Direção: Anthony Hickox
Roteiro: Peter Atkins
Produção: Christopher
Figg, Lawrence Mortoff; Paul Vincent Coleman (Produtor Assistente); Clive
Barker (Produtor Executivo)
Elenco: Kevin
Bernhardt, Terry Farrell, Ken Carpenter, Paula Marshall, Doug Bradley
Hellraiser III – Inferno na Terra é MUITO ruim.
Mas é inerente ao processo de transformar um filme em uma franquia que dá
início a uma quase infindável cinesérie, como aconteceu com Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, por exemplo. A grande diferença entre
os slashers citados e o filme baseado na obra de Clive Barker, que se
iniciou no clássico eterno Hellraiser – Renascido do Inferno, é que a pegada aqui
sempre foi mais sombria e visceral que os demais filmes oitentistas, e Pinhead
é um personagem muito mais maligno, poderoso, profundo e filosófico que seus
pares movie maniacs. Isso, e
toda a criação de uma dimensão de prazer e dor povoada por criaturas tão
bizarras quanto os Cenobitas é um ponto que coloca Hellraiser um degrau acima
da escada. Hellraiser III – Inferno na Terra exatamente banaliza tudo isso
e derruba a franquia desse degrau, que não conseguiria mais alcançar novamente
nos longas que são produzidos praticamente até hoje. De um filme atmosférico,
sujo, perverso, sobra uma caricatura com patéticas cenas de ação e perseguição,
atores com interpretações deprimentes, novos cenobitas esdrúxulos e uma
história completamente medíocre. Hellraiser II – Renascido das Trevas já era uma
infinidade pior que o original. O terceiro então, segue ladeira abaixo. Há uma
conexão na trama direta com os acontecidos do segundo filme (e consequentemente
do primeiro), dando um certo aspecto de trilogia, devidamente expandido ainda
mais depois como bem sabemos. Pinhead transforma-se em uma macabra estátua no
final do longa anterior, e é comprado pelo dono de uma balada, J. P. Monroe
(Kevin Bernhardt). Em um acidente irá respingar sangue no objeto e fará com que
Pinhead comece a voltar à vida, já com sua sede por prazeres humanos carnais e
doentios. Paralelo a isso, a repórter Joanne “Joey” Summerskill (Terry Farrell)
está em busca da matéria que irá lhe trazer visibilidade, e durante uma pauta
em um hospital, é testemunha de uma vítima tendo sua cabeça explodida e atacado
pelos ganchos do além, já vistos nos filmes anteriores. Ao descobrir que ele acabara
de chegar de um clube chamado “The Boiler Room”, ela se aproxima de Terri
(Paual Marshall) ex-namorada de Monroe e passa investigar o acontecido. No
curso da investigação, ela chega até a famigerada clínica do Dr. Chanard,
descobrindo que a escultura veio de lá, assim como o famoso cubo, que está em
posse de Terri, desenhos e um depoimento em vídeo de Kirsty Cotton (Ashley
Laurence), a mesma dos filmes anteriores. Não demora para que Monroe passe a
ser assediado por Pinhead para lhe trazer novas vítimas. Terri não cai na lábia
do ex-namorado, que acaba sendo enganado e morto. Seu sacrifício enfim liberta
o líder dos cenobitas. Pinhead em um frenesi de matança literalmente massacra
todo mundo no clube, sem dó nem piedade, em uma das muitas cenas gráficas desta
terceira parte. Nego é morto de tudo quanto é jeito e litros e litros de sangue
escorrem pela tela. Apenas Joey, que está de posse do cubo, após ser
devidamente instruída por sonho pelo Capitão Elliot Spencer, que na verdade é a
forma humana de Pinhead antes de decifrar o objeto e ter se transformado no
cabeça de chester, vivido por Doug Bradley, pode enfrentar o sujeito
fetichista. Tudo caminha para um filme bem meia-boca. Os novos cenobitas são
tosquíssimos. Entre aqueles que eu gostaria de mencionar, Doc, o cameraman
amigo de Joey (Ken Carpenter) vira uma espécie de ciborgue com uma câmera no
olho (???!!!), tem um outro sujeito que tem CDs (???!!!) pelo corpo e fica
jogando-os para cortar suas vítimas e mais um com arame farpado em volta do
rosto que cospe fogo (???!!!) como se fosse o Smaug. Há uma cena (que é deveras
comprida até) de perseguição que parece um filme de ação B, com coisas
explodindo, policiais dando tiros, cabos de força jogando eletricidade na água
jorrando de hidrantes. Até então, os ataques dos cenobitas foram discretos e
centrados, focando-se nas vítimas que eles querem barganhar a alma e torturar
por toda a eternidade. Aqui vira um espetáculo circense de patifaria exagerada.
Mas, felizmente, temos Pinhead para salvar o filme da desgraça total.
Finalmente Doug Bradley se solta como o vilão, e vemos toda sua maldade, todo
seu desdém pela alma humana e sua mediocridade, vociferada em palavras
sombrias, sarcásticas e de deboche. O mais emblemático momento
de Hellraiser III – Inferno na Terra é a sequência da igreja, em que
Pinhead adentra o local, ataca Joey e o pároco, e ainda blasfema de forma
fortíssima contra a Igreja Católica, parando no altar, arrancando dois de seus
pregos da cabeça e pregando suas mãos, imitando Cristo de forma ofensiva,
dizendo “eu sou o caminho”, e depois, fazendo o padre engolir sua “carne e seu
sangue” numa espécie de comunhão maldita. É um momento singular da franquia. O
final de Hellraiser III – Inferno na Terra já deixa aberto o espaço
para mais uma continuação, que sabemos que veio, e de carreta. Uma pena essa
banalização de um vilão e de um conceito tão interessante, que se manteve até a
segunda parte. Mas filmes de terror são assim: sequências e mais sequências com
qualidade praticamente zero, extrapolando uma fórmula que deu certo. O universo
de Clive Barker foi a próxima vítima desse movimento cinematográfico, e isso, é
sofrer mais que a eternidade preso na dor insuportável das correntes e ganchos
dos cenobitas.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/03/13/626-hellraiser-iii-inferno-na-terra-1992/
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