terça-feira, 7 de junho de 2016

#618 1991 A GELADEIRA DIABÓLICA (The Refrigerator, EUA)


Direção: Nicholas Jacobs
Roteiro: Nicholas Jacobs
Produção:Christopher Oldcorn; Janet Paparazzo, Jeff Solon, F. Miguel Valenti (Produtores Associados)
Elenco: Julia McNeal, Dave Simonds, Phyllis Sanz, Angel Caban, Nena Segal, Jaime Rojo

Nunca subestime a criatividade dos filmes trash. Onde em outro gênero cinematográfico você veria algo SEQUER parecido com uma geladeira assassina que é na verdade um portal do inferno? Isso e muito mais somente em A Geladeira Diabólica. Clássico sem precedentes do cinema bagaceira, a fita de Nicholas Jacobs é uma aula de trasheira no melhor sentido da palavra (se é que ele existe para aqueles que não são doentes mentais como eu que escrevo e você que lê, nobre leitor ou leitora). Pobre em todos os sentidos na execução de um filme (atuação, direção, roteiro, produção, pós-produção), exatamente esse o charme da fita, pegar na veia todo o absurdo (principalmente estético) dos “terríveis” anos 80 e fazer um filme como esse, que não se leva a sério em nenhum segundo sequer (e até finge se levar, o que é o máximo) e tem lá sua boa dose de gore quando necessário. Jacobs parece ser o discípulo perfeito da Troma de Lloyd Kaufman, da Empire Pictures de Charles Band ou das maluquices inventivas de Frank Henenlotter (principalmente da sua crítica disfarçada ao “american way of life” e o mundo cão do subúrbio nova-iorquino). E logo no início do longa já somos brindados ao que nos espera: um apartamento abandonado para ser alugado em uma região periférica da Big Apple recebe um casal chapado que adentra ilegalmente o recinto para transar no chão da cozinha (quem nunca?). Só que logo eles serão devorados pelo eletrodoméstico maldito! Corta para um casal de Ohio, Eileen (Julia McNeal) e Steve Bateman (Dave Simonds), que decidem se mudar para a cidade grande em busca de seus sonhos: ele, ter uma carreira importante e constituir família, e ela, ser atriz da Broadway. Como a grana é curta, eles vão parar naquele apartamento muquifo em uma péssima vizinhança, alugado à preço de banana, uma vez que o proprietário inescrupuloso sabe do terrível segredo da geladeira, que por sinal, já vem junto com a locação. Não tarda para acontecimentos estranhos acometerem o jovem casal, principalmente Steve, que passa a ficar altamente influenciável pelo refrigerador, e aos poucos vai sendo “possuído”, ou “controlado” por ele, tipo O Iluminado, saca? Também entram em cena alguns dos personagens mais caricatos, clichês e esquisitos da sétima arte, que ajudarão Eileen a entender o diabólico plano da diabólica geladeira comedora de gente. Um deles é o encanador, Juan (Agenl Caban), calvo, de bigode, parecendo um Fred Mercury fora de forma, que insistentemente usa um colete de couro ao melhor estilo sado, imigrante da Bolívia, onde era dançador de flamenco. A outra é a misteriosa Tanya (Phyllis Sanz), uma cigana que parece saber demais e vive em uma tenda ao lado de uma catedral gótica. Bem, há personagens secundários que são colocados em cena só para morrer. Como o auxiliar de Juan, Paolo (Jaime Rojo) que literalmente é devorado pela geladeira que usa sua porta como mandíbulas e a mãe de Eileen. Fora isso, o comportamento de Steve vai se tornando cada vez mais agressivo, enquanto ele e a esposa têm sonhos tétricos e bizarros que envolvem o objeto inanimado de linha branca, dimensões paralelas e pessoas mortas. Tudo descoberto por ela quando Juan e Tanya lhe contam que a geladeira é um portal do inferno. Assim, sem mais nem menos. Como se fosse um defeito de fábrica. Ao final, vale muito a pena mencionar, apesar do SPOILER, que Steve é esfaqueado pela esposa quando tentava leva-la para o interior da geladeira para sacrificá-la, e logo Juan, Tanya e outro ilustre desconhecido surgem para enfrentar uma série de eletrodomésticos comandados pela geladeira (detalhes para a lixeira devorando a perna do sujeito sem importância na trama, que depois é dilacerado pelo liquidificador). Eles conseguem escapar e o ex-encanador e a nossa heroína viram um casal (já rolava um clima entre eles desde o primeiro encontro no apartamento) de dançarinos flamencos e o proprietário da espelunca continua explorando os latinos para limpar a bagunça e assim novamente o local poder ser alugado, com a geladeira ali, esperando sua próxima vítima, sem frost free. Como falei lá em cima, há um toque de Henelotter em retratar os problemas da cidade de Nova York, que deveria ser a terra da oportunidade, mas a garota tem seu sonho de atriz frustrado (e trolado pela geladeira, vai), o rapaz vira um yuppie puxa-saco do patrão que tem que trabalhar para pagar as contas (e desconta o mau humor do escritório na patroa), o artista dançarino imigrante é obrigado a se virar como encanador, há ladrões e traficantes de drogas em cada esquina e o senhorio do apartamento (aka face da especulação imobiliária) explora os latinos e cospe na cara dos vizinhos do bairro pobre, não se importando com a vida alheia (comidas por uma geladeira satânica) e prezando apenas ganhar algumas verdinhas. E você achou era só um filmeco ruim e mal feito sem nenhuma crítica social subentendida? Mas de verdade, isso não é o que importa, e sim a diversão e as gargalhadas que A Geladeira Diabólica promove para aqueles fãs dos filmes Z. Ainda mais porque ele respira os ares dos anos 80, já que seu roteiro foi escrito em 1987 e demorou longos quatro anos para ser filmado (e você aí achando o máximo Boyhood com seus 12 anos de filmagem, tsc, tsc). Fora os mil coraçõezinhos por ele ser mais um dos clássicos do Cine Trash, o terror das tardes da Band, e até lançado em VHS dublado pela Abril Vídeo.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/02/27/618-a-geladeira-diabolica-1991/

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