Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero (baseado no
livro de Stephen King)
Produção: Declain Baldwin, Christine
Romero (Produtora Associado); George A. Romero (Produtor Executivo)
Elenco: Timothy
Hutton, Amy Madigan, Michael Rooker, Julie Harris, Robert Joy, Kent Broadhurst
Você vê como são as coisas. Se não fosse o
nome de George A. Romero como diretor, provavelmente A Metade Negra seria outra das
imensas bombas nas telonas baseadas na obra de Stephen King. Mas como o diretor
de Pittsburgh, pai dos zumbis, manja dos paranauê, o filme até que é
interessante. Interessante mesmo é o tema da dualidade que Stephen King
imprimiu em seu livro e que foi utilizado por Romero. Por mais que A
Metade Negra perca o fôlego em seu desenrolar, a história se torne
previsível e role uns buracos no roteiro tipo queijo suíço com algumas saídas
realmente duras de engolir, não deixa de colocar um pouco à mostra da
personalidade do escritor do Maine em cunhos quase autobiográficos (como já
fizera dezenas de vezes). A Metade Negra foi o último livro de King em sua
fase alcóolatra, antes de entrar de vez na sobriedade. Então seu personagem,
Thad Beaumont (muito bem interpretado por um subestimado Timothy Hutton) é um…
escritor alcóolatra. Fracasso literário, com livros elogiados pela crítica, mas
que não vendem nada, Beaumont cria o pseudônimo de George Stark para escrever
livros mais violentos e popularescos, criando um personagem de sucesso chamado
Alexis Machine. Certo dia, após uma de suas aulas na faculdade, um escroque
chamado Fred Clawson (Robert Joy) o aborda tentando chantageá-lo, ameaçando
revelar ao mundo que Beaumont é na verdade Stark. Em conluio com seus editores,
o próprio escritor resolve fazer esse anúncio para a imprensa e realizar um
enterro simbólico do pseudônimo no antigo jazigo de sua família no Maine. Vê aí
outro paralelo com King? Ele também possuía um pseudônimo, Richard Bachman, e
essa trama foi inspirada nos eventos que o levaram a fazer esse anúncio para o
mundo. Só que todos os envolvidos na “morte” de George Stark começam a surgir
brutalmente assassinados, com requintes de crueldade típicos de Alexis Machine.
Inicialmente Beaumont é incriminado, uma vez que suas próprias impressões
digitais foram encontradas nos locais dos crimes, e a investigação do Xerife
Alan Pangborn (que é o mesmo personagem principal de outro livro/filme de
King, Trocas Macabras), papel de Michael Rooker, o Yondu Udonta
de Guardiões da Galáxia ou o Merle Dixon de The Walking Dead,
começa a colocá-lo contra a parede, que o fará descobrir um evento estranho de
sua infância. Thad nasceu gêmeo, porém o irmão futuro foi absorvido no útero, e
depois, quando criança, removido de seu cérebro ao descobrirem que o moleque
sofria de terríveis dores de cabeça e lapsos de memória, originalmente
diagnosticadas como um tumor. O feto começou a se desenvolver DENTRO de seu
cérebro com direito a um OLHO QUE PISCA! Os Beaumont resolveram enterrar os
restos do falecido bem no jazigo da família. E isso fez com que de alguma
forma, não me pergunte como, George Stark ganhasse vida como o irmão gêmeo
malvado de Thad (tipo a Rutinha, porque a Raquel é boa) e partisse para a vingança,
com seu visual Johnny Cash, cabelo com brilhantina, jaqueta de couro e carro
turbo envenenado. Pois é, a história seria MUITO, mas MUITO mais bacana se
lidasse com realmente um problema de esquizofrenia ou de dupla personalidade de
Beaumont, como, por exemplo, falando de Stephen King, em A Janela Secreta,
do que realmente uma manifestação física propriamente dita. George Stark serve
para aflorar um lado perverso do escritor pai de família, e mais que isso, uma
parte dele gosta desse sujeito desprezível e sanguinário. Gosta da sua metade
negra. Mas o jogo maniqueísta costumeiro preserva um final feliz para Thad e
sua família, após o confronto final na antiga casa dos Baumont. Aliás,
confronto final esse que Romero faz sua vez de Alfred Hitchcock, emulando Os Pássaros, quando uma revoada de pardais, elementos
presentes e importantes desde o começo da fita, ataca Stark, arrancando sua
pele (em um excelente trabalho de maquiagem da equipe de Everett Burrell e John
Vulich). A Metade Negra vale para o fã do horror por se tratar de mais uma
parceria entre George Romero e Stephen King (ambos já haviam trabalhado juntos
em Creepshow – Show de Horrores). A condução do
mestre na direção é acima da média, ainda mais se tratando de uma adaptação do
mestre na escrita, que sabemos muito bem que não são sempre transportadas para
as telas de forma acertada.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/04/07/638-a-metade-negra-1993/
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