quinta-feira, 23 de junho de 2016

#638 1993 A METADE NEGRA (The Dark Half, EUA)


Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero (baseado no livro de Stephen King)
Produção: Declain Baldwin, Christine Romero (Produtora Associado); George A. Romero (Produtor Executivo)
Elenco: Timothy Hutton, Amy Madigan, Michael Rooker, Julie Harris, Robert Joy, Kent Broadhurst

Você vê como são as coisas. Se não fosse o nome de George A. Romero como diretor, provavelmente A Metade Negra seria outra das imensas bombas nas telonas baseadas na obra de Stephen King. Mas como o diretor de Pittsburgh, pai dos zumbis, manja dos paranauê, o filme até que é interessante. Interessante mesmo é o tema da dualidade que Stephen King imprimiu em seu livro e que foi utilizado por Romero. Por mais que A Metade Negra perca o fôlego em seu desenrolar, a história se torne previsível e role uns buracos no roteiro tipo queijo suíço com algumas saídas realmente duras de engolir, não deixa de colocar um pouco à mostra da personalidade do escritor do Maine em cunhos quase autobiográficos (como já fizera dezenas de vezes). A Metade Negra foi o último livro de King em sua fase alcóolatra, antes de entrar de vez na sobriedade. Então seu personagem, Thad Beaumont (muito bem interpretado por um subestimado Timothy Hutton) é um… escritor alcóolatra. Fracasso literário, com livros elogiados pela crítica, mas que não vendem nada, Beaumont cria o pseudônimo de George Stark para escrever livros mais violentos e popularescos, criando um personagem de sucesso chamado Alexis Machine. Certo dia, após uma de suas aulas na faculdade, um escroque chamado Fred Clawson (Robert Joy) o aborda tentando chantageá-lo, ameaçando revelar ao mundo que Beaumont é na verdade Stark. Em conluio com seus editores, o próprio escritor resolve fazer esse anúncio para a imprensa e realizar um enterro simbólico do pseudônimo no antigo jazigo de sua família no Maine. Vê aí outro paralelo com King? Ele também possuía um pseudônimo, Richard Bachman, e essa trama foi inspirada nos eventos que o levaram a fazer esse anúncio para o mundo. Só que todos os envolvidos na “morte” de George Stark começam a surgir brutalmente assassinados, com requintes de crueldade típicos de Alexis Machine. Inicialmente Beaumont é incriminado, uma vez que suas próprias impressões digitais foram encontradas nos locais dos crimes, e a investigação do Xerife Alan Pangborn (que é o mesmo personagem principal de outro livro/filme de King, Trocas Macabras), papel de Michael Rooker, o Yondu Udonta de Guardiões da Galáxia ou o Merle Dixon de The Walking Dead, começa a colocá-lo contra a parede, que o fará descobrir um evento estranho de sua infância. Thad nasceu gêmeo, porém o irmão futuro foi absorvido no útero, e depois, quando criança, removido de seu cérebro ao descobrirem que o moleque sofria de terríveis dores de cabeça e lapsos de memória, originalmente diagnosticadas como um tumor. O feto começou a se desenvolver DENTRO de seu cérebro com direito a um OLHO QUE PISCA! Os Beaumont resolveram enterrar os restos do falecido bem no jazigo da família. E isso fez com que de alguma forma, não me pergunte como, George Stark ganhasse vida como o irmão gêmeo malvado de Thad (tipo a Rutinha, porque a Raquel é boa) e partisse para a vingança, com seu visual Johnny Cash, cabelo com brilhantina, jaqueta de couro e carro turbo envenenado. Pois é, a história seria MUITO, mas MUITO mais bacana se lidasse com realmente um problema de esquizofrenia ou de dupla personalidade de Beaumont, como, por exemplo, falando de Stephen King, em A Janela Secreta, do que realmente uma manifestação física propriamente dita. George Stark serve para aflorar um lado perverso do escritor pai de família, e mais que isso, uma parte dele gosta desse sujeito desprezível e sanguinário. Gosta da sua metade negra. Mas o jogo maniqueísta costumeiro preserva um final feliz para Thad e sua família, após o confronto final na antiga casa dos Baumont. Aliás, confronto final esse que Romero faz sua vez de Alfred Hitchcock, emulando Os Pássaros, quando uma revoada de pardais, elementos presentes e importantes desde o começo da fita, ataca Stark, arrancando sua pele (em um excelente trabalho de maquiagem da equipe de Everett Burrell e John Vulich). A Metade Negra vale para o fã do horror por se tratar de mais uma parceria entre George Romero e Stephen King (ambos já haviam trabalhado juntos em Creepshow – Show de Horrores). A condução do mestre na direção é acima da média, ainda mais se tratando de uma adaptação do mestre na escrita, que sabemos muito bem que não são sempre transportadas para as telas de forma acertada.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/04/07/638-a-metade-negra-1993/

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