sexta-feira, 10 de junho de 2016

#624 1992 DRÁCULA DE BRAM STOKER (Bram Stoker’s Dracula, EUA)


Direção: Francis Ford Copolla
Roteiro: James V. Hart (baseado no livro de Bram Stoker)
Produção: Francis Ford Copolla, Fred Finch, Charles Mulvehill; James V. Hart, John Veitch (Coprodutores); Susie Landau (Produtora Associada); Michael Apted, Rober O’Connor (Produtores Executivos)
Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary Elwes, Billy Campbell

Aposto que esse vai ser mais um daqueles posts impopulares. Mas, eu tenho um RANÇO tão grande de Drácula de Bram Stoker, novelão de Francis Ford Copolla. Simplesmente pela pretensão em ser A versão definitiva e artística do livro do irlandês, que é na verdadeira uma cafonalha de doer quando envereda por um argumento que simplesmente INEXISTE no livro o qual é baseado. Tá bem, vamos separar aqui o joio do trigo para escrever esse texto. Drácula de Bram Stoker é impecável em todos os aspectos que se trata de figurino, efeitos sonoros e maquiagem, tanto que ganhou três Oscars® nessas categorias e ainda foi indicado por direção de arte (que é deslumbrante). Isso sem contar os efeitos especiais, que vão de efeitos óticos até os bons e velhos truques de câmera, a linda fotografia e direção primorosa de Copolla. Isso eu não nego, não. Mas, é um novelão da porra! O prologo do filme é duca, com Gary Oldman matando a pau como Vlad Tepes, déspota da Transilvânia lutando pela Igreja Católica para deter a avançada turca contra Constantinopla, e empalando um e outro pelo caminho (daí seu apelido simpático, Vlad, o Empalador). Num ato tacanho, os turcos otomanos enganam a sua esposa, Elisabeta (Winona Ryder) dizendo que ele fora morto em batalha e ela se suicida. Como a Igreja não tolera aqueles que tiraram a própria vida, Vlad fica puto achando que seu Deus abandonou e sacaneou seu guerreiro, e blasfema, amaldiçoando a cruz, bebendo sangue e é condenado a viver a eternidade como a criatura noturna que conhecemos de outras encarnações (leia-se Bela Lugosi e Christopher Lee). Começa que na verdade o personagem foi levemente inspirado no príncipe Vlad mas NUNCA em nenhum momento do livro ele se refere ou dá a entender que ele é o próprio como afirma o longa. Daí vem a já conhecida história do advogado Jonathan Harker (papel do sempre péssimo e inexpressivo Keanu Reeves, escolhido por Copolla a contragosto para ter um ator “jovem e quente” no elenco para chamar a moçadinha) indo para o castelo do Conde lhe vender propriedades em Londres. Enquanto isso, Mina (também vivida pela Ladrona, digo, Winona Ryder) espera sua volta para se casarem, hospedada na casa da lasciva Lucy Westerna (Sadie Frost), cuja maior preocupação é escolher entre o amor do Lorde Arthur Holmwood (Cary Elwes), do texano Quincey P. Morris (Billy Campbell) e do Dr. Jack Seward (Richard E. Grant), que trabalha no manicômio onde está internado Renfield (Tom Waits) – sempre um personagem que rouba a cena desde Drácula de 1931 – e seu peculiar gosto por moscas, esperando pela chegada do mestre. Essa primeira metade do filme também é simplesmente fantástica, com as cenas mais emblemáticas da produção: o visual carcomido do envelhecido Drácula, tal qual é sua descrição asquerosa no texto de Stoker e até hoje adaptado como nenhum outro emNosferatu – Uma Sinfonia de Horror, dizendo suas frases clássicas (“Eu sou Drácula”, e “Crianças da Noite. Que música eles fazem”), as brincadeiras com a sombra da criatura, sua lambidela na navalha suja de sangue do pescoço de Harker, a luxúria de suas noivas e o bebê dado a elas de petisco, e a sua indefectível risada maligna. Mas aí, meu amigo e amiga, depois que o velho membro da ordem do Dragão pega o navio russo Dimitri e zarpa para a Inglaterra, o filme caga no pau de vez. Não que não tenha mais ótimos momentos, como quando Van Helsing (um afiado Anthony Hopkins) aparece para botar ordem na porra toda, Lucy se transforma em uma vadia vampira e os nossos heróis combatem o vilão se transformando numa espécie de morcego humano mutante e depois uma pilha de ratos. Todo o problema é aquele romance mela cueca entre ele e Mina. Começa tudo errado com a história dela ser a encarnação de sua amada, Elisabeta. Oi? De onde Copolla e o roteirista James V. Hart tiraram isso? Não quero ser xiita e nem uma adaptação ipsis literis da obra literária, mas essa paixão do sujeito que “atravessou oceanos de tempo para te reencontrar” com a futura esposinha de Harker, e todo o dramalhão que se segue por conta desse amor secular, derruba o filme de uma forma impressionante, fugindo absurdamente do texto. Aquele Drácula dândi de cartola, óculos redondos e suas longas madeixas andando pelas ruas de Londres, todo bonitão, é algo tão absurdamente longe da figura cravada por Stoker nas páginas, que é apenas uma criatura vil, tosca, maligna que só quer Mina Harker mesmo para chupar o seu sangue, sem nenhuma das pataquadas adicionais sentimentalóides do filme. O amor nunca morre? Essa é a tagline de Drácula de Bram Stoker? Mais uma vez, de onde eles tiraram essa ideia? Esse é o mote inventado para todo o filme e toda a motivação de uma criatura das trevas que só quer umas boas jugulares. E o que me deixa mais puto, e por isso considero o filme de Copolla um pretensioso embuste, é que eu me senti miseravelmente enganado depois que li o livro. Claro que eu vi o filme antes. Porra, era década de 90, eu era uma criança e não leria Drácula. A primeira vez que o fiz eu já estava na faculdade, onde peguei emprestado na biblioteca, e digo que foi um dos livros mais importantes da minha vida, por questões pessoais que não vem ao caso. Eu sempre tive na cabeça que claro, licença poética a parte,Drácula de Bram Stoker era o mais fiel e próximo do livro, e esperava pela história de amor, por Mina ser a encarnação de Elisabeta, pelo final onde ela tem de matar o amado ao prantos. Imagine como fiquei quando descobri que não tem absolutamente NADA disso no livro? Quanto mais velho ficava, mais achava essa versão pedante e espalhafatosa, apesar dos momentos lúgubres e soturnos, e aquela paixonite do Conde sempre me irritou. Ao descobrir que nada daquilo existe na obra original, e que para sempre, o Nosferatu será a melhor representação até hoje de como Stoker descreveu aquela criatura horrenda morta-viva, veio o meu ranço que falei no primeiro parágrafo. Então a lição de casa é: assistir Drácula de Bram Stoker e não levar como a fiel adaptação do livro só por ter o nome do autor no título (que na verdade, foi só para a Columbia não tomar um processo da Universal, que detém os direitos do título Drácula nos cinemas). E encarar que sim, o termo novelão é realmente o que melhor se encaixa. Com suas doses caprichadas de sangue, algumas atuações acima da média (Oldman, Hopkins, Waits), outras sofríveis (Reaves e Ryder) um trabalho pomposo e impecável artístico, poderia sim ser o filme definitivo do Conde, mas infelizmente é estragado pelo excesso de melodrama cafona quase adolescente.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/03/11/624-dracula-de-bram-stoker-1992/

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