Direção: Francis Ford Copolla
Roteiro: James V. Hart (baseado no livro
de Bram Stoker)
Produção: Francis Ford Copolla, Fred
Finch, Charles Mulvehill; James V. Hart, John Veitch (Coprodutores); Susie
Landau (Produtora Associada); Michael Apted, Rober O’Connor (Produtores
Executivos)
Elenco: Gary
Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary
Elwes, Billy Campbell
Aposto que esse vai ser mais um daqueles
posts impopulares. Mas, eu tenho um RANÇO tão grande de Drácula de Bram Stoker, novelão de Francis
Ford Copolla. Simplesmente pela pretensão em ser A versão definitiva e artística
do livro do irlandês, que é na verdadeira uma cafonalha de doer quando envereda
por um argumento que simplesmente INEXISTE no livro o qual é baseado. Tá bem,
vamos separar aqui o joio do trigo para escrever esse texto. Drácula de
Bram Stoker é impecável em todos os aspectos que se trata de figurino,
efeitos sonoros e maquiagem, tanto que ganhou três Oscars® nessas
categorias e ainda foi indicado por direção de arte (que é deslumbrante). Isso
sem contar os efeitos especiais, que vão de efeitos óticos até os bons e velhos
truques de câmera, a linda fotografia e direção primorosa de Copolla. Isso eu
não nego, não. Mas, é um novelão da porra! O prologo do filme é duca, com Gary
Oldman matando a pau como Vlad Tepes, déspota da Transilvânia lutando pela Igreja
Católica para deter a avançada turca contra Constantinopla, e empalando um e
outro pelo caminho (daí seu apelido simpático, Vlad, o Empalador). Num ato
tacanho, os turcos otomanos enganam a sua esposa, Elisabeta (Winona Ryder)
dizendo que ele fora morto em batalha e ela se suicida. Como a Igreja não
tolera aqueles que tiraram a própria vida, Vlad fica puto achando que seu Deus
abandonou e sacaneou seu guerreiro, e blasfema, amaldiçoando a cruz, bebendo
sangue e é condenado a viver a eternidade como a criatura noturna que
conhecemos de outras encarnações (leia-se Bela Lugosi e Christopher Lee).
Começa que na verdade o personagem foi levemente inspirado no príncipe Vlad mas
NUNCA em nenhum momento do livro ele se refere ou dá a entender que ele é o
próprio como afirma o longa. Daí vem a já conhecida história do advogado
Jonathan Harker (papel do sempre péssimo e inexpressivo Keanu Reeves, escolhido
por Copolla a contragosto para ter um ator “jovem e quente” no elenco para
chamar a moçadinha) indo para o castelo do Conde lhe vender propriedades em
Londres. Enquanto isso, Mina (também vivida pela Ladrona, digo, Winona Ryder)
espera sua volta para se casarem, hospedada na casa da lasciva Lucy Westerna
(Sadie Frost), cuja maior preocupação é escolher entre o amor do Lorde Arthur
Holmwood (Cary Elwes), do texano Quincey P. Morris (Billy Campbell) e do Dr.
Jack Seward (Richard E. Grant), que trabalha no manicômio onde está internado
Renfield (Tom Waits) – sempre um personagem que rouba a cena desde Drácula de 1931 – e seu
peculiar gosto por moscas, esperando pela chegada do mestre. Essa primeira
metade do filme também é simplesmente fantástica, com as cenas mais
emblemáticas da produção: o visual carcomido do envelhecido Drácula, tal qual é
sua descrição asquerosa no texto de Stoker e até hoje adaptado como nenhum
outro emNosferatu – Uma Sinfonia de Horror, dizendo suas frases
clássicas (“Eu sou Drácula”, e “Crianças da Noite. Que música eles fazem”), as
brincadeiras com a sombra da criatura, sua lambidela na navalha suja de sangue
do pescoço de Harker, a luxúria de suas noivas e o bebê dado a elas de petisco,
e a sua indefectível risada maligna. Mas aí, meu amigo e amiga, depois que o
velho membro da ordem do Dragão pega o navio russo Dimitri e zarpa para a
Inglaterra, o filme caga no pau de vez. Não que não tenha mais ótimos momentos,
como quando Van Helsing (um afiado Anthony Hopkins) aparece para botar ordem na
porra toda, Lucy se transforma em uma vadia vampira e os nossos heróis combatem
o vilão se transformando numa espécie de morcego humano mutante e depois uma
pilha de ratos. Todo o problema é aquele romance mela cueca entre ele e Mina. Começa
tudo errado com a história dela ser a encarnação de sua amada, Elisabeta. Oi?
De onde Copolla e o roteirista James V. Hart tiraram isso? Não quero ser xiita
e nem uma adaptação ipsis literis da obra literária, mas essa paixão
do sujeito que “atravessou oceanos de tempo para te reencontrar” com a futura
esposinha de Harker, e todo o dramalhão que se segue por conta desse amor
secular, derruba o filme de uma forma impressionante, fugindo absurdamente do
texto. Aquele Drácula dândi de cartola, óculos redondos e suas longas madeixas
andando pelas ruas de Londres, todo bonitão, é algo tão absurdamente longe da
figura cravada por Stoker nas páginas, que é apenas uma criatura vil, tosca,
maligna que só quer Mina Harker mesmo para chupar o seu sangue, sem nenhuma das
pataquadas adicionais sentimentalóides do filme. O amor nunca morre? Essa é a
tagline de Drácula de Bram Stoker? Mais uma vez, de onde eles tiraram essa
ideia? Esse é o mote inventado para todo o filme e toda a motivação de uma
criatura das trevas que só quer umas boas jugulares. E o que me deixa mais
puto, e por isso considero o filme de Copolla um pretensioso embuste, é que eu
me senti miseravelmente enganado depois que li o livro. Claro que eu vi o filme
antes. Porra, era década de 90, eu era uma criança e não leria Drácula. A
primeira vez que o fiz eu já estava na faculdade, onde peguei emprestado na
biblioteca, e digo que foi um dos livros mais importantes da minha vida, por
questões pessoais que não vem ao caso. Eu sempre tive na cabeça que claro,
licença poética a parte,Drácula de Bram Stoker era o mais fiel e próximo
do livro, e esperava pela história de amor, por Mina ser a encarnação de
Elisabeta, pelo final onde ela tem de matar o amado ao prantos. Imagine como
fiquei quando descobri que não tem absolutamente NADA disso no livro? Quanto
mais velho ficava, mais achava essa versão pedante e espalhafatosa, apesar dos
momentos lúgubres e soturnos, e aquela paixonite do Conde sempre me irritou. Ao
descobrir que nada daquilo existe na obra original, e que para sempre, o
Nosferatu será a melhor representação até hoje de como Stoker descreveu aquela
criatura horrenda morta-viva, veio o meu ranço que falei no primeiro parágrafo.
Então a lição de casa é: assistir Drácula de Bram Stoker e não levar
como a fiel adaptação do livro só por ter o nome do autor no título (que na
verdade, foi só para a Columbia não tomar um processo da Universal, que detém
os direitos do título Drácula nos cinemas). E encarar que sim, o termo novelão
é realmente o que melhor se encaixa. Com suas doses caprichadas de sangue,
algumas atuações acima da média (Oldman, Hopkins, Waits), outras sofríveis
(Reaves e Ryder) um trabalho pomposo e impecável artístico, poderia sim ser o
filme definitivo do Conde, mas infelizmente é estragado pelo excesso de
melodrama cafona quase adolescente.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2015/03/11/624-dracula-de-bram-stoker-1992/
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