar dessa minissérie, que traz uma das histórias mais surreais, criativas e interessantes do Mestre do Terror, ao melhor estilo Além da Imaginação, e ao mesmo tempo, capazes de tudo para você odiar a porcaria que ela se transforma quando chega em seu clímax. Lógico que estamos falando de uma produção meia-boca feita para a TV, sem recursos, e numa época que as minisséries das telinhas eram qualquer nota, nada comparado as superproduções de hoje, e temos o histórico das safadezas que Stephen King já aprontou anteriormente nesse quesito ou que já aprontaram com ele, como os execráveis A Dança da Morte ou Tommyknockers – Tranquem Suas Portas, para ficar só nesses dois exemplos. Mas ainda assim, Fenda no Tempo tem a sensacional habilidade de te manter intrigado e colado na tela a primeira vez que você assiste, apertando bem fundo o botão da suspensão da descrença, colocando personagens normais e díspares em uma situação sobrenatural (o melhor que King sabe fazer) das mais inventivas (mesmo com seus enormes buracos no roteiro) e te deixando tenso, sem ter a menor ideia do que está acontecendo, como eles sairão dessa e qual o desfecho que se aproxima a partir do momento que as temíveis criaturas conhecidas como Langoliers são citados. Você fica lá, quase três horas da sua vida esperando esses Langoliers aparecerem, com a expectativa lá no alto, até que quando eles aparecem… Jesus Cristo, que negação! Se tudo ficasse no subentendido, diria que Fenda no Tempo seria quase perfeito em termo de história e narrativa. Mas quando finalmente aquelas bolas voadoras de dentes serrilhados, feito com o mais PORCO CGI possível, dão as caras em cena, é a mesma coisa que jogar tudo que vinha sido trabalhado até então na lata do lixo e criar talvez um dos maiores anticlímax, maior coito interrompido, da história da televisão americana. É praticamente o mesmo caso que aconteceu em It – Uma Obra Prima do Medo com aquela aranha gigante. É tão tosco, tão ridículo, que anestesiado pela porcaria avassaladora de péssimo gosto, você esquece o quanto o desenvolver da história foi interessante, assim como seus personagens. Um voo da American Pride parte de Los Angeles para Boston, e misteriosamente quase todos os passageiros e tripulação desaparecem, deixando para trás todos os seus objetos pessoais e até dentaduras, pinos cirúrgicos e marca-passos. Restam apenas um grupo de 10 sobreviventes, entre eles o Comandante Brian Engle (David Morse), a professora Laurel Stevenson (Patricia Wettig), o escritor de livros de mistério e responsável por ventilar as principais teorias sobre o que está acontecendo, Bob Jenkins (Dean Stockwell, já um especialista em viagens no tempo por conta da sérieContratempos), o agente britânico de operações especiais, Nick Hopewell (Mark Lindsay Chapman), o estudante de violino, Albert Kaussner (Christopher Collet), a junkiezinha grunge Bethany Simms (Kimber Riddle), dois senhores de meia-idade de participação quase nula, Don Gaffney (Frankie Nelson) e Rudy Warwick (Baxter Harris) e os mais importantes: a garotinha cega com poderes paranormais, Dinah Bellman (Kate Maberly, aliás, você já viu como ela está gata hoje em dia?) e o psicótico Craig Toomy (Bronson Pinchot, o Primo Cruzado). Toomy merece um parágrafo a parte. Enquanto todo os outros atores estão no modo “telefilme” ativado, com atuações para lá de medíocres, Pinchot foge completamente da curva e leva Fenda no Tempo nas costas, no nível dramatúrgico da coisa. Aliás, eu consigo imaginar que ele daria um fantástico Coringa clássico, não? O sujeito é um desses engravatados de Wall Street que está indo a uma reunião importante de negócios em Boston, após ter perdido deliberadamente 43 milhões de dólares em ações para a empresa que trabalha. Completamente histérico, descompassado e psicopata, Toomy sofreu severos abusos psicológicos de seu pai tirano que o obrigava a sempre tirar as melhores notas e ser um profissional de sucesso, pois se fosse desleixado, os Langoliers iriam devorá-lo. A velha máxima do Bicho-Papão ou do Homem do Saco, à la Stephen King. E ah, sua maior bizarrice é sentir tesão rasgando tiras de papel. Acontece que o medo primal de Tommy de seu pai e dos Langoliers é tão visceral, tão à flor da pele, que cada vez que se toca no nome das tais criaturas imaginárias, auxiliado pela fantástica atuação de Pinchot e também quando seu progenitor aparece em cena gritando e esbravejando (interpretado por John Wintrhop Philbrick) você fica babando querendo descobrir o que diabo são esse monstros. Porque até então tudo está redondo na medida do possível. O avião passou por uma hã, fenda no tempo, em forma de uma aurora boreal no meio do deserto do Mojave (agora o POR QUE os pilotos resolveram passam bem no meio dela ao invés de desviar, nunca saberemos), todos que estavam dormindo desapareceram e os pobres diabos se viram presos, após um pouso forçado no aeroporto de Bangor, no Maine (lógico!), em uma brecha temporal no passado, onde o som não reverbera, a comida não tem gosto, os fósforos não queimam, o tempo passa mais rápido, e um terrível barulho se aproxima, vindo do horizonte, anunciando a iminente chegada dos Langoliers. Tommy será o fiel da balança, assim como a participação de Dinah com seus poderes sensitivos (afinal, é de Stephen King que estamos falando aqui). Mas como disse, depois que os Langoliers aparecem em cena, a vontade naquela época era ejetar a fita do videocassete, tamanha decepção. É aquela velha história que a adaptação peca do texto do livro exatamente por ser visual demais. O baixo orçamento e o FX desfasadíssimo também ajudam, e muito, no efeito de “cag... e sentar em cima” de Fenda no Tempo. Dá até uma dó assistir novamente, pois sempre carrego comigo a lembrança de todo o mistério e das situações enigmáticas se construindo até aquele final pífio. Fenda no Tempo tem o roteiro assinado pelo próprio Stephen King e pelo diretor Tom Holland (aquele mesmo de Brinquedo Assassino e A Hora do Espanto), baseado no seu conto homônimo, “Os Langoliers”, publicado na coletânea “Depois da Meia-Noite”. Não cheguei a ler, então se algum fã do horror o fez, conte aí se realmente a escrita tem uma história tão envolvente e fantástica, e se é muito melhor você imaginar os Langoliers ao invés de ter sua retina queimada vendo aquelas toscas bolas voadoras cheias de dentes.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/05/26/659-fenda-no-tempo-1995/

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