Mike Flanagan é um dos novos diretores do gênero
que vem rapidamente galgando seu espaço dentro do cinema de horror.
Recentemente ele emplacou Absentia, O Espelho,Hush: A Morte Ouve,
lançado diretamente na Netflix e O
Sono da Morte, que estreia com um baita atraso nos cinemas brasileiros
esta quinta. Além de estar na cara do gol para o lançamento de Ouija: Origem do Mal, continuação do
filme de 2014 da Blumhouse Pictures e escalado como diretor da adaptação para
as telas de Jogo Perigoso,
de Stephen King. Dentre seus filmes anteriores, O Sono da Morte é o que mais o aproxima de uma “grande”
produção, com orçamento inflado, nomes conhecidos do grande público no elenco,
como o casal de protagonistas Kate Bosworth e Thomas Jane e a sensação mirim
Jacob Trembley, do aclamado O
Quarto de Jack, que roubou a cena do filme e da última cerimônia de
entrega do Oscar, e consequentemente, uma obra mais mainstream e com dedos de
produtores, principalmente em seu final. Fato é que O Sono da Morte é mais um drama
familiar de horror sobrenatural, com toques de fábula infantil, que qualquer
outra coisa, que bebe claramente da fonte do J-Horror – que
sempre soube como lidar muito bem com essa temática – e recheado de metáforas
sobre perda, algo já utilizado pelo diretor anteriormente em Absentia e O Espelho. Na trama, Jessie (Bosworth)
e Mark (Jane) perdem o filho, que morre afogado na banheira, e resolvem adotar
Cody (Tremblay), um garoto afável, introvertido, apaixonado por borboletas, com
problemas de sono, que desde a morte de sua mãe quando bem novo, vem passando
por diversos lares adotivos, misteriosamente marcado por sumiços e súbito
abandono ou devolução da criança. Jessie e Mark vão descobrir posteriormente
que Cody tem uma espécie de poder paranormal, onde consegue materializar seus
sonhos enquanto dorme. Começa com manifestações de borboletas psíquicas
aparecendo na casa, até o menino descobrir o que acontecera com Sean (Antonio
Romero), o filho do casal, e projetá-lo para seus pais enquanto dorme. Isso faz
com que Jessie comece a usar o garoto como uma espécie de projetor, em uma
relação um tanto quanto abusiva, para que a imagem espectral do primogênito
falecido os visite todas as noites. O problema é que o mesmo acontece com seus
pesadelos, uma vez que ele é atormentado por uma sinistra criatura denominada
por ele como “Homem Cancro”, uma figura disforme e esquelética, projeção de seu
subconsciente, que fora responsável pela morte de sua mãe. O Sono da Morte usa de recursos
bastante conhecidos (e batidos) do gênero, como uma criatura feita em CGI,
ambientes oníricos, sustos fáceis e a investigação da protagonista sobre o
passado do garoto, para que assim ela consiga desvendar o mistério sobre seus
sonhos, sua mãe e o tal “Homem Cancro”. Mas ao mesmo tempo, seu ritmo mais
arrastado, mesmo que climático em alguns momentos, misturado com muito
dramalhão, afastará uma boa parcela do público que torcerá o nariz, mas que
imputa uma aura mais humana ao longa, tratando da delicada questão da perda
vista sob o prisma de uma criança tão jovem que não consegue entender direito
ainda aquela situação e suportar tamanho fardo, inclinando para o terror
psicológico no sentido bíblico da palavra, emulando um contos de fadas às avessas
ao adentrar nos cantos assustadores da psique infantil. Mas não escapa de
buracos no roteiro e soluções prosaicas, e de um final melodramático até
demais, onde pelo menos uns cinco minutos de sua conclusão extremamente
didática e desnecessária devida sua obviedade, poderiam ter sido jogados na
lata do lixo da sala de edição. Mas vamos pensar que é um tipo de horror
“familiar” – se é que isso existe – que precisa trabalhar em cima de uma mínima
estrutura formulaica para fazer sucesso com seu público alvo. Trembley mostra
porque ele é o ator infante queridinho de Hollywood nesse momento, com todo seu
carisma – a vontade é de também levá-lo para casa e adotá-lo, até para mim que
não tem nenhum traquejo com crianças e não quer ter filhos –, superando toda a
atuação no automático do resto do elenco, e Flanagan, mostra que é bom nesse
treco de dirigir filmes de terror, sabendo dosar muito bem os enquadramentos,
as cenas de suspense, os ataques da criatura e situações de pesadelo, usando o
recurso do jumpscare, mesmo que manjado, com parcimônia, manejando a construção
de atmosfera e imprimindo uma alta carga dramática, trabalhando a empatia com
os personagens, aproximando-os do público, principalmente para quem já sofreu
algum tipo de perda na família. O Sono da Morte não chega a causar sono, mas
está longe de ser um grande filme. Tem suas falhas e clichês, principalmente em
seu final, mas funciona ao que se propõe como essa amálgama de terror, drama e
fantástico. 3 borboletas monarcas para O Sono da Morte
FONTE: https://101horrormovies.com/2016/09/01/review-2016-39-o-sono-da-morte-2016/
FONTE: https://101horrormovies.com/2016/09/01/review-2016-39-o-sono-da-morte-2016/
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