Direção: Nicholas Jacobs
Roteiro: Nicholas Jacobs
Produção:Christopher Oldcorn; Janet Paparazzo, Jeff
Solon, F. Miguel Valenti (Produtores Associados)
Elenco: Julia McNeal, Dave Simonds, Phyllis
Sanz, Angel Caban, Nena Segal, Jaime Rojo
Nunca subestime a criatividade dos filmes trash.
Onde em outro gênero cinematográfico você veria algo SEQUER parecido com uma
geladeira assassina que é na verdade um portal do inferno? Isso e muito mais
somente em A Geladeira
Diabólica. Clássico sem precedentes do cinema bagaceira, a fita de
Nicholas Jacobs é uma aula de trasheira no melhor sentido da palavra (se é que
ele existe para aqueles que não são doentes mentais como eu que escrevo e você
que lê, nobre leitor ou leitora). Pobre em todos os sentidos na execução de um
filme (atuação, direção, roteiro, produção, pós-produção), exatamente esse o
charme da fita, pegar na veia todo o absurdo (principalmente estético) dos
“terríveis” anos 80 e fazer um filme como esse, que não se leva a sério em
nenhum segundo sequer (e até finge se levar, o que é o máximo) e tem lá sua boa
dose de gore quando necessário. Jacobs parece ser o discípulo perfeito da Troma
de Lloyd Kaufman, da Empire Pictures de Charles Band ou das maluquices
inventivas de Frank Henenlotter (principalmente da sua crítica disfarçada ao “american way of life” e o mundo cão do
subúrbio nova-iorquino). E logo no início do longa já somos brindados ao que
nos espera: um apartamento abandonado para ser alugado em uma região periférica
da Big Apple recebe um casal chapado
que adentra ilegalmente o recinto para transar no chão da cozinha (quem
nunca?). Só que logo eles serão devorados pelo eletrodoméstico maldito! Corta
para um casal de Ohio, Eileen (Julia McNeal) e Steve Bateman (Dave Simonds),
que decidem se mudar para a cidade grande em busca de seus sonhos: ele, ter uma
carreira importante e constituir família, e ela, ser atriz da Broadway. Como a
grana é curta, eles vão parar naquele apartamento muquifo em uma péssima
vizinhança, alugado à preço de banana, uma vez que o proprietário inescrupuloso
sabe do terrível segredo da geladeira, que por sinal, já vem junto com a
locação. Não tarda para acontecimentos estranhos acometerem o jovem casal,
principalmente Steve, que passa a ficar altamente influenciável pelo
refrigerador, e aos poucos vai sendo “possuído”, ou “controlado” por ele, tipo O Iluminado, saca? Também
entram em cena alguns dos personagens mais caricatos, clichês e esquisitos da
sétima arte, que ajudarão Eileen a entender o diabólico plano da diabólica
geladeira comedora de gente. Um deles é o encanador, Juan (Agenl Caban), calvo,
de bigode, parecendo um Fred Mercury fora de forma, que insistentemente usa um
colete de couro ao melhor estilo sado, imigrante da Bolívia, onde era dançador
de flamenco. A outra é a misteriosa Tanya (Phyllis Sanz), uma cigana que parece
saber demais e vive em uma tenda ao lado de uma catedral gótica. Bem, há
personagens secundários que são colocados em cena só para morrer. Como o
auxiliar de Juan, Paolo (Jaime Rojo) que literalmente é devorado pela geladeira
que usa sua porta como mandíbulas e a mãe de Eileen. Fora isso, o comportamento
de Steve vai se tornando cada vez mais agressivo, enquanto ele e a esposa têm
sonhos tétricos e bizarros que envolvem o objeto inanimado de linha branca,
dimensões paralelas e pessoas mortas. Tudo descoberto por ela quando Juan e
Tanya lhe contam que a geladeira é um portal do inferno. Assim, sem mais nem
menos. Como se fosse um defeito de fábrica. Ao final, vale muito a pena
mencionar, apesar do SPOILER, que Steve é esfaqueado pela esposa quando
tentava leva-la para o interior da geladeira para sacrificá-la, e logo Juan,
Tanya e outro ilustre desconhecido surgem para enfrentar uma série de
eletrodomésticos comandados pela geladeira (detalhes para a lixeira devorando a
perna do sujeito sem importância na trama, que depois é dilacerado pelo
liquidificador). Eles conseguem escapar e o ex-encanador e a nossa heroína
viram um casal (já rolava um clima entre eles desde o primeiro encontro no
apartamento) de dançarinos flamencos e o proprietário da espelunca continua
explorando os latinos para limpar a bagunça e assim novamente o local poder ser
alugado, com a geladeira ali, esperando sua próxima vítima, sem frost free. Como falei lá em cima, há um
toque de Henelotter em retratar os problemas da cidade de Nova York, que
deveria ser a terra da oportunidade, mas a garota tem seu sonho de atriz
frustrado (e trolado pela geladeira, vai), o rapaz vira um yuppie puxa-saco
do patrão que tem que trabalhar para pagar as contas (e desconta o mau humor do
escritório na patroa), o artista dançarino imigrante é obrigado a se virar como
encanador, há ladrões e traficantes de drogas em cada esquina e o senhorio do
apartamento (aka face da especulação imobiliária) explora os latinos e
cospe na cara dos vizinhos do bairro pobre, não se importando com a vida alheia
(comidas por uma geladeira satânica) e prezando apenas ganhar algumas
verdinhas. E você achou era só um filmeco ruim e mal feito sem nenhuma crítica
social subentendida? Mas de verdade, isso não é o que importa, e sim a diversão
e as gargalhadas que A Geladeira Diabólica promove para aqueles fãs
dos filmes Z. Ainda mais porque ele respira os ares dos anos 80, já que seu
roteiro foi escrito em 1987 e demorou longos quatro anos para ser filmado (e
você aí achando o máximo Boyhood com seus 12 anos de filmagem, tsc,
tsc). Fora os mil coraçõezinhos por ele ser mais um dos clássicos do Cine
Trash, o terror das tardes da Band, e até lançado em VHS dublado pela Abril
Vídeo.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/02/27/618-a-geladeira-diabolica-1991/
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