sábado, 18 de junho de 2016

#626 1992 HELLRAISER 3 O INFERNO NA TERRA (Hellraiser III: Hell on Earth, EUA, Canadá)


Direção: Anthony Hickox
Roteiro: Peter Atkins
Produção: Christopher Figg, Lawrence Mortoff; Paul Vincent Coleman (Produtor Assistente); Clive Barker (Produtor Executivo)
Elenco: Kevin Bernhardt, Terry Farrell, Ken Carpenter, Paula Marshall, Doug Bradley

Hellraiser III – Inferno na Terra é MUITO ruim. Mas é inerente ao processo de transformar um filme em uma franquia que dá início a uma quase infindável cinesérie, como aconteceu com Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, por exemplo. A grande diferença entre os slashers citados e o filme baseado na obra de Clive Barker, que se iniciou no clássico eterno Hellraiser – Renascido do Inferno, é que a pegada aqui sempre foi mais sombria e visceral que os demais filmes oitentistas, e Pinhead é um personagem muito mais maligno, poderoso, profundo e filosófico que seus pares movie maniacs. Isso, e toda a criação de uma dimensão de prazer e dor povoada por criaturas tão bizarras quanto os Cenobitas é um ponto que coloca Hellraiser um degrau acima da escada. Hellraiser III – Inferno na Terra exatamente banaliza tudo isso e derruba a franquia desse degrau, que não conseguiria mais alcançar novamente nos longas que são produzidos praticamente até hoje. De um filme atmosférico, sujo, perverso, sobra uma caricatura com patéticas cenas de ação e perseguição, atores com interpretações deprimentes, novos cenobitas esdrúxulos e uma história completamente medíocre. Hellraiser II – Renascido das Trevas já era uma infinidade pior que o original. O terceiro então, segue ladeira abaixo. Há uma conexão na trama direta com os acontecidos do segundo filme (e consequentemente do primeiro), dando um certo aspecto de trilogia, devidamente expandido ainda mais depois como bem sabemos. Pinhead transforma-se em uma macabra estátua no final do longa anterior, e é comprado pelo dono de uma balada, J. P. Monroe (Kevin Bernhardt). Em um acidente irá respingar sangue no objeto e fará com que Pinhead comece a voltar à vida, já com sua sede por prazeres humanos carnais e doentios. Paralelo a isso, a repórter Joanne “Joey” Summerskill (Terry Farrell) está em busca da matéria que irá lhe trazer visibilidade, e durante uma pauta em um hospital, é testemunha de uma vítima tendo sua cabeça explodida e atacado pelos ganchos do além, já vistos nos filmes anteriores. Ao descobrir que ele acabara de chegar de um clube chamado “The Boiler Room”, ela se aproxima de Terri (Paual Marshall) ex-namorada de Monroe e passa investigar o acontecido. No curso da investigação, ela chega até a famigerada clínica do Dr. Chanard, descobrindo que a escultura veio de lá, assim como o famoso cubo, que está em posse de Terri, desenhos e um depoimento em vídeo de Kirsty Cotton (Ashley Laurence), a mesma dos filmes anteriores. Não demora para que Monroe passe a ser assediado por Pinhead para lhe trazer novas vítimas. Terri não cai na lábia do ex-namorado, que acaba sendo enganado e morto. Seu sacrifício enfim liberta o líder dos cenobitas. Pinhead em um frenesi de matança literalmente massacra todo mundo no clube, sem dó nem piedade, em uma das muitas cenas gráficas desta terceira parte. Nego é morto de tudo quanto é jeito e litros e litros de sangue escorrem pela tela. Apenas Joey, que está de posse do cubo, após ser devidamente instruída por sonho pelo Capitão Elliot Spencer, que na verdade é a forma humana de Pinhead antes de decifrar o objeto e ter se transformado no cabeça de chester, vivido por Doug Bradley, pode enfrentar o sujeito fetichista. Tudo caminha para um filme bem meia-boca. Os novos cenobitas são tosquíssimos. Entre aqueles que eu gostaria de mencionar, Doc, o cameraman amigo de Joey (Ken Carpenter) vira uma espécie de ciborgue com uma câmera no olho (???!!!), tem um outro sujeito que tem CDs (???!!!) pelo corpo e fica jogando-os para cortar suas vítimas e mais um com arame farpado em volta do rosto que cospe fogo (???!!!) como se fosse o Smaug. Há uma cena (que é deveras comprida até) de perseguição que parece um filme de ação B, com coisas explodindo, policiais dando tiros, cabos de força jogando eletricidade na água jorrando de hidrantes. Até então, os ataques dos cenobitas foram discretos e centrados, focando-se nas vítimas que eles querem barganhar a alma e torturar por toda a eternidade. Aqui vira um espetáculo circense de patifaria exagerada. Mas, felizmente, temos Pinhead para salvar o filme da desgraça total. Finalmente Doug Bradley se solta como o vilão, e vemos toda sua maldade, todo seu desdém pela alma humana e sua mediocridade, vociferada em palavras sombrias, sarcásticas e de deboche. O mais emblemático momento de Hellraiser III – Inferno na Terra é a sequência da igreja, em que Pinhead adentra o local, ataca Joey e o pároco, e ainda blasfema de forma fortíssima contra a Igreja Católica, parando no altar, arrancando dois de seus pregos da cabeça e pregando suas mãos, imitando Cristo de forma ofensiva, dizendo “eu sou o caminho”, e depois, fazendo o padre engolir sua “carne e seu sangue” numa espécie de comunhão maldita. É um momento singular da franquia. O final de Hellraiser III – Inferno na Terra já deixa aberto o espaço para mais uma continuação, que sabemos que veio, e de carreta. Uma pena essa banalização de um vilão e de um conceito tão interessante, que se manteve até a segunda parte. Mas filmes de terror são assim: sequências e mais sequências com qualidade praticamente zero, extrapolando uma fórmula que deu certo. O universo de Clive Barker foi a próxima vítima desse movimento cinematográfico, e isso, é sofrer mais que a eternidade preso na dor insuportável das correntes e ganchos dos cenobitas.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/03/13/626-hellraiser-iii-inferno-na-terra-1992/

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